quinta-feira, julho 31
Incerteza na aplicação da definição
O Luis Mauricio enviou-nos um comentário, que agradeço, acerca da minha temerária e incerta proposta de definição de ser vivo:
"(...) não podia deixar de "dizer" alguma coisa, acerca da definição de ser vivo publicada pelo Sérgio e à qual não apresento objecções, antes pelo contrário. No entanto e para aumentar a incerteza diria antes, a não certeza, arrisco-me a transpor a definição de ser vivo para a de organizações artificiais (vulgo empresas ou instituições), sistemas complexos criados pelo homem (ser vivo por definição tal como a conhecemos)."
Na primeira parte da minha definição de facto cabe quase tudo, as organizações artificiais, as sociedades animais e humanas, as florestas, e, porque não, todo o ecossistema Terra (há até quem o teorize). E de resto, um sistema composto ou mantido por seres vivos pode não ser um "ser vivo," mas "tem vida" de certeza. Mas aqui espreita a metáfora. Por outro lado, pode ver-se os seres vivos mais complexos como o resultado da união simbiótica de bactérias, que no decurso da evolução se foram especializando em tecidos e órgãos. E até parece lógico. Mas qual é o momento em que se passa de colónia a tecido? De não-vivo a vivo? A minha ênfase era, e continua a ser, no paradoxo que é a vida. Na forma como a sua definição nos escapa. Não era, portanto, uma das "boas definições" pedidas pelo Nuno.
Bem, e nem a propósito, encontrei hoje no Journal of Chemical Education de Junho de 2003 um artigo de "receitas para sopas pré-bióticas," um assunto que sempre me intrigou. Na bibliografia há bastantes referências (recentes) com a discussão que ainda existe sobre a origem da vida. Espero arranjar tempo para ler algumas.
E já agora, embora não tenha nada a ver com a conversa inicial, aproveito para contar a quem não saiba que, na segunda década do século XX, Mário Silva, insigne professor e investigador, manteve nos jornais uma polémica acerca da geração espontânea e da origem da vida. Um dos seus opositores era um jovem intelectual católico de direita que depois se tornou muito conhecido, Oliveira Salazar, o qual acabou por criar muitos problemas à carreira académica de Mário Silva.
O Nuno começou com a vida extraterreste e eu acabo por chegar à história...
"(...) não podia deixar de "dizer" alguma coisa, acerca da definição de ser vivo publicada pelo Sérgio e à qual não apresento objecções, antes pelo contrário. No entanto e para aumentar a incerteza diria antes, a não certeza, arrisco-me a transpor a definição de ser vivo para a de organizações artificiais (vulgo empresas ou instituições), sistemas complexos criados pelo homem (ser vivo por definição tal como a conhecemos)."
Na primeira parte da minha definição de facto cabe quase tudo, as organizações artificiais, as sociedades animais e humanas, as florestas, e, porque não, todo o ecossistema Terra (há até quem o teorize). E de resto, um sistema composto ou mantido por seres vivos pode não ser um "ser vivo," mas "tem vida" de certeza. Mas aqui espreita a metáfora. Por outro lado, pode ver-se os seres vivos mais complexos como o resultado da união simbiótica de bactérias, que no decurso da evolução se foram especializando em tecidos e órgãos. E até parece lógico. Mas qual é o momento em que se passa de colónia a tecido? De não-vivo a vivo? A minha ênfase era, e continua a ser, no paradoxo que é a vida. Na forma como a sua definição nos escapa. Não era, portanto, uma das "boas definições" pedidas pelo Nuno.
Bem, e nem a propósito, encontrei hoje no Journal of Chemical Education de Junho de 2003 um artigo de "receitas para sopas pré-bióticas," um assunto que sempre me intrigou. Na bibliografia há bastantes referências (recentes) com a discussão que ainda existe sobre a origem da vida. Espero arranjar tempo para ler algumas.
E já agora, embora não tenha nada a ver com a conversa inicial, aproveito para contar a quem não saiba que, na segunda década do século XX, Mário Silva, insigne professor e investigador, manteve nos jornais uma polémica acerca da geração espontânea e da origem da vida. Um dos seus opositores era um jovem intelectual católico de direita que depois se tornou muito conhecido, Oliveira Salazar, o qual acabou por criar muitos problemas à carreira académica de Mário Silva.
O Nuno começou com a vida extraterreste e eu acabo por chegar à história...
quarta-feira, julho 30
a importância do 28
fui à baixa no autocarro ECOVIA nº27,
levei a criança de 3 anos que queria comprar uma estrela, pesa 9 quilos e foi no carrinho de rua,
9x3 vinte e sete,
tivemos de subir o degrau do passeio 27 vezes,
tenho muita práctica, empino o carro com o pé, o automóvel na passadeira espera, tenho 27 anos e não me custa nada, subo-o quase na passada,
estava um daqueles dias abafados e húmidos de Coimbra, uns escaldantes vinte sete graus, mesmo à sombra,
gosto do calor porque me faz lembrar que o meu corpo existe, fui beber uma água fastio, ...e sete cêntimos,
o caminho de regresso é mais fácil, descer as mesmas 27 vezes um degrau de cada passeio, com a ajuda dos Santos,
não sei qual é o Santo do dia 27, gostava que houvesse um para as subidas,
no viagem de volta o motorista (habituado ao rally-paper) tenta a todo o custo manter uma velocidade média de 27km/h, o cronómetro não pára nos semáforos e STOPs, por isso a velocidade máxima tem de compensar,
o ar-condicionado não vence aos vidros abertos por isso dentro, estão uns frescos, já sabem, 27 graus.
Amanhã é dia 28.
levei a criança de 3 anos que queria comprar uma estrela, pesa 9 quilos e foi no carrinho de rua,
9x3 vinte e sete,
tivemos de subir o degrau do passeio 27 vezes,
tenho muita práctica, empino o carro com o pé, o automóvel na passadeira espera, tenho 27 anos e não me custa nada, subo-o quase na passada,
estava um daqueles dias abafados e húmidos de Coimbra, uns escaldantes vinte sete graus, mesmo à sombra,
gosto do calor porque me faz lembrar que o meu corpo existe, fui beber uma água fastio, ...e sete cêntimos,
o caminho de regresso é mais fácil, descer as mesmas 27 vezes um degrau de cada passeio, com a ajuda dos Santos,
não sei qual é o Santo do dia 27, gostava que houvesse um para as subidas,
no viagem de volta o motorista (habituado ao rally-paper) tenta a todo o custo manter uma velocidade média de 27km/h, o cronómetro não pára nos semáforos e STOPs, por isso a velocidade máxima tem de compensar,
o ar-condicionado não vence aos vidros abertos por isso dentro, estão uns frescos, já sabem, 27 graus.
Amanhã é dia 28.
vertigem de hiperespaço
tempo de férias é tempo de desligar -de ficar off-line. Nunca vos aconteceu ao ler um jornal deter os olhos numa palavra ou título, julgá-la azul e sublinhada, e chegar a sentir a vertigem da viagem no hiperlink... e logo voltar a apertar o papel real nos dedos?
terça-feira, julho 29
Definições de ser vivo
Muitas definições são tautológicas, pois vivo é o que tem vida. Outras são mágicas, pois não sabemos de onde viemos nem para onde iremos. Algumas são preguiçosas e sábias, para quê pensar nisso? E não consigo encontrar melhores que as operacionais. Afinal conseguimos distinguir os seres vivos das entidades não vivas, ou não? Arrisco o ridículo e vou fazer uma proposta.
Os seres vivos são sistemas complexos mas altamente organizados que realizam funções simples não só de autoconservação mas também de autodestruição. Que reagem de forma química e física ao meio ambiente com extrema complexidade para obter um resultado simples. A minha proposta é que são isso e sempre mais alguma coisa. Usando uma imagem da matemática, esta minha proposta de definição é como um limite que está ali mesmo à vista, mas ao qual só se chega com um número infinito de pequenos passos. E para a minha proposta ser completa incluo também a possibilidade de estar completamente errada. A vida é paradoxal, é frágil e ao mesmo tempo tão resistente, tão complexa e tão simples.
Os seres vivos são sistemas complexos mas altamente organizados que realizam funções simples não só de autoconservação mas também de autodestruição. Que reagem de forma química e física ao meio ambiente com extrema complexidade para obter um resultado simples. A minha proposta é que são isso e sempre mais alguma coisa. Usando uma imagem da matemática, esta minha proposta de definição é como um limite que está ali mesmo à vista, mas ao qual só se chega com um número infinito de pequenos passos. E para a minha proposta ser completa incluo também a possibilidade de estar completamente errada. A vida é paradoxal, é frágil e ao mesmo tempo tão resistente, tão complexa e tão simples.
Os Pescadores
.... à incerteza estampada no rosto,
soma-se a certeza de um esforço em vão.
Revista Cais, Maio 2003
soma-se a certeza de um esforço em vão.
Revista Cais, Maio 2003
A Banda
No palco a Banda Sinfónica da GNR. Interpreta “Music for the Royal Fireworks” de Haendel. Atrás de mim, na assistência, outra Banda. Vieram porque o maestro ou o chefe da Banda lhes disse para virem. Falam muito, fazem muitos comentários: estão maravilhados com o número de instrumentos, com o volume do som. Haendel? Não conhecem! a peça em causa muito menos e até se irão aborrecer por ser excessivamente longa (30 minutos!). Um país à medida do Sr. Morais Sarmento!
Bagdad
Mário Vargas Llosa esteve recentemente no Iraque e o DN começou ontem a publicar uma série de crónicas em que o escritor relata a realidade (ou irrealidade) iraquiana. O dia a dia de um país sem rei nem roque: a experiência da Anarquia, o paraíso da pirataria e dos Alibabás, “This is no good, Sir”.
No meio de muitas tragédias relatadas algumas situações pareceriam verdadeiras anedotas não fossem o reflexo da tragédia global que ali se vive. “Quando um engarrafamento atinge o paroxismo, surgem sempre voluntários que armados de apito e bastão se elegem em sinaleiros de trânsito. E os motoristas acatam as suas instruções aliviados por alguém lhes dar ordens”.
No meio de muitas tragédias relatadas algumas situações pareceriam verdadeiras anedotas não fossem o reflexo da tragédia global que ali se vive. “Quando um engarrafamento atinge o paroxismo, surgem sempre voluntários que armados de apito e bastão se elegem em sinaleiros de trânsito. E os motoristas acatam as suas instruções aliviados por alguém lhes dar ordens”.
Murky
murky, a. escuro, sombrio, lúgubre, cheio de trevas, que contém segredos desonrosos || m. darkness, escuridão cerrada || m. night noite escura como breu || m. past, passado tenebroso, passado sombrio.
in Dicionário de Português-Inglês, Porto Editora
in Dicionário de Português-Inglês, Porto Editora
Certezas na era das incertezas
"Simply stated, there is no doubt that Saddam Hussein now has weapons of mass destruction."
Dick Cheeney, 26 de Agosto de 2002
"We know for a fact that there are weapons there."
Ari Fletcher, 9 de Janeiro de 2003
"Intelligence gathered by this and other governments leaves no doubt that the Iraq regime continues to possess and conceal some of the most lethal weapons ever devised."
George W. Bush, 17 de Março de 2003
Para terminar, a maior das certezas:
"The nature of terrorism is that intelligence about terrorism is murky."
Paul Wolfowitz, anteontem
É mesmo muito murky, não haja dúvida...
[citações retiradas de Warblogging]
Dick Cheeney, 26 de Agosto de 2002
"We know for a fact that there are weapons there."
Ari Fletcher, 9 de Janeiro de 2003
"Intelligence gathered by this and other governments leaves no doubt that the Iraq regime continues to possess and conceal some of the most lethal weapons ever devised."
George W. Bush, 17 de Março de 2003
Para terminar, a maior das certezas:
"The nature of terrorism is that intelligence about terrorism is murky."
Paul Wolfowitz, anteontem
É mesmo muito murky, não haja dúvida...
[citações retiradas de Warblogging]
"Duos Incertus"
Rimas esforçadas
Entre lágrimas esperadas
Rompem lentas
Surgem rápidas
Por entre avanços e recuos
Corpos descalços em duos
Percursos difíceis e extenuantes
Já não são como dantes
Julgados frios e distantes
Permanecem perto e atentos
Com olhar calmo de sentimentos
De quem tem tudo perto,
Mas não sabe ao certo
Qual o seu destino
Que procura com afinco
Mas como encontrar
Se não sabe procurar
Aquilo que deseja!
Será incerteza ou será inveja?
Luís Maurício
Jan/2003
Enviado por Luís Maurício
Entre lágrimas esperadas
Rompem lentas
Surgem rápidas
Por entre avanços e recuos
Corpos descalços em duos
Percursos difíceis e extenuantes
Já não são como dantes
Julgados frios e distantes
Permanecem perto e atentos
Com olhar calmo de sentimentos
De quem tem tudo perto,
Mas não sabe ao certo
Qual o seu destino
Que procura com afinco
Mas como encontrar
Se não sabe procurar
Aquilo que deseja!
Será incerteza ou será inveja?
Luís Maurício
Jan/2003
Enviado por Luís Maurício
segunda-feira, julho 28
O que são organismos vivos? - II
Convenhamos que não é fácil definir organismos vivos. Sobretudo se se pretende incluir na definição a vida noutros planetas (que pode não se basear no DNA) e excluir os vírus informáticos, algoritmos genéticos, robots ou seres vivos virtuais (os Sims...). Muitas vezes a definição baseia-se na possibilidade de um organismo vivo se reproduzir, comer, morrer, etc, mas isso não é exclusivo deles. Por exemplo, o mesmo acontece com grupos de pessoas, como empresas: nascem, crescem, reproduzem-se (spin-offs), casam-se (joint-ventures), engordam/emagrecem, regem-se pela selecção natural na qual vencem as mais adaptadas ao meio em redor, comem-se (compram-se) umas às outras ;-) , morrem...
Aceitam-se boas definições de organismos vivos...
Aceitam-se boas definições de organismos vivos...
O que são organismos vivos?
Uma definição inusitada aparece neste livro:
Living organisms are highly organized chemical systems that comply with the first and second laws of thermodynamics. They are low-entropy systems which (1) must obtain energy from external sources and (2) to support life, must have a continuous energy flow. Upon death, the flow of energy stops and entropy tends to a maximum.
Nada como ver o mundo segundo diferentes perspectivas...
Living organisms are highly organized chemical systems that comply with the first and second laws of thermodynamics. They are low-entropy systems which (1) must obtain energy from external sources and (2) to support life, must have a continuous energy flow. Upon death, the flow of energy stops and entropy tends to a maximum.
Nada como ver o mundo segundo diferentes perspectivas...
Terezinha
O terceiro me chegou
Como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada
Também nada perguntou
Mal sei como ele se chama
Mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse não
Se instalaou feito um posseiro
Dentro do meu coração
Ópera do malandro, Chico Buarque
Como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada
Também nada perguntou
Mal sei como ele se chama
Mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse não
Se instalaou feito um posseiro
Dentro do meu coração
Ópera do malandro, Chico Buarque
sexta-feira, julho 25
Hereditariedade
O meu avô José não saía de casa sem um livro para ler e um caderno para anotar os seus poemas e as suas impressões.
O meu avô José, licenciado em Germânicas, nunca teve a oportunidade de pôr um pé em Londres, muito menos na Alemanha. Conta a minha mãe, que quando era pequena ele a levava ao porto de Leixões, onde esperava os barcos alemães "para poder praticar".
Quando eu era pequena o meu avô José ensinava-me francês, "la porte", "le livre", "la fenêtre", apontando para os objectos em causa e obrigando-me a repetir. A pedagogia não era da mais moderna mas, aprendi francês.
No tempo em que o meu avô me ensinava francês, eu era convidada para as festas de anos das filhas das amigas da minha mãe. Não tinha especial simpatia por essas meninas e até as achava parvas, mas por nada deste mundo perdia essas festas: havia sumol e "sandes" de fiambre em pão de forma, e havia sempre um quarto de meninas com livros que eu lia a tarde toda, sem cuidar de outras brincadeiras ou das outras crianças.
Hoje os meus filhos, ainda crianças, não saem à rua sem um livro debaixo do braço.
O meu avô José, licenciado em Germânicas, nunca teve a oportunidade de pôr um pé em Londres, muito menos na Alemanha. Conta a minha mãe, que quando era pequena ele a levava ao porto de Leixões, onde esperava os barcos alemães "para poder praticar".
Quando eu era pequena o meu avô José ensinava-me francês, "la porte", "le livre", "la fenêtre", apontando para os objectos em causa e obrigando-me a repetir. A pedagogia não era da mais moderna mas, aprendi francês.
No tempo em que o meu avô me ensinava francês, eu era convidada para as festas de anos das filhas das amigas da minha mãe. Não tinha especial simpatia por essas meninas e até as achava parvas, mas por nada deste mundo perdia essas festas: havia sumol e "sandes" de fiambre em pão de forma, e havia sempre um quarto de meninas com livros que eu lia a tarde toda, sem cuidar de outras brincadeiras ou das outras crianças.
Hoje os meus filhos, ainda crianças, não saem à rua sem um livro debaixo do braço.
Lembram-se do advogado brasileiro que veio dizer que a justiça em Portugal era salazarenta?
Não sou agente nem parte interessada do sistema judicial, mas, do que me foi dado ver, ler e ouvir nos últimos anos, constato com incredulidade que o nosso sistema judicial parece estar ainda pior do que o do tempo de Salazar. Não considerando os sinistros e discricionários tribunais políticos e os horrendos métodos da polícia política, actualmente a justiça parece ser muito menos transparente e menos célere. Menos justa enfim.
E não se pode dizer falaciosamente que se trata de interesses, ou que se fala disto agora porque é gente famosa. Ainda bem que se trata de famosos para que o problema se torne mais visível. Porque isto parece estar mal há muito tempo. E são muitas as vozes que se ouvem. Algumas há muito tempo, mas só agora parecem estar a ser ouvidas. António Pinto Ribeiro, Garcia Pereira, Mário Soares, Freitas do Amaral, Vital Moreira e tantos outros conhecedores profundos da justiça portuguesa.
Somos o país da Europa com maior percentagem de presos preventivos e a maior percentagem de absolvições desses presos. Os arguidos podem ser presos preventivamente durante meses e até anos sem que sejam julgados. Como se fosse uma condenação antes do julgamento. No tempo de Salazar a prisão preventiva durava no máximo seis meses.
Devido a um exagerado segredo de justiça, que por vezes é quebrado em circunstâncias pouco claras, muitas vezes os arguidos não sabem por que razões são acusados. E, no entanto, podem ser interrogados durante muitas horas seguidas, muitas vezes pela noite adentro. Refira-se que, com o fim da inquisição no princípio do século XIX, tinha acabado o horrível secretismo da acusação que obrigava o arguido a adivinhar os crimes de que era acusado e quem o acusava. Tal parece estar agora de volta numa versão mais suave envolta em nebulosos formalismos e procedimentos processuais.
Por outro lado, creio que é consensual que os juizes deveriam tomar as suas decisões na sala do tribunal com a sua consciência e o seu descernimento, apenas com base na matéria de facto fornecida pelas testemunhas e provas materiais e na matéria de direito que é dirimida por quem patrocina as partes. Actualmente, de acordo com o que tenho ouvido e lido, os juizes que vão julgar os arguidos têm acesso a processos que foram constituídos na ausência de contestação por parte dos advogados destes. Os libelos acusatórios confundem-se com esses processos, podendo ter centenas de páginas. Em muitos casos, demasiadas coisas parecem ser decididas fora da sala de tribunal.
Nos tempos de Salazar a maioria das sentenças era proferida no próprio dia ou quando muito no dia seguinte. Actualmente pode esperar-se meses. Serão toleráveis mais suicídios de presos que esperam as sentenças que os absolvem?
Os tribunais superiores aparentemente não apreciam as provas obtidas na primeira instância, acabando muitas vezes os julgamentos por ter de ser repetidos. Aparentemente privilegia-se o formalismo jurídico em detrimento da apreciação dos factos e dos direitos. Os processos arrastam-se de forma interminável.
Actualmente tudo isto é agravado por um clima de suspeição e descrédito, por teorizações falaciosas e pela inevitável defesa dos interesses instalados. E, para piorar as coisas, ainda temos quem afirme que temos as melhores leis do mundo, quando se tem estado mesmo a ver que não é assim.
As prisões estão cheias de presos ligados à pequena criminalidade e ao tráfico de droga. Há o dilema dos famosos que se são perseguidos é por o serem e se o não são também. A teoria perigosa de que determinados crimes são muito difíceis de provar, deixando em aberto opções arrepiantes. Há os casos mediáticos, que vivendo de especulações e fugas ao segredo de justiça, deixam antever graves violações dos direitos dos cidadãos.
De acordo com a conhecida lei de Murphy o que pode correr mal vai correr pior. Esperemos que não.
E não se pode dizer falaciosamente que se trata de interesses, ou que se fala disto agora porque é gente famosa. Ainda bem que se trata de famosos para que o problema se torne mais visível. Porque isto parece estar mal há muito tempo. E são muitas as vozes que se ouvem. Algumas há muito tempo, mas só agora parecem estar a ser ouvidas. António Pinto Ribeiro, Garcia Pereira, Mário Soares, Freitas do Amaral, Vital Moreira e tantos outros conhecedores profundos da justiça portuguesa.
Somos o país da Europa com maior percentagem de presos preventivos e a maior percentagem de absolvições desses presos. Os arguidos podem ser presos preventivamente durante meses e até anos sem que sejam julgados. Como se fosse uma condenação antes do julgamento. No tempo de Salazar a prisão preventiva durava no máximo seis meses.
Devido a um exagerado segredo de justiça, que por vezes é quebrado em circunstâncias pouco claras, muitas vezes os arguidos não sabem por que razões são acusados. E, no entanto, podem ser interrogados durante muitas horas seguidas, muitas vezes pela noite adentro. Refira-se que, com o fim da inquisição no princípio do século XIX, tinha acabado o horrível secretismo da acusação que obrigava o arguido a adivinhar os crimes de que era acusado e quem o acusava. Tal parece estar agora de volta numa versão mais suave envolta em nebulosos formalismos e procedimentos processuais.
Por outro lado, creio que é consensual que os juizes deveriam tomar as suas decisões na sala do tribunal com a sua consciência e o seu descernimento, apenas com base na matéria de facto fornecida pelas testemunhas e provas materiais e na matéria de direito que é dirimida por quem patrocina as partes. Actualmente, de acordo com o que tenho ouvido e lido, os juizes que vão julgar os arguidos têm acesso a processos que foram constituídos na ausência de contestação por parte dos advogados destes. Os libelos acusatórios confundem-se com esses processos, podendo ter centenas de páginas. Em muitos casos, demasiadas coisas parecem ser decididas fora da sala de tribunal.
Nos tempos de Salazar a maioria das sentenças era proferida no próprio dia ou quando muito no dia seguinte. Actualmente pode esperar-se meses. Serão toleráveis mais suicídios de presos que esperam as sentenças que os absolvem?
Os tribunais superiores aparentemente não apreciam as provas obtidas na primeira instância, acabando muitas vezes os julgamentos por ter de ser repetidos. Aparentemente privilegia-se o formalismo jurídico em detrimento da apreciação dos factos e dos direitos. Os processos arrastam-se de forma interminável.
Actualmente tudo isto é agravado por um clima de suspeição e descrédito, por teorizações falaciosas e pela inevitável defesa dos interesses instalados. E, para piorar as coisas, ainda temos quem afirme que temos as melhores leis do mundo, quando se tem estado mesmo a ver que não é assim.
As prisões estão cheias de presos ligados à pequena criminalidade e ao tráfico de droga. Há o dilema dos famosos que se são perseguidos é por o serem e se o não são também. A teoria perigosa de que determinados crimes são muito difíceis de provar, deixando em aberto opções arrepiantes. Há os casos mediáticos, que vivendo de especulações e fugas ao segredo de justiça, deixam antever graves violações dos direitos dos cidadãos.
De acordo com a conhecida lei de Murphy o que pode correr mal vai correr pior. Esperemos que não.
quinta-feira, julho 24
Os filhos de Satã (II)
Vou ser politicamente incorrecta: não me pareceu bem, nada bem, o Tony Blair regozijando-se publicamente pela morte dos “dois filhos de Satã”. Não podia estar mais de acordo com o João C., como pode um regime ou a mudança de um regime assentar na morte de alguém? Que raio de civilização é a nossa? Voltamos à Idade das Trevas ?
David(I)
É bom saber que somos lidos!
Cara Isabel,
Há dois Davides em Florença. Um sujo, outro limpo. Do sujo, réplica do original, colocado à porta do Pallazzo Vecchio, envio-lhe uma foto, tirada em Abril. Do outro, o original, que está a tomar banho há uns meses, exposto na Galleria della Accademia, não foi possível guardar recordações fotográficas. Mas estive uma tarde inteira a olhar para ele e juro que aquele David tem vida...!
Cumprimentos,
Lénia Rufino
Cara Isabel,
Há dois Davides em Florença. Um sujo, outro limpo. Do sujo, réplica do original, colocado à porta do Pallazzo Vecchio, envio-lhe uma foto, tirada em Abril. Do outro, o original, que está a tomar banho há uns meses, exposto na Galleria della Accademia, não foi possível guardar recordações fotográficas. Mas estive uma tarde inteira a olhar para ele e juro que aquele David tem vida...!
Cumprimentos,
Lénia Rufino
quarta-feira, julho 23
Nos livros. E na vida?
O meu filho de dez anos estava a ler um livro sobre as referências que terão inspirado a autora dos livros do Harry Potter. Uma referência à deusa Minerva pareceu-me incorrecta, talvez devido a lapso de tradução. E lá estivemos, ele talvez espantado, se o espanto ainda é possível, e eu feliz por partilhar aquele momento com ele. Com os dicionários de mitologia e outros, a verificar experimentalmente que nos livros nem tudo é absolutamente certo. Sem juizos de valores, a verificar apenas.
O Sol, os gatos e os donos dos gatos
O Sol,
quando as nuvens são mais vulneráveis,
atravessa-as
e vem aquecer os dorsos dos gatos.
Os gatos,
quando os donos estão mais disponíveis,
saltam
e vão aquecer-lhes os colos.
Os donos,
quando estão entediados,
escrevem, preguiçosamente
sobre os gatos,
sobre o Sol, ...
António Martinho
quando as nuvens são mais vulneráveis,
atravessa-as
e vem aquecer os dorsos dos gatos.
Os gatos,
quando os donos estão mais disponíveis,
saltam
e vão aquecer-lhes os colos.
Os donos,
quando estão entediados,
escrevem, preguiçosamente
sobre os gatos,
sobre o Sol, ...
António Martinho
A Natureza Humana
Um dia, na minha vã tentativa de entender a natureza humana, liguei para um desses números que aparecem nos anúncios prometendo o jardim das delícias “2 jovens, desinibidas.... recebem...”. Atendeu-me a voz mais normal deste mundo, que só se distinguia pelo tom simpático e educado. “Queria falar com....” (e disse o primeiro nome que me veio à cabeça, rezando para que não fosse o de nenhuma das duas jovens).
No entretanto, por trás da voz educada, ouvi claramente o choro de um bebé pequeno.
Balbuciei uma desculpa rápida e desliguei precipitadamente.
No entretanto, por trás da voz educada, ouvi claramente o choro de um bebé pequeno.
Balbuciei uma desculpa rápida e desliguei precipitadamente.
Sabedoria
Uma catraia de não mais de três anos segue à minha frente, pela mão da mãe, a caminho da Ludoteca:
-Quando me chamares para me vir embora, eu não vou ouvir.
-Ah! e porquê?
-Vou estar distraída!
-Quando me chamares para me vir embora, eu não vou ouvir.
-Ah! e porquê?
-Vou estar distraída!
terça-feira, julho 22
Teatro na Penitenciária
Apareceram recentemente no A Natureza do Mal dois textos referentes à Penitenciária de Coimbra, de um gostei muito, do outro não gostei nada (facto que para os autores dos textos não deve ter a menor relevância).
Não tenho sequer a certeza de que as cadeias sejam um mal necessário, tenho sim a firme convicção de que deviam ser a última das últimas soluções (e que nem sempre o são) e que para a maioria dos desgraçados(as) que lá estão, ninguém ganha com isso, nem eles nem a sociedade.
Tenho ainda a convicção de que tudo o que humanize esses bocados da nossa sociedade é bom, é positivo. Discursos aparte.
Aqueles muros fazem parte do meu percurso diário, todos as dias vejo as famílias, maioritariamente ciganas (que em termos de solidariedade têm muito que nos ensinar), à espera da hora da visita mas, convenientemente ignoro... e sigo o percurso dos meus dias. Como a maioria dos habitantes de Coimbra não conheço essas gentes nem os seus dramas, convenientemente...
Mas como acredito que quem está lá dentro, são pessoas e não presos e como estar envolvido com os outros e com um projecto é bom, e porque fazer teatro é bom, acredito nesse projecto de fazer uma peça de teatro dentro da Penitenciária e para a cidade. Até e sobretudo para não nos esquecermos deles.
PS Tenho ainda mais uma razão para acreditar. Enquanto membro do TEUC trabalhei por várias vezes com o encenador em causa, o André Kowalski, um humanista que tem uma capacidade imensa de cativar as personalidades mais diversas.
Não tenho sequer a certeza de que as cadeias sejam um mal necessário, tenho sim a firme convicção de que deviam ser a última das últimas soluções (e que nem sempre o são) e que para a maioria dos desgraçados(as) que lá estão, ninguém ganha com isso, nem eles nem a sociedade.
Tenho ainda a convicção de que tudo o que humanize esses bocados da nossa sociedade é bom, é positivo. Discursos aparte.
Aqueles muros fazem parte do meu percurso diário, todos as dias vejo as famílias, maioritariamente ciganas (que em termos de solidariedade têm muito que nos ensinar), à espera da hora da visita mas, convenientemente ignoro... e sigo o percurso dos meus dias. Como a maioria dos habitantes de Coimbra não conheço essas gentes nem os seus dramas, convenientemente...
Mas como acredito que quem está lá dentro, são pessoas e não presos e como estar envolvido com os outros e com um projecto é bom, e porque fazer teatro é bom, acredito nesse projecto de fazer uma peça de teatro dentro da Penitenciária e para a cidade. Até e sobretudo para não nos esquecermos deles.
PS Tenho ainda mais uma razão para acreditar. Enquanto membro do TEUC trabalhei por várias vezes com o encenador em causa, o André Kowalski, um humanista que tem uma capacidade imensa de cativar as personalidades mais diversas.
Não seduzir
Preencher os espaços vazios,
dos dias longos,
sem um escudeiro que nos sirva os sorrisos
e as palavras que nos apetecem.
E procurá-lo
com vontade de partilhar o tempo oco
que decorre solitário,
sob o luar ou o Verão de Março.
Não seduzir transforma os dias em praias vazias,
onde a única imagem humana que mexe é a nossa
[própria sombra.
António Martinho in “Não Seduzir”
dos dias longos,
sem um escudeiro que nos sirva os sorrisos
e as palavras que nos apetecem.
E procurá-lo
com vontade de partilhar o tempo oco
que decorre solitário,
sob o luar ou o Verão de Março.
Não seduzir transforma os dias em praias vazias,
onde a única imagem humana que mexe é a nossa
[própria sombra.
António Martinho in “Não Seduzir”
segunda-feira, julho 21
Guimarães
Mais uma vez um bom exemplo vindo de Guimarães, o Museu Alberto Sampaio, um belíssimo museu, durante os meses de Verão só fecha à meia-noite. Haja iniciativa(s)!
A frase do fim de semana
Estou que não posso!
Vilar de Mouros 2003
Vilar de Mouros 2003
livros
O meu amigo Tó (António Martinho) publicou o seu primeiro livro “Não seduzir”. É um livro de poemas (textos diz ele) límpidos e quase sempre felizes, tal e qual deviam ser os nossos dias. A editora, a Sílvia (da Alinhavar, de Leiria) contou um bocadinho da história do livro: disse que ele tinha sido necessário para o António se poder libertar daqueles 98 poemas (textos ?) e poder partir para outros e contou ainda que aquele livro tinha sido “feito” de uma forma artesanal, com as folhas fotocopiadas, dobradas e coladas uma a uma, com muito carinho. Com o carinho que se deve pôr nos livros, digo eu, que os livros não são para ser vendidos em supermercados!
Fazer sacrifícios...
Fazer sacríficios para dar um futuro melhor aos filhos, para ajudar os seres humanos que precisam, viver de forma simples e recusar o consumismo, praticar as virtudes cristãs ou outras, por exemplo, tem, ou julga-se que tem, recompensas futuras, ou imediatas, mas visíveis. Agora os sacrifícios que envolvem toda a humanidade, ou apenas um estado, como poderemos ver as suas recompensas? Como poderemos ter certezas? Em quem acreditar? Como poderemos fazer sacrifícios se não conseguimos adivinhar os resultados. Se quase sempre esses sacrifícios são destinados a agendas imediatas como o famoso défice, ou são em nome de um futuro que sempre tarda em vir. Tenho muitas incertezas sobre tudo isto. O que não quer dizer que ache que se deva ficar de braços cruzados.
sexta-feira, julho 18
Rumo à incerteza
Temos sorte. Vivemos os tempos mais interessantes de sempre da humanidade. Nunca a evolução técnica e científica foi tão grande e rápida quanto hoje, nunca tanto mudou tão rapidamente. Cada nova descoberta, cada novo gadget traz consigo uma revolução que muda para sempre a nossa maneira de agir. E abre a porta para muitas outras revoluções. Tudo está no início, por inventar, por aplicar, somos os pioneiros dos próximos brave new worlds. O computador. As telecomunicações. A Internet. As redes sem fios. As biotecnologias. A robótica. A miniaturização. Tudo o resto. As revoluções sucedem-se diariamente, e pela primeira vez na história podemos assistir a tudo em directo, com todo o pormenor. Mas ainda a procissão vai no adro.
Um exemplo. Dentro de muito pouco tempo, a maioria das pessoas terá permanentemente no seu bolso um telemóvel com câmara de vídeo, ligação rápida à internet e a possibilidade de descarregar por exemplo para um blogue pessoal aquilo que está a acontecer à sua volta. Texto, voz, som, imagens, video. Tudo isto é hoje possível, mas ainda não chegou à maioria das pessoas. Está quase a chegar. Pela primeira vez, quando alguma coisa acontece no mundo, vai haver alguém logo ao lado a registar tudo com uma câmara e instantaneamente a deixar tudo na internet para os outros verem/ouvirem/lerem. O desvio de um avião por terroristas em directo. Por instantes, qualquer um de nós poderá ser uma CNN ou BBC. Isto vai mudar o mundo das notícias para sempre. E a sociedade também.
Estamos a mudar radicalmente esta sociedade mundial constituída por uma rede de indivíduos inteligentes que reagem à informação exterior e que interagem uns com os outros em função dessa informação. Antes, a informação era essencialmente de proximidade, hoje em dia é cada vez mais global e isso muda tudo. Como um peixe que reage ao sinal de perigo enviado por um outro peixe situado na ponta oposta de um enorme cardume. Como aconteceu com a pneumonia atípica.
Temos azar. Vivemos nos tempos mais perigosos de sempre. Sobre nós pesa a responsabilidade de decidir o melhor rumo para a humanidade, em tempos onde ela está a mudar a ritmo avassalador e onde ela tem um impacto cada vez maior em tudo o que a rodeia. Infelizmente, não compreendemos quase nada da dinâmica da sociedade. Não sabemos como ela se comportará se mudarmos a topologia da rede e o fluxo de informação. E basta um bit para mudar a sociedade. Os iraquianos têm armas de destruição em massa e pensam usá-las. Sim ou não?
Compreender a dinâmica da sociedade é demasiado complexo para uma mente humana isolada, mas talvez muitas mentes humanas, pensando organizadamente com vista a um mesmo fim, a pudessem compreender em parte. No entanto, a inteligência da sociedade mundial actual vista como um todo é pequena, certamente menor do que a soma das partes quando poderia ser muito maior. Basta ver a eternização do problema da pobreza e da fome. Nós, ínfimos neurónios nesta enorme rede social, ainda não nos sabemos organizar para procurar compreender juntos o futuro.
A humanidade é um carro guiado por formigas, cada vez a maior velocidade. Umas poucas influenciam todas as outras, mas a maioria praticamente não conta. Nenhuma compreende o todo. Muitas estão no acelerador, algumas no travão, outras nas mudanças, outras no volante... Conseguiremos com este rumo incerto chegar ao El Dorado sem que falte o combustível, ou vamos chocar antes disso?
Um exemplo. Dentro de muito pouco tempo, a maioria das pessoas terá permanentemente no seu bolso um telemóvel com câmara de vídeo, ligação rápida à internet e a possibilidade de descarregar por exemplo para um blogue pessoal aquilo que está a acontecer à sua volta. Texto, voz, som, imagens, video. Tudo isto é hoje possível, mas ainda não chegou à maioria das pessoas. Está quase a chegar. Pela primeira vez, quando alguma coisa acontece no mundo, vai haver alguém logo ao lado a registar tudo com uma câmara e instantaneamente a deixar tudo na internet para os outros verem/ouvirem/lerem. O desvio de um avião por terroristas em directo. Por instantes, qualquer um de nós poderá ser uma CNN ou BBC. Isto vai mudar o mundo das notícias para sempre. E a sociedade também.
Estamos a mudar radicalmente esta sociedade mundial constituída por uma rede de indivíduos inteligentes que reagem à informação exterior e que interagem uns com os outros em função dessa informação. Antes, a informação era essencialmente de proximidade, hoje em dia é cada vez mais global e isso muda tudo. Como um peixe que reage ao sinal de perigo enviado por um outro peixe situado na ponta oposta de um enorme cardume. Como aconteceu com a pneumonia atípica.
Temos azar. Vivemos nos tempos mais perigosos de sempre. Sobre nós pesa a responsabilidade de decidir o melhor rumo para a humanidade, em tempos onde ela está a mudar a ritmo avassalador e onde ela tem um impacto cada vez maior em tudo o que a rodeia. Infelizmente, não compreendemos quase nada da dinâmica da sociedade. Não sabemos como ela se comportará se mudarmos a topologia da rede e o fluxo de informação. E basta um bit para mudar a sociedade. Os iraquianos têm armas de destruição em massa e pensam usá-las. Sim ou não?
Compreender a dinâmica da sociedade é demasiado complexo para uma mente humana isolada, mas talvez muitas mentes humanas, pensando organizadamente com vista a um mesmo fim, a pudessem compreender em parte. No entanto, a inteligência da sociedade mundial actual vista como um todo é pequena, certamente menor do que a soma das partes quando poderia ser muito maior. Basta ver a eternização do problema da pobreza e da fome. Nós, ínfimos neurónios nesta enorme rede social, ainda não nos sabemos organizar para procurar compreender juntos o futuro.
A humanidade é um carro guiado por formigas, cada vez a maior velocidade. Umas poucas influenciam todas as outras, mas a maioria praticamente não conta. Nenhuma compreende o todo. Muitas estão no acelerador, algumas no travão, outras nas mudanças, outras no volante... Conseguiremos com este rumo incerto chegar ao El Dorado sem que falte o combustível, ou vamos chocar antes disso?
David
O David que mora em Florença faz este ano 503 anos e está sujo, muito sujo! O David foi criado por Michelangelo (o meu amigo Antonio, italiano, arrepia-se cada vez que ouve os portugueses chamarem ao seu compatriota escultor, Miguel Ângelo, e terá a sua razão) e tomou o último banho no século 19. Agora os maiores especialistas de restauro discutem o tipo de banho que a criatura há-de tomar, se mais drástico, se mais suave .... e o assunto é sério, muito sério!
Abando
Oh Abas, Oh companheiros Abas, onde estão, que não vos vejo, que não vos oiço?
Ainda Álvaro de Campos
A propósito ou a despropósito:
Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
...
Álvaro de Campos
Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
...
Álvaro de Campos
Des(ordem)
Será que sempre foi assim e nós é que não sabíamos? Ou é chegada uma nova (des)ordem ? Mas que assusta, assusta. Antigamente sabia-se que a sexta-feira era o dia do escandalozinho da semana pela boca de “O Independente”. Mas agora todos os canais de televisão, os jornais, o procurador geral, os juizes do TIC, os políticos, a Assembleia da Republica, o governo, o bastonário, pedem meças ao semanário e parecem apostados em darem-nos um nó no cérebro, os escândalos já não se contam às semanas mas aos minutos, aos segundos. Alguém percebe alguma coisa? Afinal é para confiar na justiça? E nas instituições, confia-se em quais? Afinal o que é que é constitucional? E o direito ao sossego é constitucional? Quem é que me explica o que se passa? Afinal quais são os bons? E os maus? E os maus serão castigados ? Todos? Até o senhor Bush? Desculpem-me a falta de optimismo, mas estaremos mesmo a caminhar para uma maior justiça? Ai! quero férias!
Apatia famogénica
Apatia famogénica: A presunção de que não vale a pena exercer qualquer actividade a não ser que se fique famoso no seu exercício. A apatia famogénica assemelha-se à preguiça, mas as suas raízes são muito mais profundas.
D. Coupland, Geração X.
D. Coupland, Geração X.
quinta-feira, julho 17
A incerteza das imagens
Há pouco mais de um mês, ainda a campanha publicitária da nova marca de Coimbra enchia os placards das ruas, recebi um mail que alertava para a possibilidade da marca ser um plágio: afinal, ela era muito parecida com o logo da Quintiles, uma multinacional do ramo farmacêutico. Realmente, uma imagem parecia a outra vista ao espelho. As letras também eram parecidas. Escândalo.
No entanto, uma observação mais cuidadosa deixava perceber algumas diferenças subtis: a espessura do círculo relativamente ao seu diâmetro era diferente e o mesmo acontecia com a espessura do “corte” no círculo. Se a relação entre essas distâncias fosse a mesma nos dois símbolos, quase de certeza haveria plágio, pois seria demasiada coincidência. Mas como era diferente, a incerteza continuava.
Penso que este tipo de dúvida irá colocar-se cada vez com mais frequência. Primeiro, porque a internet permitiu o acesso a trabalhos excelentes e tornou o plágio fácil. Segundo, porque agora rapidamente se pesquisa o mundo para saber se há algo igual (há até software especializado para apanhar plágios). Terceiro, porque a probabilidade de se criarem dois objectos iguais de forma independente é finita, sobretudo quando são objectos simples, como neste caso.
Recentemente, o autor veio a público defender-se, numa carta publicada no Diário de Coimbra no passado dia 4. Tinha um link que aponta para imagem abaixo (clique para ampliar), que descreve a evolução da marca em 255 passos até atingir a forma final (com tantas imagens, escolheu-se logo a que era parecida com uma marca internacional... bem, se calhar acontecia o mesmo com outras).
Por mim, acredito que não tenha havido plágio. E agora que me habituei, gosto da marca sim senhor.
No entanto, uma observação mais cuidadosa deixava perceber algumas diferenças subtis: a espessura do círculo relativamente ao seu diâmetro era diferente e o mesmo acontecia com a espessura do “corte” no círculo. Se a relação entre essas distâncias fosse a mesma nos dois símbolos, quase de certeza haveria plágio, pois seria demasiada coincidência. Mas como era diferente, a incerteza continuava.
Penso que este tipo de dúvida irá colocar-se cada vez com mais frequência. Primeiro, porque a internet permitiu o acesso a trabalhos excelentes e tornou o plágio fácil. Segundo, porque agora rapidamente se pesquisa o mundo para saber se há algo igual (há até software especializado para apanhar plágios). Terceiro, porque a probabilidade de se criarem dois objectos iguais de forma independente é finita, sobretudo quando são objectos simples, como neste caso.
Recentemente, o autor veio a público defender-se, numa carta publicada no Diário de Coimbra no passado dia 4. Tinha um link que aponta para imagem abaixo (clique para ampliar), que descreve a evolução da marca em 255 passos até atingir a forma final (com tantas imagens, escolheu-se logo a que era parecida com uma marca internacional... bem, se calhar acontecia o mesmo com outras).
Por mim, acredito que não tenha havido plágio. E agora que me habituei, gosto da marca sim senhor.
quarta-feira, julho 16
Golpe de Estado em São Tomé
Ainda nem há a certeza da existência de petróleo e os estragos que este poderá vir a fazer num dos países mais pobres do mundo já se fazem sentir. É a sina africana, quanto mais ricos em recursos naturais mais desgraçados. Nunca até hoje essa riqueza trouxe felicidade e bem-estar ao povo africano. Compare-se Moçambique, que após as lutas pós-independência goza de paz, com a muito mais rica Angola ...
P.S. Há muito, desde que se ouviu em falar em petróleo em S. Tomé, que uma revista chamada “Além-Mar”, pertença dos Missionários Combonianos tem vindo a alertar para os riscos que corre este país. A Além-Mar é uma revista fantástica que não teme denunciar as injustiças e hipocrisias mundiais, chamando as coisas pelos seus nomes. Liderou, por exemplo, em 2002 um movimento de recolha de assinaturas contra o “Comércio de Armas” .
P.S. Há muito, desde que se ouviu em falar em petróleo em S. Tomé, que uma revista chamada “Além-Mar”, pertença dos Missionários Combonianos tem vindo a alertar para os riscos que corre este país. A Além-Mar é uma revista fantástica que não teme denunciar as injustiças e hipocrisias mundiais, chamando as coisas pelos seus nomes. Liderou, por exemplo, em 2002 um movimento de recolha de assinaturas contra o “Comércio de Armas” .
terça-feira, julho 15
A incerteza do futuro
Os recentes acontecimentos levaram-me a reflectir no futuro deste blogue. Olhando para o passado, ou seja, fazendo scroll para baixo, descobrimos um rol já invejável de atribulações e de incertezas. O presente está aqui, neste texto. O futuro, esse, vem de cima, escondido algures por detrás do mote "A incerteza como princípio", do título "A aba de Heisenberg" e do anúncio do "BlogSpot". Olhando para um futuro mais longínquo, mais para cima, vejo endereços www, links, ícones, search, favorites, media, menus (File, Edit, View, Help,...) e mais acima ainda... AARGH! Microsoft Internet Explorer! Mais acima no futuro, vejo um perturbante autocolante no meu monitor com os dizeres: Ecology, Energy, Emissions, Ergonomics. Páro para pensar. Mais longe, uma parede branca. E, no infinito, uma certeza: o tecto é o limite!
Nem tudo o que parece é
Quero primeiro lamentar a saída do Luís Januário e dizer-lhe que continuarei atenta aos seus escritos, estejam eles onde estiverem. Afinal a incerteza neste blog é mais em sentido lato...
Sendo quase todos nós, os que escrevem neste blog, trabalhadores da ciência e sabendo que muitos deles estão muito interessados nestas coisas de ozono, buraco do ozono e poluição e etc. trago à praça pública isto é à ABA um destaque da Nature desta semana.
Em NewYork até as árvores são maiores! árvores da mesma espécie crescem mais em New York do que nos arredores da cidade. A razão deste estranho acontecimento parece estar nos níveis de ozono, principal poluente das plantas, que no coração da Big Apple chegam quase a zero. Ironicamente o ozono é produzido por reacção dos poluentes atmosféricos com a luz solar, mas por ser uma molécula extraordinariamente reactiva rapidamente desaparece por reacção com outros poluentes como sejam os óxidos de nitrogénio. O que tudo isto significa? Deixo a discussão para os vindouros. Quem quer pegar no assunto?
Referências
Gregg, J. W., Jones, C. G. & Dawson, T. E. Urbanization effects on tree growth in the vicinity of New York City. Nature, 424, 183 - 187, (2003).
Sendo quase todos nós, os que escrevem neste blog, trabalhadores da ciência e sabendo que muitos deles estão muito interessados nestas coisas de ozono, buraco do ozono e poluição e etc. trago à praça pública isto é à ABA um destaque da Nature desta semana.
Em NewYork até as árvores são maiores! árvores da mesma espécie crescem mais em New York do que nos arredores da cidade. A razão deste estranho acontecimento parece estar nos níveis de ozono, principal poluente das plantas, que no coração da Big Apple chegam quase a zero. Ironicamente o ozono é produzido por reacção dos poluentes atmosféricos com a luz solar, mas por ser uma molécula extraordinariamente reactiva rapidamente desaparece por reacção com outros poluentes como sejam os óxidos de nitrogénio. O que tudo isto significa? Deixo a discussão para os vindouros. Quem quer pegar no assunto?
Referências
Gregg, J. W., Jones, C. G. & Dawson, T. E. Urbanization effects on tree growth in the vicinity of New York City. Nature, 424, 183 - 187, (2003).
Regresso à terra da alegria- A natureza do mal
Não gosto que me digam o que se diz blog e o que não se diz blog- apetece-me logo dizer blog o que não se diz blog. Não me apetece escrever sobre os filhos e netos- já chega a Laurinda Alves e o Eduardo de Sá e o outro Sampaio. Vou-me embora! Adeus. Vou escrever noutro blog. Quem quiser que me encontre.
Qualquer coisa assim
"Não te amo
porque o amor acaba
Não te quero
porque o que tenho é muito
Procuro a tua sombra
porque me ajuda a sonhar
Quero o teu desejo
às vezes
Quero este sentimento incerto"
A. ou B. ou C. ou aba ou qualquer coisa assim
(ATL)
porque o amor acaba
Não te quero
porque o que tenho é muito
Procuro a tua sombra
porque me ajuda a sonhar
Quero o teu desejo
às vezes
Quero este sentimento incerto"
A. ou B. ou C. ou aba ou qualquer coisa assim
(ATL)
Aviz: reparação
Aviz é um dos melhores blogs e fui injusto para com o FJ Viegas quando disse, há dias, que ele não me voltava a enganar. Aviz é um lugar atento ao que de novo surge na blogosfera, tem um preconceito contra a esquerda mas a esquerda merece. Além disso quem fala assim do Camus e do Dicionário Khazar, quem edita Larkin, merece aplauso. Consta que o FJV regressa em breve com um programa de livros. De certeza que vai ser bom e nesse dia vou acender a televisão.
segunda-feira, julho 14
Incerteza?
E agora, depois de admitir que não foi por causa da ameaça de armas de
destruição massiva que se atacou o Iraque, fica tudo bem ? Somos amigos na
mesma? Os civis mortos, a destruição, a pilhagem são danos colaterais para
nada, por engano? E não há um Tribunal Internacional para investigar estes
"enganos"? E não se fala disso? Bom, pelo menos temos uma certeza. É
que os Estados Unidos mais uma vez não vão responder perante o mundo por mais
este engano como não responderam por Hiroshima, Vietname, etc.,etc.,etc. e
vão-se safar impunes. Quando quiserem os Açores para fazer parte do seu
território será que vão dizer que estamos a fabricar armas biológicas através
da produção de bactérias nocivas do leite?
Enviado por Gó.
destruição massiva que se atacou o Iraque, fica tudo bem ? Somos amigos na
mesma? Os civis mortos, a destruição, a pilhagem são danos colaterais para
nada, por engano? E não há um Tribunal Internacional para investigar estes
"enganos"? E não se fala disso? Bom, pelo menos temos uma certeza. É
que os Estados Unidos mais uma vez não vão responder perante o mundo por mais
este engano como não responderam por Hiroshima, Vietname, etc.,etc.,etc. e
vão-se safar impunes. Quando quiserem os Açores para fazer parte do seu
território será que vão dizer que estamos a fabricar armas biológicas através
da produção de bactérias nocivas do leite?
Enviado por Gó.
Impressões pessoais e erráticas sobre a bola
A existência objectiva de uma comunidade que partilha uma coisa subjectiva, que é uma fé comum num clube, transforma o futebol numa espécie de religião. Eu não fui agraciado com esse tipo de fé e por isso não tenho clube. Mas, visto de outra forma, há alguma vantagem nisso, também nenhum clube me possui a mim.
Este fim de semana fui rumo ao norte e passei perto do novo "campo de futebol" do Futebol Clube do Porto. É branco, o que contrasta com o negro do que estão a construir aqui em Coimbra. E provavelmente com as cores de muitos outros que há em construção pelo país. Apenas e só "campos de futebol," porque lhes eliminaram as pistas de atletismo. É triste que assim seja, porque estão a ser construidos com o dinheiro dos nossos impostos.
Mas não quero ser injusto. Lembro o Centro Cultural de Belém e a Expo 98. Lembro como nos fomos habituando e aprendendo a gostar deles e como acabámos por esquecer as críticas que haviamos feito, as quais foram muitas vezes conduzidas pelas agendas políticas. Acredito que irá provavelmente acontecer o mesmo com a Casa da Música.
Com os "campos de futebol" já antevejo o momento em que a Pátria Portuguesa se vai reconciliar com eles em nome do Orgulho Nacional e dos clubes de estimação de cada um (ena tanta maiúscula). E que felicidade será; "que povo tão empreendedor" dirão alguns...
Mas não é a mesma coisa. Só os tolos podem ficar presos a orgulhos nacionais de circunstância futebolística. Acredito que em Portugal o futebol tem sido um dos muitos impecilhos ao crescimento cultural. E não me venham com "Bolas," que essa estória já tem barbas.
Para mim, o futebol enquanto fenómeno generalizado, não é cultura no sentido moderno. É antes "uma cultura" como o são as da moda ou as culturas dos fãs dos grupos rock ou pop. Porque cultura é o que nos afasta da brutalidade, dos instintos básicos e do efémero. Ademais estas culturas envolvem muito comércio e massificação, sendo por isso também culturas alienantes.
Cada adepto vive as peripécias do campeonato e as realizações da sua equipa como fazendo parte da sua vida íntima. A sucessão de metonímias que nos põe dentro do campo a ganhar a taça com a "nossa selecção," ou a chorar e a procurar culpar alguém pela sua perda, pode ser fantástica em termos antropológicos mas não faz crescer a cultura dos cidadãos. É apenas e só circo.
Resistir é preciso. Cito de memória o presidente do Boavista, quando este ganhou o campeonato, que num momento de lucidez inesquecível terá dito "Sim é uma grande alegria, mas já tive outras maiores como o nascimento dos meus filhos..."
Este fim de semana fui rumo ao norte e passei perto do novo "campo de futebol" do Futebol Clube do Porto. É branco, o que contrasta com o negro do que estão a construir aqui em Coimbra. E provavelmente com as cores de muitos outros que há em construção pelo país. Apenas e só "campos de futebol," porque lhes eliminaram as pistas de atletismo. É triste que assim seja, porque estão a ser construidos com o dinheiro dos nossos impostos.
Mas não quero ser injusto. Lembro o Centro Cultural de Belém e a Expo 98. Lembro como nos fomos habituando e aprendendo a gostar deles e como acabámos por esquecer as críticas que haviamos feito, as quais foram muitas vezes conduzidas pelas agendas políticas. Acredito que irá provavelmente acontecer o mesmo com a Casa da Música.
Com os "campos de futebol" já antevejo o momento em que a Pátria Portuguesa se vai reconciliar com eles em nome do Orgulho Nacional e dos clubes de estimação de cada um (ena tanta maiúscula). E que felicidade será; "que povo tão empreendedor" dirão alguns...
Mas não é a mesma coisa. Só os tolos podem ficar presos a orgulhos nacionais de circunstância futebolística. Acredito que em Portugal o futebol tem sido um dos muitos impecilhos ao crescimento cultural. E não me venham com "Bolas," que essa estória já tem barbas.
Para mim, o futebol enquanto fenómeno generalizado, não é cultura no sentido moderno. É antes "uma cultura" como o são as da moda ou as culturas dos fãs dos grupos rock ou pop. Porque cultura é o que nos afasta da brutalidade, dos instintos básicos e do efémero. Ademais estas culturas envolvem muito comércio e massificação, sendo por isso também culturas alienantes.
Cada adepto vive as peripécias do campeonato e as realizações da sua equipa como fazendo parte da sua vida íntima. A sucessão de metonímias que nos põe dentro do campo a ganhar a taça com a "nossa selecção," ou a chorar e a procurar culpar alguém pela sua perda, pode ser fantástica em termos antropológicos mas não faz crescer a cultura dos cidadãos. É apenas e só circo.
Resistir é preciso. Cito de memória o presidente do Boavista, quando este ganhou o campeonato, que num momento de lucidez inesquecível terá dito "Sim é uma grande alegria, mas já tive outras maiores como o nascimento dos meus filhos..."
domingo, julho 13
Timor vs Iraque
Admito que tive certezas em relação ao caso de Timor. Aliás, a julgar pela
mobilização dos Portugueses e de todos os partidos políticos, no caso de Timor
houve verdadeiro consenso. Temos de admitir que, no caso do Iraque, as certezas
não foram tantas e por uma razão muito simples. Nós que vivemos num país onde
há liberdade de expressão (será que existe?-não tenho a certeza!), sentimo-nos
instintivamente revoltados pelo facto de continuarem existir pessoas oprimidas
e violadas nos seus direitos mais básicos, pelo simples facto de demonstrarem
não ter certezas em relação aos seus regimes opressores. Não será preciso
recordar a Bósnia ou o Ruanda. A questão básica que se levanta é
assustadoramente simples e que pode ser pretexto para alguns países esconderem
as suas verdadeiras intenções: - devemos ficar a assistir à violação permanente
dos direitos humanos, mesmo quando há interesses mais ou menos subjectivos, que
inviabilizem uma intervenção imediata? Há alguém que tenha certezas absolutas
na busca desta resposta?
Enviado por Martim.
mobilização dos Portugueses e de todos os partidos políticos, no caso de Timor
houve verdadeiro consenso. Temos de admitir que, no caso do Iraque, as certezas
não foram tantas e por uma razão muito simples. Nós que vivemos num país onde
há liberdade de expressão (será que existe?-não tenho a certeza!), sentimo-nos
instintivamente revoltados pelo facto de continuarem existir pessoas oprimidas
e violadas nos seus direitos mais básicos, pelo simples facto de demonstrarem
não ter certezas em relação aos seus regimes opressores. Não será preciso
recordar a Bósnia ou o Ruanda. A questão básica que se levanta é
assustadoramente simples e que pode ser pretexto para alguns países esconderem
as suas verdadeiras intenções: - devemos ficar a assistir à violação permanente
dos direitos humanos, mesmo quando há interesses mais ou menos subjectivos, que
inviabilizem uma intervenção imediata? Há alguém que tenha certezas absolutas
na busca desta resposta?
Enviado por Martim.
Que difícil é apagar a chama
Ninguém é o que parece
todos querem ser aquilo que merecem
e os que parecem o que são
não são outra coisa que não conviesse.
Convém ser o que o vizinho não é
Não porque ele é,
Mas porque não se deve ser
um ser igual.
Se o vizinho diz
eu desdigo
O vizinho vê
eu cego
E ele ouve
eu mudo
Ele dá
eu recuso
Ofereçe
Não agradeço
Ele não cede
eu não cedo
Se vem com medo
Recebo
Se não vem
Fujo.
Ninguém se reduz
Ninguém se revê
Ninguém se desmente
Ninguém perdoa
Ninguém se emenda
Ninguém se engana
Ninguém por um segundo
Apaga a sua chama.
Enviado por Martim.
todos querem ser aquilo que merecem
e os que parecem o que são
não são outra coisa que não conviesse.
Convém ser o que o vizinho não é
Não porque ele é,
Mas porque não se deve ser
um ser igual.
Se o vizinho diz
eu desdigo
O vizinho vê
eu cego
E ele ouve
eu mudo
Ele dá
eu recuso
Ofereçe
Não agradeço
Ele não cede
eu não cedo
Se vem com medo
Recebo
Se não vem
Fujo.
Ninguém se reduz
Ninguém se revê
Ninguém se desmente
Ninguém perdoa
Ninguém se emenda
Ninguém se engana
Ninguém por um segundo
Apaga a sua chama.
Enviado por Martim.
A incerteza de ganhar a paz
Washington Post: o General Tommy Franks disse na passada quinta-feira que no Iraque há por dia 10 a 25 acidentes violentos com as tropas americanas. Aquilo que se ouve nas notícias é a ponta do icebergue, portanto.
A incerteza do rumo
Vejo este blogue como um espaço onde se move um conjunto de peixes. Esses peixes têm diferentes perspectivas, por se encontrarem em diferentes posições neste mundo n-dimensional formado pelas 3 dimensões do espaço, pela dimensão temporal e por n-4 dimensões provenientes das nossas diferentes e variadas vivências. Essas múltiplas perspectivas fazem com que cada um de nós se aperceba do complexo mundo que nos rodeia de forma diferente. A soma dessas percepções permite-nos conhecê-lo melhor do que se estivéssemos sós.
Num dia os peixes podem estar cada um para seu lado, noutro dia podem formar um cardume compacto. Cada peixe é um indivíduo, faz o que quer.
Quando os peixes estão isolados, o grupo explora uma porção maior de espaço, adquirindo em princípio mais conhecimento. Contudo, se não houver comunicação interindivíduos esse conhecimento-soma perde-se, fica disperso, limitado a cada indivíduo. Cada peixe fica com uma visão muito limitada da realidade.
Se todos peixes tivessem a mesma perspectiva do mundo que os rodeia, ou seja, se todos os peixes olhassem na mesma direcção a partir do mesmo ponto e pensassem da mesma maneira, não haveria vantagem em estar num cardume. As vantagens decorrem do facto de cada um olhar para sítios diferentes de forma diferente, permitindo a um de nós ver algo que os outros não viram e assim alertar o grupo para um petisco ou para um perigo. Um só elemento do cardume pode fazer o cardume mover-se numa dada direcção ou dispersar-se, de forma espontânea. A direcção do cardume, essa, é incerta e vai variando em função das descobertas que o grupo faz.
Nos grupos de pessoas, os raciocínios são mais elaborados, as interacções entre indivíduos mais complexas e acontece por vezes alguns quererem deliberadamente levar o grupo numa dada direcção. Paradoxalmente, nas sociedades humanas supostamente livres, vivemos bastante atados. Somos constantemente solicitados para nos movermos para ali, fazermos isto, comprarmos aquilo. Há sempre alguém ou algo que quer que façamos qualquer coisa, limitando-nos os movimentos. Felizmente, há uma rede, também chamada teia, que paradoxalmente nos liberta. E há um espaço, infinitamente pequeno nesta gigantesca rede, onde o princípio da incerteza de Heisenberg se aplica e onde é impossível termos certas certezas, por mais que queiramos.
Para mim, a incerteza do rumo deste blogue é um dos seus prazeres. Cada indivíduo tem absoluta liberdade para falar do que lhe apetece. Não me interessa saber para onde vamos, basta-me saber que nos movemos livremente e que nos divertimos na viagem.
Des-aba-r? Não: des-aba-far. Que este blogue seja o princípio da incerteza e da liberdade para muitos de nós.
E para aumentar a incerteza, não estavam à espera que depois deste paleio vos fosse falar dos boids, pois não? Que maluqueira meu, estragaste tudo. Que é isso dos boids?
Num dia os peixes podem estar cada um para seu lado, noutro dia podem formar um cardume compacto. Cada peixe é um indivíduo, faz o que quer.
Quando os peixes estão isolados, o grupo explora uma porção maior de espaço, adquirindo em princípio mais conhecimento. Contudo, se não houver comunicação interindivíduos esse conhecimento-soma perde-se, fica disperso, limitado a cada indivíduo. Cada peixe fica com uma visão muito limitada da realidade.
Se todos peixes tivessem a mesma perspectiva do mundo que os rodeia, ou seja, se todos os peixes olhassem na mesma direcção a partir do mesmo ponto e pensassem da mesma maneira, não haveria vantagem em estar num cardume. As vantagens decorrem do facto de cada um olhar para sítios diferentes de forma diferente, permitindo a um de nós ver algo que os outros não viram e assim alertar o grupo para um petisco ou para um perigo. Um só elemento do cardume pode fazer o cardume mover-se numa dada direcção ou dispersar-se, de forma espontânea. A direcção do cardume, essa, é incerta e vai variando em função das descobertas que o grupo faz.
Nos grupos de pessoas, os raciocínios são mais elaborados, as interacções entre indivíduos mais complexas e acontece por vezes alguns quererem deliberadamente levar o grupo numa dada direcção. Paradoxalmente, nas sociedades humanas supostamente livres, vivemos bastante atados. Somos constantemente solicitados para nos movermos para ali, fazermos isto, comprarmos aquilo. Há sempre alguém ou algo que quer que façamos qualquer coisa, limitando-nos os movimentos. Felizmente, há uma rede, também chamada teia, que paradoxalmente nos liberta. E há um espaço, infinitamente pequeno nesta gigantesca rede, onde o princípio da incerteza de Heisenberg se aplica e onde é impossível termos certas certezas, por mais que queiramos.
Para mim, a incerteza do rumo deste blogue é um dos seus prazeres. Cada indivíduo tem absoluta liberdade para falar do que lhe apetece. Não me interessa saber para onde vamos, basta-me saber que nos movemos livremente e que nos divertimos na viagem.
Des-aba-r? Não: des-aba-far. Que este blogue seja o princípio da incerteza e da liberdade para muitos de nós.
E para aumentar a incerteza, não estavam à espera que depois deste paleio vos fosse falar dos boids, pois não? Que maluqueira meu, estragaste tudo. Que é isso dos boids?
sexta-feira, julho 11
JMF no seu melhor... ou seria para rir se não fosse para chorar
Leram o editorial do "Público"? José Manuel Fernandes no seu melhor! Uma pérola do maniqueísmo e do raciocínio simplista (simplório?) a que o director do "Público" já nos habituou: a BBC que acusou o Governo de Tony Blair de grave manipulação de dados na questão das armas de destruição maciça do Iraque (que desmando!) e que agora não se retracta e que por isso será castigada; o New York Times que foi abertamente contra a guerra (que horror!) "uma posição quase solitária nos Estados Unidos" (sic), e que por isso atraiu a fúria do Bom Deus que premeia os bons e castiga os maus, "escândalos sucessivos de plágios e histórias inventadas" (sic). G.W. Bush não diria melhor!
Mulheres tremei!
Apesar de ser bem conhecido o mecanismo molecular da acção da ampicilina, este e outros antibióticos foram considerados “responsáveis” por mais de 60 gravidezes só no Reino Unido, apesar das mulheres em causa tomarem cuidadosamente a “pilula”. A explicação é simples: os esteróides são reabsorvidos ao nível do tracto gastro-intestinal e nesse processo intervém uma obscura bactériazinha que habita esses locais recônditos. Bom, matando a bactéria... Pharmacology Brain Teasers
bom bordo
Os sentidos aguçam o ser, há um precipício no devir que apela ao voo. Dizer no ermo, no silêncio, o sentido das emoções, sabe a cascatas no olhar. O horizonte enevoado prolonga-se por fim para lá da música. Nas ondas sem rumo defino a estrela, como se por caminhos nos fins de tarde outonais. Nas sombras dos matagais, julgo ver personagens com memória. A luz refecte-se nos contornos dos montes e corta como o frio. A vida essa, paira no esvoaçar dos tordos que se afastam em bandos para leste. O tempo estende então o manto lilás sobre a existência. Vagamente e de contornos incertos reconheço pétalas no sobressalto da vigília.
Rui Pena dos Reis
Rui Pena dos Reis
No concerto do Lou Reed
Fui com um grupo de amigos verdadeiros fãs. Jantamos na "Taberna". Quando a empregada disse que estávamos na mesa onde Ele jantara na noite anterior foi um delírio. O João Pedro na cadeira do Lou Reed. A Teresa na cadeira do Antony. O Gil na cadeira do mestre chinês. Eu a Anne e R. já não me lembro. Comemos migas e posta como eles. Escrevemos no livro de honra na pagina adjacente à dele. Até tiraram fotografias... Chegamos ao portão do jardim cedíssimo. Quase uma hora à espera mas fomos os primeiros a entrar. Ocupamos as três primeiras filas centrais contra a vontade das meninas de vermelho com ar de hospedeiras de bordo. Daqui não saímos daqui ninguém nos tira. Também gostei muito do concerto e vibrei com o solo de violoncelo. Não gostei especialmente da canção do Fernando (imitação pouco talentosa de Eric Clapton).Vi aquela besta a vaiar o Antony tinha mesmo cara de javardo. .
ATL
ATL
uma questão de certeza
Era uma vez, há muitos anos, um professor japonês chamado K. com quem eu colaborei. Uma manhã pensámos e elaborámos os dois um protocolo de trabalho para a minha tarde. Ele saíu cedo e eu fiquei. Fiquei e pensei e não fiz nada do protocolo. Na manhã seguinte ele voltou e perguntou e eu, inocente, disse: não fiz, pensei. Ante o meu ar incrédulo, ele gritou, primeiro em japonês, depois em inglês muito alto e depois em inglês -até eu perceber- you should have told me first. Depois conversámos e eu, corajoso e trémulo, expliquei o erro do protocolo: para quê medir se bastou pensar?
Dias mais tarde eu passei a ser o único no laboratório a quem ele pagou um lanche, disse-me: "se um aluno fizer tudo o que o mestre lhe diz só o pode igualar, nunca ultrapassar". Mas ainda tremo de pensar que eu podia estar errado...
Dias mais tarde eu passei a ser o único no laboratório a quem ele pagou um lanche, disse-me: "se um aluno fizer tudo o que o mestre lhe diz só o pode igualar, nunca ultrapassar". Mas ainda tremo de pensar que eu podia estar errado...
n'A festa de incertezas
eu também estive lá, falei com dois abas e nenhum me foi apresentado...
Agit-Prop
João Miguel onde andas tu? Ainda estás connosco?
Pois é, o João iniciou a sua aventura nos boletins neotecnológicos aqui, bebeu da nossa vasta experiência :-), escreveu resolvi iniciar o meu próprio blog e sugere agitar-propriamente. Antes de ler?
Pois é, o João iniciou a sua aventura nos boletins neotecnológicos aqui, bebeu da nossa vasta experiência :-), escreveu resolvi iniciar o meu próprio blog e sugere agitar-propriamente. Antes de ler?
quinta-feira, julho 10
O melhor do mundo são as crianças
Olá George W. Bush.
Escrevo-lhe para lhe dizer como podemos construir um futuro melhor. O senhor pensa que se acabam as guerras fazendo outras. Está enganado, pode acabar com uma guerra mas começa com outra. A guerra acaba quando as pessoas decidem não lutar mais.
Se o senhor se juntar à guerra, a esperança de a guerra acabar vai diminuindo.
...
Chega uma altura que ninguém tem coragem para pedir perdão ao seu irmão ...
Falando a guerra pode acabar, mas com guerra a guerra nunca acabará.
...
Em África há muita pobreza por causa da guerra, países muito secos, zonas muito isoladas e o que falei há bocado que é a má distribuição da riqueza.
...
O vosso país é o mais rico do Mundo. Podia ajudar os países mais pobres por exemplo: a Angola, Moçambique, Afeganistão, Palestina, o novo país Timor e muitos mais. Podem não ajudar só com dinheiro porque ás vezes o dinheiro é mal gasto: em armas, em investigação para fazer armas mais potentes ... Podem ajudar com comida, com medicamentos, comunicação como o telefone, agricultura que se adapte aquela região, médicos, professores, bombeiros para combater os fogos, polícias para combater as brigas, construtores para construir e reconstruir casas e muito mais.
João, 10 anos Março 2003
Escrevo-lhe para lhe dizer como podemos construir um futuro melhor. O senhor pensa que se acabam as guerras fazendo outras. Está enganado, pode acabar com uma guerra mas começa com outra. A guerra acaba quando as pessoas decidem não lutar mais.
Se o senhor se juntar à guerra, a esperança de a guerra acabar vai diminuindo.
...
Chega uma altura que ninguém tem coragem para pedir perdão ao seu irmão ...
Falando a guerra pode acabar, mas com guerra a guerra nunca acabará.
...
Em África há muita pobreza por causa da guerra, países muito secos, zonas muito isoladas e o que falei há bocado que é a má distribuição da riqueza.
...
O vosso país é o mais rico do Mundo. Podia ajudar os países mais pobres por exemplo: a Angola, Moçambique, Afeganistão, Palestina, o novo país Timor e muitos mais. Podem não ajudar só com dinheiro porque ás vezes o dinheiro é mal gasto: em armas, em investigação para fazer armas mais potentes ... Podem ajudar com comida, com medicamentos, comunicação como o telefone, agricultura que se adapte aquela região, médicos, professores, bombeiros para combater os fogos, polícias para combater as brigas, construtores para construir e reconstruir casas e muito mais.
João, 10 anos Março 2003
Le Dormeur du Val
C'est un trou de verdure où chante une rivière
Accrochant follement aux herbes des haillons
D'argent ; où le soleil de la montagne fière
Luit ; c'est un petit val qui mousse de rayons.
Un soldat jeune, bouche ouverte, tête nue,
Et la nuque baignant dans le frais cresson bleu,
Dort ; il est étendu dans l'herbe, sous la nue,
Pâle dans son lit vert où la lumière pleut.
Les pieds dans les glaïeuls, il dort. Souriant comme
Sourirait un enfant malade, il fait un somme :
Nature berce-le chaudement : il a froid.
Les parfums ne font pas frissonner sa narine ;
Il dort dans le soleil, la main sur sa poitrine
Tranquille. Il a deux trous rouges au côté droit.
Arthur Rimbaud
Accrochant follement aux herbes des haillons
D'argent ; où le soleil de la montagne fière
Luit ; c'est un petit val qui mousse de rayons.
Un soldat jeune, bouche ouverte, tête nue,
Et la nuque baignant dans le frais cresson bleu,
Dort ; il est étendu dans l'herbe, sous la nue,
Pâle dans son lit vert où la lumière pleut.
Les pieds dans les glaïeuls, il dort. Souriant comme
Sourirait un enfant malade, il fait un somme :
Nature berce-le chaudement : il a froid.
Les parfums ne font pas frissonner sa narine ;
Il dort dans le soleil, la main sur sa poitrine
Tranquille. Il a deux trous rouges au côté droit.
Arthur Rimbaud
A arte de calar
Em 1771 o abade de Dinouart, que havia sido excomungado por ter editado em 1746 um livro chamado "O triunfo do sexo," escreveu "A arte de calar" (edição portuguesa da Teorema) cujos princípios são mais ou menos estes:
1. Só deve deixar-se de estar calado se houver algo a dizer que valha mais do que o silêncio.
2. Há um tempo para calar e outro para falar. O tempo para calar é sempre o primeiro.
3. Só no silêncio o homem é senhor de si. Fora dele é mais dos outros que de si.
4. Tendo coisa importante a dizer deve pensar-se muito e, após refletir bem, voltar a pensar tudo outra vez, para não haver arrependimento quando já não se pode reter o que foi dito.
5. Quando a vontade de falar é muito grande deve desconfiar-se imediatamente que possa não ser bom abandonar o silêncio.
6. Não há mais mérito em explicar o que se sabe que em calar o que se ignora.
7. Em geral arrisca-se menos não falando. No entanto, não há menos imprudência em calar quando se deve falar quanto há leviandade em falar quando se deve calar.
8. O silêncio faz as vezes de capacidade nos obtusos, de sensatez nos tolos e de sabedoria nos ignorantes.
9. É preferível ser suspeito de não ter talento por estar calado que ser conhecido como tolo por falar demais.
10. Raramente nos queixamos da brevidade, mas queixamo-nos sempre da longura.
11. Quando se trata de um segredo o silêncio nunca é demais.
12. Há que ser sempre sincero. Podemos reter alguns pensamentos mas não devemos disfarçar nenhum. Há maneiras de calar sem fechar o coração, de ser discreto sem ser taciturno, de esconder a verdade sem a cobrir de mentiras.
1. Só deve deixar-se de estar calado se houver algo a dizer que valha mais do que o silêncio.
2. Há um tempo para calar e outro para falar. O tempo para calar é sempre o primeiro.
3. Só no silêncio o homem é senhor de si. Fora dele é mais dos outros que de si.
4. Tendo coisa importante a dizer deve pensar-se muito e, após refletir bem, voltar a pensar tudo outra vez, para não haver arrependimento quando já não se pode reter o que foi dito.
5. Quando a vontade de falar é muito grande deve desconfiar-se imediatamente que possa não ser bom abandonar o silêncio.
6. Não há mais mérito em explicar o que se sabe que em calar o que se ignora.
7. Em geral arrisca-se menos não falando. No entanto, não há menos imprudência em calar quando se deve falar quanto há leviandade em falar quando se deve calar.
8. O silêncio faz as vezes de capacidade nos obtusos, de sensatez nos tolos e de sabedoria nos ignorantes.
9. É preferível ser suspeito de não ter talento por estar calado que ser conhecido como tolo por falar demais.
10. Raramente nos queixamos da brevidade, mas queixamo-nos sempre da longura.
11. Quando se trata de um segredo o silêncio nunca é demais.
12. Há que ser sempre sincero. Podemos reter alguns pensamentos mas não devemos disfarçar nenhum. Há maneiras de calar sem fechar o coração, de ser discreto sem ser taciturno, de esconder a verdade sem a cobrir de mentiras.
Pérolas da net
quarta-feira, julho 9
Sismo
Num profundo silêncio, como se do nada se tratasse, todos esperamos. A desordem
browniana que nos associa, parece, de longe, um suspiro. Sob os nossos pés, no
mais nobre lugar, por vales ou montes, bosques ou desertos, mares ou horizontes,
o dia acaba sempre por chegar. Nesse momento a terra pode tremer com fragor, as
águas arrasar com espasmos de viscosidade, as lamas correr como
dragões. No céu a cor é agnóstica. E então, cavamos de novo as vinhas, limpamos
as oliveiras e com sorte podemos esfregar alecrim nas nossas mãos.
Rui Pena dos Reis
browniana que nos associa, parece, de longe, um suspiro. Sob os nossos pés, no
mais nobre lugar, por vales ou montes, bosques ou desertos, mares ou horizontes,
o dia acaba sempre por chegar. Nesse momento a terra pode tremer com fragor, as
águas arrasar com espasmos de viscosidade, as lamas correr como
dragões. No céu a cor é agnóstica. E então, cavamos de novo as vinhas, limpamos
as oliveiras e com sorte podemos esfregar alecrim nas nossas mãos.
Rui Pena dos Reis
Mais Álvaro de Campos
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
Poesias de Álvaro de Campos
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
Poesias de Álvaro de Campos
Centro de histocompatibilidade
Pronto, já está! Fui inscrever-me como possível dador de medula. Para já não custou nada, só tive que preencher um formulário rápido. O próximo passo não vai custar nada: vão recolher um pouco do meu sangue. A seguir ... possa eu ser útil para alguém, que é o que faz de nós seres humanos. Fui esclarecida de que em qualquer altura posso desistir sem sequer ter que me explicar. Não me dêem os parabéns! Passem por lá também http://www.chsul.pt!
a favor da europa...
...as boas notícias (relativas).
A europa tem liderado a defesa do princípio da precaução dos OGM (não por razões altruístas, receio) e a redução da emissão dos gases de efeito de estufa (idem) talvez a outra-fórmula para a economia passe por aqui.
A europa tem liderado a defesa do princípio da precaução dos OGM (não por razões altruístas, receio) e a redução da emissão dos gases de efeito de estufa (idem) talvez a outra-fórmula para a economia passe por aqui.
A importância da incerteza
O João traduziu muito bem o que sinto relativamente à guerra do Iraque (ver texto "porque sim" mais abaixo). Eu também procurei compreender os diferentes pontos de vista, sobretudo aqueles que eram contrários à minha opinião, tentando fazê-lo sem preconceitos e desapaixonadamente. É difícil, mas era necessário para tentar saber se aquilo que me parecia inconcebível à primeira vista poderia ter afinal alguma justificação aceitável. Mas não: no meio de tanta desinformação de parte a parte, a informação que fui recolhendo, seleccionando e variando as fontes, leva-me a crer que a guerra se fez porque havia a oportunidade e não porque havia uma justificação válida.
A juntar às inúmeras incertezas desta guerra, há ainda a incerteza dos números. Esses números da morte de que não gosto de falar, porque uma morte já é demais e a estatística nada resolve, mas vai ter de ser. No Público de hoje, mas também na CNN por exemplo, li mais notícias sobre atentados às forças americanas no Iraque. Uma vez mais, era referido o número de soldados americanos mortos (30) desde que Bush declarou o fim da guerra a 1 de Maio. Contudo, como já vai sendo hábito, nada se diz sobre o número de civis iraquianos mortos desde então.
Felizmente há um site que nos informa de forma séria acerca desses números: o Iraq Body Count. Digo que é de forma séria porque permite-nos avaliar a incerteza desses números, coisa rara nos tempos que correm. E a incerteza contém informação importante.
Neste momento, o contador marca 6055 (mínimo) e 7706 (máximo). O valor real encontra-se provavelmente entre estes limites. Vale a pena pensar na diferença entre os 2 valores: 1651 civis iraquianos que não se sabe se morreram ou não. Vale a pena repetir: 1651. Este número quantifica a nossa ignorância, a incapacidade e/ou a falta de vontade em avaliar os efeitos de actos de guerra não justificados. Esta incerteza quantifica as dificuldades práticas em determinar o número de mortes, mas também e talvez sobretudo, o grau de desinformação, de propaganda, de mentira (de ambos os lados) e de desrespeito pelos cidadãos do mundo que têm direito de saber a verdade. Em última análise, esta incerteza quantifica o desrespeito pela vida humana.
Por uma questão de respeito, decidi-me a contar o número de iraquianos mortos desde 1 de Maio de 2003. Igualmente por respeito, acho que esse número não deve ser comparado com o número de americanos mortos. Não faria sentido. Mas esse número tem de ser contado: 93 (mínimo), 105 (máximo).
A juntar às inúmeras incertezas desta guerra, há ainda a incerteza dos números. Esses números da morte de que não gosto de falar, porque uma morte já é demais e a estatística nada resolve, mas vai ter de ser. No Público de hoje, mas também na CNN por exemplo, li mais notícias sobre atentados às forças americanas no Iraque. Uma vez mais, era referido o número de soldados americanos mortos (30) desde que Bush declarou o fim da guerra a 1 de Maio. Contudo, como já vai sendo hábito, nada se diz sobre o número de civis iraquianos mortos desde então.
Felizmente há um site que nos informa de forma séria acerca desses números: o Iraq Body Count. Digo que é de forma séria porque permite-nos avaliar a incerteza desses números, coisa rara nos tempos que correm. E a incerteza contém informação importante.
Neste momento, o contador marca 6055 (mínimo) e 7706 (máximo). O valor real encontra-se provavelmente entre estes limites. Vale a pena pensar na diferença entre os 2 valores: 1651 civis iraquianos que não se sabe se morreram ou não. Vale a pena repetir: 1651. Este número quantifica a nossa ignorância, a incapacidade e/ou a falta de vontade em avaliar os efeitos de actos de guerra não justificados. Esta incerteza quantifica as dificuldades práticas em determinar o número de mortes, mas também e talvez sobretudo, o grau de desinformação, de propaganda, de mentira (de ambos os lados) e de desrespeito pelos cidadãos do mundo que têm direito de saber a verdade. Em última análise, esta incerteza quantifica o desrespeito pela vida humana.
Por uma questão de respeito, decidi-me a contar o número de iraquianos mortos desde 1 de Maio de 2003. Igualmente por respeito, acho que esse número não deve ser comparado com o número de americanos mortos. Não faria sentido. Mas esse número tem de ser contado: 93 (mínimo), 105 (máximo).
toda uma existência por um pensamento
acreditem, sobre a guerra já tudo foi dito. Sobre as passadas, o Iraque e as que virão. Sabemos que não foi "a natureza boa" que nos ensinou a guerra se nem o bem e o mal nos ensinou. Dito que está tudo, queria trocar toda uma existência por esse pensamento repetido até à exaustão. E isto devia bastar para o mundo compreender. Só depois de cada um de nós ter incorporado esta ideia no corpo podemos partir.
Infelizmente não é assim. Depois de aberta mais esta caixa de Pandora para onde nos levará a caixa de ressonância? Lembro-me de, nos dias seguintes ao início da guerra, na pressa de comentar em todos os canais, os mais variados comentadores preconizarem o fim da ONU... isso não aconteceu, e ao invés os grandes líderes em desacordo estão já em claro alinhamento. Penso que este resultado não é surpreendente porque a história conta-nos que a ONU teve outras crises no passado. Não sou especialista em assuntos internacionais mas melhor do que sobreviver não teria sido aproveitar a crise na ONU para a repensar enquadrando-a nos novos (des-)equílibrios do planeta? E com isso a (re-)credibilizar e fortalecer?
Um outro assunto em debate activo na Europa é o da existência de um ministro dos negócios-estrangeiros-comum, coisa que me parece essencial para ter uma política-internacional-comum e um papel a nível mundial. Ouvi já dois comentadores, em ocasiões diferentes referir que isso é impossível enquanto não tivermos um exército-comum-europeu. Temo que a manter-se o euro forte uma corrida aos armamentos ganhe corpo na europa como forma de aumentar as exportações e assim o euro forte... esta foi, julgo eu, a política dos EU desde a era Reagan. Outra-fórmula para a economia precisa-se.
Infelizmente não é assim. Depois de aberta mais esta caixa de Pandora para onde nos levará a caixa de ressonância? Lembro-me de, nos dias seguintes ao início da guerra, na pressa de comentar em todos os canais, os mais variados comentadores preconizarem o fim da ONU... isso não aconteceu, e ao invés os grandes líderes em desacordo estão já em claro alinhamento. Penso que este resultado não é surpreendente porque a história conta-nos que a ONU teve outras crises no passado. Não sou especialista em assuntos internacionais mas melhor do que sobreviver não teria sido aproveitar a crise na ONU para a repensar enquadrando-a nos novos (des-)equílibrios do planeta? E com isso a (re-)credibilizar e fortalecer?
Um outro assunto em debate activo na Europa é o da existência de um ministro dos negócios-estrangeiros-comum, coisa que me parece essencial para ter uma política-internacional-comum e um papel a nível mundial. Ouvi já dois comentadores, em ocasiões diferentes referir que isso é impossível enquanto não tivermos um exército-comum-europeu. Temo que a manter-se o euro forte uma corrida aos armamentos ganhe corpo na europa como forma de aumentar as exportações e assim o euro forte... esta foi, julgo eu, a política dos EU desde a era Reagan. Outra-fórmula para a economia precisa-se.
Cacharel
No hiper dos perfumes a empregada declina a sua preferência pelos perfumes fortes, ditos de velhas, para uso irregular, de dia e de verão, pois claro. Olho-a divertido, com apreço pela coragem que revela em falar de si mesma, desafiando o bom senso e o contrato a recibo verde. Peço-lhe um exemplo e ela retira quase sem hesitar, da farta escolha, um Cacharel afinal não tão doce, pesado ou almiscarado como ameaçara.
Abelaira
Acho que devíamos evocar Augusto Abelaira na sua morte. Não se edita e acho que quase ninguém o lê. Mas foi importante para a geração que era jovem no tempo da Cidade das Flores e da Enseada Amena e que vivia castrada entre o salazarismo e a vulgata neo-realista que pensava que f... era burguês.
Blogs
Blog de esquerda: um consolo que exista. Conheçoo há pouco tempo mas o que o JM Silva escreveu de Paris é excelente. As notas da viagem de regresso a Portugal também são muito boas, refazendo esse trajecto mítico, a estrada dos portugueses. Se o JM Silva é o mesmo que em 2001 editou na Gótica o livro de poesia Nuvens e Labirintos (desculpem a ignorância) então está a escrever muito melhor (já o fazia bem):
" Sabemos que as palavras
nos protegem do mundo.
Mas quem nos protege
das palavras?"
Aviz. Uma escrita com alguma serenidade. Mas eu no perdôo ao FJ Viegas ter-me enganado.
Abrupto. Um esforço do Grande Manipulador para conquistar (mais) adeptos. Mas admiro a energia, a combatividade. E um homem que tem amigas que escrevem cartas como aquela carta de Timor de há dias tem de ter qualidades. Se ele ao menos um momento parasse de ser uma máquina de triturar, de convencer, de destruir à passagem e escutasse...
O blog do Miguel Vale de Almeida: Elegante. Entusiamado sem perder o sentido crítico nem o humor.
Dicionário Diabo: Eu desculpo tudo a um dos meus poetas favoritos. Esse que escreveu Em Memória e Eliot e outras observações, o poeta dessa cidade deserta , apenas habitada pelos que não puderam partir para fins-de -semana tão miseráveis como o destes velhos que conhecem os horários dos shoppings centers, um Manuel de Freitas com menos alcoól e mais medo das mulheres, pode ser vesgo para a esquerda, cheio de uma raiva injusta. Não me importo muito. Eu compreendi que o que o fez ser de direita é um pouco o que me fez ser de esquerda. Não aceitar que as coisas tenham de ser "assim". Que sejam sempre os mesmos a ditar as normas, o que está bem, o que deve ser e como . Que exista uma sociedade formatada por gente a quem não reconhecemos qualidade, nem bom gosto, nem cultura.
" Sabemos que as palavras
nos protegem do mundo.
Mas quem nos protege
das palavras?"
Aviz. Uma escrita com alguma serenidade. Mas eu no perdôo ao FJ Viegas ter-me enganado.
Abrupto. Um esforço do Grande Manipulador para conquistar (mais) adeptos. Mas admiro a energia, a combatividade. E um homem que tem amigas que escrevem cartas como aquela carta de Timor de há dias tem de ter qualidades. Se ele ao menos um momento parasse de ser uma máquina de triturar, de convencer, de destruir à passagem e escutasse...
O blog do Miguel Vale de Almeida: Elegante. Entusiamado sem perder o sentido crítico nem o humor.
Dicionário Diabo: Eu desculpo tudo a um dos meus poetas favoritos. Esse que escreveu Em Memória e Eliot e outras observações, o poeta dessa cidade deserta , apenas habitada pelos que não puderam partir para fins-de -semana tão miseráveis como o destes velhos que conhecem os horários dos shoppings centers, um Manuel de Freitas com menos alcoól e mais medo das mulheres, pode ser vesgo para a esquerda, cheio de uma raiva injusta. Não me importo muito. Eu compreendi que o que o fez ser de direita é um pouco o que me fez ser de esquerda. Não aceitar que as coisas tenham de ser "assim". Que sejam sempre os mesmos a ditar as normas, o que está bem, o que deve ser e como . Que exista uma sociedade formatada por gente a quem não reconhecemos qualidade, nem bom gosto, nem cultura.
terça-feira, julho 8
Iraque, porque sim.
Sim, talvez, é uma boa hipótese. Claro que o petróleo é importante. E que erradicar um regime que não é obediente é tentador. Mas pode não ser determinante. Pode ser que os países que adquiriram dimensão para se mover à escala mundial se comportem aí como grandes organismos vivos. Pode ser que as plutocracias que verdadeiramente decidem a política externa de um país o façam reguladas pelas mesmas leis primordiais que determinam (probabilisticamente) o comportamento dos seres vivos. Os EUA invadiram o Iraque simplesmente porque tinham os meios para o fazer, vontade de o fazer, possibilidade de o fazer. Simplesmente porque sim. Como o tigre brincando com uma presa entre as patas. Preparando-se para batalhas futuras, essas sim decisivas. Para manter apurado o seu potencial ofensivo. Para cumprir o seu destino de predador. Porque aqueles genes, que permitiram que ele seja esse animal magnifíco que ontem venceu a guerra fria, alisou as montanhas do Afganistão, pôs a velha Mãe Europa de joelhos e hoje se dirige tranquilamente para África, aqueles genes foram ligados.
e contra isso também
sou contra a globalização
sou contra a europa
contra a farmácia de serviço
contra a guerra
a ONU
sou contra o trabalho infantil
contra a incineração
as radiografias por satélite
contra Fátima Felgueiras
contra Fátima
e Felgueiras
sou contra a incerteza
contra a corrente.
e também sou contra quem é contra. Pronto, agora disse! É para que se saiba.
sou contra a europa
contra a farmácia de serviço
contra a guerra
a ONU
sou contra o trabalho infantil
contra a incineração
as radiografias por satélite
contra Fátima Felgueiras
contra Fátima
e Felgueiras
sou contra a incerteza
contra a corrente.
e também sou contra quem é contra. Pronto, agora disse! É para que se saiba.
sobre o texto do Luis T
Não posso concordar e muito me entristece que neste blogue se discutam casos (de) particulares ou se escreva num estilo "a justiça haverá de apanhar todos os maus" rejeitando todas as incertezas possíveis. Os casos gerais não costumam servir a ninguém e os casos particulares só costumam servir aos próprios. Além disso, não me parece que o mundo melhore se lhe pusermos fogo...
Diálogo entre dois russos
- Tudo o que nos disseram sobre o comunismo era mentira.
- O mais grave é que tudo o que nos disseram sobre o capitalismo era verdade...
(contado no filme Às segundas ao sol; Las Lunes al sol, de Fernando Léon de Aranca com Javier Bardem)
- O mais grave é que tudo o que nos disseram sobre o capitalismo era verdade...
(contado no filme Às segundas ao sol; Las Lunes al sol, de Fernando Léon de Aranca com Javier Bardem)
Ana Paula Inácio
Que os poemas dela enfunem a Aba, neste seu começo titubeante. Ela que escreveu:
"queria que me acompanhasses
vida fora
como uma vela
que me descobrisse o mundo
mas situo-me no lado incerto
onde bate o vento
e só te posso ensinar
nomes de árvores
cujo fruto se colhe numa próxima estação
por onde os comboios estendem
silvos aflitos."
"queria que me acompanhasses
vida fora
como uma vela
que me descobrisse o mundo
mas situo-me no lado incerto
onde bate o vento
e só te posso ensinar
nomes de árvores
cujo fruto se colhe numa próxima estação
por onde os comboios estendem
silvos aflitos."
Chama-me Sónia
A menina estava doente (já quase boa), na cama do hospital (quase sentada). Ele vinha a entrar de serviço. Olhou para a ficha de internamento, leu em silêncio o nome dela (Marta Inês). Perguntou-lhe (assim lhe tinham ensinado): -Olá, como é que queres que te chamemos? Ela sorriu, feliz com aquele grau de liberdade:- Chama-me Sónia!
O Iraque finalmente
Porque deixámos (nós esquerda) de falar sobre o Iraque? Porque a barragem ideológica, mais que o brilho das armas nos venceu? Porque o José Lamego, apoiado pelo governo português e pelas empresas nacionais que contam ter direito a uma fracção do direito de saque (expressão do Miguel Sousa Tavares), aceitou entusiasmado a nomeação para administrador, junto dos americanos, do Iraque ocupado? Porque o Chirac, o Putin e o Schroeder se reconciliaram com o Blair? Porque, obedientes como os habitantes de Bagdad, aceitámos o recolher obrigatório com medo de sermos confundidos com os apoiantes de Saddam?
A recapitulação é fastidiosa mas não posso deixar de a fazer. Saddam era, como outros ditadores regionais, uma figura hedionda. Nós ( a esquerda em que me reconheço) sempre o dissemos e denunciámos. Mas com ou sem gaffe de Wolvowitz não foi esse o pretexto da invasão. Os americanos e os seus aliados invadiram o Iraque porque Saddam 1.detinha armas de agressão que ameaçavam o ocidente e 2.apoiava o terrorismo internacional. Até hoje nenhuma dessas duas afirmações foi confirmada. Pelo contrário, os cenários dos que se opuseram á guerra confirmam-se: os aliados dominam as riquezas petrolíferas da região, traçam a reconstrução do país priorizando o lucro das empresas participantes. O fundamentalismo islâmico não foi travado. O eclipse da ONU e de qualquer instancia reguladora onde os pequenos países tenham alguma influencia, acentuou-se.
Os defensores da guerra, esquecendo os argumentos que brandiram, legitimam agora a intervenção com o direito de ingerência. As tropas de países democráticos varreram uma ditadura sinistra e encontram-se empenhadas em possibilitar que essa sociedade se reorganize segundo regras que consideramos mais correctas, mais respeitadoras da dignidade dos habitantes.
Mas as questões que gostaria de ver debatidas são essas: Somos nós, os invasores aliados e os seus apoiantes, mais civilizados que os ocupados? Em que se estriba essa superioridade civilizacional? E a verificar-se, justifica a ingerencia armada?
Se
A recapitulação é fastidiosa mas não posso deixar de a fazer. Saddam era, como outros ditadores regionais, uma figura hedionda. Nós ( a esquerda em que me reconheço) sempre o dissemos e denunciámos. Mas com ou sem gaffe de Wolvowitz não foi esse o pretexto da invasão. Os americanos e os seus aliados invadiram o Iraque porque Saddam 1.detinha armas de agressão que ameaçavam o ocidente e 2.apoiava o terrorismo internacional. Até hoje nenhuma dessas duas afirmações foi confirmada. Pelo contrário, os cenários dos que se opuseram á guerra confirmam-se: os aliados dominam as riquezas petrolíferas da região, traçam a reconstrução do país priorizando o lucro das empresas participantes. O fundamentalismo islâmico não foi travado. O eclipse da ONU e de qualquer instancia reguladora onde os pequenos países tenham alguma influencia, acentuou-se.
Os defensores da guerra, esquecendo os argumentos que brandiram, legitimam agora a intervenção com o direito de ingerência. As tropas de países democráticos varreram uma ditadura sinistra e encontram-se empenhadas em possibilitar que essa sociedade se reorganize segundo regras que consideramos mais correctas, mais respeitadoras da dignidade dos habitantes.
Mas as questões que gostaria de ver debatidas são essas: Somos nós, os invasores aliados e os seus apoiantes, mais civilizados que os ocupados? Em que se estriba essa superioridade civilizacional? E a verificar-se, justifica a ingerencia armada?
Se
Mar me quer - o avô Celestiano
"Quando sentiu que estava morrendo, meu avô Celestiano chamou a mulher e pediu-lhe:
-- - Deixa-me fitar teus olhos!
E ficou, embevecido, como se a sua alma fosse um barco deitado num mar que eram os olhos de sua amada.
-- - Tens frio? Perguntou ela vendo-o tremer.
-- - Não. És tu que estás a chorar.
-- - Chorar, eu? Começou foi a chover.
(Lembrança de minha avó sobre o último instante do velho Celestiano)"-
ibidem.-
-- - Deixa-me fitar teus olhos!
E ficou, embevecido, como se a sua alma fosse um barco deitado num mar que eram os olhos de sua amada.
-- - Tens frio? Perguntou ela vendo-o tremer.
-- - Não. És tu que estás a chorar.
-- - Chorar, eu? Começou foi a chover.
(Lembrança de minha avó sobre o último instante do velho Celestiano)"-
ibidem.-
segunda-feira, julho 7
Mar me quer - a felicidade
"Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior que doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos querem consolar, aceitar pêsames por uma porção da alma que nem chegou a falecer."
Mar me quer, Mia Couto-
enviado por Armanda.-
Mar me quer, Mia Couto-
enviado por Armanda.-
Fahrenheit 451, ainda
Hoje no Público um artigo de Pedro Ribeiro em Nova Iorque sobre como as pressões de grupos radicais levaram a que as escolas dos EUA impusessem autocensura nos manuais e exames. O artigo reporta-se a um livro da historiadora de educação Diane Ravitch: "The Language Police". Na lista de livros banidos lá está " Fahrenheit 451" de Ray Bradbury. Ao lado de Huckleberry Finn de Mark Twain, "Não matem a cotovia"; "Uma agulha no palheiro" de J.D.Salinger...Tudo livros que recomendo vivamente aos nossos jovens enquanto as nossas escolas não desatam a comportar-se de acordo com qualquer política de linguagem recomendável. Vá lá, pelo menos comprem-nos e armazenem-nos em lugar seguro. Já agora, na quarta feira, juntem a esta lista "O Estrangeiro " do Camus.
Álvaro de Campos
No fim de tudo dormir.
No fim de quê?
No fim do que tudo parece ser...,
Este pequeno universo provinciano entre os astros,
Esta aldeola do espaço,
E não só do espaço visível, mas até do espaço total.
Álvaro de Campos
No fim de quê?
No fim do que tudo parece ser...,
Este pequeno universo provinciano entre os astros,
Esta aldeola do espaço,
E não só do espaço visível, mas até do espaço total.
Álvaro de Campos
A Natureza Boa
A ideia de que a natureza é idílica e de que o Homem estragou tudo quando encerrou a sua absoluta comunhão com ela é a mais louca fantasia humana. Senão vejamos:
Bandos, cardumes, manadas e afins - Não são um grupo simpático de animais a tomar conta uns dos outros. O efeito de diluição e de confusão do predador é óbvio, mas alguém tem de ocupar as orlas, alguém tem de ser comido. A posição geográfica no grupo obedece à mais rigorosa hierarquia. Não acreditam que a decisão vai a votos, não?
Abelhas amigas - Não são altruístas puras nem vivem numa estrutura social perfeita, entregando as suas vidas de trabalho à comunidade em troca de nada. Se notarmos que, à excepção da raínha, toda a abelhinha está inibida de se reproduzir, é fácil deduzir que o investimento maternal da fêmea nas crias, comportamento que conhecemos bem, pode ser desviado para outros seres geneticamente próximos. Um grupo de mulheres estéreis, todas irmãs, não se saíria pior. Não acreditam que há estratégia melhor para cada uma delas, não?
O natural não é mais do que nós, cheio de cenários ditatoriais, tomadas de decisão brutais e uma imensa desigualdade na distribuição do bem individual. A capacidade do homem pensar a justiça, a bondade e a igualdade não foi em vão. Se estamos ainda longe do que queremos humano não é porque desaprendemos as regras do mundo, não é porque parámos de ser animais, mas precisamente porque o somos, todos, naturalmente mal e naturalmente bem. Ser melhor depende apenas do nosso neocortex, excepcionalmente humano, e não das lições toscamentes lidas no National Geographic. O bem e o mal estão unicamente em nós, Homens.
enviado por Sofia (Dom Jul 06, 8:45 PM)
Bandos, cardumes, manadas e afins - Não são um grupo simpático de animais a tomar conta uns dos outros. O efeito de diluição e de confusão do predador é óbvio, mas alguém tem de ocupar as orlas, alguém tem de ser comido. A posição geográfica no grupo obedece à mais rigorosa hierarquia. Não acreditam que a decisão vai a votos, não?
Abelhas amigas - Não são altruístas puras nem vivem numa estrutura social perfeita, entregando as suas vidas de trabalho à comunidade em troca de nada. Se notarmos que, à excepção da raínha, toda a abelhinha está inibida de se reproduzir, é fácil deduzir que o investimento maternal da fêmea nas crias, comportamento que conhecemos bem, pode ser desviado para outros seres geneticamente próximos. Um grupo de mulheres estéreis, todas irmãs, não se saíria pior. Não acreditam que há estratégia melhor para cada uma delas, não?
O natural não é mais do que nós, cheio de cenários ditatoriais, tomadas de decisão brutais e uma imensa desigualdade na distribuição do bem individual. A capacidade do homem pensar a justiça, a bondade e a igualdade não foi em vão. Se estamos ainda longe do que queremos humano não é porque desaprendemos as regras do mundo, não é porque parámos de ser animais, mas precisamente porque o somos, todos, naturalmente mal e naturalmente bem. Ser melhor depende apenas do nosso neocortex, excepcionalmente humano, e não das lições toscamentes lidas no National Geographic. O bem e o mal estão unicamente em nós, Homens.
enviado por Sofia (Dom Jul 06, 8:45 PM)
domingo, julho 6
Saldos, boicote: que poder para o consumidor?
Reaberto o Museu de Bagdade
Não vi a mulher- identificada como a directora do Museu, que no dia do saque chorava nas galerias em escombros.
Lido durante o fim de semana
P Portas aos fiéis: "estivémos sempre do lado certo da história"(Prémio Schrodinger).
Jardim sobre a nomeação política dos novos responsáveis da RTP e RDP-Madeira: "...queremos passar ao ataque e pôr a circular as nossas idéias" (Prémio da Liberdade de Circulação).
Zézinha Nogueira Pinto : "O PSD avocou as concepcões do PP. As preocupações sociais do PP têm estado sempre presentes na agenda do Primeiro Ministro." (Prémio Misericórdia)
Jardim sobre a nomeação política dos novos responsáveis da RTP e RDP-Madeira: "...queremos passar ao ataque e pôr a circular as nossas idéias" (Prémio da Liberdade de Circulação).
Zézinha Nogueira Pinto : "O PSD avocou as concepcões do PP. As preocupações sociais do PP têm estado sempre presentes na agenda do Primeiro Ministro." (Prémio Misericórdia)
Dave Holland Big Band
Não percam. Está anunciado para o Pátio das Escolas mas não paira sobre o evento a ameaça de nenhum doutoramento honoris causanem consta que será abrilhantado pela GNR a cavalo. Os dois últimos trabalhos da big band de Dave Holland na ECM (Not for Nothing e...) são a certeza de uma noite memorável.
Truffaut
Que boa a evocação do Fahrenheit 451, e ainda por cima em Genève, terra de exilados fugindo de ditaduras. No Portugal de finais de 60 o filme tinha uma carga explosiva e uma leitura de resistência óbvia. Os livros escondidos eram muitos. A interpretação da Julie Christie e do Oskar ...era poderosa.
Mas o Truffaut de que gosto mais é o do "Homem que gostava de mulheres"
Mas o Truffaut de que gosto mais é o do "Homem que gostava de mulheres"
Goblin market
Na Mata do Jardim Botânico, habitualmente encerrada ao público (e completamente ao abandono). Peça baseada num longo poema de Christina Rossetti, inglesa de meados do século 19. Tema : a sexualidade reprimida das jovens de então.
Excelente o espaço cénico e o aproveitamento do mesmo(António Barros). Realce para a mãe d'àgua, o canavial que permite a proximação quase invisível dos goblins e a ovelha Mondego, activíssima, escondendo algumas debilidades da banda sonora.
A marcação do tempo pareceu-me deficiente, com pouco ritmo. Os goblins não eram terríveis, nem as meninas me pareceram suficientemente erotizadas para o castigo que se adivinhava. Digo adivinhava, porque, quando os menores de 12 anos presentes ameaçavam montar um espectáculo paralelo, uma das actrizes fez uma luxação do ombro esquerdo e o espectáculo foi interrompido e depois cancelado.
Excelente o espaço cénico e o aproveitamento do mesmo(António Barros). Realce para a mãe d'àgua, o canavial que permite a proximação quase invisível dos goblins e a ovelha Mondego, activíssima, escondendo algumas debilidades da banda sonora.
A marcação do tempo pareceu-me deficiente, com pouco ritmo. Os goblins não eram terríveis, nem as meninas me pareceram suficientemente erotizadas para o castigo que se adivinhava. Digo adivinhava, porque, quando os menores de 12 anos presentes ameaçavam montar um espectáculo paralelo, uma das actrizes fez uma luxação do ombro esquerdo e o espectáculo foi interrompido e depois cancelado.
Lou Reed
Eu estava à frente. Fila 25 da nomenklatura (espero subir umas filas até ao fim da Capital da Cultura, de que este era um by-product). Gostei muito. Não foi revivalista. Cada um dos temas antigos remetia para um recente de um modo nem sempre imediato mas que me pareceu resultar. E o Lou Reed estava bom, valendo por ele próprio e não pela memória. Atrás e dos lados, estavam amigos e amigas minhas. Quando podia olhava para eles (elas). Estavam lindas, luminosas. Quando ribombavam aquelas tempestades electrónicas e a máquina do rock sobe pelo peito acima, quando miss Jane arrancou aquele solo, quando disse tão bem The Raven (já agora experimentem decorá-lo. Há uma versão portuguesa do Pessoa: Começa assim :"Numa meia noite agreste em que lia, lento e triste vagos, curiosos tomos de ciencias ancestrais e já quase adormecia, ouvi o que parecia o som de alguém que batia, levemente batia a meus umbrais". Era o corvo, que haveria de dizer "Nunca mais!" Gótico! arrebatador! -prometo enviar a quem estiver interessado.).
Também gostei que ele tivesse pedido ao Antony para, no encore, cantar "Candy says". Comovente, a voz de contra tenor e o ar desajeitado, quase "crippled". Tinha de haver aquele javardo aos berros para nos lembrar onde estávamos.
Também gostei que ele tivesse pedido ao Antony para, no encore, cantar "Candy says". Comovente, a voz de contra tenor e o ar desajeitado, quase "crippled". Tinha de haver aquele javardo aos berros para nos lembrar onde estávamos.
Fahrenheit 451
o João está em Genève certamente preso a um editor-de-texto de linha e a um teclado universal (actualmente chamado teclado global)... não tem acentos nem ponto final, por isso lhe pego na mão.
Fahrenheit 451, realizado por François Truffaut já no longínquo ano de 1966 é como dizes um filme belo e poético onde o corpo de bombeiros, numa sociedade perfeita e sem incêndios, esquecidos da sua tarefa primordial, respondem a denúncias e queimam bibliotecas e esconderijos. É também um filme de época. Nas décadas de 60 e 70 aparecem com alguma frequência estas visões apocalípticas do mundo - agora um pouco esquecidas. Na altura aparentavam ser pensadas pela primeira vez e assistindo à brusca aceleração fulminante da sociedade os receios de que não se pudesse prever nem controlar qual seria o seu destino germinavam - hoje há uma multidão e uma variedade maior de sentimentos em relação ao futuro, não há um receio generalizado que possa resultar belo e poético num filme que venda, passada a aceleração inicial todos incorporámos a velocidade vertiginosa e não a sentimos.
Está a ser filmado um remake -previsto para 2004- que eu aguardo sem entusiasmo, como de resto a quase todos os remakes. Na era da fast-food, prêt-a-porter, da globalização receio que o filme não seja mais do que Matrixizado e estilizado onde os efeitos especiais e a imagem valem mais do que a história. Numa visão apocalíptica adaptada à tecnologia actual será necessário aumentar a temperatura para derreter também os aúdios, LPs, CDs e DVDs mas a temperatura para fundir a nossa memória é muito mais elevada. Lembrem-se os senhores que fabricam armas de destruição massiva de não atingirem essa temperatura e as instituições internacionais de controlo de declarar, qualquer arma mais letal do que o papel, proibida. Não será assim, neste processo mais uma história será branqueada da nossa memória, atulhada de imagens.
João, espero o teu regresso para te oferecer um teclado português portátil.
Fahrenheit 451, realizado por François Truffaut já no longínquo ano de 1966 é como dizes um filme belo e poético onde o corpo de bombeiros, numa sociedade perfeita e sem incêndios, esquecidos da sua tarefa primordial, respondem a denúncias e queimam bibliotecas e esconderijos. É também um filme de época. Nas décadas de 60 e 70 aparecem com alguma frequência estas visões apocalípticas do mundo - agora um pouco esquecidas. Na altura aparentavam ser pensadas pela primeira vez e assistindo à brusca aceleração fulminante da sociedade os receios de que não se pudesse prever nem controlar qual seria o seu destino germinavam - hoje há uma multidão e uma variedade maior de sentimentos em relação ao futuro, não há um receio generalizado que possa resultar belo e poético num filme que venda, passada a aceleração inicial todos incorporámos a velocidade vertiginosa e não a sentimos.
Está a ser filmado um remake -previsto para 2004- que eu aguardo sem entusiasmo, como de resto a quase todos os remakes. Na era da fast-food, prêt-a-porter, da globalização receio que o filme não seja mais do que Matrixizado e estilizado onde os efeitos especiais e a imagem valem mais do que a história. Numa visão apocalíptica adaptada à tecnologia actual será necessário aumentar a temperatura para derreter também os aúdios, LPs, CDs e DVDs mas a temperatura para fundir a nossa memória é muito mais elevada. Lembrem-se os senhores que fabricam armas de destruição massiva de não atingirem essa temperatura e as instituições internacionais de controlo de declarar, qualquer arma mais letal do que o papel, proibida. Não será assim, neste processo mais uma história será branqueada da nossa memória, atulhada de imagens.
João, espero o teu regresso para te oferecer um teclado português portátil.
Memorandum
Vim agora do concerto do Lou Reed e isto tem de ser escrito a quente, enquanto as notas apanhadas na rede neuronal saltam fresquinhas. O concerto não foi inesquecível, mas eu tenho má memória. Retenho alguns marcos.
Estava na bancada do fundo. Dada a distância, quando dois músicos passavam perto um do outro no palco eu só via um.
Sweet Jane. Lou Reed apresenta os músicos: um excelente cantor, um baixo, uma violoncelista, um guitarrista com cauda de piano.
Small Town. "When you're growing up in a small town / You say no one famous ever came from here". Coimbra is a small town? Sim, não. Claro que sim. "There's only one good use for a small town / You hate it and you know you'll have to leave".
Vanishing act. A música não desapareceu. Pedaços de silêncio apareceram.
Venus in Furs. Magistral solo de violoncelo.
Canção do Fernando. Inenarrável.
Aparato cénico: jardim da sereia, simplesmente. Um "master" daqueles movimentos orientais de que nunca me hei-de lembrar do nome. Ai a minha memória. Sublime, a vermelha combinação movimento/som. Simples, como a música.
Do princípio ao fim, surpresa, exploração, novidade. Com a sua idade, Lou Reed faz-nos sentir antiquados, preconceituosos. Aquilo é música? É rock?
Reacção aparentemente fria do público, sem pulos. Contudo, 2 encores e 2 horas e meia de concerto. Nos encores, fui para perto do palco. Perspectiva completamente diferente. 3 mil perspectivas diferentes.
O concerto não foi de má memória, a minha é que é. Daí este memorandum.
Lou Reed estava bem vivo quando Schrödinger abriu a sua caixa.
Estava na bancada do fundo. Dada a distância, quando dois músicos passavam perto um do outro no palco eu só via um.
Sweet Jane. Lou Reed apresenta os músicos: um excelente cantor, um baixo, uma violoncelista, um guitarrista com cauda de piano.
Small Town. "When you're growing up in a small town / You say no one famous ever came from here". Coimbra is a small town? Sim, não. Claro que sim. "There's only one good use for a small town / You hate it and you know you'll have to leave".
Vanishing act. A música não desapareceu. Pedaços de silêncio apareceram.
Venus in Furs. Magistral solo de violoncelo.
Canção do Fernando. Inenarrável.
Aparato cénico: jardim da sereia, simplesmente. Um "master" daqueles movimentos orientais de que nunca me hei-de lembrar do nome. Ai a minha memória. Sublime, a vermelha combinação movimento/som. Simples, como a música.
Do princípio ao fim, surpresa, exploração, novidade. Com a sua idade, Lou Reed faz-nos sentir antiquados, preconceituosos. Aquilo é música? É rock?
Reacção aparentemente fria do público, sem pulos. Contudo, 2 encores e 2 horas e meia de concerto. Nos encores, fui para perto do palco. Perspectiva completamente diferente. 3 mil perspectivas diferentes.
O concerto não foi de má memória, a minha é que é. Daí este memorandum.
Lou Reed estava bem vivo quando Schrödinger abriu a sua caixa.
sexta-feira, julho 4
Uma mulher apaixonada
Choram depois de fazer amor
algumas mulheres apaixonadas.
Isso ele ouvira dizer.
Mas ela- era tão magra,
desmaiou.
E quando voltou a si
cambaleava
e dizia coisas sem nexo
como se estivesse febril
delirante.
Ele tratou dela como podia.
Quando a noite veio
pegou-lhe com jeito
ao colo
(ela tão magra e ele tão corajoso)
e levou-a a casa dos pais.
Nas ruas alguns retardatários
mais experientes sorriram-lhes.
Um disse: olha uma mulher apaixonada!
algumas mulheres apaixonadas.
Isso ele ouvira dizer.
Mas ela- era tão magra,
desmaiou.
E quando voltou a si
cambaleava
e dizia coisas sem nexo
como se estivesse febril
delirante.
Ele tratou dela como podia.
Quando a noite veio
pegou-lhe com jeito
ao colo
(ela tão magra e ele tão corajoso)
e levou-a a casa dos pais.
Nas ruas alguns retardatários
mais experientes sorriram-lhes.
Um disse: olha uma mulher apaixonada!
Ana Paula Inácio: Um poema
Os milagres acontecem
a horas incertas
e nunca estou em casa
quando o carteiro passa.
Hoje, abriu a primeira flor
eu disse é um sinal.
Olho em volta: estou só
trago esta sombra comigo.
Ana Paula Inácio
Vago Pressentimento Azul por Cima, Porto, Ilhas, 2000
a horas incertas
e nunca estou em casa
quando o carteiro passa.
Hoje, abriu a primeira flor
eu disse é um sinal.
Olho em volta: estou só
trago esta sombra comigo.
Ana Paula Inácio
Vago Pressentimento Azul por Cima, Porto, Ilhas, 2000
Ana Paula Inácio
Ana Paula Inácio
Nasceu no Porto há trinta e poucos anos e agora gosta de dizer que vive no meio do Atlântico (leia-se Açores).
O seu segundo livro é excelente. Uma editora do Porto deu-o à estampa em 2000 (Ilhas). Oxalá não esteja esgotado. Chama-se: Vago Pressentimento Azul Por Cima. E a Quasi publicou o ano passado um pequeno livro de contos: Os Invisíveis. Pessoas que a vida vai apagando até perderem toda a visibilidade.
Feizmente há ainda quem veja essa gente (gente como nós). E escreva com uma escrita que arranca da infância ( As vinhas de meu pai) e depois fica atenta à mulher que tomou conta do deportado que lhe foi cair à porta, aos cães quando lhes morrem os donos e se recusam a abandonar o pátio deserto, à mulher que "dá dias".
Se me vir a escrever sózinho, invisível, hei-de criar um blog que tenha o nome deste verso que vos deixo "...Trago esta sombra comigo."
Luís Januário
Nasceu no Porto há trinta e poucos anos e agora gosta de dizer que vive no meio do Atlântico (leia-se Açores).
O seu segundo livro é excelente. Uma editora do Porto deu-o à estampa em 2000 (Ilhas). Oxalá não esteja esgotado. Chama-se: Vago Pressentimento Azul Por Cima. E a Quasi publicou o ano passado um pequeno livro de contos: Os Invisíveis. Pessoas que a vida vai apagando até perderem toda a visibilidade.
Feizmente há ainda quem veja essa gente (gente como nós). E escreva com uma escrita que arranca da infância ( As vinhas de meu pai) e depois fica atenta à mulher que tomou conta do deportado que lhe foi cair à porta, aos cães quando lhes morrem os donos e se recusam a abandonar o pátio deserto, à mulher que "dá dias".
Se me vir a escrever sózinho, invisível, hei-de criar um blog que tenha o nome deste verso que vos deixo "...Trago esta sombra comigo."
Luís Januário
ZZZZZZZZZZZZZ
Zaping a mim não me engana: descobri que todos os canais de televisão em agrupamento-de-frequência-hertziana afinaram a caixa de ressonância para vender... pilhas.
Façam como eu, vão buscar o manual da televisão e de-sintonizem a SIC e TVI. Os olhos e ouvidos agradecem e... poupam nas pilhas do telecomando.
Façam como eu, vão buscar o manual da televisão e de-sintonizem a SIC e TVI. Os olhos e ouvidos agradecem e... poupam nas pilhas do telecomando.
quinta-feira, julho 3
JPP explicando Berlusconi aos crentes surpreendidos
O JPP vai ter que se esforçar muito para justificar o senhor Berlusconi (ver Abrupto onde a pedido de várias famílias ele explica que o Berlusconi se excedeu mas que a culpa foi da esquerda provocatória que não respeita as instituições). Para mim, quando tenho incertezas sobre a esquerda olho para o senhor Berlusconi.
O cão de Schrödinger e o gato de Pavlov
Para saber em traços gerais em que consiste o gato de Schrödinger, aqui vai uma breve descrição. Quem quiser aprofundar o assunto pode ler um dos muitos livros. Faz-se também humor em torno do tema: o gato de Pavlov e o cão de Schrödinger.
Que bom!
Que bom! Tanto consumo bom! E não estou a falar só de árvores, estrelas e de sestas! Falo do Lou Reed- os abas estarão todos lá, adivinho, envergonhados, fingindo não se reconhecerem. Falo do DVD que hoje acompanha O Público. Le gout des autres. Cinema francês com aquela respiração, aqueles personagens que só o cinema europeu (bom) tem. O tema remete para o livro do David Lodge chamado na tradução portuguesa "Um almoço nunca é de graça". Podem, dois seres que parecem formatados para nunca se entenderem, comunicar? E fazê-lo amorosamente?
À meia noite na 2 (enquanto dura) Intimidade para quem gosta de Hanif Kureshi.
À meia noite na 2 (enquanto dura) Intimidade para quem gosta de Hanif Kureshi.
Mais considerações sobre a obediência com maçã ao fundo
O Nuno escreveu abaixo sobre o seguidismo na actual sociedade de consumo. Lembrei-me das perplexidades de La Boethe no "Ensaio sobre a servidão voluntária" e de Thoreau na "Desobediência civil" e em "Walden". Penso (mas posso estar iludido) que no tempo deles as coisa eram mais simples. Actualmente com a sociedade da informação e com o consumismo temos uma sociedade muito mais complexa. Todos são convidados e aliciados para uma espécie de cidadania alegre em vez de serem forçados a obedecer. A obediência já não é só para ser visível, mas também se espera vontade interior de obedecer. Estamos talvez mais perto de "1984" de Orwell do que julgamos.
É que já não parece haver ninguém a comandar. Criámos um sistema que está em perpétua adaptação, no qual, nós próprios, os meios de comunicação social e a publicidade são as caixas de ressonância da ordem para obedecer. No qual ninguém é inocente.
Até há pouco tempo a obediência surgia ou da tradição (porque sempre foi assim), ou da razão (porque é melhor para mim) ou do carisma (porque julgamos estas ideais ou este chefe os melhores). Actualmente podemos encontrar outro caminho para a obediência: a ilusão de que não estamos a obedecer. Nesse ponto, a publicidade há dezenas de anos que transmite a ideia paradoxal de "sermos cada vez mais nós próprios escolhendo os seus produtos." É a mentalidade solipsista e hedonista moderna que nos trai, julgando ter encontrado por sua própria e livre escolha a felicidade nos bens materiais que lhe foram sugeridos pela publicidade.
Tudo já está mais ou menos dito. Este tipo de conversa pode até ser mais uma forma de consumo tranquilizador e alienador da consciência. O que falta são tácticas para resistir à televisão, ao consumismo, ao prazer imediato e inconsequente, à pressa, aos estímulos constantes e frenéticos do mundo (tão potenciamente aberto e tão efectivamente fechado) que criamos e que nos rodeia. Ao desespero tranquilo de sermos cada vez mais objectos dos nossos objectos. Parar para ver as flores que crescem no passeio, as árvores da rua, as estrelas e planetas do céu, fazer umas sestas e cultivar a paciência, a reflexão, as virtudes simples. Escutar a poesia das crianças. Encontrar a eternidade num momento. Ser feliz partilhando com os outros. E não ter vergonha de dizer estas coisas por não serem modernas. E não estar sempre a dizê-las. Fazer uma festa com palavras simples e uma maçã apenas.
É que já não parece haver ninguém a comandar. Criámos um sistema que está em perpétua adaptação, no qual, nós próprios, os meios de comunicação social e a publicidade são as caixas de ressonância da ordem para obedecer. No qual ninguém é inocente.
Até há pouco tempo a obediência surgia ou da tradição (porque sempre foi assim), ou da razão (porque é melhor para mim) ou do carisma (porque julgamos estas ideais ou este chefe os melhores). Actualmente podemos encontrar outro caminho para a obediência: a ilusão de que não estamos a obedecer. Nesse ponto, a publicidade há dezenas de anos que transmite a ideia paradoxal de "sermos cada vez mais nós próprios escolhendo os seus produtos." É a mentalidade solipsista e hedonista moderna que nos trai, julgando ter encontrado por sua própria e livre escolha a felicidade nos bens materiais que lhe foram sugeridos pela publicidade.
Tudo já está mais ou menos dito. Este tipo de conversa pode até ser mais uma forma de consumo tranquilizador e alienador da consciência. O que falta são tácticas para resistir à televisão, ao consumismo, ao prazer imediato e inconsequente, à pressa, aos estímulos constantes e frenéticos do mundo (tão potenciamente aberto e tão efectivamente fechado) que criamos e que nos rodeia. Ao desespero tranquilo de sermos cada vez mais objectos dos nossos objectos. Parar para ver as flores que crescem no passeio, as árvores da rua, as estrelas e planetas do céu, fazer umas sestas e cultivar a paciência, a reflexão, as virtudes simples. Escutar a poesia das crianças. Encontrar a eternidade num momento. Ser feliz partilhando com os outros. E não ter vergonha de dizer estas coisas por não serem modernas. E não estar sempre a dizê-las. Fazer uma festa com palavras simples e uma maçã apenas.
Lou Reed de Schrödinger
Tens o Lou Reed nos bilhetes, mas eles são caixas negras: não podes saber a que horas começa o concerto, apenas podes calcular a probabilidade de ser a uma dada hora. Até lá, enquanto não abrires as caixas, podes pensar que Lou Reed se encontra em dois estados: 21h30 e 22h00 e que começará a cantar a essas duas horas. Talvez seja esse o truque do mágico canto das sereias. Que sorte, dois pelo preço de um.
stereo balanced
eu tenho os bilhetes na minha mão: têm meia cara do Lou Reed e diz JARDIM DA SEREIA 22H00 nº2824, 2825 e 2826.
Afinal há uma certeza de Heisenberg! Criei um paradoxo, quando são os prémios Nobel?
Agora, cada bilhete só tem meia cara...
Afinal há uma certeza de Heisenberg! Criei um paradoxo, quando são os prémios Nobel?
Agora, cada bilhete só tem meia cara...
Incerteza espacio-temporal
Primeiro anunciou-se que o Lou Reed ia tocar no Pátio das Escolas, mas afinal vai ser no Jardim da Sereia.
No início ouvi falar de um concerto, agora são dois.
No Diário de Coimbra de hoje, dois anúncios referiam o concerto. Um dizia que ele começa às 21h30 (programa oficial Coimbra 2003), o outro dizia 22h00 (cartaz oficial). Com sorte, não serão dois concertos, mas quatro. Com azar, o stereo estará desfazado meia hora.
No início ouvi falar de um concerto, agora são dois.
No Diário de Coimbra de hoje, dois anúncios referiam o concerto. Um dizia que ele começa às 21h30 (programa oficial Coimbra 2003), o outro dizia 22h00 (cartaz oficial). Com sorte, não serão dois concertos, mas quatro. Com azar, o stereo estará desfazado meia hora.
Como pode o país funcionar?
Enquanto esperamos por mais notícias do bar TAGV -com as suas empregadas de ventres bojudos por onde descaíu o avental- e pugnamos por um elogio completo do CAV -a mais recente e uma melhor visita obrigatória da nossa cidade- vamos ler um exemplo claro de como o país não funciona.
Claro que não é verdade, o país come, cresce e lê, o país escreve, trabalha e paga, ri e chora,
por isso que temos que falar, e o país melhora.
Claro que não é verdade, o país come, cresce e lê, o país escreve, trabalha e paga, ri e chora,
por isso que temos que falar, e o país melhora.
quarta-feira, julho 2
Estreia certa
4 e 5 de Julho no Jardim da Sereia (Sexta e Sábado para quem não tem um calendário à mão), um momento:
Satellite of love 3:43
(mais alto por favor) vamos ver Lou Reed - na primeira paragem da sua digressão europeia - em Coimbra.
Women 4:55
Vem apresentar o seu novo album "The Raven"
Average guy 3:10
e revisitar temas antigos.
Sweet jane 3:37
Organizado pela Coimbra 2003 (não estou a soldo - também)
Walk on the wild side 5:15
bilhetes à venda na CMC, postos de Turismo e FNACs 20, 25 ou 30euros.
Satellite of love 3:43
(mais alto por favor) vamos ver Lou Reed - na primeira paragem da sua digressão europeia - em Coimbra.
Women 4:55
Vem apresentar o seu novo album "The Raven"
Average guy 3:10
e revisitar temas antigos.
Sweet jane 3:37
Organizado pela Coimbra 2003 (não estou a soldo - também)
Walk on the wild side 5:15
bilhetes à venda na CMC, postos de Turismo e FNACs 20, 25 ou 30euros.
Coimbra
Temos que estar atentos! E de olhos abertos e que o negativismo não nos turve a vista !
Sempre se ouviu dizer “Em Coimbra não há nada!”. E eu que sou insuspeita, que não tenho nenhuma acção, nem estou a soldo da Coimbra 2003, a bem da justiça tenho que dizer “pelo menos este ano tem havido muita coisa”, temos é que estar atentos e não ir só atrás dos grande nomes. Tenho assistido a bons concertos de música clássica, exposições, teatro (estou a lembrar-me de uma peça do Bando, “Alma Grande”, que o maravilhoso cenário: a noite e o Mondego, e a belíssima voz da Filipa Pais transformaram em pura magia) entre outras coisas. E com uma vantagem, eventos acessíveis a todas as bolsas, quer dizer “à borla”, e sem bilhetes esgotados. Se calhar mal publicitados... temos que estar atentos!
Hoje à noite, na Almedina (à Torre, ao Arco): reconstituição histórica de um cerco medieval. Levem as vossas crianças que elas vão gostar, e se amanha estiverem com sono e mais rabugentas (as crianças), paciência... Vale a pena!
Sempre se ouviu dizer “Em Coimbra não há nada!”. E eu que sou insuspeita, que não tenho nenhuma acção, nem estou a soldo da Coimbra 2003, a bem da justiça tenho que dizer “pelo menos este ano tem havido muita coisa”, temos é que estar atentos e não ir só atrás dos grande nomes. Tenho assistido a bons concertos de música clássica, exposições, teatro (estou a lembrar-me de uma peça do Bando, “Alma Grande”, que o maravilhoso cenário: a noite e o Mondego, e a belíssima voz da Filipa Pais transformaram em pura magia) entre outras coisas. E com uma vantagem, eventos acessíveis a todas as bolsas, quer dizer “à borla”, e sem bilhetes esgotados. Se calhar mal publicitados... temos que estar atentos!
Hoje à noite, na Almedina (à Torre, ao Arco): reconstituição histórica de um cerco medieval. Levem as vossas crianças que elas vão gostar, e se amanha estiverem com sono e mais rabugentas (as crianças), paciência... Vale a pena!
“Follow the leader”
Os seres humanos são seguidores por natureza. Quando não sabem muito bem como proceder, como por exemplo numa cerimónia onde desconhecem o protocolo, olham para o que os outros fazem e imitam-nos, para não fazerem asneira. É normal. É mesmo uma forma inteligente de agir: optimiza-se o tempo de tomada de decisões, aproveita-se o raciocínio lógico de alguém que teve de pensar no mesmo assunto. Também seguimos e imitamos os nossos pais e irmãos desde que nascemos. É mais seguro, aprendemos seguindo os bons exemplos e evitando os erros.
Muitos animais são seguidores por natureza. Agrupam-se em cardumes, rebanhos, bandos, enxames. Quando um indivíduo está só, tem de pensar em tudo e sentir tudo, para poder pressentir, prever, decidir, agir. Quando está num grupo, tudo é mais fácil: os sensores dos outros perscrutam todo o espaço e o indivíduo só tem de controlar uma pequena parte. Os outros reagem em face do perigo e alertam-nos. Os grupos e sociedades onde os indivíduos se entreajudam funcionam bem e predominam na natureza.
A publicidade conhece a nossa natureza, cada vez melhor. Sabe que os nossos gostos controlam os nossos comportamentos, dominam as nossas decisões. Os nossos gostos são como isco num anzol. E a publicidade sabe que tendemos a seguir quem nos serve de referência, muitas vezes inconscientemente. E assim escolhemos o sabão Lux aconselhado pelas estrelas de cinema, o partido do apresentador de TV, o Banco do Rui Veloso, os Euros de Carlos Cruz, as opiniões do comentador do telejornal, as escolhas de Figo, a sesta de Newton.
Instintivamente, as pessoas movem-se em bandos, seguindo o líder, sem pensar: "Para onde vamos?", "O que quer realmente o líder?".
Muitos animais são seguidores por natureza. Agrupam-se em cardumes, rebanhos, bandos, enxames. Quando um indivíduo está só, tem de pensar em tudo e sentir tudo, para poder pressentir, prever, decidir, agir. Quando está num grupo, tudo é mais fácil: os sensores dos outros perscrutam todo o espaço e o indivíduo só tem de controlar uma pequena parte. Os outros reagem em face do perigo e alertam-nos. Os grupos e sociedades onde os indivíduos se entreajudam funcionam bem e predominam na natureza.
A publicidade conhece a nossa natureza, cada vez melhor. Sabe que os nossos gostos controlam os nossos comportamentos, dominam as nossas decisões. Os nossos gostos são como isco num anzol. E a publicidade sabe que tendemos a seguir quem nos serve de referência, muitas vezes inconscientemente. E assim escolhemos o sabão Lux aconselhado pelas estrelas de cinema, o partido do apresentador de TV, o Banco do Rui Veloso, os Euros de Carlos Cruz, as opiniões do comentador do telejornal, as escolhas de Figo, a sesta de Newton.
Instintivamente, as pessoas movem-se em bandos, seguindo o líder, sem pensar: "Para onde vamos?", "O que quer realmente o líder?".
terça-feira, julho 1
a (in)certeza da estrela
Com os seus grandes olhos, castanhos e brilhantes, ela olhou fixamente nos meus e perguntou:
- Mãe, tu podes-me comprar uma estrela, mãe?
- Uma estrela, minha princesa?!
- Sim, mãe. Igual às que estão no céu de noite.
Tu podes-me comprar uma estrela?
- Sim, minha princesa.
E porque queres tu uma estrela?
- É porque eu gosto, mãe.
Tu não sabias?!
Durante um momento, eu tive a certeza: eu ia conseguir comprar uma estrela!
armanda
- Mãe, tu podes-me comprar uma estrela, mãe?
- Uma estrela, minha princesa?!
- Sim, mãe. Igual às que estão no céu de noite.
Tu podes-me comprar uma estrela?
- Sim, minha princesa.
E porque queres tu uma estrela?
- É porque eu gosto, mãe.
Tu não sabias?!
Durante um momento, eu tive a certeza: eu ia conseguir comprar uma estrela!
armanda