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quarta-feira, julho 9

A importância da incerteza 

O João traduziu muito bem o que sinto relativamente à guerra do Iraque (ver texto "porque sim" mais abaixo). Eu também procurei compreender os diferentes pontos de vista, sobretudo aqueles que eram contrários à minha opinião, tentando fazê-lo sem preconceitos e desapaixonadamente. É difícil, mas era necessário para tentar saber se aquilo que me parecia inconcebível à primeira vista poderia ter afinal alguma justificação aceitável. Mas não: no meio de tanta desinformação de parte a parte, a informação que fui recolhendo, seleccionando e variando as fontes, leva-me a crer que a guerra se fez porque havia a oportunidade e não porque havia uma justificação válida.

A juntar às inúmeras incertezas desta guerra, há ainda a incerteza dos números. Esses números da morte de que não gosto de falar, porque uma morte já é demais e a estatística nada resolve, mas vai ter de ser. No Público de hoje, mas também na CNN por exemplo, li mais notícias sobre atentados às forças americanas no Iraque. Uma vez mais, era referido o número de soldados americanos mortos (30) desde que Bush declarou o fim da guerra a 1 de Maio. Contudo, como já vai sendo hábito, nada se diz sobre o número de civis iraquianos mortos desde então.

Felizmente há um site que nos informa de forma séria acerca desses números: o Iraq Body Count. Digo que é de forma séria porque permite-nos avaliar a incerteza desses números, coisa rara nos tempos que correm. E a incerteza contém informação importante.

Neste momento, o contador marca 6055 (mínimo) e 7706 (máximo). O valor real encontra-se provavelmente entre estes limites. Vale a pena pensar na diferença entre os 2 valores: 1651 civis iraquianos que não se sabe se morreram ou não. Vale a pena repetir: 1651. Este número quantifica a nossa ignorância, a incapacidade e/ou a falta de vontade em avaliar os efeitos de actos de guerra não justificados. Esta incerteza quantifica as dificuldades práticas em determinar o número de mortes, mas também e talvez sobretudo, o grau de desinformação, de propaganda, de mentira (de ambos os lados) e de desrespeito pelos cidadãos do mundo que têm direito de saber a verdade. Em última análise, esta incerteza quantifica o desrespeito pela vida humana.

Por uma questão de respeito, decidi-me a contar o número de iraquianos mortos desde 1 de Maio de 2003. Igualmente por respeito, acho que esse número não deve ser comparado com o número de americanos mortos. Não faria sentido. Mas esse número tem de ser contado: 93 (mínimo), 105 (máximo).

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