quinta-feira, outubro 30
Muere lentamente
Normalmente apago os ficheiros Power-Point que me enviam por e-mail com mensagens glicodoces e bebés ternurentos. Mas há alguns que fazem sentido:
Muere lentamente
quien no viaja,
quien no lee,
Muere lentamente
quien destruye su amor propio,
quien no se deja ayudar.
Muere lentamente
quien se transforma en esclavo del hábito
repitiendo todos los días los mismos trayectos,
quien no cambia de marca,
no se atreve a cambiar el color de su vestimenta
o bien no conversa con quien no conoce.
Muere lentamente quien evita una pasión y su remolino de emociones, justamente éstas que regresan el brillo a los ojos y restauran los corazones destrozados.
Muere lentamente
quien no gira el volante cuando está
infeliz con su trabajo, o su amor,
quien no arriesga lo cierto ni lo incierto
para ir atrás de un sueño
quien no se permite, ni siquiera
una vez en su vida,
huir de los consejos sensatos...
¡ Vive hoy !
¡ Arriesga hoy !
¡ Hazlo hoy !
¡ No te dejes morir lentamente !
¡ NO TE IMPIDAS SER FELIZ !
Pablo Neruda
Muere lentamente
quien no viaja,
quien no lee,
Muere lentamente
quien destruye su amor propio,
quien no se deja ayudar.
Muere lentamente
quien se transforma en esclavo del hábito
repitiendo todos los días los mismos trayectos,
quien no cambia de marca,
no se atreve a cambiar el color de su vestimenta
o bien no conversa con quien no conoce.
Muere lentamente quien evita una pasión y su remolino de emociones, justamente éstas que regresan el brillo a los ojos y restauran los corazones destrozados.
Muere lentamente
quien no gira el volante cuando está
infeliz con su trabajo, o su amor,
quien no arriesga lo cierto ni lo incierto
para ir atrás de un sueño
quien no se permite, ni siquiera
una vez en su vida,
huir de los consejos sensatos...
¡ Vive hoy !
¡ Arriesga hoy !
¡ Hazlo hoy !
¡ No te dejes morir lentamente !
¡ NO TE IMPIDAS SER FELIZ !
Pablo Neruda
De aqui a 6 meses
Calça justa, cintura ligeiramente descaída, salientando a anca um pouco larga. Camisola também justa, curtinha, decote largo, não muito subido, mostrando o pescoço magro. Faixa de barriga entre as duas, mostrando a pele, com umbigo, ora sim, ora não. Sapato com pequeno salto, não muito alto, só para dar a sensação de perna mais alta e nádegas mais redondas. Cabelo solto, levemente esticado, sem exagero, para que pareça desalinhado, a cair mais curto sobre a face, para ficar escondidinha. Os olhos um pouco escurecidos pela sombra, escura, e também um pouco de rimel, para os tornar maiores e mais brilhantes. Quatro ou cinco amigos lindos, bem cuidados e muito charmosos, para me acompanhar. Que sejam discretos, mas sensuais. Um barzinho a meia-luz, aconchegante, música agradável, e um cocktail com mil cores. Sentir a música a envolver-me, deliciada. E me deixar levar, conversar, dançar, até me cansar...
Armanda.
Armanda.
A Natureza do Mal: o Cacau
quarta-feira, outubro 29
A sabedoria das crianças
Oh pá, Se não estivéssemos num colégio católico dava-te dois murros!
e outros XX para velhos YY...
...esta fotografia de Philippe Halsman a partir de um desenho de Salvador Dali...
O omnipresente futebol
A Natureza do Mal: a PIMENTA
A Vantagem de ser mulher
A figura representa os cromossomas X (à esquerda) e Y (à direita), aumentados cerca de 10000 vezes. Reparem no ar frágil, e até um bocadinho enfezado do Y.
COPY - PASTE
Mea culpa, mea culpa! O maldito Copy-Paste, que tantos dissabores já me trouxe, voltou a fazer das suas. Acho que agora o belíssimo texto da Sophia de Mello Breyner já está como sempre devia ter estado. As minhas desculpas e o meu agradecimento a quem me chamou a atenção.
Poço de sabedoria
M. –3 anos– comenta avisadamente para a mãe o pai vai trabalhar para ganhar dinheiro aqui em casa, como tu lá no teu trabalho. Mal ela sabia que eu vinha trocar as suas doces palavras apenas por fama e glória.
terça-feira, outubro 28
com sem comentários
é sim. Perdemos dois dias de comentários e não sabemos se eles voltarão. A todos, as nossas desculpas. O nosso diz que está a trabalhar nisso, que perdeu 30.000 comentários e que recebeu 3.000 emails em protesto, já descontando este, receberá mais 26.999 protestos, bem se vê.
O tempo, esse grande iterador...
...e traidor, também. Para onde foi ele quando mais preciso dele? Gostava de poder ler em condições os blogues onde se têm dito coisas interessantes, como o Bactéria, o Ozono, o Metamorfose, o Abundante tempo livre e outros... Interessa-me o tema da natureza e de como ela espontaneamente se torna complexa. Interessa-me sobretudo porque suspeito, ou melhor especulo, que a humanidade está a chegar a um ponto onde vai ter as ferramentas necessárias para dar um salto de gigante na sua compreensão. É possível construir complexidades a partir de algoritmos simples, já nos diziam os fractais, mas acho que ainda estamos a aprender o b-a-bá dos algoritmos iterativos que tudo indica serem abundantes na natureza (e não só), graças ao tempo que tão mal compreendemos.
A razão deste post é apenas para chamar a atenção dos eventuais interessados para a Science et Vie de Novembro, que já está nas bancas (mania de se adiantarem no tempo) e que tem um longo artigo, aparentemente muito interessante (só dei uma vista de olhos) sobre estes temas de recursividade na natureza, construção/descontrução, complexidade, fractais, etc. Achei piada também porque fala da "teoria construtural(?)", que segundo a S&V explica a "inteligência da natureza" (o tema que mais me intriga), numa altura em que alguns dos blogues que referi falavam de "desconstrução". Retive uma frase do guru da teoria, Adrian Bejan: "O mundo não é fractal, é constructal(?)".
Mas é fractal como o destino: quando preciso de tempo para iterar ideias (elas também evoluem, também se ramificam, também constituem um sistema adaptativo complexo), sou obrigado a ficar na iteração zero...
A razão deste post é apenas para chamar a atenção dos eventuais interessados para a Science et Vie de Novembro, que já está nas bancas (mania de se adiantarem no tempo) e que tem um longo artigo, aparentemente muito interessante (só dei uma vista de olhos) sobre estes temas de recursividade na natureza, construção/descontrução, complexidade, fractais, etc. Achei piada também porque fala da "teoria construtural(?)", que segundo a S&V explica a "inteligência da natureza" (o tema que mais me intriga), numa altura em que alguns dos blogues que referi falavam de "desconstrução". Retive uma frase do guru da teoria, Adrian Bejan: "O mundo não é fractal, é constructal(?)".
Mas é fractal como o destino: quando preciso de tempo para iterar ideias (elas também evoluem, também se ramificam, também constituem um sistema adaptativo complexo), sou obrigado a ficar na iteração zero...
Sophia de Mello Breyner Andersen recebe o Prémio Rainha Sofia
- Eu sou uma menina do mar. Chamo-me Menina do Mar e não tenho outro nome. Não sei onde nasci. Um dia uma gaivota trouxe-me no bico para esta praia. Pôs-me numa rocha na maré vazia e o polvo, o caranguejo e o peixe tomaram conta de mim. Vivemos os quatro numa gruta muito bonita. O polvo arruma a casa, alisa a areia, vai buscar a comida. É de nós todos o que trabalha mais, porque tem muitos braços. O caranguejo é o cozinheiro. Faz caldo verde com limos, sorvetes de espuma, e salada de algas, sopa de tartaruga, caviar e muitas outras receitas. É um grande cozinheiro. Quando a comida está pronta o polvo põe a mesa. A toalha é uma alga branca e os pratos são conchas. Depois, à noite, o polvo faz a minha cama com algas muito verdes e muito macias. Mas o costureira dos meus vestidos é o caranguejo. E é também o meu ourives: ele é que faz os meus colares de búzios, de corais e de pérolas. O peixe não faz nada porque não tem mãos, nem braços com ventosas como o polvo, nem braços com tenazes como o caranguejo. Só tem barbatanas e as barbatanas servem só para nadar. Mas é o meu melhor amigo. Como não tem braços nunca me põe de castigo. É com ele que eu brinco. Quando a maré está vazia brincamos nas rochas, quando está maré alta damos passeios no fundo do mar. Tu nunca foste ao fundo do mar e não sabes como lá tudo é bonito. Há florestas de algas, jardins de anémonas, prados de conchas. Há cavalos marinhos suspensos água com um ar espantado, como pontos de interrogação. Há flores que parecem animais e animais que parecem flores. Há grutas misteriosas, azuis-escuras, roxas, verdes e há planícies sem fim de areia branca, lisa. Tu és da terra e se fosses ao fundo do mar morrias afogado. Mas eu sou uma menina do mar. Posso respirar dentro da água como os peixes e posso respirar fora da água como os homens. E posso passear pelo mar todo e fazer tudo quanto eu quero e ninguém me faz mal porque eu sou a bailarina da Grande Raia. E a Grande Raia é a dona destes mares. É enorme, tão grande que é capaz de engolir um barco com dez homens dentro. Tem cara de má e come homens e peixes e está sempre com fome. A mim não me come porque diz que eu sou pequena de mais e não sirvo para comer, só sirvo para dançar. E a Raia gosta muito de me ver dançar. Quando ela dá uma festa convida os tubarões e as baleias e sentam-se todos no fundo do mar e eu danço em frente deles até de madrugada. E quando a Raia está triste ou mal disposta eu também tenho que dançar para a distrair. Por isso sou a bailarina do mar e faço tudo quanto eu quero e todos gostam de mim. Mas eu não gosto nada da Raia e tenho medo dela. Ela detesta os homens e também não gosta dos peixes. Até as baleias têm medo dela. Mas eu posso andar à vontade no mar e ninguém me come e ninguém me faz mal porque eu sou a bailarina da Raia. E agora que já contei a minha história leva-me outra vez para o pé dos meus amigos que devem estar aflitíssimos.
in A Menina do Mar, Sophia de Mello Breyner Andersen
in A Menina do Mar, Sophia de Mello Breyner Andersen
Algumas reflexões sobre os estudantes e a universidade
Recentemente, li na Rua Larga, revista da Reitoria da Universidade de Coimbra, um artigo que, partindo das publicações dos estudantes e dos seus escritos nas paredes e mesas das salas de aula, sugeria uma diminuição da sua imaginação em relação a épocas anteriores. Não gosto de paredes riscadas, mas reconheço que há algo de deliciosamente provocador em pelo menos dois dos textos que desfeiam as nossas paredes: "Há vida inteligente na universidade?" e "Isto já não é o que nunca foi!"
Quanto às publicações, como a Rua Larga é uma revista bonita com muito bom design, ocorreu-me logo uma hipótese pouco provável, mas que me pareceu um bom começo de reflexão: quando as intituições (ab)usam do design moderno nas suas publicações, aos que estão de fora, para se distinguirem e contestarem, talvez só reste apresentar um design bisonho e conservador. Além disso, há a questão do orçamento. Um só número da Rua Larga custará provavelmente mais do que um rebanho anual de Cabras.
Creio que a última grande publicação estudantil em Coimbra foi a luxuosa edição da Via Latina há cerca de dez anos. Uma edição já com um pé e mãos profissionais, que brilhou muito para em seguida se esfumar. Há cerca de duas décadas brilharam na Academia algumas publicações ligadas a organismos estudantis, a Teatrouniversitário e a Música em Si, que contaram com a colaboração de designers como Delfim Sardo, António Barros e outros. Hoje temos, por exemplo, a NUDA dos estudantes de arquitetura, com pouca ou nenhuma cor é certo, mas apresentando um grafismo aceitável. Se compararmos estas revistas separadas por tantos anos, vamos lá encontrar os mesmos tiques e os mesmos deslumbramentos, mas também o mesmo empenhamento e a mesma entrega.
Para que os estudantes, enquanto sujeito colectivo, pareçam ter imaginação, basta que alguns a tenham. A boçalidade sempre existiu, hoje é apenas mais visível. A televisão faz questão de a mostrar todos os dias em horário nobre. A praxe estúpida ou a estupidez da praxe não é nada de novo. O fim das tradições académicas com o luto académico é de certa forma um mito. A única coisa que parou durante alguns anos foi o folclore público. Mas uma coisa é certa, antigamente os ditos caloiros resistiam mais às sevícias, que eram bem mais estúpidas e duras que as cantorias e a puerilidade dos "sexo, orgia... electrotecnia" E se antigamente os estudantes eram quase obrigados a usar um uniforme, sempre houve alguns que o recusavam, tal como muitos recusavam as praxes. Não no sentido burocrático de hoje (de recusar oficialmente a praxe), mas no da resistência, por vezes violenta, quase sempre corajosa. Em contrapartida, actualmente todo este folclore anacrónico e superficial parece estranhamente natural e poucos o questionam.
Não embarco em teses de degenerescência ou de decadência. Há hoje mais pessoas na universidade. Temos um fenómeno de massificação. Que a cultura geral na universidade diminuiu é uma tese e uma constatação de senso comum. Alan Bloom discute e defende esta tese a propósito dos EUA na sua "Cultura Inculta". Mas, tal como nos EUA, não é só na universidade que isso acontece, é em toda a sociedade. Não para o cidadão médio, para o qual a cultura aumentou, pelo menos em Portugal, mas para as supostas elites para as quais esta parece ter diminuido.
Quanto às lutas estudantis que nos têm indignando, creio que têm muito que se lhe diga. O principal problema das instituições democráticas, para os jovens contestatários, é que os mecanismos lícitos de protesto se vão tornando cada vez mais burocratizados. Além disso, sendo a argumentação e a retórica as únicas armas que se devem usar, estas são normalmente arrasadoras nas mãos de políticos experientes. Como vencer uma luta que se pensa ser justa numa situação destas? Num estado democrático não faz sentido usar cadeados ou impedir o funcionamento dos orgãos democráticos, invadindo as suas reuniões, recusando o diálogo usando adesivos na boca. Mas, ao sentirem que perderiam no campo da argumentação, mesmo que a sua luta seja justa, os estudantes recorrem a formas radicais de não ouvir, ver ou discutir. Tem alguma lógica e é paradoxal que a médio e longo prazo sejam talvez mais lembradas estas lutas que todas as retóricas que se lhes foram contrárias.
Quanto às publicações, como a Rua Larga é uma revista bonita com muito bom design, ocorreu-me logo uma hipótese pouco provável, mas que me pareceu um bom começo de reflexão: quando as intituições (ab)usam do design moderno nas suas publicações, aos que estão de fora, para se distinguirem e contestarem, talvez só reste apresentar um design bisonho e conservador. Além disso, há a questão do orçamento. Um só número da Rua Larga custará provavelmente mais do que um rebanho anual de Cabras.
Creio que a última grande publicação estudantil em Coimbra foi a luxuosa edição da Via Latina há cerca de dez anos. Uma edição já com um pé e mãos profissionais, que brilhou muito para em seguida se esfumar. Há cerca de duas décadas brilharam na Academia algumas publicações ligadas a organismos estudantis, a Teatrouniversitário e a Música em Si, que contaram com a colaboração de designers como Delfim Sardo, António Barros e outros. Hoje temos, por exemplo, a NUDA dos estudantes de arquitetura, com pouca ou nenhuma cor é certo, mas apresentando um grafismo aceitável. Se compararmos estas revistas separadas por tantos anos, vamos lá encontrar os mesmos tiques e os mesmos deslumbramentos, mas também o mesmo empenhamento e a mesma entrega.
Para que os estudantes, enquanto sujeito colectivo, pareçam ter imaginação, basta que alguns a tenham. A boçalidade sempre existiu, hoje é apenas mais visível. A televisão faz questão de a mostrar todos os dias em horário nobre. A praxe estúpida ou a estupidez da praxe não é nada de novo. O fim das tradições académicas com o luto académico é de certa forma um mito. A única coisa que parou durante alguns anos foi o folclore público. Mas uma coisa é certa, antigamente os ditos caloiros resistiam mais às sevícias, que eram bem mais estúpidas e duras que as cantorias e a puerilidade dos "sexo, orgia... electrotecnia" E se antigamente os estudantes eram quase obrigados a usar um uniforme, sempre houve alguns que o recusavam, tal como muitos recusavam as praxes. Não no sentido burocrático de hoje (de recusar oficialmente a praxe), mas no da resistência, por vezes violenta, quase sempre corajosa. Em contrapartida, actualmente todo este folclore anacrónico e superficial parece estranhamente natural e poucos o questionam.
Não embarco em teses de degenerescência ou de decadência. Há hoje mais pessoas na universidade. Temos um fenómeno de massificação. Que a cultura geral na universidade diminuiu é uma tese e uma constatação de senso comum. Alan Bloom discute e defende esta tese a propósito dos EUA na sua "Cultura Inculta". Mas, tal como nos EUA, não é só na universidade que isso acontece, é em toda a sociedade. Não para o cidadão médio, para o qual a cultura aumentou, pelo menos em Portugal, mas para as supostas elites para as quais esta parece ter diminuido.
Quanto às lutas estudantis que nos têm indignando, creio que têm muito que se lhe diga. O principal problema das instituições democráticas, para os jovens contestatários, é que os mecanismos lícitos de protesto se vão tornando cada vez mais burocratizados. Além disso, sendo a argumentação e a retórica as únicas armas que se devem usar, estas são normalmente arrasadoras nas mãos de políticos experientes. Como vencer uma luta que se pensa ser justa numa situação destas? Num estado democrático não faz sentido usar cadeados ou impedir o funcionamento dos orgãos democráticos, invadindo as suas reuniões, recusando o diálogo usando adesivos na boca. Mas, ao sentirem que perderiam no campo da argumentação, mesmo que a sua luta seja justa, os estudantes recorrem a formas radicais de não ouvir, ver ou discutir. Tem alguma lógica e é paradoxal que a médio e longo prazo sejam talvez mais lembradas estas lutas que todas as retóricas que se lhes foram contrárias.
segunda-feira, outubro 27
Ideias políticas ingénuas II
Já teve inicio uma nova temporada de alienação desportiva e o povo vai esquecer-se dos seus problemas em nome da Pátria. Especialmente porque é tudo muito nacional. O seleccionador nacional, que tentou, sem exito de resto, convocar-me para não sei o quê, é brasileiro. Tal como o são provavelmente os publicitários da carta que ele me escreveu. Tal como o é pelo menos um dos jogadores nacionais que também é escritor. E mais, quem pôs a relva nos estádios foram os espanhóis. Quem os construiu foram os africanos, os moldavos e os ucranianos. Os arquitetos que os projectaram são, na grande maioria, estrangeiros e até o capital que os está a pagar, se calhar, vem em parte da União Europeia. E finalmente futebol é apenas o aportuguesamento de uma palavra dos ingleses, os tais que desenvolveram os esquemas de segurança que irão ser implementados nos novos estádios ao mesmo tempo que são famosos por terem inventado os hooligans.
Posto isto, eis a ideia política ingénua. Parece-me que, em vez de se alterar a constituição para fazer referendos ad hoc, deveríamos alterá-la para juntar ao boletim de voto um inquérito no qual constariam perguntas tais como: "Entre um estádio de futebol hoje ou um hospital daqui a dois anos o que é que escolheria?", "É favorável à pena de morte e às penas degradantes e sanguinárias?", Em função das respostas, far-se-ia um registo nacional de opções pessoais dos cidadãos. Como resultado prático esperar-se-ia uma maior consciência cívica dos cidadãos, pois quem tivesse escolhido o estádio, ao ficar doente seria levado para lá numa ambulância desportiva acompanhado de um comentador televisivo. Como tratamento, poderia escolher entre um cartão vermelho ou um debate interminável sobre a arbitragem desportiva. Quem fosse favorável à pena de morte ou às penas sanguinárias, ao cometer um crime, ou ao ser arguido, seria julgado e condenado de acordo com a sua escolha. Se tivesse escolhido que o castigo fosse imediato, assim também seria para si...
Posto isto, eis a ideia política ingénua. Parece-me que, em vez de se alterar a constituição para fazer referendos ad hoc, deveríamos alterá-la para juntar ao boletim de voto um inquérito no qual constariam perguntas tais como: "Entre um estádio de futebol hoje ou um hospital daqui a dois anos o que é que escolheria?", "É favorável à pena de morte e às penas degradantes e sanguinárias?", Em função das respostas, far-se-ia um registo nacional de opções pessoais dos cidadãos. Como resultado prático esperar-se-ia uma maior consciência cívica dos cidadãos, pois quem tivesse escolhido o estádio, ao ficar doente seria levado para lá numa ambulância desportiva acompanhado de um comentador televisivo. Como tratamento, poderia escolher entre um cartão vermelho ou um debate interminável sobre a arbitragem desportiva. Quem fosse favorável à pena de morte ou às penas sanguinárias, ao cometer um crime, ou ao ser arguido, seria julgado e condenado de acordo com a sua escolha. Se tivesse escolhido que o castigo fosse imediato, assim também seria para si...
::..11.10.03..:: MANHÃ DE SETEMBRO
conduzir debaixo de chuva miúda de manhã no tráfego pesado, ouvir canções da adolescência na rádio, fumar um cigarro, manter a janela aberta, ignorar o vento e a água que já me encharca, sorrir para a condutora do lado. Depois do estacionamento há mais chuva mas já não é a mesma coisa. Depois da viagem há mais chuva mas já não somos a mesma coisa. Stand-by.
Posted by ::..hugo..:: 00:30
Posted by ::..hugo..:: 00:30
domingo, outubro 26
Dicas para uma condução amiga [2]
Quando chove, se chove, não há como o banco ligeiramente reclinado, o vidro ligeiramente aberto, a manga ligeiramente molhada, o aquecimento ligeiramente aceso e o barulho abafado dos motores lá fora mais as gotas grossas no ford mustang.
Vive antes esse prazer, prolonga-o. Imagina um ovo entre o teu pé e o acelerador, outro ovo no pé do travão, outro ovo na mão do volante. Se o teu gesto abrupto fizer omelete já sabes que é essa a medida do risco de derrapagem que corres.
Todos os 3 meses vai por uma estrada deserta, só tu no carro, a apenas 50km/h e trava firmemente. Toma nota dos resultados, compara com e sem chuva, com e sem paralelos, com e sem lombas, curvas, passadeiras, ABS's, sustos, peões, com e sem acidentes. O risco de omelete não é o conforto das suspensões que sentes, é o que está experimentado no caderninho.
Já agora aproveita e leva a condução extra suave com ovo para os dias secos.
Vive antes esse prazer, prolonga-o. Imagina um ovo entre o teu pé e o acelerador, outro ovo no pé do travão, outro ovo na mão do volante. Se o teu gesto abrupto fizer omelete já sabes que é essa a medida do risco de derrapagem que corres.
Todos os 3 meses vai por uma estrada deserta, só tu no carro, a apenas 50km/h e trava firmemente. Toma nota dos resultados, compara com e sem chuva, com e sem paralelos, com e sem lombas, curvas, passadeiras, ABS's, sustos, peões, com e sem acidentes. O risco de omelete não é o conforto das suspensões que sentes, é o que está experimentado no caderninho.
Já agora aproveita e leva a condução extra suave com ovo para os dias secos.
A próxima ceia
Foi um tema recorrente na última, que teve lugar esta noite, com A Natureza do Mal e a Klepsýdra.
The last supper, Andy Warhol, 1986
The last supper, Andy Warhol, 1986
sexta-feira, outubro 24
mini-DiTi
e porque não há fajita,
certo é que lá no aba,
deve ser falta da dita,
não escrevo mesmo nada,
só lá vou é de visita,
por isso quero sair
da lista das incertezas,
não vá mais alguém fugir...
quero é fajitas nas mesas,
e o meu mini conduzir!
From: Teresa Teixeira Dias
Date: Fri, 24 Oct 2003 20:02:19
certo é que lá no aba,
deve ser falta da dita,
não escrevo mesmo nada,
só lá vou é de visita,
por isso quero sair
da lista das incertezas,
não vá mais alguém fugir...
quero é fajitas nas mesas,
e o meu mini conduzir!
From: Teresa Teixeira Dias
Date: Fri, 24 Oct 2003 20:02:19
APOD
M.C. Escher 1898-1972
"When an element of plane division suggests to me the form of an animal, I immediately think of a volume. The "flat shape" irritates me - I feel as if I were shouting to my figures, "You are too fictitious for me; you just lie there static and frozen together; do something, come out of there and show me what you are capable of!" So I make them come out of the plane. But do they really do that? On the contrary, I am deliberately inconsistent, suggesting plasticity in the plane by means of light and shadow."
Escher
A aventura humana
Público de hoje: um biólogo português conseguiu aumentar a longevidade média de um verme mais de 6 vezes, conforme é hoje anunciado na Science.
'"Foi a maior extensão da longevidade média alguma vez conseguida. Mas o mais importante é a extensão do período saudável", sublinha Arantes e Oliveira, que fez este trabalho no âmbito do doutoramento sobre genética da longevidade no Departamento de Bioquímica e Biofísica da Universidade da Califórnia, em São Francisco (EUA), com uma bolsa do Programa Gulbenkian de Doutoramento em Biologia e Medicina. '
Dá-me vontade de especular um bocado. Suponhamos que dentro de algum tempo (anos, décadas) seria possível fazer o mesmo em seres humanos, de forma segura e sem grandes efeitos secundários. Iria a humanidade entrar num processo evolutivo de auto-modificação genética? E, já agora, iria a sua longevidade/imortalidade ficar refém de uma patente de uma qualquer empresa?
'"Foi a maior extensão da longevidade média alguma vez conseguida. Mas o mais importante é a extensão do período saudável", sublinha Arantes e Oliveira, que fez este trabalho no âmbito do doutoramento sobre genética da longevidade no Departamento de Bioquímica e Biofísica da Universidade da Califórnia, em São Francisco (EUA), com uma bolsa do Programa Gulbenkian de Doutoramento em Biologia e Medicina. '
Dá-me vontade de especular um bocado. Suponhamos que dentro de algum tempo (anos, décadas) seria possível fazer o mesmo em seres humanos, de forma segura e sem grandes efeitos secundários. Iria a humanidade entrar num processo evolutivo de auto-modificação genética? E, já agora, iria a sua longevidade/imortalidade ficar refém de uma patente de uma qualquer empresa?
Serendipidade ao jantar
A sopa tem razões que a minha razão desconhece. Ontem descobrimos que a sopa de cenoura (Knorr, cor-de-laranja, embalagem tipo Tetra-Brik) reage instantaneamente com Betadine (pomada, cor castanho claro, localizada em borbulha), formando-se uma substância preta. Não estou a gozar! Há por aí alguém que me explique o fenómeno?
a tribo
Estamos biologicamente formatados para conviver com as 25 a 30 pessoas que formam a nossa tribo, o nosso nicho de sobrevivência, disse o Luís da Natureza do Mal (link na coluna ao lado).
Eu nunca consegui ultrapassar esse paradoxo. Fui à grande superfície comercial continental e estava cheia a abarrotar, pensei está aqui toda a gente. Óptimo vou então passear serenamente nas ruas da baixa mas havia carros por todo o lado, filas, não lugares para parar, as ruas cheias de pessoas a acabar de trabalhar. Excelente vou num salto-de-auto-estrada à Figueira beber uma geladinha na esplanada, não posso acreditar que está cheia, não há um só lugar e pior a geleira pifou de tantos copos servir, eles beberam tudo e riem de contente. Estou que não posso! Não estava toda a gente no continente?
Como é difícil de entender que fazemos agora parte deste gigantesco formigueiro, ou formigueiros. Como é difícil saber qual o nosso papel formiga. Difícil acreditar que as nossas pequenas acções têm impacto para lá da nossa pequena tribo.
Eu nunca consegui ultrapassar esse paradoxo. Fui à grande superfície comercial continental e estava cheia a abarrotar, pensei está aqui toda a gente. Óptimo vou então passear serenamente nas ruas da baixa mas havia carros por todo o lado, filas, não lugares para parar, as ruas cheias de pessoas a acabar de trabalhar. Excelente vou num salto-de-auto-estrada à Figueira beber uma geladinha na esplanada, não posso acreditar que está cheia, não há um só lugar e pior a geleira pifou de tantos copos servir, eles beberam tudo e riem de contente. Estou que não posso! Não estava toda a gente no continente?
Como é difícil de entender que fazemos agora parte deste gigantesco formigueiro, ou formigueiros. Como é difícil saber qual o nosso papel formiga. Difícil acreditar que as nossas pequenas acções têm impacto para lá da nossa pequena tribo.
"Onde está o mundo?"
O Nuno da Klepsydra queixa-se que lhe faltou uma terminação nervosa da rede, também ele sonha com toda a humanidade linkada, a partilhar ideias, a compreender o mundo, a evoluir, deve ser bonito... Imagine all the people, sharing all the world....
Eu também tenho um problema com a minha terminação nervosa. Uso como transmissor um modem de 56-mil bits por segundo, os normais, que ligo e desligo sempre que preciso, sempre a contar, e que pago bem ao fim do mês.
Pois parece que há um compromisso do governo de combate às assimetrias que prevê que as regiões do interior sejam rapidamente inervadas com o super sapo ADSL. Sendo um super sapo não deve tardar. Eu moro a 5km do limite urbano de uma cidade quase litoral, Coimbra, nem sequer é interior caramba. Parece que há um número de telefone para onde me posso queixar, espero que eu e mais alguns da minha rua, vou procurar e depois digo, ligo.
Voltarei a este assunto.
Eu também tenho um problema com a minha terminação nervosa. Uso como transmissor um modem de 56-mil bits por segundo, os normais, que ligo e desligo sempre que preciso, sempre a contar, e que pago bem ao fim do mês.
Pois parece que há um compromisso do governo de combate às assimetrias que prevê que as regiões do interior sejam rapidamente inervadas com o super sapo ADSL. Sendo um super sapo não deve tardar. Eu moro a 5km do limite urbano de uma cidade quase litoral, Coimbra, nem sequer é interior caramba. Parece que há um número de telefone para onde me posso queixar, espero que eu e mais alguns da minha rua, vou procurar e depois digo, ligo.
Voltarei a este assunto.
Dicas para uma condução amiga [1]
De manhã ao ligar o carro começa imediatamente a andar, o ar agradece. Enquanto a água e o óleo aquecem até à temperatura de cruzeiro conduz com especial suavidade, o motor agradece. Se o carro não anda mesmo antes de aquecer em ponto neutro leva-o à oficina, aí o mecânico agradece.
Já agora aproveita e leva a condução especial suave até ao fim do dia.
Voltarei a este assunto.
Já agora aproveita e leva a condução especial suave até ao fim do dia.
Voltarei a este assunto.
sorriso escondido
Está aí um sorriso escondido atrás dos olhos, eu bem vejo. Ele quer sair, não o contenhas, não lhe baixes a cortina. Está aí e flutua no espaço, espera mais um sopro de uma palavra, espera mais um pouco antes de fazer essa curva suave dos lábios. Espreitam fragmentos nos cantos dos olhos, um instante no pensamento, um pequena ruga que se desfaz e faz. Se o recato durar tempo de mais já não sorris, gargalhas. É o meu sorriso que está refém do teu.
quinta-feira, outubro 23
Os CTT
"Os CTT fizeram tudo o que era possível para o Governo privatizar a empresa quando entender", afirmou Horta e Costa, para quem os Correios são hoje uma companhia "rentável, sã e saudável".
E eu que o diga Sr. presidente dos CTT:
Quando mudei de casa pedi para o meu correio ser direccionado para a nova morada. E óbvio, paguei por isso. Quando reparei que coisas que deviam chegar não chegavam tentei informar-me junto dos CTT. A resposta veio com a maior desfaçatez: temos falta de pessoal, as cartas registadas e correspondência que consideramos (????!!!!) prioritária são entregues quando chegam (no dia seguinte, digo eu), o resto fica à espera de melhores dias!
E já agora qual é a diferença entre sã e saudável?
E eu que o diga Sr. presidente dos CTT:
Quando mudei de casa pedi para o meu correio ser direccionado para a nova morada. E óbvio, paguei por isso. Quando reparei que coisas que deviam chegar não chegavam tentei informar-me junto dos CTT. A resposta veio com a maior desfaçatez: temos falta de pessoal, as cartas registadas e correspondência que consideramos (????!!!!) prioritária são entregues quando chegam (no dia seguinte, digo eu), o resto fica à espera de melhores dias!
E já agora qual é a diferença entre sã e saudável?
O regresso das Galinhas
Sérgio! As galinhas voltaram !
O sofrimento como espectáculo
Na selva em que a «comunicação social» se tornou, sucedem-se diariamente as cenas avulsas de guerra e fome. O que pode parecer empenhamento ou compaixão não passa de espectáculo e de negócio. Comboni disse: «Uma missão árdua e laboriosa como a nossa não pode resumir-se às aparências.» Muitos jornalistas esquecem-no.
RUI ARAÚJO, Jornalista in Além-Mar
RUI ARAÚJO, Jornalista in Além-Mar
AGÊNCIA MISNA
A agência Misna surgiu para dar voz aos povos e países que são sistematicamente esquecidos pela grande informação. O seu fundador e director, o missionário-jornalista comboniano Giulio Albanese, explica a importância da aposta na divulgação de notícias vindas do Sul: «A missão é “comunicação” de uma Boa Nova que tem de garantir esperança num mundo marcado por profundas injustiças, mas também por fermentos de esperança».
NOWHERE MAN
He's a real nowhere man
sitting in his nowhere land
making all his nowhere plans for nobody
doesn't have a point of view
knows not where's he going to
isn't he a bit like you and me?
nowhere man, please listen
you don't know what you're missing
nowhere man,
the world is at your command
he's blind as he can be
just sees what he wants to see
nowhere man can you see me at all?
nowhere man, don't worry
take your time, don't hurry
leave it all till somebody else
lends you a hand
Lennon/McCartney
sitting in his nowhere land
making all his nowhere plans for nobody
doesn't have a point of view
knows not where's he going to
isn't he a bit like you and me?
nowhere man, please listen
you don't know what you're missing
nowhere man,
the world is at your command
he's blind as he can be
just sees what he wants to see
nowhere man can you see me at all?
nowhere man, don't worry
take your time, don't hurry
leave it all till somebody else
lends you a hand
Lennon/McCartney
quarta-feira, outubro 22
Mapas há muitos
Pedi, procurei e encontrei qualquer coisa ainda incipiente, mas é bom saber que há muita gente a pensar no assunto. Já se vêm alguns mapas da blogosfera, embora me pareça que eles se baseiam principalmente nos links entre blogues (ou seja, na existência de caminhos) e pouco nas audiências (existência de pessoas a percorrer esses caminhos). Ambas as informações são importantes e só vejo vantagens em usá-las em conjunto.
Aqui fica um modesto roteiro feito por um navegador apressado: Touchgraph, Blogstreet, algumas ideias para mapas (aqui, aqui, aqui e aqui) e um abstract interessante:
"The BlogosphereMap"
The Internet like any other media is not a mere reflection of reality but a reality on its
own: It represents a new cultural sphere and has its own characteristics with respect to
communicative codes and knowledge production. The phenomenon of weblogs show that media are not necessarily pointing to "everyday reality" and events in "real world"; weblogs exhibit a remarkably self-referential quality as well: They regularly point to other weblogs where an event has been already intellectually processed, and the way it has been processed - its reception - is to certain extent as or even more important than the original event itself. This process of self-reference can be found in any vivid system and it is believed to be closely related to the emergence of consciousness and intelligence. The interconnectivity of weblogs reminds us the way our neuronal system works. If we look at tools like Blogstreet (in connection with TouchGraph based visualization) and expand several nodes in the neighbourhood of a weblog the apparent similarity is amazing: We find a network of "processing units". Our concept of the BlogosphereMap develops this approach a bit further: What if we could see not only a static map but also (quasi-neuronal) activitities on it - the spread of news and thoughts within the neighbourhood of a weblog.
Wish list: o visualizador de blogosferas
Imagine all the people
Sharing all the world...
[Imagine , John Lennon]
Gostava de poder visualizar a Blogosfera. Vê-la, no espaço, a pairar diante de mim, poder aperceber-me da sua forma e observar como ela varia no tempo.
Por exemplo, ver uma figura que represente um blogue, ligado a outras figuras semelhantes que seriam os blogues seus vizinhos. Uns maiores, outros menores, consoante a audiência, mais próximos ou mais distantes conforme os cliques que trocam entre si.
Como a troca de cliques é assimétrica, poderiam existir tubos duplos a unir os blogues, talvez com grossuras ou cores diferentes consoante o tráfego. As posições relativas dos blogues seriam meramente indicativas, mas deveriam dar uma ideia dos blogues que mais contribuem para as audiências de outros blogues.
Em suma, gostaria de ver uma imagem que me mostrasse, de relance e de forma intuitiva, com o nível de detalhe que se quisesse, as principais relações que existem na Blogosfera: os blogues mais influentes, o modo como a informação de um altera a vizinhança, de que forma a informação flui na rede de tubos unidireccionais que formam os links.
Seria interessante ver a evolução de tais imagens ao longo do tempo, como num filme onde cada “frame” poderia corresponder por exemplo a um dia ou uma semana. Observar a dinâmica da blogosfera, reparar como uns blogues se descobrem uns aos outros e se aproximam, como se desinteressam e afastam, como crescem ou como desaparecem, deixando ou não marcas. Parece-me que isto seria possível analisando a informação do technorati e de um site meter que fosse comum a todos os blogues.
Se juntássemos a informação de um Google, seria ouro sobre azul. A imagem acima poderia ter variantes, que permitissem por exemplo iluminar os blogues que analisam um dado termo de pesquisa num dado momento, para sabermos que temas dominam que partes da blogosfera. Poderia eventualmente saber-se que áreas de discussão estão próximas entre si, que clusters de conhecimento existem, se florescem ou definham, como se interpenetram, que ideias surgem associadas, como se propagam, enfim, um nunca acabar de informação cultural e evolutiva.
Ver a humanidade linkada, a partilhar ideias, a compreender o mundo, a evoluir, deve ser bonito... Imagine all the people...
Sharing all the world...
[Imagine , John Lennon]
Gostava de poder visualizar a Blogosfera. Vê-la, no espaço, a pairar diante de mim, poder aperceber-me da sua forma e observar como ela varia no tempo.
Por exemplo, ver uma figura que represente um blogue, ligado a outras figuras semelhantes que seriam os blogues seus vizinhos. Uns maiores, outros menores, consoante a audiência, mais próximos ou mais distantes conforme os cliques que trocam entre si.
Como a troca de cliques é assimétrica, poderiam existir tubos duplos a unir os blogues, talvez com grossuras ou cores diferentes consoante o tráfego. As posições relativas dos blogues seriam meramente indicativas, mas deveriam dar uma ideia dos blogues que mais contribuem para as audiências de outros blogues.
Em suma, gostaria de ver uma imagem que me mostrasse, de relance e de forma intuitiva, com o nível de detalhe que se quisesse, as principais relações que existem na Blogosfera: os blogues mais influentes, o modo como a informação de um altera a vizinhança, de que forma a informação flui na rede de tubos unidireccionais que formam os links.
Seria interessante ver a evolução de tais imagens ao longo do tempo, como num filme onde cada “frame” poderia corresponder por exemplo a um dia ou uma semana. Observar a dinâmica da blogosfera, reparar como uns blogues se descobrem uns aos outros e se aproximam, como se desinteressam e afastam, como crescem ou como desaparecem, deixando ou não marcas. Parece-me que isto seria possível analisando a informação do technorati e de um site meter que fosse comum a todos os blogues.
Se juntássemos a informação de um Google, seria ouro sobre azul. A imagem acima poderia ter variantes, que permitissem por exemplo iluminar os blogues que analisam um dado termo de pesquisa num dado momento, para sabermos que temas dominam que partes da blogosfera. Poderia eventualmente saber-se que áreas de discussão estão próximas entre si, que clusters de conhecimento existem, se florescem ou definham, como se interpenetram, que ideias surgem associadas, como se propagam, enfim, um nunca acabar de informação cultural e evolutiva.
Ver a humanidade linkada, a partilhar ideias, a compreender o mundo, a evoluir, deve ser bonito... Imagine all the people...
Boas Notícias
Há uns meses recebi um apelo (por email?) da Andreia que tinha adoecido com leucemia e precisava de um dador de medula. Prometi à Andreia que me ia inscrever como dadora de medula. E cumpri. Soube no ultimo fim de semana que a Andreia encontrou um dador e que fará o transplante dentro de um mês. Parabéns Andreia, e felicidades!
A Cabra
A Cabra é o jornal da Academia de Coimbra. É um pequeno jornal "feito" pela secção de jornalismo da AAC, é grátis e melhora a cada número. Esteticamente é bastante bom, é sério e rigoroso.
ENIVREZ-VOUS
Il faut être toujours ivre. Tout est là: c'est l'unique question. Pour ne pas sentir l'horrible fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve.
Mais de quoi? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous.
Et si quelquefois, sur les marches d'un palais, sur l'herbe verte d'un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous vous réveillez, l'ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l'étoile, à l'oiseau, à l'horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est; et le vent, la vague, l'étoile, l'oiseau, l'horloge, vous répondront: «Il est l'heure de s'enivrer! Pour n'être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise!»
Charles Baudelaire
Mais de quoi? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous.
Et si quelquefois, sur les marches d'un palais, sur l'herbe verte d'un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous vous réveillez, l'ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l'étoile, à l'oiseau, à l'horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est; et le vent, la vague, l'étoile, l'oiseau, l'horloge, vous répondront: «Il est l'heure de s'enivrer! Pour n'être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise!»
Charles Baudelaire
The last judgement
Se bem me lembro...
Viajei ao passado com as galinhas, e encontrei o que escrevi em Julho sobre a justiça em Portugal. Nos blogues, ao contrário dos media (que aparentemente nunca olham para trás) pode viajar-se para o passado e para o futuro. Tirando alguns erros próprios de quem não é profissional do direito, o essencial do texto, infelizmente, não perdeu actualidade, com alguns sinais positivos a serem dados pelo Presidente da República e pelo Tribunal Constitucional, mas outros muito negativos a serem dados por alguns media que, ao servirem de caixas de ressonância de interesses pouco claros e ao fazerem distorções grosseiras e revelações desbragados, só têm contribuido para a desinformação.
A (re)volta das galinhas
No Adufe é lembrado que as galinhas portuguesas recuperaram. Eu próprio, depois de as ter evocado em Agosto, tinha voltado a esquecê-las. A memória é assim, mas, parafraseando Santayana, quem esquece a sua própria história está condenado a repeti-la sem cessar.
terça-feira, outubro 21
tudo menos os beijos
As certezas de 6 anos de menino dizem
tudo é feito de moléculas
...
tudo menos os beijos
e os abraços, que são feitos de ar
quanto menos ar contêm, entre os braços
quanto menos ar deixam, nos pulmões
quanto mais tempo duram, no calor
um só braço
um só corpo,
um só laço,
melhor é o abraço.
tudo é feito de moléculas
...
tudo menos os beijos
e os abraços, que são feitos de ar
quanto menos ar contêm, entre os braços
quanto menos ar deixam, nos pulmões
quanto mais tempo duram, no calor
um só braço
um só corpo,
um só laço,
melhor é o abraço.
Buuuhh!
Ontem no canal dois às 19 horas, um documentário sobre os fantasmas das estrelas de cinema. Depoimentos, entrevistas, acontecimentos supostamente bizarros, filmes de arquivo. Depois uma casa assombrada e um grupo de investigadores do paranormal cheios de aparelhos e um transmedium (seja lá o que isso for). "Os aparelhos não medem nada, mas temos de registar de forma científica este encontro com esta presença masculina" diz um deles com um ar muito sério. Mas que raio é isto? O canal sociedade? Videntes, astrólogos, cartomantes e casas assombradas? Buuuhh!
Onde estão os programas científicos que estimulem o espírito crítico dos telespectadores? Porque, de facto, da forma como são feitos alguns programas sobre assuntos científicos, podemos trocar as casas assombradas pelos buracos negros que ninguém nota! Buuuhh...
Onde estão os programas científicos que estimulem o espírito crítico dos telespectadores? Porque, de facto, da forma como são feitos alguns programas sobre assuntos científicos, podemos trocar as casas assombradas pelos buracos negros que ninguém nota! Buuuhh...
segunda-feira, outubro 20
O que eu procurei esta bailarina
APELO
Srs e Sras JORNALISTAS: MUDEM DE TEMA!
sábado, outubro 18
Belo WC
sexta-feira, outubro 17
Embalagens: propaganda das empresas e comodismo do consumidor
Devido às pressões sociais as empresas têm uma grande necessidade de justificar perante o público que os seus produtos respeitam o ambiente e a saúde dos consumidores. E embora não duvide que as empresas se esforcem por melhorar os impactos para o ambiente, e para a saúde, dos seus produtos, o principal objectivo das empresas é sempre a maximização dos lucros. Por isso, inscrevem nas suas embalagens indicações sobre a reciclagem, números de telefone para informação, ou fazem mesmo campanhas promocionais. Por vezes tudo isto se aproxima muito da desinformação e da manipulação, quando não da fraude mais ou menos disfarçada, muitas vezes com a passividade de quem tem obrigação de chamar a atenção para isso.
As crianças e os educadores bem intencionados, sempre receptivos a fazerem o que puderem para melhorar o ambiente, são as primeiras vítimas deste tipo de desinformação e manipulação. Senti isso com os meus filhos, numa exposição da Tetra Pak sobre reciclagem das suas embalagens que esteve no Continente de Coimbra o mês passado. Na altura pedi mais informação que ainda não chegou. De qualquer forma, devido à minha formação, acabei por estudar o assunto com mais atenção.
Nas embalagens Tetra Pak usadas em Portugal podemos distinguir dois tipos: as mais comuns de sumos e leite UHT, feitas de papel, polietileno e alumínio, e as de leite do dia feitas de papel e polietileno. De acordo com a tal exposição e com o que li, o primeiro tipo de embalagens Tetra Pack pode ser reciclado através de separação da pasta de papel, que pode ser novamente utilizada, seguido da valorização por queima dos restos de pasta de papel e do polietileno, sendo nesse processo o alumínio oxidado ao material do qual havia sido obtido, o óxido de alumínio. Em termos energéticos este processo não parece ser muito vantajoso, tanto mais que o principal desperdício na preparação das embalagens vem da produção de alumínio a partir do seu óxido. Talvez a reciclagem do papel da embalagem possa ter vantagem, mas falta-me informação sobre o processo, sobre os químicos usados e sobre a sua eficiência (pedi informação mas não a recebi). Além disso o papel, ao contrário do vidro, não pode ser reciclado indefinidadamente.
A aglomeração, após fragmentação das embalagens, para a obtenção de placas ou objectos moldados, sempre me pareceu a forma de reutilização que à partida parecia ser mais vantajosa. No entanto, em termos dos gastos energéticos e dos custos sociais alguns especialistas consideram que é mais vantajoso não fazer a separação selectiva destas embalagens, quer o destino final escolhido seja a incineração, quer seja o aterro sanitário. E isso talvez não seja uma boa notícia para a empresa, porque pode começar a suspeitar-se que os seus produtos não são amigos do ambiente e talvez seja por isso que fazem esta campanha e outras que têm aparecido na comunicação social.
Quanto às embalagens em geral, a melhor opção parece ser o uso de garrafas de PET reutilizáveis (sim aquelas de plástico de água e de sumos), seguida das de vidro reutilizáveis. As garrafas de PET reutilizáveis ainda não estão em uso em Portugal, embora cada um as possa fazer reutilizáveis, não as pondo no lixo, voltando a usá-las. Entre as embalagens de vidro para reciclar e as latas, quer de alumínio quer de ferro, ganham claramente as latas. Entre as latas de alumínio e de ferro (distinguem-se com um íman), as primeiras gastam mais energia na sua produção mas são mais finas (usam menos alumínio), enquanto as de ferro têm de ser protegidas com verniz. A diferença em termos ecológicos parece não ser significativa, embora as de ferro sejam mais fáceis de separar. As embalagens de tipo Tetra Brik, de polietileno e papel, parecem ser melhores, em termos ambientais, claro, que as de vidro reciclável. Um estudo que as põe perto das de vidro reutilizáveis não me oferece credibilidade. Quanto às embalagens Tetra Pak que contêm alumínio, provavelmente serão melhores que as de vidro recicláveis.
Tudo isto é algo simplista porque nem todos os alimentos podem ser postos nos mesmo tipo de embalagem. Mas não deixa de ser interessante verificar que as embalagens de vidro reutilizáveis são melhores, em termos ecológicos, que as Tetra Pack, mas quase ninguém pôe leite em embalagens de vidro reutilizáveis, porque o consumidor se habituou a considerar as embalagens Tetra Pack muito mais cómodas, resistentes e higiénicas. A falta de lógica disto pode ver-se com o vinho embalado em garrafas de vidro. E, finalmente, a irracionalidade do consumismo e do desperdício encontra-se no facto das garrafas de vinho não serem reutilizáveis como foram em tempos.
Mais informação (sem ser exaustivo) Reduce, Reuse, Refill, Evaluation costs of directive 94/62/EC e os comentários a este estudo. Há também uma tese de mestrado portuguesa sobre o assunto das embalagens de Paulo Jorge Trigo Ribeiro. É um estudo exaustivo que vale a pena ler, e cujas conclusões são algo diferentes das que escrevi acima.
(e ainda um textos das Terras do Nunca que não tem nada que ver com a reciclagem ou a reutilização dos pacotes de leite UHT, mas fala de outra vertente do tema: a nostalgia de um mundo natural e a nossa relação com os produtos que consumimos.)
[20 de Outubro de 2003, 9:30 Ainda sobre este tema tinha-me escapado de forma imperdoável uma interessante discussão que o Rui do Adufe tem arquivada]
[14 de Fevereiro de 2011 Não mudei muito de opinião em relação a este assunto, mesmo após a chegada da documentação da Tetra Pack uns meses depois de ter escrito este texto. Sobre a nostalgia dos sabores do passado leia-se o que escrevi em Novembro de 2010. Hoje em dia, felizmente, é muito mais fácil encontrar leite não UHT.]
As crianças e os educadores bem intencionados, sempre receptivos a fazerem o que puderem para melhorar o ambiente, são as primeiras vítimas deste tipo de desinformação e manipulação. Senti isso com os meus filhos, numa exposição da Tetra Pak sobre reciclagem das suas embalagens que esteve no Continente de Coimbra o mês passado. Na altura pedi mais informação que ainda não chegou. De qualquer forma, devido à minha formação, acabei por estudar o assunto com mais atenção.
Nas embalagens Tetra Pak usadas em Portugal podemos distinguir dois tipos: as mais comuns de sumos e leite UHT, feitas de papel, polietileno e alumínio, e as de leite do dia feitas de papel e polietileno. De acordo com a tal exposição e com o que li, o primeiro tipo de embalagens Tetra Pack pode ser reciclado através de separação da pasta de papel, que pode ser novamente utilizada, seguido da valorização por queima dos restos de pasta de papel e do polietileno, sendo nesse processo o alumínio oxidado ao material do qual havia sido obtido, o óxido de alumínio. Em termos energéticos este processo não parece ser muito vantajoso, tanto mais que o principal desperdício na preparação das embalagens vem da produção de alumínio a partir do seu óxido. Talvez a reciclagem do papel da embalagem possa ter vantagem, mas falta-me informação sobre o processo, sobre os químicos usados e sobre a sua eficiência (pedi informação mas não a recebi). Além disso o papel, ao contrário do vidro, não pode ser reciclado indefinidadamente.
A aglomeração, após fragmentação das embalagens, para a obtenção de placas ou objectos moldados, sempre me pareceu a forma de reutilização que à partida parecia ser mais vantajosa. No entanto, em termos dos gastos energéticos e dos custos sociais alguns especialistas consideram que é mais vantajoso não fazer a separação selectiva destas embalagens, quer o destino final escolhido seja a incineração, quer seja o aterro sanitário. E isso talvez não seja uma boa notícia para a empresa, porque pode começar a suspeitar-se que os seus produtos não são amigos do ambiente e talvez seja por isso que fazem esta campanha e outras que têm aparecido na comunicação social.
Quanto às embalagens em geral, a melhor opção parece ser o uso de garrafas de PET reutilizáveis (sim aquelas de plástico de água e de sumos), seguida das de vidro reutilizáveis. As garrafas de PET reutilizáveis ainda não estão em uso em Portugal, embora cada um as possa fazer reutilizáveis, não as pondo no lixo, voltando a usá-las. Entre as embalagens de vidro para reciclar e as latas, quer de alumínio quer de ferro, ganham claramente as latas. Entre as latas de alumínio e de ferro (distinguem-se com um íman), as primeiras gastam mais energia na sua produção mas são mais finas (usam menos alumínio), enquanto as de ferro têm de ser protegidas com verniz. A diferença em termos ecológicos parece não ser significativa, embora as de ferro sejam mais fáceis de separar. As embalagens de tipo Tetra Brik, de polietileno e papel, parecem ser melhores, em termos ambientais, claro, que as de vidro reciclável. Um estudo que as põe perto das de vidro reutilizáveis não me oferece credibilidade. Quanto às embalagens Tetra Pak que contêm alumínio, provavelmente serão melhores que as de vidro recicláveis.
Tudo isto é algo simplista porque nem todos os alimentos podem ser postos nos mesmo tipo de embalagem. Mas não deixa de ser interessante verificar que as embalagens de vidro reutilizáveis são melhores, em termos ecológicos, que as Tetra Pack, mas quase ninguém pôe leite em embalagens de vidro reutilizáveis, porque o consumidor se habituou a considerar as embalagens Tetra Pack muito mais cómodas, resistentes e higiénicas. A falta de lógica disto pode ver-se com o vinho embalado em garrafas de vidro. E, finalmente, a irracionalidade do consumismo e do desperdício encontra-se no facto das garrafas de vinho não serem reutilizáveis como foram em tempos.
Mais informação (sem ser exaustivo) Reduce, Reuse, Refill, Evaluation costs of directive 94/62/EC e os comentários a este estudo. Há também uma tese de mestrado portuguesa sobre o assunto das embalagens de Paulo Jorge Trigo Ribeiro. É um estudo exaustivo que vale a pena ler, e cujas conclusões são algo diferentes das que escrevi acima.
(e ainda um textos das Terras do Nunca que não tem nada que ver com a reciclagem ou a reutilização dos pacotes de leite UHT, mas fala de outra vertente do tema: a nostalgia de um mundo natural e a nossa relação com os produtos que consumimos.)
[20 de Outubro de 2003, 9:30 Ainda sobre este tema tinha-me escapado de forma imperdoável uma interessante discussão que o Rui do Adufe tem arquivada]
[14 de Fevereiro de 2011 Não mudei muito de opinião em relação a este assunto, mesmo após a chegada da documentação da Tetra Pack uns meses depois de ter escrito este texto. Sobre a nostalgia dos sabores do passado leia-se o que escrevi em Novembro de 2010. Hoje em dia, felizmente, é muito mais fácil encontrar leite não UHT.]
quinta-feira, outubro 16
"Curiosidades": a incerteza das pesquisas do Google
De vez em quando ainda tenho ido ver as pesquisas dos memes das letras trocadas, para ver como eles se propagam na Internet. Há uns dias fiquei admirado com o Google, porque o número de resultados do meme português tinha disparado feito maluco, passando de uns 7 mil resultados para mais de meio milhão. Claro, ultrapassou de longe o meme inglês, que neste momento tem cerca de 15 mil resultados, progredindo lentamente.
Reparei também que acontecia algo de curioso com o Google e o meme português: se repetirmos a pesquisa várias vezes em pouco tempo (por exemplo, clicando aqui, fazendo várias vezes reload e vendo o nº de resultados), obtemos valores que podem chegar a variar de 2 ordens de grandeza, por exemplo: 323000, 24000, 6290, 505000, 244000, 125000, 363000, 46000... Não acontece o mesmo com o meme inglês ou com outros motores de pesquisa.
Ao que parece, o número de resultados devolvido pelo Google deixa de ser fiável quando há muitos milhares de resultados, mas essa não deverá ser a única condição, uma vez que o número é estável para o meme inglês, que em princípio está mais disseminado na net do que o português. Será que quando há muitos resultados o Google pára de pesquisar e a partir da parte da base de dados que usou tenta estimar o número de resultados total? Pelos vistos essa estimativa não é nada fiável. Não há direito, afinal quem ganhou a corrida de memes?!
Reparei também que acontecia algo de curioso com o Google e o meme português: se repetirmos a pesquisa várias vezes em pouco tempo (por exemplo, clicando aqui, fazendo várias vezes reload e vendo o nº de resultados), obtemos valores que podem chegar a variar de 2 ordens de grandeza, por exemplo: 323000, 24000, 6290, 505000, 244000, 125000, 363000, 46000... Não acontece o mesmo com o meme inglês ou com outros motores de pesquisa.
Ao que parece, o número de resultados devolvido pelo Google deixa de ser fiável quando há muitos milhares de resultados, mas essa não deverá ser a única condição, uma vez que o número é estável para o meme inglês, que em princípio está mais disseminado na net do que o português. Será que quando há muitos resultados o Google pára de pesquisar e a partir da parte da base de dados que usou tenta estimar o número de resultados total? Pelos vistos essa estimativa não é nada fiável. Não há direito, afinal quem ganhou a corrida de memes?!
Eu não gosto de O meu pipi
Eu não gosto do O meu pipi. Faz-me sempre lembrar um filme, não me recordo qual, em que uma jovem utiliza uma linguagem completamente desbragada dando a entender a quem a ouve ser a maior ninfomaníaca existente à face da terra (no Beleza Americana há um caso parecido). Um rapaz entusiasmado tenta conquistá-la mas, quando chegam ao acto, a rapariga fica completamente histérica NÃO, NÂO – sou virgem! Perante a perplexidade do rapaz confessa que tem fobia de sexo e anda a fazer psicoterapia ... mas que ainda só consegue pronunciar as palavras.
... em que as palavras de Kipling nunca são demais
IF you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don't deal in lies,
Or being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise:
If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build 'em up with worn-out tools:
If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breathe a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: 'Hold on!'
If you can talk with crowds and keep your virtue,
' Or walk with Kings - nor lose the common touch,
if neither foes nor loving friends can hurt you,
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man, my son!
Há dias assim!
Estudantes dão um clamoroso tiro no pé
Li no Público de ontem (14/10/03):
“Os estudantes da Universidade do Porto (UP) protagonizaram ontem mais uma invasão de uma reunião do senado, em protesto contra a fixação da propina máxima (852 euros), a atingir no ano lectivo de 2005/06. O assunto não constava da ordem de trabalhos, mas os representantes dos alunos pretendiam apresentar uma moção pedindo que o senado voltasse atrás e optasse por não fixar qualquer valor. A proposta não venceu e os estudantes invadiram a sala, impedindo a continuação dos trabalhos.”
No Diário de Coimbra de ontem, lia-se num artigo de João Gabriel Silva:
“Na reunião do senado da Universidade de Coimbra de 7 de Outubro passado senti-me esbulhado dos meus direitos democráticos. Uma mão cheia de estudantes, ao sentir que talvez o senado aprovasse uma proposta sobre as propinas que não correspondia à opinião que tinham sobre o assunto, invadiram a sala e impediram-me de exprimir a minha opinião, ao impossibilitar que a votação se realizasse. Na reunião da semana anterior já tinham tido uma atitude semelhante, ao saírem da sala em bloco para fazer desaparecer o quorum. Como desta vez essa saída não teria o mesmo efeito, pois os representantes dos docentes e funcionários estavam presentes em número suficiente para só por si garantir o quorum, optaram por impedir fisicamente a votação. O Reitor terminou de imediato a reunião [...]
Na sua cegueira, os estudantes invasores e boicotantes, entre eles o presidente da direcção geral da AAC, não percebem que com esta atitude a única coisa que verdadeiramente conseguem é perder o respeito e o apoio que poderiam recolher junto dos outros membros da comunidade universitária, e do povo português em geral. [...]
O presidente da AAC dizia triunfante às televisões, após a invasão, que toda a Academia de Coimbra mostrava assim que estava contra as propinas e o Governo. Fiquei sem fôlego. Primeiro cala-me, depois fala em meu nome. Insuportável violência.”
Eu poderia tecer muitos comentários sobre este assunto e sobre aquilo que penso ser a democracia, mas não vale a pena. Se depois de ler estas citações não concorda com o título deste post, então não sei o que lhe diga... Sugiro-lhe apenas que pense mais no assunto. Deixo uma última dica, tirada do mesmo artigo do DC:
“Senti-me transportado a outros tempos, em que a liberdade de expressão não existia, em que com violência se calava os desalinhados. Com enorme descaramento, os estudantes que nos calavam entravam na sala com uma mordaça na boca. Só depois percebi: aquela fita adesiva não significava que eles se sentiam impedidos de falar, mas sim que eles não estavam ali para dialogar, apenas para impor a sua posição.”
“Os estudantes da Universidade do Porto (UP) protagonizaram ontem mais uma invasão de uma reunião do senado, em protesto contra a fixação da propina máxima (852 euros), a atingir no ano lectivo de 2005/06. O assunto não constava da ordem de trabalhos, mas os representantes dos alunos pretendiam apresentar uma moção pedindo que o senado voltasse atrás e optasse por não fixar qualquer valor. A proposta não venceu e os estudantes invadiram a sala, impedindo a continuação dos trabalhos.”
No Diário de Coimbra de ontem, lia-se num artigo de João Gabriel Silva:
“Na reunião do senado da Universidade de Coimbra de 7 de Outubro passado senti-me esbulhado dos meus direitos democráticos. Uma mão cheia de estudantes, ao sentir que talvez o senado aprovasse uma proposta sobre as propinas que não correspondia à opinião que tinham sobre o assunto, invadiram a sala e impediram-me de exprimir a minha opinião, ao impossibilitar que a votação se realizasse. Na reunião da semana anterior já tinham tido uma atitude semelhante, ao saírem da sala em bloco para fazer desaparecer o quorum. Como desta vez essa saída não teria o mesmo efeito, pois os representantes dos docentes e funcionários estavam presentes em número suficiente para só por si garantir o quorum, optaram por impedir fisicamente a votação. O Reitor terminou de imediato a reunião [...]
Na sua cegueira, os estudantes invasores e boicotantes, entre eles o presidente da direcção geral da AAC, não percebem que com esta atitude a única coisa que verdadeiramente conseguem é perder o respeito e o apoio que poderiam recolher junto dos outros membros da comunidade universitária, e do povo português em geral. [...]
O presidente da AAC dizia triunfante às televisões, após a invasão, que toda a Academia de Coimbra mostrava assim que estava contra as propinas e o Governo. Fiquei sem fôlego. Primeiro cala-me, depois fala em meu nome. Insuportável violência.”
Eu poderia tecer muitos comentários sobre este assunto e sobre aquilo que penso ser a democracia, mas não vale a pena. Se depois de ler estas citações não concorda com o título deste post, então não sei o que lhe diga... Sugiro-lhe apenas que pense mais no assunto. Deixo uma última dica, tirada do mesmo artigo do DC:
“Senti-me transportado a outros tempos, em que a liberdade de expressão não existia, em que com violência se calava os desalinhados. Com enorme descaramento, os estudantes que nos calavam entravam na sala com uma mordaça na boca. Só depois percebi: aquela fita adesiva não significava que eles se sentiam impedidos de falar, mas sim que eles não estavam ali para dialogar, apenas para impor a sua posição.”
quarta-feira, outubro 15
O TEMPO
“Cíclico ou linear, progressivo ou regressivo, o tempo pode ser medido, pensado, ou vivido. As suas implicações incidem sobre toda a experiência humana, na sua amplitude e na sua complexidade. Como tal, o tempo erige-se em motivo que percorre, transversalmente, todas as áreas do saber.”
O tempo e a ciência a 24 de Outubro e a 5 de Dezembro no Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra. No programa temas tão inspiradores como:
“Tempo dell'uomo, tempo di Dio” por Carlo Carena
“How we use time in shaping our life” por David Bodanis
“The beggining and end of time” por Martin Rees
O tempo e a ciência a 24 de Outubro e a 5 de Dezembro no Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra. No programa temas tão inspiradores como:
“Tempo dell'uomo, tempo di Dio” por Carlo Carena
“How we use time in shaping our life” por David Bodanis
“The beggining and end of time” por Martin Rees
Outono
Um vestígio de frio na noite de Outono
Caminhei lá para fora
E vi a lua rosada debruçar-se sobre uma cerca
Como um lavrador de rosto corado.
Não parei para falar, mas cumprimentei inclinando a cabeça;
E em volta estavam as pensativas estrelas
Com rostos brancos como crianças da cidade.
T.E. Hulme
Caminhei lá para fora
E vi a lua rosada debruçar-se sobre uma cerca
Como um lavrador de rosto corado.
Não parei para falar, mas cumprimentei inclinando a cabeça;
E em volta estavam as pensativas estrelas
Com rostos brancos como crianças da cidade.
T.E. Hulme
O Universo é uma bola de futebol!
O Universo é uma bola de futebol! Está tudo explicado!
Segundo a Nature as ultimas teorias acerca da forma e tamanho do Universo afirmam que este é finito e tem a forma de um dodecaedro. Deste modo, uma viagem de 60 biliões de anos-luz através do Universo traz-nos directinhos de novo à Terra, qual viagem de circum-navegação. Procuram-se novos Fernão de Magalhães.
Segundo a Nature as ultimas teorias acerca da forma e tamanho do Universo afirmam que este é finito e tem a forma de um dodecaedro. Deste modo, uma viagem de 60 biliões de anos-luz através do Universo traz-nos directinhos de novo à Terra, qual viagem de circum-navegação. Procuram-se novos Fernão de Magalhães.
terça-feira, outubro 14
A PRAXE
Porque é que os rituais da Praxe têm que ser rituais de humilhação?
Porque é que de ano para ano as ordinarices são sempre as mesmas e nem as músicas que as suportam variam?
É credível um estudante que num momento leva atrás de si um bando de alunos do primeiro ano (recuso-me a escrever a palavra) a ladrarem e no momento seguinte se transforma no reivindicador de não às propinas ou outra qualquer luta?
Estarei a ficar sem sentido de humor?
Porque é que de ano para ano as ordinarices são sempre as mesmas e nem as músicas que as suportam variam?
É credível um estudante que num momento leva atrás de si um bando de alunos do primeiro ano (recuso-me a escrever a palavra) a ladrarem e no momento seguinte se transforma no reivindicador de não às propinas ou outra qualquer luta?
Estarei a ficar sem sentido de humor?
And what of Marriage?
Then Almitra spoke again and said, "And what of Marriage, master?"
And he answered saying:
You were born together, and together you shall be forevermore.
You shall be together when white wings of death scatter your days.
Aye, you shall be together even in the silent memory of God.
But let there be spaces in your togetherness,
And let the winds of the heavens dance between you.
Love one another but make not a bond of love:
Let it rather be a moving sea between the shores of your souls.
Fill each other's cup but drink not from one cup.
Give one another of your bread but eat not from the same loaf.
Sing and dance together and be joyous, but let each one of you be alone,
Even as the strings of a lute are alone though they quiver with the same music.
Give your hearts, but not into each other's keeping.
For only the hand of Life can contain your hearts.
And stand together, yet not too near together:
For the pillars of the temple stand apart,
And the oak tree and the cypress grow not in each other's shadow.
The PROPHET, by Kahlil Gibran
And he answered saying:
You were born together, and together you shall be forevermore.
You shall be together when white wings of death scatter your days.
Aye, you shall be together even in the silent memory of God.
But let there be spaces in your togetherness,
And let the winds of the heavens dance between you.
Love one another but make not a bond of love:
Let it rather be a moving sea between the shores of your souls.
Fill each other's cup but drink not from one cup.
Give one another of your bread but eat not from the same loaf.
Sing and dance together and be joyous, but let each one of you be alone,
Even as the strings of a lute are alone though they quiver with the same music.
Give your hearts, but not into each other's keeping.
For only the hand of Life can contain your hearts.
And stand together, yet not too near together:
For the pillars of the temple stand apart,
And the oak tree and the cypress grow not in each other's shadow.
The PROPHET, by Kahlil Gibran
Love song
Nothing is plumb, level or square:
the studs are bowed, the joists
are shaky by nature, no piece fits
any other piece without a gap
or pinch, and bent nails
dance all over the surfacing
like maggots. By Christ
I am no carpenter. I built
the roof for myself, the walls
for myself, the floors
for myself, and got
hung up in it myself. I
danced with a purple thumb
at this house-warming, drunk
with my prime whiskey: rage.
Oh I spat rage's nails
into the frame-up of my work:
It held. It settled plumb.
level, solid, square and true
for that one great moment. Then
it screamed and went on through,
skewing as wrong the other way.
God damned it. This is hell,
but I planned it I sawed it
I nailed it and I
will live in it until it kills me.
I can nail my left palm
to the left-hand cross-piece but
I can't do everything myself.
I need a hand to nail the right,
a help, a love, a you, a wife.
Alan Dugan
the studs are bowed, the joists
are shaky by nature, no piece fits
any other piece without a gap
or pinch, and bent nails
dance all over the surfacing
like maggots. By Christ
I am no carpenter. I built
the roof for myself, the walls
for myself, the floors
for myself, and got
hung up in it myself. I
danced with a purple thumb
at this house-warming, drunk
with my prime whiskey: rage.
Oh I spat rage's nails
into the frame-up of my work:
It held. It settled plumb.
level, solid, square and true
for that one great moment. Then
it screamed and went on through,
skewing as wrong the other way.
God damned it. This is hell,
but I planned it I sawed it
I nailed it and I
will live in it until it kills me.
I can nail my left palm
to the left-hand cross-piece but
I can't do everything myself.
I need a hand to nail the right,
a help, a love, a you, a wife.
Alan Dugan
ELE NÃO TEM BLOG...
Excelente cartoon do Luís Afonso. Chegou-me pela caixa do correio, foi publicado num jornal mas eu não encontrei em qual.
Vou fazer futurologia (não astrologia) essa informação vai chegar à caixa do correio ponto aguardo ponto ponto . pronto ponto ponto . porra .
Vou fazer futurologia (não astrologia) essa informação vai chegar à caixa do correio ponto aguardo ponto ponto . pronto ponto ponto . porra .
segunda-feira, outubro 13
Re: re:
Acordo e não falo
sussurro
tenho medo de experimentar a voz
de não ter voz, não reconhecer o som
tenho medo que me doa o som da voz
que me doa a voz.
Acordo e levanto-me
sussurro, sussurros
ouço como eco
é uma doença, uma epidemia
súbita, simpática
ninguém usa a voz
o jogo não acaba, muda
de nível
usa os olhos
usa as mãos traz os gestos
usa o corpo traz o calor.
Avanço mais
sussurro, sopros
de vento do tempo levam
páginas do calendário
hoje estava marcado
alguém levanta a voz
não estranha o silêncio
da resposta
o esforço
a dor no sussurro.
Ando e ouço
trazem-me leite com mel
recomendam-me chá de casca de cebola
inquietam-se com a minha doença tão prolongada
servem-me sumo de laranja
mais páginas caem
acompanhando as folhas sazonais
enfeitam o chão
piso-as suavemente e
chhuuu
não tomo nenhum conselho.
Amanhã acordo e
não falo
sussurro.
sussurro
tenho medo de experimentar a voz
de não ter voz, não reconhecer o som
tenho medo que me doa o som da voz
que me doa a voz.
Acordo e levanto-me
sussurro, sussurros
ouço como eco
é uma doença, uma epidemia
súbita, simpática
ninguém usa a voz
o jogo não acaba, muda
de nível
usa os olhos
usa as mãos traz os gestos
usa o corpo traz o calor.
Avanço mais
sussurro, sopros
de vento do tempo levam
páginas do calendário
hoje estava marcado
alguém levanta a voz
não estranha o silêncio
da resposta
o esforço
a dor no sussurro.
Ando e ouço
trazem-me leite com mel
recomendam-me chá de casca de cebola
inquietam-se com a minha doença tão prolongada
servem-me sumo de laranja
mais páginas caem
acompanhando as folhas sazonais
enfeitam o chão
piso-as suavemente e
chhuuu
não tomo nenhum conselho.
Amanhã acordo e
não falo
sussurro.
Political Compass
Aceitando a sugestão do Adufe, e porque não quero andar para aqui a enganar ninguém, fiz o teste do Political Compass. Respondi o mais sinceramente que me foi possível e no fim juro que a ansiedade com que aguardei o resultado foi enorme. E se afinal eu sou uma conservadora?!
Uff! Fiquei colocada na Esquerda libertária juntinho ao Gandhi, Nelson Mandela e Dalai Lama. Para que conste!
Uff! Fiquei colocada na Esquerda libertária juntinho ao Gandhi, Nelson Mandela e Dalai Lama. Para que conste!
O Eduardo Barroso, os políticos e as finanças dos políticos
O Dr. Eduardo Barroso, na sua coluna semanal no DNA, produziu um discurso no mínimo insultuoso para todos nós portugueses, que honesta e heroicamente esticamos os nossos salários até ao fim de um mês que teima em ser longuíssimo. E pagam-lhe, imagino eu, para que ele produza aquela porcaria!
O Dr. Eduardo Barroso tem uma pena infinita dos pobres políticos, que abnegadamente decidem aceitar cargos de Directores Gerais ou de Secretários ou até de Ministros, não por todos os trabalhos que vão ter que suportar mas, por temer pelas suas finanças. Como podem eles fazer uma vida digna com aqueles salários de miséria?!!!! Nunca poderia ele aceitar uma coisa dessas, mesmo que até desistisse dos jantares no Gambrinius ou dos seus Cohiba. Só lido!
O Dr. Eduardo Barroso tem uma pena infinita dos pobres políticos, que abnegadamente decidem aceitar cargos de Directores Gerais ou de Secretários ou até de Ministros, não por todos os trabalhos que vão ter que suportar mas, por temer pelas suas finanças. Como podem eles fazer uma vida digna com aqueles salários de miséria?!!!! Nunca poderia ele aceitar uma coisa dessas, mesmo que até desistisse dos jantares no Gambrinius ou dos seus Cohiba. Só lido!
Parque Nómada em Coimbra
Poderá dizer-se que era óbvio e que já deveria ter sido pensado e feito há muito. De qualquer modo, as boas iniciativas são de louvar mesmo que venham mais tarde. Leio nos jornais que Coimbra vai ter um parque nómada para alojar famílias nómadas, que para já são famílias ciganas. Era óbvio, em vez de os tentar enfiar em apartamentos que nada têm a ver com eles, junto com outras famílias, não ciganas, que tudo fariam a favor da exclusão... A probabilidade de agora dar certo é bem maior: vão viver em casas pré-fabricadas com algum terreno à volta, o que tem muito mais a ver com os seus hábitos culturais.
E os meninos vão poder a continuar a correr, a tomar banho, a dançar e a comer na rua, sem estarem sujeitos a todos os perigos facilmente imagináveis para quem os via atravessarem, várias vezes ao dia, uma rotunda de trânsito infernal para irem buscar água ao relvado central.
E os meninos vão poder a continuar a correr, a tomar banho, a dançar e a comer na rua, sem estarem sujeitos a todos os perigos facilmente imagináveis para quem os via atravessarem, várias vezes ao dia, uma rotunda de trânsito infernal para irem buscar água ao relvado central.
A Fé em Coimbra
Ainda não fui ver mas, pela amostra vale a pena: exposição de fotografias de António Pinto e Dinis Manuel Alves
domingo, outubro 12
A publicidade lembra-nos dos desejos que esquecemos
M., 6 anos, visivelmente irritada após ver um anúncio na televisão: “Ó pá, tenho-me esquecido de comer Kinder Surprise!”
quinta-feira, outubro 9
SIDA África e IGREJA
Recordo um documentário arrepiante a que assisti numa televisão francesa, realizado numa das ex-colónias francesas, possivelmente no Gabão. Num dos países com uma maior prevalência de SIDA, em que famílias inteiras são dizimadas, as autoridades sanitárias e as organizações humanitárias deparam com uma resistência imensa à utilização do preservativo. Misturam-se crenças tribais com motivos religiosos. Lembro-me de várias pessoas dizerem coisas como, não uso é pecado, ou não uso se Deus quiser que eu morra, ou que seja infectado assim terá que ser. No entanto, leio agora, que os especialistas no terreno consideram outro tipo de superstições como o maior obstáculo não só à prevenção como ao tratamento dos infectados, no Gabão 9 em cada 10 pessoas consideram que a doença está ligada ao VODOO.
O que não iliba a Igreja (que é feita de homens, convém não esquecer) de responsabilidades, quer por actos quer por omissões.
É difícil encontrar um denominador comum para todas as desgraças que se abatem sobre África mas, tenho a firme convicção que a existir passa pela nossa própria civilização.
O que não iliba a Igreja (que é feita de homens, convém não esquecer) de responsabilidades, quer por actos quer por omissões.
É difícil encontrar um denominador comum para todas as desgraças que se abatem sobre África mas, tenho a firme convicção que a existir passa pela nossa própria civilização.
Religião e ciência
Guardian de hoje: a igreja católica anda a dizer, em países com grande incidência de Sida, que os preservativos têm buracos que deixam passar o vírus da Sida. A OMS (Organização Mundial de Saúde) diz que não é verdade. Um cardeal do Vaticano diz que investigadores do NIH (National Institutes of Health) e da OMS estão enganados.
Prémios Ig-Nobel
Anunciados os prémios Ig –Nobel
Prémio Ig- Nobel da Medicina
E. Maguire co-autora do trabalho "Navigation-related structural change in the hippocampi of taxi drivers" (Proc. Natl Acad. Sci. USA 97, 4398–4403). A investigação foi realizada em condutores de taxi londrinos e demonstrou um aumento de volume do hipocampo que, mais difícil ainda, correlacionava com os anos de experiência na profissão.
Prémio Ig-Nobel da Física
Um grupo de investigadores australianos pelo trabalho "An analysis of the forces required to drag sheep over various surfaces" (Appl. Ergon. 33, 523–531; 2002).
Prémio Ig-Nobel da Química
Yukio Hirose, Japão, Universidade de Kanazawa pelos estudos realizados numa estátua de bronze incapaz de atrair pombos.
Prémio Ig-Nobel da Biologia
O prémio foi para um grupo de investigadores da Universidade de Estocolmo pelo trabalho "Chickens prefer beautiful humans" (Hum. Nature 13, 383–389; 2002).
Nature 425, 550 (09 October 2003);10.1038/425550a
Prémio Ig- Nobel da Medicina
E. Maguire co-autora do trabalho "Navigation-related structural change in the hippocampi of taxi drivers" (Proc. Natl Acad. Sci. USA 97, 4398–4403). A investigação foi realizada em condutores de taxi londrinos e demonstrou um aumento de volume do hipocampo que, mais difícil ainda, correlacionava com os anos de experiência na profissão.
Prémio Ig-Nobel da Física
Um grupo de investigadores australianos pelo trabalho "An analysis of the forces required to drag sheep over various surfaces" (Appl. Ergon. 33, 523–531; 2002).
Prémio Ig-Nobel da Química
Yukio Hirose, Japão, Universidade de Kanazawa pelos estudos realizados numa estátua de bronze incapaz de atrair pombos.
Prémio Ig-Nobel da Biologia
O prémio foi para um grupo de investigadores da Universidade de Estocolmo pelo trabalho "Chickens prefer beautiful humans" (Hum. Nature 13, 383–389; 2002).
Nature 425, 550 (09 October 2003);10.1038/425550a
Com sorte, chegaremos a Fátima no dia 13
Eu não devia estar a blogar, porque ainda não encontrei o tempo que anda livre por aí, mas num intervalo achei algum e cliquei na Klepsýdra. Dei com um post sobre um tema que me é caro e que há muito me "espanta e m'avergonha": como é possível que todos os anos tantos milhares de peregrinos andem pelas nossas seguríssimas estradas e vias rápidas sem qualquer protecção, ocupando as faixas de emergência (quando as há), passando tangentes às por vezes tresloucadas trajectórias dos nossos por vezes embriagados condutores em excesso de velocidade? É tristemente temerário desafiar-se assim as incertezas das leis da probabilidade, sobretudo quando se sabe que elas se transformam em certezas nos grandes números dos peregrinos e veículos. É terceiro-mundista não criar caminhos decentes para estas pessoas poderem seguir em segurança os caminhos da sua fé. É infame assistirmos várias vezes ao ano a este espectáculo de risco evitável e termos de rezar para que Deus, que até joga aos dados, bafeje sempre os peregrinos com a sua sorte e bênção.
Quando acontecer um acidente grave, devido a um veículo que legitimamente teve de usar a faixa de emergência que se encontrava ocupada por dezenas de peregrinos que assim perderam a vida ou ficaram estropiados, lamentaremos o desleixo, mostraremos a nossa ira aos governantes, assistiremos enojados aos directos nos telejornais. Depois tentaremos fazer alguma coisa. Mas porque não antes?
Quando acontecer um acidente grave, devido a um veículo que legitimamente teve de usar a faixa de emergência que se encontrava ocupada por dezenas de peregrinos que assim perderam a vida ou ficaram estropiados, lamentaremos o desleixo, mostraremos a nossa ira aos governantes, assistiremos enojados aos directos nos telejornais. Depois tentaremos fazer alguma coisa. Mas porque não antes?
quarta-feira, outubro 8
A incerteza do lugar
Tempo livre, onde estás?
Então não querem ver que perdi o pouco que tenho tido?!!! Ia jurar que o deixei neste post...
Então não querem ver que perdi o pouco que tenho tido?!!! Ia jurar que o deixei neste post...
SNS
Desde sempre me chocou o modo como os mais desvalidos, os mais desprotegidos, os mais frágeis, os mais idosos são tratados em muitos dos nossos serviços públicos de saúde. É para mim aterrorizador passar num serviço de urgências e ver o modo como a maioria das pessoas para ali estão atiradas, sozinhas, a maioria das vezes numa terra estranha, com a sua angústia, sem perceberem nada do que lhes está a acontecer (ou aos seus familiares), sem saberem a quem se hão-de dirigir, como hão-de perguntar e no fim, e muitas vezes, como resposta têm a arrogância dos enfermeiros e dos senhores doutores.
Até posso entender que muitas vezes os profissionais de saúde trabalham em más condições, que há pacientes muito pouco pacientes e até muito chatos, que é difícil lidar com desgraçados que quando se lhes pergunta que medicamentos estão a tomar respondem com um “são assim uns comprimidos azuis”... mas senhores profissionais de saúde é para isso mesmo que são pagos e não descarreguem as vossas frustrações em cima de quem está frágil e doente e precisa de compreensão e de cuidados.
Ontem fui acompanhar um familiar a uma consulta, e juro que se pudesse tinha batido na estúpida da médica, que às perguntas do doente, normais, de quem quer saber, respondia com o ar de “que é que este imbecil está para aqui a perguntar?”.
Sabendo que há médicos (e enfermeiros) fantásticos, de uma extrema humanidade, penso que este retrato não será estranho a ninguém. E é pena!
Até posso entender que muitas vezes os profissionais de saúde trabalham em más condições, que há pacientes muito pouco pacientes e até muito chatos, que é difícil lidar com desgraçados que quando se lhes pergunta que medicamentos estão a tomar respondem com um “são assim uns comprimidos azuis”... mas senhores profissionais de saúde é para isso mesmo que são pagos e não descarreguem as vossas frustrações em cima de quem está frágil e doente e precisa de compreensão e de cuidados.
Ontem fui acompanhar um familiar a uma consulta, e juro que se pudesse tinha batido na estúpida da médica, que às perguntas do doente, normais, de quem quer saber, respondia com o ar de “que é que este imbecil está para aqui a perguntar?”.
Sabendo que há médicos (e enfermeiros) fantásticos, de uma extrema humanidade, penso que este retrato não será estranho a ninguém. E é pena!
a carne e a língua
O Jorge do ser português (ter que) comentou de forma bastante engraçada o meu texto sobre os animais e os alimentos na língua portuguesa, congelando-o em dezenas de tipos de neve esquimó. Como aqui no Aba de Heisenberg também não foi muito bem aceite, vou escrever um pouco sobre ele.
Creio que não fui suficientemente claro porque misturei alhos com bugalhos. O meu ponto era apenas a nossa língua e os alimentos. Os ingleses e outros comem beef em vez de cow. Nós temos as vacas no campo a pastar e depois comemos a carne de vaca, não temos outras palavras. Na nossa língua não distinguímos os alimentos obtidos dos animais dos próprios animais. Foi isso que quis dizer com "ter uma língua que é crua e pobre" sobre animais e alimentação. Que isso tenha alguma coisa que ver com "apreciar verdadeiramente a nossa cultura, através do contacto com outras culturas e línguas" foi um exagero que tornou o texto redutor como disseram o Jorge e o Paulo César. Uma treta óbvia como sugeriu a Isabel. Nesse ponto o Jorge, na senda da famosa lista de iogurtes, deu outro rumo, talvez mais interessante, ao meu texto.
O meu objectivo não era comparar a riqueza das línguas. Nós também temos calhau, seixo, burgau, cascalho, pedra, laje, rebo, e sei lá que mais, para as pedras do rio, enquanto que os esquimós não sabem sequer o que isso é! O meu objectivo era comparar, sem grande profundidade é certo, atitudes linguísticas perante os alimentos obtidos a partir de animais.
Fui pouco claro também por causa dos bacalhaus. Bacalhau fresco é coisa que não há em Portugal, e por isso não temos de ter nome para ele. Não deixa, no entanto, de ser interessante suspeitar que talvez ainda haja portugueses que nunca tenham pensado que o bacalhau não é um peixe em forma de gravata. E não vale dizer que outros, ou mesmo alguns de nós, não têm ideia alguma de como é um atum.
E tudo isto vem a propósito (ou talvez não) de toda a infância ter ouvido dizer que "não se deve ter pena do porco que morre na matança, pois ele assim sofre mais". Depois, já adulto, fui confrontado com uma criança que perguntava se a carne do porco era obtida "pedindo aos porcos para eles nos a darem". Entre o não querer pensar no assunto do comedor de carne envergonhado e a alarvidade de quem faz questão de ver no acto de comer carne um comportamento de predador natural, há muitas coisas. Mas a simplicidade desaparecida de quem criava um porco para o matar e meter na salgadeira, fazer enchidos, separar a banha, aproveitando todas as partes, obtendo assim um magro conduto para durar todo o ano, não pode ser esquecida. As palavras que cada povo tem e usa, muitas ou poucas, revelam a sua cultura. No caso presente, a nossa crueza ou simplicidade perante os alimentos obtidos a partir dos animais. É óbvio, mas era só isso.
Creio que não fui suficientemente claro porque misturei alhos com bugalhos. O meu ponto era apenas a nossa língua e os alimentos. Os ingleses e outros comem beef em vez de cow. Nós temos as vacas no campo a pastar e depois comemos a carne de vaca, não temos outras palavras. Na nossa língua não distinguímos os alimentos obtidos dos animais dos próprios animais. Foi isso que quis dizer com "ter uma língua que é crua e pobre" sobre animais e alimentação. Que isso tenha alguma coisa que ver com "apreciar verdadeiramente a nossa cultura, através do contacto com outras culturas e línguas" foi um exagero que tornou o texto redutor como disseram o Jorge e o Paulo César. Uma treta óbvia como sugeriu a Isabel. Nesse ponto o Jorge, na senda da famosa lista de iogurtes, deu outro rumo, talvez mais interessante, ao meu texto.
O meu objectivo não era comparar a riqueza das línguas. Nós também temos calhau, seixo, burgau, cascalho, pedra, laje, rebo, e sei lá que mais, para as pedras do rio, enquanto que os esquimós não sabem sequer o que isso é! O meu objectivo era comparar, sem grande profundidade é certo, atitudes linguísticas perante os alimentos obtidos a partir de animais.
Fui pouco claro também por causa dos bacalhaus. Bacalhau fresco é coisa que não há em Portugal, e por isso não temos de ter nome para ele. Não deixa, no entanto, de ser interessante suspeitar que talvez ainda haja portugueses que nunca tenham pensado que o bacalhau não é um peixe em forma de gravata. E não vale dizer que outros, ou mesmo alguns de nós, não têm ideia alguma de como é um atum.
E tudo isto vem a propósito (ou talvez não) de toda a infância ter ouvido dizer que "não se deve ter pena do porco que morre na matança, pois ele assim sofre mais". Depois, já adulto, fui confrontado com uma criança que perguntava se a carne do porco era obtida "pedindo aos porcos para eles nos a darem". Entre o não querer pensar no assunto do comedor de carne envergonhado e a alarvidade de quem faz questão de ver no acto de comer carne um comportamento de predador natural, há muitas coisas. Mas a simplicidade desaparecida de quem criava um porco para o matar e meter na salgadeira, fazer enchidos, separar a banha, aproveitando todas as partes, obtendo assim um magro conduto para durar todo o ano, não pode ser esquecida. As palavras que cada povo tem e usa, muitas ou poucas, revelam a sua cultura. No caso presente, a nossa crueza ou simplicidade perante os alimentos obtidos a partir dos animais. É óbvio, mas era só isso.
terça-feira, outubro 7
sms sos
chegaste a casa
vazia
procuraste no relógio
nas chamadas perdidas
uma razão
mas eu não aparecia
enfim chegou
salvadora
uma sms dizia
sos perdi
a tua morada
a tua rua
resta-me o teu sms
sos perdi
o teu cheiro
o teu sabor
resta-me o teu sos
vazia
procuraste no relógio
nas chamadas perdidas
uma razão
mas eu não aparecia
enfim chegou
salvadora
uma sms dizia
sos perdi
a tua morada
a tua rua
resta-me o teu sms
sos perdi
o teu cheiro
o teu sabor
resta-me o teu sos
Para (não) acabar de vez com a incerteza
Corre uma piada entre a comunidade física de que fazendo muitas experiências a incerteza diminui, tende para zero e se transforma numa certeza - tal como os matemáticos teriam demonstrado.
Corre entre a comunidade matemática um rumor igual mas que aponta os físicos como demonstradores do deslocamento da incerteza para certeza.
Ora!
O Nuno estava só a fazer uma experiência sobre a incerteza quando ficou com soluços. Não nos liguem, nós não vamos fechar nunca, se voltarmos a dizer que fechamos, não acreditem - especialmente lembrem-se que nunca temos a certeza de nada.
Também tenho as minhas dúvidas, o meu cansaço, a minha insegurança, o meu entusiasmo, a minha vontade de escrever, de partilhar, de descobrir, de auto-descobrir. Tudo isso está aqui e aqui comigo.
O António Baeta -local e blogal- é que nos levou a sério e prometeu-nos uma semana em Silves com pensão completa e acesso à internet. Agora já sabemos: é ele o nosso leitor!
Corre entre a comunidade matemática um rumor igual mas que aponta os físicos como demonstradores do deslocamento da incerteza para certeza.
Ora!
O Nuno estava só a fazer uma experiência sobre a incerteza quando ficou com soluços. Não nos liguem, nós não vamos fechar nunca, se voltarmos a dizer que fechamos, não acreditem - especialmente lembrem-se que nunca temos a certeza de nada.
Também tenho as minhas dúvidas, o meu cansaço, a minha insegurança, o meu entusiasmo, a minha vontade de escrever, de partilhar, de descobrir, de auto-descobrir. Tudo isso está aqui e aqui comigo.
O António Baeta -local e blogal- é que nos levou a sério e prometeu-nos uma semana em Silves com pensão completa e acesso à internet. Agora já sabemos: é ele o nosso leitor!
Ignoto Deo
Desisti de saber qual é o Teu nome,
Se tens ou não tens o nome que Te demos,
Ou que rosto é que toma, se algum toma,
Teu sopro tão além de quanto vemos.
Desisti de Te amar, por mais que a fome
Do Teu amor nos seja o mais que temos,
E empenhei-me em domar, nem que os não dome,
Meus, por Ti, passionais e vãos extremos.
Chamar-Te amante ou pai... grotesco engano
Que por demais tresanda a gosto humano!
Grotesco engano o dar-te forma! E enfim,
Desisti de Te achar no quer que seja,
De Te dar nome, rosto, culto, ou igreja...
– Tu é que não desistirás de mim!
José Régio
Se tens ou não tens o nome que Te demos,
Ou que rosto é que toma, se algum toma,
Teu sopro tão além de quanto vemos.
Desisti de Te amar, por mais que a fome
Do Teu amor nos seja o mais que temos,
E empenhei-me em domar, nem que os não dome,
Meus, por Ti, passionais e vãos extremos.
Chamar-Te amante ou pai... grotesco engano
Que por demais tresanda a gosto humano!
Grotesco engano o dar-te forma! E enfim,
Desisti de Te achar no quer que seja,
De Te dar nome, rosto, culto, ou igreja...
– Tu é que não desistirás de mim!
José Régio
A incerteza do último post
Ufa, estava a ver que não havia próximo post. Graças ao PC, fiquei com soluços e com um sorriso idiota. Hic. :-> Estou mais aliviado, mas o futuro continua mais acima e eu não o vejo. Este pode ser o último post! Mesmo que não seja, pode ser que o próximo diga "este blogue acaba aqui"! É terrível, a incerteza do fim. Hic. :->
segunda-feira, outubro 6
A incerteza do post anterior
Para acabar de vez com a cultura, que digo eu, com a incerteza do post anterior e com os reload frenéticos e nervosos que façam com que o contador de cliques dê a volta, bata com a cabeça no tecto, as costas no chão, um trambolhão, ou seja um super hit-bit, vamos ao próximo post.
É uma contribuição para o dicionário esférico, em preparação na editora.blogspot.com.
blogo é assim como um soluço inesperado mas vem acompanhado de um sorriso idiota de alívio. Ter um blogo é ter uma ideia luminosa em formato post. Capturar um blogo é aproveitar frases notáveis proferidas por interlocutores incautos e publicá-lo como nossa.
Será este o último blogo?!!!
É uma contribuição para o dicionário esférico, em preparação na editora.blogspot.com.
blogo é assim como um soluço inesperado mas vem acompanhado de um sorriso idiota de alívio. Ter um blogo é ter uma ideia luminosa em formato post. Capturar um blogo é aproveitar frases notáveis proferidas por interlocutores incautos e publicá-lo como nossa.
Será este o último blogo?!!!
A incerteza do próximo post
Olho ansiosamente para cima, para o futuro. Nesta aba de todas as incertezas, qual será o tema do próximo post? Clico em reload, mas não há nada de novo. O próximo post demora a descer, vem de pára-quedas. Estou impaciente. Reload. Nada. Além do tema, há a incerteza do tempo que o post demora a cozinhar. "Pim!", diz o forno, "já está". Não. Não vem. Não, tem de vir, senão o blogue acabava. Reload. Nada. Bem posso esperar sentado. Já estou. Próximo post, estás próximo? Tenho os olhos colados em ti. A responsabilidade é grande, espero que sejas bom. Reload. Nada. Reload. Nada. Será que este é o último post?!!
diálogo de culturas
Para os espanhóis pez é aquele animal que vive no mar, nos rios ou nos aquários e pescado é esse animal feito alimento. Os ingleses têm o sheep que em versão comestível é o mutton, o pig que vai dar o pork, a calf que se torna na veal. Os franceses têm uma deliciosa distinção entre bacalhau fresco e salgado, cabillaud e morue. Tudo distinções subtis que não existem em português, que nestas coisas revela ser uma língua bastante crua e pobre. Nada melhor, para combater os delírios nacionalistas e podermos apreciar verdadeiramente a nossa cultura, que o contacto com outras culturas e línguas.
O meu caderninho
É pequenino, muito bonito e bem acabado.
Coloquei-o, cuidadosamente, por cima d''As Vinhas de Meu Pai'. E reparei, que coincidência, têm exactamente o mesmo tom. Gosto de coincidências, acredito que são um bom prenúncio.
Olho-o. Continuo sem compreender como veio aqui ter.
Não sei que lhe faça. Fogem-me as palavras, as ideias. Sinto a cabeça vazia, as mãos trémulas, o coração acelerado. É tão imaculado que não tenho coragem de o profanar.
Deixo-me estar. Apenas o olho...
Como tudo, amadurecerá, e chegará o seu momento.
Armanda
Coloquei-o, cuidadosamente, por cima d''As Vinhas de Meu Pai'. E reparei, que coincidência, têm exactamente o mesmo tom. Gosto de coincidências, acredito que são um bom prenúncio.
Olho-o. Continuo sem compreender como veio aqui ter.
Não sei que lhe faça. Fogem-me as palavras, as ideias. Sinto a cabeça vazia, as mãos trémulas, o coração acelerado. É tão imaculado que não tenho coragem de o profanar.
Deixo-me estar. Apenas o olho...
Como tudo, amadurecerá, e chegará o seu momento.
Armanda
domingo, outubro 5
outono
quero festejar o outono
vivê-lo como uma celebração
da passagem
do que está entre o dia e a noite
entre o nascimento e a morte
entre o branco o preto
o certo o errado
o bem o mal
quero festejar o outono
há o cinzento
os tons
a vida
todas as cores
é o dia da folha verde
que cai amarela
do cabelo sedoso
que se tinge de branco
quero festejar o outono
que começou se me lembro
este ano a 23 de setembro
vivê-lo como uma celebração
da passagem
do que está entre o dia e a noite
entre o nascimento e a morte
entre o branco o preto
o certo o errado
o bem o mal
quero festejar o outono
há o cinzento
os tons
a vida
todas as cores
é o dia da folha verde
que cai amarela
do cabelo sedoso
que se tinge de branco
quero festejar o outono
que começou se me lembro
este ano a 23 de setembro
sexta-feira, outubro 3
Felinos, primatas, peixes, anfíbios, reptéis, aves, insectos, plantas...
A formiga no carreiro / Vinha em sentido contrário
A formiga no carreiro / Vinha em sentido contrário
E caiu ao Tejo / Caiu ao Tejo / Ao pé dum septuagenário
E caiu ao Tejo / Caiu ao Tejo / Ao pé dum septuagenário
Lerpou trepou às tábuas
Lerpou trepou às tábuas
Que flutuavam nas águas
Que flutuavam nas águas
E de cima duma delas
Virou-se pró formigueiro
Mudem de rumo / Mudem de rumo / Já lá vem outro carreiro (Coro: Mudem de rumo)
Mudem de rumo / Mudem de rumo / Já lá vem outro carreiro (Coro: Outro carreiro)
A formiga no carreiro / Vinha em sentido diferente
A formiga no carreiro / Vinha em sentido diferente
Caiu à rua / Caiu À rua / No meio de toda a gente
Caiu à rua / Caiu à rua / No meio de toda a gente
Buliu abriu as gâmbias
Buliu abriu as gâmbias
Para trepar às varandas
Para trepar às varandas
E de cima duma delas
Virou-se pró formigueiro
Mudem de rumo / Mudem de rumo / Já lá vem outro carreiro (Coro: Mudem de rumo)
Mudem de rumo / Mudem de rumo / Já lá vem outro carreiro (Coro: Outro carreiro)
A formiga no carreiro / Andava a roda da vida
A formiga no carreiro / Andava a roda da vida
Caiu em cima / Caiu em cima / Duma espinhela caída
Caiu em cima / Caiu em cima / Duma espinhela caída
Furou furou à brava
Furou furou à brava
Numa cova que ali estava
Numa cova que ali estava
E de cima duma delas
Virou-se pró formigueiro
Mudem de rumo / Mudem de rumo / Já lá vem outro carreiro (Coro: Mudem de rumo)
Mudem de rumo / Mudem de rumo / Já lá vem outro carreiro (Coro: Outro carreiro)
(Coro:
Mudem de rumo
Outro carreiro
Mudem de rumo
Outro carreiro)
A formiga no carreiro, Zeca Afonso
A formiga no carreiro / Vinha em sentido contrário
E caiu ao Tejo / Caiu ao Tejo / Ao pé dum septuagenário
E caiu ao Tejo / Caiu ao Tejo / Ao pé dum septuagenário
Lerpou trepou às tábuas
Lerpou trepou às tábuas
Que flutuavam nas águas
Que flutuavam nas águas
E de cima duma delas
Virou-se pró formigueiro
Mudem de rumo / Mudem de rumo / Já lá vem outro carreiro (Coro: Mudem de rumo)
Mudem de rumo / Mudem de rumo / Já lá vem outro carreiro (Coro: Outro carreiro)
A formiga no carreiro / Vinha em sentido diferente
A formiga no carreiro / Vinha em sentido diferente
Caiu à rua / Caiu À rua / No meio de toda a gente
Caiu à rua / Caiu à rua / No meio de toda a gente
Buliu abriu as gâmbias
Buliu abriu as gâmbias
Para trepar às varandas
Para trepar às varandas
E de cima duma delas
Virou-se pró formigueiro
Mudem de rumo / Mudem de rumo / Já lá vem outro carreiro (Coro: Mudem de rumo)
Mudem de rumo / Mudem de rumo / Já lá vem outro carreiro (Coro: Outro carreiro)
A formiga no carreiro / Andava a roda da vida
A formiga no carreiro / Andava a roda da vida
Caiu em cima / Caiu em cima / Duma espinhela caída
Caiu em cima / Caiu em cima / Duma espinhela caída
Furou furou à brava
Furou furou à brava
Numa cova que ali estava
Numa cova que ali estava
E de cima duma delas
Virou-se pró formigueiro
Mudem de rumo / Mudem de rumo / Já lá vem outro carreiro (Coro: Mudem de rumo)
Mudem de rumo / Mudem de rumo / Já lá vem outro carreiro (Coro: Outro carreiro)
(Coro:
Mudem de rumo
Outro carreiro
Mudem de rumo
Outro carreiro)
A formiga no carreiro, Zeca Afonso
A ciência e os media - 1º Episódio
Estive fora de Portugal durante 2 semanas e por isso a leitura dos jornais portugueses ficou um tanto deficitária. Assim, só agora me chegou à mão uma reportagem da revista do Expresso sobre bolseiros de doutoramento. Longe vai o tempo em que a revista do Expresso era uma referência. Hoje, até o nome mudou e quanto ao conteúdo, salvo honrosas excepções (a coluna da Clara Ferreira Alves e pouco mais), é uma revista “about nothing”. E com a ligeireza com que tudo é tratado assim foi tratada a ciência. Nada a que não estejamos já habituados na comunicação social em geral.
Para quem não leu traçava-se nesse artigo o perfil de quatro jovens doutorandos portugueses de diversas áreas científicas. A abordagem que foi feita só me faz lembrar os tempos em que eu dava aulas de química a adolescentes, e em que a pergunta sacramental da primeira aula era “setôra, vamos aprender a fazer bombas?”.
A ideia de cientista que ainda se tem em Portugal, e que passa no referido artigo, é a de uma espécie de Professor Pardal, uns seres mais ou menos excêntricos, alheados deste mundo. E para o retrato estar completo se forem químicos devem estar rodeados de uns frascos cheios de líquidos coloridos e de preferência com uns fumos a sair (não estou a brincar, um dos jovens aparece assim mesmo caracterizado na foto) e se forem biólogos devem ter ao lado um microscópio e se forem astrofísicos um astro. Um quadro cheio de números por detrás também fica bem.
E é por isso que até está a passar uma novela na TVI, em que um médico decide, não sei porque razão, deixar de ser médico e claro, fica-lhe lindamente dedicar-se à investigação científica. E oiro sobre azul, à biotecnologia!
São novelas da TVI, dir-me-ão. E então, e o artigo do Expresso?
Para quem não leu traçava-se nesse artigo o perfil de quatro jovens doutorandos portugueses de diversas áreas científicas. A abordagem que foi feita só me faz lembrar os tempos em que eu dava aulas de química a adolescentes, e em que a pergunta sacramental da primeira aula era “setôra, vamos aprender a fazer bombas?”.
A ideia de cientista que ainda se tem em Portugal, e que passa no referido artigo, é a de uma espécie de Professor Pardal, uns seres mais ou menos excêntricos, alheados deste mundo. E para o retrato estar completo se forem químicos devem estar rodeados de uns frascos cheios de líquidos coloridos e de preferência com uns fumos a sair (não estou a brincar, um dos jovens aparece assim mesmo caracterizado na foto) e se forem biólogos devem ter ao lado um microscópio e se forem astrofísicos um astro. Um quadro cheio de números por detrás também fica bem.
E é por isso que até está a passar uma novela na TVI, em que um médico decide, não sei porque razão, deixar de ser médico e claro, fica-lhe lindamente dedicar-se à investigação científica. E oiro sobre azul, à biotecnologia!
São novelas da TVI, dir-me-ão. E então, e o artigo do Expresso?
a formiga de Langton
A formiga de Langton foi para o espaço em grande estilo e deixou pisoteio para o futuro. Não se extinguiu, não sucumbiu ao cansaço, não foi atacada por lugares comuns. Não levou para o ninho cavalos de tróia, não ficou debaixo do sapato de ninguém. Com o seu heróico gran finale tornou-se um objecto completo infinito num espaço finito. Fechado no espaço do tempo e da rede, mas aberto nas suas ligações que pedem novas leituras, prontas para muitas outras descobertas. Uma opera em hipertexto, talvez um novo tipo de clássico.
A vida segundo os Blogs
O LGM interroga-se acerca da segunda pele que nos confere o BLOG. Eu digo mais, o meu querido amigo PC quando me convidou para estas andanças Tramou-me! Tento resistir mas, e isto é um aviso aos incautos, os dias não são mais os mesmos. É a vida olhada através do BLOG!
a formiga de langton
A formiga tinha um rosto, tinha um rasto.
Era uma arquitecta conhecedora da blogoesfera, vejam só a quantidade
de prémios formiga atribuídos. Junto-me ao Nuno, obrigado formiga.
Tentaremos seguir a tua feromona.
[posted by PC : 9:37 AM]
Era uma arquitecta conhecedora da blogoesfera, vejam só a quantidade
de prémios formiga atribuídos. Junto-me ao Nuno, obrigado formiga.
Tentaremos seguir a tua feromona.
[posted by PC : 9:37 AM]
Formiga extinta
Obrigado formiga, aprendemos coisas interessantes contigo, é o que importa. Volta sempre.
leões de blog
É bom escrever a duas mãos contigo, ou quero dizer a quatro mãos, duas cabeças, nenhum olho e muita surpresa.
gosto muito de te ver leãozinho...
Vou cantar para a cama, o que quer dizer que resultou o que escreveste: com um leãozinho assim já nem me importo que não haja leões assim!
caminhando sob o sol...
gosto muito de te ver leãozinho...
Vou cantar para a cama, o que quer dizer que resultou o que escreveste: com um leãozinho assim já nem me importo que não haja leões assim!
caminhando sob o sol...
o PIB e o MIB
Todos conhecemos o PIB (produto interno bruto). O MIB (multiplicação iterno bruto) ninguém sabe o que é. Não sabe porque eu acabei de o inventar. É, pois, muito provável que não faça qualquer sentido, ainda assim já registei a patente!
Vou explicar o que é usando uma analogia com a economia familiar, como os nossos políticos tanto gostam de fazer. Tomemos uma família, com dois adultos -que trabalham- e dois jovens -um que estuda e outro que está doente. A família atravessa uma época de algumas dificuldades e não consegue comprar mais metros quadrados para a nova casa, não consegue comprar mais centímetros cúbicos para o novo carro. É o seu PIB que é baixo!
Então a família encontrou a solução: um jovem decidiu deixar de estudar, o outro jovem decidiu deixar de estar doente. Os rendimentos da família diminuiram um pouco: -deixaram de receber abono familiar para o jovem que não estuda, -deixaram de receber subsídio de doença para o jovem que já não está doente. Mas as despesas caíram em flecha, não mais livros, não mais mesada, não mais transportes, não mais medicamentos. O saldo das contas familiares, o PIB, é vê-lo crescer. Com o PIB puderam também crescer os metros quadrados e os centímetros cúbicos que tanta falta faziam.
Agora o MIB. Esse mede a verdadeira riqueza produzida, gerada, usada, legada pela família. Sem o estudo o MIB desce. Sem a saúde o MIB desce. Sem o abono e o subsídio de doença o MIB desce. Quando os jovens forem adultos e descobrirem que não têm saúde nem escola aí o MIB desce ainda mais.
É tudo uma questão de números, a economia não é uma ciência exacta, como nos querem fazer crer. Os números e as contas são exactos mas as fórmulas são humanas. Nós podemos decidir.
Para a mesma decisão familiar, o PIB sobe, mas o MIB desce. Como sabemos quando o PIB sobe, sobem também os votos. Que interessa quem cá estará para ver o MIB descer?
Vou explicar o que é usando uma analogia com a economia familiar, como os nossos políticos tanto gostam de fazer. Tomemos uma família, com dois adultos -que trabalham- e dois jovens -um que estuda e outro que está doente. A família atravessa uma época de algumas dificuldades e não consegue comprar mais metros quadrados para a nova casa, não consegue comprar mais centímetros cúbicos para o novo carro. É o seu PIB que é baixo!
Então a família encontrou a solução: um jovem decidiu deixar de estudar, o outro jovem decidiu deixar de estar doente. Os rendimentos da família diminuiram um pouco: -deixaram de receber abono familiar para o jovem que não estuda, -deixaram de receber subsídio de doença para o jovem que já não está doente. Mas as despesas caíram em flecha, não mais livros, não mais mesada, não mais transportes, não mais medicamentos. O saldo das contas familiares, o PIB, é vê-lo crescer. Com o PIB puderam também crescer os metros quadrados e os centímetros cúbicos que tanta falta faziam.
Agora o MIB. Esse mede a verdadeira riqueza produzida, gerada, usada, legada pela família. Sem o estudo o MIB desce. Sem a saúde o MIB desce. Sem o abono e o subsídio de doença o MIB desce. Quando os jovens forem adultos e descobrirem que não têm saúde nem escola aí o MIB desce ainda mais.
É tudo uma questão de números, a economia não é uma ciência exacta, como nos querem fazer crer. Os números e as contas são exactos mas as fórmulas são humanas. Nós podemos decidir.
Para a mesma decisão familiar, o PIB sobe, mas o MIB desce. Como sabemos quando o PIB sobe, sobem também os votos. Que interessa quem cá estará para ver o MIB descer?
quinta-feira, outubro 2
Leãozinho
Gosto muito de te ver leãozinho
Caminhando sob o sol
Gosto muito de te ver leãozinho
Para desentristecer leãozinho
O meu coração tão só
Basta encontrar você no caminho
Um filhote de leão raio da manhã
Arrastando o meu olhar como um imã
O meu coração é o sol pai de toda cor
Quando ele lhe doura a pele ao léu
Gosto muito de te ver leãozinho
De te ver entrar no mar
Tua pele tua luz tua juba
Gosto de ficar ao sol leãozinho
De molhar minha juba
De estar perto de você e entrar numa
Caetano Veloso
Caminhando sob o sol
Gosto muito de te ver leãozinho
Para desentristecer leãozinho
O meu coração tão só
Basta encontrar você no caminho
Um filhote de leão raio da manhã
Arrastando o meu olhar como um imã
O meu coração é o sol pai de toda cor
Quando ele lhe doura a pele ao léu
Gosto muito de te ver leãozinho
De te ver entrar no mar
Tua pele tua luz tua juba
Gosto de ficar ao sol leãozinho
De molhar minha juba
De estar perto de você e entrar numa
Caetano Veloso
com sem-penas
Parece que o número de penas nacional é uma coisa limitada. Cada vez mais limitada. Não há que chegue para todos. Infelizmente, desgraçadamente, vergonhosamente parece conseguir o maior número de penas quem usa a melhor técnica de colagem, pode ser o tradicional alcatrão, pode ser mais leve - um pouco de graxa, parece ser quem melhor rebola na lama. É belo o mundo, é bela a terra, com o nosso país lá dentro. Sem estratégia, que conduza a água, a terra será lama, com o nosso país lá dentro.
Vamos encher os estádios!
- Pai, os leões existiram de verdade?
- Sim, ainda existiam no meu tempo.
- A sério, não estás a brincar?
- Não, a sério!
- Então e deixaste que acabassem com eles?
Possivelmente haverá sempre leões nos jardins zoológicos, mesmo que eles deixem de existir em total liberdade. A mesma sorte não têm outras espécies de animais menos emblemáticas, que se extinguem todos os anos às dezenas de milhar, sem ninguém notar.
Extinções sempre houve, elas são naturais e resultam do apuramento das espécies, da competição, da adequação à dinâmica do meio ambiente. Mas hoje o homem influencia cada vez mais essa dinâmica. As espécies não podem adaptar-se suficientemente depressa às alterações provocadas pelo homem e por isso o ritmo a que as espécies se estão a extinguir tem aumentado drasticamente. Quando não consome outras espécies, o Homem compete com elas, pelo espaço, pelos recursos. E ganha, embora à custa da perda de biodiversidade, o nosso maior tesouro, que demorou muitos milhões de anos a conquistar. Mas não tem de ser assim.
Vem isto a propósito desta notícia do Guardian. Se pudéssemos sentar no novo Estádio Cidade de Coimbra todos os leões do mundo, todos os tigres, todos os linces ibéricos, todas as chitas de África, sobrariam ainda muito lugares. Hoje, há menos 90% de leões do que há 20 anos atrás, quando os Rolling Stones ainda iam a metade da sua carreira.
Como foi possível o Homem acabar com um animal como o Dodo (para citar o exemplo mais conhecido), que hoje conhecemos apenas pelos livros? A resposta é simples: por ignorância, falta de visão, estupidez. Tal como hoje para os leões, tigres, etc. A história repete-se, com a diferença de que o problema se agudizou, mostrando que somos duplamente estúpidos, pois não aprendemos com os erros do passado. Irão os nosso filhos e netos viver num mundo sem leões em liberdade? E gorilas? E elefantes? E ...? E acharemos normal?
[Adenda, 23:14 - Afinal talvez seja necessário usar o relvado do estádio: o total de leões, tigres, linces ibéricos e chitas dá 46600, usando os dados do artigo do Guardian. Ou seja, aproximadamente o número de pessoas que esteve no concerto dos Rolling Stones. Para todo o mundo, é muito pouco, obviamente.]
- Sim, ainda existiam no meu tempo.
- A sério, não estás a brincar?
- Não, a sério!
- Então e deixaste que acabassem com eles?
Possivelmente haverá sempre leões nos jardins zoológicos, mesmo que eles deixem de existir em total liberdade. A mesma sorte não têm outras espécies de animais menos emblemáticas, que se extinguem todos os anos às dezenas de milhar, sem ninguém notar.
Extinções sempre houve, elas são naturais e resultam do apuramento das espécies, da competição, da adequação à dinâmica do meio ambiente. Mas hoje o homem influencia cada vez mais essa dinâmica. As espécies não podem adaptar-se suficientemente depressa às alterações provocadas pelo homem e por isso o ritmo a que as espécies se estão a extinguir tem aumentado drasticamente. Quando não consome outras espécies, o Homem compete com elas, pelo espaço, pelos recursos. E ganha, embora à custa da perda de biodiversidade, o nosso maior tesouro, que demorou muitos milhões de anos a conquistar. Mas não tem de ser assim.
Vem isto a propósito desta notícia do Guardian. Se pudéssemos sentar no novo Estádio Cidade de Coimbra todos os leões do mundo, todos os tigres, todos os linces ibéricos, todas as chitas de África, sobrariam ainda muito lugares. Hoje, há menos 90% de leões do que há 20 anos atrás, quando os Rolling Stones ainda iam a metade da sua carreira.
Como foi possível o Homem acabar com um animal como o Dodo (para citar o exemplo mais conhecido), que hoje conhecemos apenas pelos livros? A resposta é simples: por ignorância, falta de visão, estupidez. Tal como hoje para os leões, tigres, etc. A história repete-se, com a diferença de que o problema se agudizou, mostrando que somos duplamente estúpidos, pois não aprendemos com os erros do passado. Irão os nosso filhos e netos viver num mundo sem leões em liberdade? E gorilas? E elefantes? E ...? E acharemos normal?
[Adenda, 23:14 - Afinal talvez seja necessário usar o relvado do estádio: o total de leões, tigres, linces ibéricos e chitas dá 46600, usando os dados do artigo do Guardian. Ou seja, aproximadamente o número de pessoas que esteve no concerto dos Rolling Stones. Para todo o mundo, é muito pouco, obviamente.]
Caminante, non hay camino
Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, non hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en el mar.
Antonio Machado, Proverbios y Cantares
el camino y nada más;
Caminante, non hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en el mar.
Antonio Machado, Proverbios y Cantares
quarta-feira, outubro 1
Hope Is The Thing With Feathers
Hope is the thing with feathers
That perches in the soul
And sings the tune without the words
And never stops at all,
And sweetest in the gale is heard;
And sore must be the storm
That could abash the little bird
That kept so many warm.
I've heard it in the chillest land
And on the strangest sea,
Yet never, in extremity,
It asked a crumb of me.
Emily Dickinson (1830-1886), Complete Poems
That perches in the soul
And sings the tune without the words
And never stops at all,
And sweetest in the gale is heard;
And sore must be the storm
That could abash the little bird
That kept so many warm.
I've heard it in the chillest land
And on the strangest sea,
Yet never, in extremity,
It asked a crumb of me.
Emily Dickinson (1830-1886), Complete Poems
Alma penada de novo
As penas da minha esperança perdida renasceram das cinzas. Qual fénix, qual carapuça: pareço o Poupas da Rua Sésamo! Nado em penas, está tudo cor-de-rosa, o mundo é belo com o nosso país lá dentro!
pensamentos digitalizados
as teclas queimam os dedos, por cada pressão bocados de pele ficam agarrados às letras que vão desaparecendo tingidas, em breve o contacto duro será substituído por um esponjoso, não mais se distinguirão as teclas umas das outras, de nada servirá a experiência de pianista de dez dedos, poderei continuar a escrever a olhar para o lado, só poderei escrever a olhar para o lado, o som das teclas só em pensamento, não mais, nunca mais, pensamentos digitalizados, mas há um qualquer receptor escondido numa janela ancestral de mim que me faz voltar, e gostar de voltar.