domingo, agosto 31
Quando em Estremoz
Flô, quando formos a Estremoz quero ir visitar o Cromeleque dos Almendres, fica a 11km da Évora, saindo da EN114 para sul em direcção à aldeia de Guadalupe. Antes, 100 metros, do Cromeleque vemos à esquerda o grande menir dos Almendres (penso que daria uma dor de costas mesmo ao Obélix).
Tenho a impresão que era este ajuntamento civilizacional que eu procurei uma vez perto de Castelo de Vide, sem sucesso. Sinto falta da sombra projectada e do calor dessas pedras como a um braço que nunca tive.
Leva-me lá!
(Quem me trouxe este braço, nem esquerdo nem direito, foi Rota dos Vinhos, Expresso)
Tenho a impresão que era este ajuntamento civilizacional que eu procurei uma vez perto de Castelo de Vide, sem sucesso. Sinto falta da sombra projectada e do calor dessas pedras como a um braço que nunca tive.
Leva-me lá!
(Quem me trouxe este braço, nem esquerdo nem direito, foi Rota dos Vinhos, Expresso)
sábado, agosto 30
Por causa das nuvens...
...hoje não vale a pena olhar para Marte. A minha metade de Lua também faltou hoje ao encontro. Guardei-lhe o pijama no armário, já posso deixar o chuveiro no apoio, ninguém me pede água, ou o mal-cheiroso: acabou o papel!
Custa habituar ao silêncio nos teus passos, sei que estou sozinho, na aba, na sala, na casa.
Custa habituar ao silêncio nos teus passos, sei que estou sozinho, na aba, na sala, na casa.
Ou
Eu queria escrever qualquer coisa assim. Ou uma coisa qualquer. Ah, estava-me mesmo a apetecer dizer isto mas não encontrei nenhum post para lhe juntar, e nem post e nem título.
Fica então assim, sem post, nem título, apenas qualquer coisa. Ou uma coisa qualquer.
Fica então assim, sem post, nem título, apenas qualquer coisa. Ou uma coisa qualquer.
Desencontrado
Diz-me Maria, diz-me onde foste tu,
qual de nós faltou hoje ao rendez-vous,
qual de nós viu a noite até ser já quase
de dia, é tarde Maria.
Toda a gente passou horas em que andou desencontrado,
como à espera do comboio na paragem do autocarro,
como à espera do comboio na paragem do autocarro.
Sérgio Godinho (na minha memória, salvo erro).
qual de nós faltou hoje ao rendez-vous,
qual de nós viu a noite até ser já quase
de dia, é tarde Maria.
Toda a gente passou horas em que andou desencontrado,
como à espera do comboio na paragem do autocarro,
como à espera do comboio na paragem do autocarro.
Sérgio Godinho (na minha memória, salvo erro).
sexta-feira, agosto 29
Associação de presidentes-de-associações (2)
Reafirmo que não guardo qualquer ressentimento em relação a nenhum blog e não pretendo vir para aqui em bicos de pés à espera de ser citado.
Como no recente apagão nos EU, onde não se encontra nenhuma peça defeituosa e foi antes o macro-sistema que faliu, culpo a máquina da blogoesfera pela minha desilusão.
Dizem-me que é natural que assim seja, que se citem mais os amigos, e que seja mais difícil a quem vem de fora ganhar um lugar ao Sol. É assim em todos os aspectos da vida. Subscrevo, mesmo assim, os que dizem que é na esfera que o diálogo e o feedback são mais fascinantes - por isso ainda cá estou e tenciono estar, até estar. Apenas eu, ingénuo, esperava mais e fui apanhado desprevenido.
Relembro o muito recente é o fim do Guerra e Pas, e li o desabafo póstumo de P., publicado no Aviz. Ele diz: nós temos esta característica irritante do elogio póstumo (e o meu blog é a prova disso; nunca fui tão elogiado e nem sequer vi um ?ainda bem que o gajo se foi embora?). Caraças, se gostam mesmo de outros blogs, de outras pessoas, digam-lhes isso mesmo enquanto eles estão vivos. Parece, bem sei, um tantra. Eu encontro esse erro nos meus posts, eu tenho citado pouco os textos, os blogs, os amigos, de que gosto. E deste modo estou a prepetuar o defeito de assimetria, a falta de circularidade da esfera. E deste modo contribuo para acelerar o esquecimento.
Quanto ao Glória Fácil, que me motiva este acrescento remendo, estou completamente à vontade, não gostando do tom do comentário que me foi feito, é um blog que aprecio e que já citei como o JPH referiu. Como julgava estar claro antes, o sujeito da minha desilusão não é nenhum dos blogs que eu citei - são exemplos de recém-chegados.
Não quero falar mais no assunto, desculpem-me, eu quero é ir blogar.
Como no recente apagão nos EU, onde não se encontra nenhuma peça defeituosa e foi antes o macro-sistema que faliu, culpo a máquina da blogoesfera pela minha desilusão.
Dizem-me que é natural que assim seja, que se citem mais os amigos, e que seja mais difícil a quem vem de fora ganhar um lugar ao Sol. É assim em todos os aspectos da vida. Subscrevo, mesmo assim, os que dizem que é na esfera que o diálogo e o feedback são mais fascinantes - por isso ainda cá estou e tenciono estar, até estar. Apenas eu, ingénuo, esperava mais e fui apanhado desprevenido.
Relembro o muito recente é o fim do Guerra e Pas, e li o desabafo póstumo de P., publicado no Aviz. Ele diz: nós temos esta característica irritante do elogio póstumo (e o meu blog é a prova disso; nunca fui tão elogiado e nem sequer vi um ?ainda bem que o gajo se foi embora?). Caraças, se gostam mesmo de outros blogs, de outras pessoas, digam-lhes isso mesmo enquanto eles estão vivos. Parece, bem sei, um tantra. Eu encontro esse erro nos meus posts, eu tenho citado pouco os textos, os blogs, os amigos, de que gosto. E deste modo estou a prepetuar o defeito de assimetria, a falta de circularidade da esfera. E deste modo contribuo para acelerar o esquecimento.
Quanto ao Glória Fácil, que me motiva este acrescento remendo, estou completamente à vontade, não gostando do tom do comentário que me foi feito, é um blog que aprecio e que já citei como o JPH referiu. Como julgava estar claro antes, o sujeito da minha desilusão não é nenhum dos blogs que eu citei - são exemplos de recém-chegados.
Não quero falar mais no assunto, desculpem-me, eu quero é ir blogar.
"Distracções"
quinta-feira, agosto 28
Associação de presidentes-de-associações
Quando comecei esta aventura na blogoesfera não tinha a noção clara de quais seriam os meus objectivos e esperava poder vir a encontrar a sua definição já em andamento, lembram-se, como a casa da música. Via a blogoesfera como uma comunidade fervilhante e rápida e onde todos teriam igual oportunidade e tratamento. Pareceu-me um lugar interessante para conhecer outras caras, outras ideias. E essencialmente achei o conceito belo por reunir um conjunto de pessoas empenhadas em construir nada (o nada aqui é no bom sentido, eu escrevi, aqui, já há algum tempo que gosto de fazer castelos de areia e das coisas que passam porque não podem ficar).
Acho agora que não me enganei muito se olhar um-a-um cada blog de que gosto.
Mas, também eu estou desiludido com a blogoesfera como um todo e a sua fundação esplendorosa como o Luis lhe chamou. Os comentários a esse post são também muito interessantes - e também reveladores, já lá irei. Toda a gente que aqui escreve quer e gosta de ser lido, citado. Toda a gente tem os seus blogs preferidos e que cita mais frequentemente. Toda a gente também visita e cita os blogs desta tal primeira divisão.
Para além do orgulho ferido, custa-me ver a facilidade com que a dita primeira divisão acolhe, e cita, os novos blogs dos amigos, como o do Paulo Varela Gomes, o Glória Fácil, o Terras do Nunca. A questão é que também nós, aqui na aba, e muitos outros blogs por certo, já os interpelámos e, ou não temos resposta ou ela é curta e morre ali. Segundo o que diz Zazie, nos comentários ao post do Luis, a circularidade é mesmo assim, é natural, ...não considero que o dito centro seja prepotente ou intimidatório como lhe chamaste. Pode ser, mas é precisamente isto acontecer na blogoesfera que me desilude, lá se vai a igualdade de oportunidades de diálogo.
A este propósito lembro-me de alguém que dizia que em Portugal temos a tendência para eleger presidentes, com mesas de assembleia estatutos e tudo, em tudo quanto é associação cívica, matando-a desse modo à nascença. As associações são criadas justamente para debater ou resolver problemas que as organizações estatais falham ou tardam em resolver, e então vai ela própria mimetizar o mesmo esquema? Façamos então uma associação de presidentes de associações.
Porque acho os comentários de Zazie reveladores? Porque é a única resposta que o Luis obteve e porque levanta uma porção de questões importantes em que ninguém pega. É a falta de circularidade, o que se revela!
Acho agora que não me enganei muito se olhar um-a-um cada blog de que gosto.
Mas, também eu estou desiludido com a blogoesfera como um todo e a sua fundação esplendorosa como o Luis lhe chamou. Os comentários a esse post são também muito interessantes - e também reveladores, já lá irei. Toda a gente que aqui escreve quer e gosta de ser lido, citado. Toda a gente tem os seus blogs preferidos e que cita mais frequentemente. Toda a gente também visita e cita os blogs desta tal primeira divisão.
Para além do orgulho ferido, custa-me ver a facilidade com que a dita primeira divisão acolhe, e cita, os novos blogs dos amigos, como o do Paulo Varela Gomes, o Glória Fácil, o Terras do Nunca. A questão é que também nós, aqui na aba, e muitos outros blogs por certo, já os interpelámos e, ou não temos resposta ou ela é curta e morre ali. Segundo o que diz Zazie, nos comentários ao post do Luis, a circularidade é mesmo assim, é natural, ...não considero que o dito centro seja prepotente ou intimidatório como lhe chamaste. Pode ser, mas é precisamente isto acontecer na blogoesfera que me desilude, lá se vai a igualdade de oportunidades de diálogo.
A este propósito lembro-me de alguém que dizia que em Portugal temos a tendência para eleger presidentes, com mesas de assembleia estatutos e tudo, em tudo quanto é associação cívica, matando-a desse modo à nascença. As associações são criadas justamente para debater ou resolver problemas que as organizações estatais falham ou tardam em resolver, e então vai ela própria mimetizar o mesmo esquema? Façamos então uma associação de presidentes de associações.
Porque acho os comentários de Zazie reveladores? Porque é a única resposta que o Luis obteve e porque levanta uma porção de questões importantes em que ninguém pega. É a falta de circularidade, o que se revela!
Amigos de prateleira
Há uma classe de amigos que descobrimos depois das primeiros adeus e das primeiras desilusões a que chamo carinhosamente amigos de prateleira. São aqueles com quem não precisamos de falar nem de aferir pensamentos, a nossa alma é para eles completamente transparente, aprendemos a lê-los por pequenos sinais. Alguns vemos com frequência, outros não. Outros há, com quem nos cruzamos amiúde, fingimos não conhecer e dizemos olá, bom dia, até amanhã! dias-e-dias, até à oportunidade do re-encontro. Podemos com eles retomar uma conversa, interrompida pela vida anos atrás, e estamos ainda no mesmo tom. É uma prateleira de veludo.
Marte
Vale a pena! A última vez que Marte esteve tão próximo da Terra foi há 60 mil anos! Vale a pena ler isto na Klepsýdra. Vale a pena ir lá espreitar o planeta, eu fui... e vi um pontinho amarelado perdido no céu escuro. Ainda por cima não tenho a certeza que seja ele.
Depois fui ver no atlas e relembrei que não é possível, numa única página desenhar à escala todos os planetas -muito menos o Sol-, não é possível numa única página desenhar à escala as distâncias do sistema solar. Acontece porque a diferença de tamanhos é tão vasta que ou uns não cabem na folha ou os outros não se vêm. É bom relembrar esta relatividade que vem das dimensões.
Rui, será que nos podes dizer em que posição Marte está amanhã, às 11 horas? Assim podemos todos olhar ao mesmo tempo, Marte já não é uma criança, não se vai importar!
O Nuno, com a banda desenhada logo aqui abaixo traz-nos outra relatividade, a do espaço-tempo. Julgo entender que a banda desenhada nos mostra como as pulsões de auto-destruição da humanidade podem ser insignificantes à escala do universo... mas obviamente decisivas para nós.
Depois fui ver no atlas e relembrei que não é possível, numa única página desenhar à escala todos os planetas -muito menos o Sol-, não é possível numa única página desenhar à escala as distâncias do sistema solar. Acontece porque a diferença de tamanhos é tão vasta que ou uns não cabem na folha ou os outros não se vêm. É bom relembrar esta relatividade que vem das dimensões.
Rui, será que nos podes dizer em que posição Marte está amanhã, às 11 horas? Assim podemos todos olhar ao mesmo tempo, Marte já não é uma criança, não se vai importar!
O Nuno, com a banda desenhada logo aqui abaixo traz-nos outra relatividade, a do espaço-tempo. Julgo entender que a banda desenhada nos mostra como as pulsões de auto-destruição da humanidade podem ser insignificantes à escala do universo... mas obviamente decisivas para nós.
quarta-feira, agosto 27
Matar-o-mandarim tecnológico ou..
o comando de televisão bomba cirúrgica. Se com um gesto inocente se pudesse matar um velho mandarim desconhecido na China e tirar vantagem disso, o que farias, terá perguntado Rousseau, citado por Balzac. Eça de Queirós respondeu com hesitações e remorsos, Balzac que já ia no "quinto mandarim..." Em qualquer dos casos (felizmente) não há comandos televisão assim...
terça-feira, agosto 26
Insónia, logo blogo
Universal War One (UW1) é a banda desenhada mais relativística que conheço. Brinca com a curvatura do espaço-tempo como ninguém. A escala dos acontecimentos é colossal: no 1º volume os anéis de Saturno ficaram com um imenso buraco tipo queijo emmental, no 2º Urano foi serrado ao meio, no 4º volume, foi o fim da Terra.
O 4º volume estava quase pronto antes do 11 de Setembro. O autor não quis mudar as 2 torres gémeas que ainda existiam na Nova York do futuro que, ironicamente, estava a ser cortada como manteiga derretida até ser completamente destruída. Ele explica o porquê aqui (clicar em "previews", não há link directo), mas fica um breve trecho:
"Depuis quatre ans que je travaille sur ce projet, je sais où me mènent mes pas : je parle des pulsions de violence et d’autodestruction de l’humanité. Je parle de ce qu’elle s’infligera obligatoirement un jour si elle n’évolue pas. Je parle de la mort de l’humanité. Non pas de la main d’un ennemi extérieur ou différent, mais de sa propre main. Et la démesure des actes de certains n'est qu’à l’échelle de notre arrogance."
Uma das razões porque gosto da UW1 é porque ela é estimulante, leva-nos a pensar sobre temas pouco explorados, eventualmente suscitando novas ideias. Por exemplo, há um episódio de guerra entre naves, tipo Star Wars, que é passado numa zona onde a curvatura do espaço-tempo é tal, que faz com que o tempo de um lado passe milhares de vezes mais lentamente do que no outro lado. Em consequência, as naves de um dos lados são dizimadas, porque parecem praticamente paradas para os inimigos.
Um tal espaço-tempo é semelhante ao que existe nas proximidades de um buraco negro (lá o tempo passa mais devagar do que para um observador exterior). Não pude deixar de pensar que, nesse caso, poderíamos aumentar arbitrariamente a rapidez de um qualquer computador se o teclado, rato e monitor estivessem próximo de um buraco negro (onde o tempo passa mais devagar) e a CPU estivesse longe (onde o tempo passa depressa). Que fixe!
Mas... galo. A natureza está bem feita e acho que estas maravilhas da técnica não resultam. Mais uma ideia falhada para os anais da blogosfera. As coisas em que um gajo pensa quando está sem sono... Bem, já voltou.
O 4º volume estava quase pronto antes do 11 de Setembro. O autor não quis mudar as 2 torres gémeas que ainda existiam na Nova York do futuro que, ironicamente, estava a ser cortada como manteiga derretida até ser completamente destruída. Ele explica o porquê aqui (clicar em "previews", não há link directo), mas fica um breve trecho:
"Depuis quatre ans que je travaille sur ce projet, je sais où me mènent mes pas : je parle des pulsions de violence et d’autodestruction de l’humanité. Je parle de ce qu’elle s’infligera obligatoirement un jour si elle n’évolue pas. Je parle de la mort de l’humanité. Non pas de la main d’un ennemi extérieur ou différent, mais de sa propre main. Et la démesure des actes de certains n'est qu’à l’échelle de notre arrogance."
Uma das razões porque gosto da UW1 é porque ela é estimulante, leva-nos a pensar sobre temas pouco explorados, eventualmente suscitando novas ideias. Por exemplo, há um episódio de guerra entre naves, tipo Star Wars, que é passado numa zona onde a curvatura do espaço-tempo é tal, que faz com que o tempo de um lado passe milhares de vezes mais lentamente do que no outro lado. Em consequência, as naves de um dos lados são dizimadas, porque parecem praticamente paradas para os inimigos.
Um tal espaço-tempo é semelhante ao que existe nas proximidades de um buraco negro (lá o tempo passa mais devagar do que para um observador exterior). Não pude deixar de pensar que, nesse caso, poderíamos aumentar arbitrariamente a rapidez de um qualquer computador se o teclado, rato e monitor estivessem próximo de um buraco negro (onde o tempo passa mais devagar) e a CPU estivesse longe (onde o tempo passa depressa). Que fixe!
Mas... galo. A natureza está bem feita e acho que estas maravilhas da técnica não resultam. Mais uma ideia falhada para os anais da blogosfera. As coisas em que um gajo pensa quando está sem sono... Bem, já voltou.
7853.98 metros quadrados
Aos que ainda pensam que a guerra é a resposta, mesmo que a última resposta, peço que façam um exercício.
É um exercício limpo, usando uma bomba inteligente, um míssil guiado por GPS com capacidade para destruir tudo num raio de 50 metros. Pi erre ao quadrado dá 7853.98 metros quadrados. Reservando 1 metro quadrado por cada homem, mulher ou criança, cada uma com uma plaquinha metálica com o nome gravado, dá um máximo de 7853 pessoas.
Agora apaguem a luz, fechem as janelas, desliguem a televisão. Vamos supor, isto é só um jogo, que qualquer botão do telecomando faz disparar o míssil inteligente.
Ao destruir esses 7853 metros quadrados, tem a grande oportunidade de ajudar a libertar um povo oprimido. Claro que há uma incerteza, o míssil pode falhar e acertar em cima dos já-oprimidos, etc, há uma incerteza, mas há uma possibilidade. A responsabilidade da escolha é sua.
Agora já pode carregar no botão, retenha o flash inicial do televisor.
É um exercício limpo, usando uma bomba inteligente, um míssil guiado por GPS com capacidade para destruir tudo num raio de 50 metros. Pi erre ao quadrado dá 7853.98 metros quadrados. Reservando 1 metro quadrado por cada homem, mulher ou criança, cada uma com uma plaquinha metálica com o nome gravado, dá um máximo de 7853 pessoas.
Agora apaguem a luz, fechem as janelas, desliguem a televisão. Vamos supor, isto é só um jogo, que qualquer botão do telecomando faz disparar o míssil inteligente.
Ao destruir esses 7853 metros quadrados, tem a grande oportunidade de ajudar a libertar um povo oprimido. Claro que há uma incerteza, o míssil pode falhar e acertar em cima dos já-oprimidos, etc, há uma incerteza, mas há uma possibilidade. A responsabilidade da escolha é sua.
Agora já pode carregar no botão, retenha o flash inicial do televisor.
domingo, agosto 24
Reentrar na incerteza - III
Cheguei de férias ontem. Tenho ligado pouco aos meios de comunicação social e não segui a blogosfera durante uma semana. Disponho de pouca informação e por isso não faço grandes críticas, que poderiam ser injustas. Mas há algo no relativismo com que por vezes se apresentam certos números que me incomoda profundamente. Relativizar um facto pode ser positivo, se com isso se conseguir mostrar a sua real importância. Mas relativizar um facto comparando-o com a pior situação possível, diminuindo-o, é infelizmente muito comum em Portugal. É para isto que servem os recordes, para desculpar as outras catástrofes por comparação?
No fundo, a questão é: 1316 mortes, mesmo estimadas, mesmo eventualmente "antecipadas" (uma vez que em princípio foram as pessoas mais debilitadas que morreram), mesmo inferiores às 1900 mortes de 1981, são ou não uma catástrofe? Requer ou não grandes medidas, grande atenção, grandes explicações por parte do governo? Exige ou não que se avalie rigorosamente a sua dimensão, a eficácia das medidas tomadas e que se estude seriamente a forma de se evitar que a situação se repita no futuro?
Estou a ser assaltado. Digam-me por favor quantas pessoas morreram em Portugal devido à onda de calor!
No fundo, a questão é: 1316 mortes, mesmo estimadas, mesmo eventualmente "antecipadas" (uma vez que em princípio foram as pessoas mais debilitadas que morreram), mesmo inferiores às 1900 mortes de 1981, são ou não uma catástrofe? Requer ou não grandes medidas, grande atenção, grandes explicações por parte do governo? Exige ou não que se avalie rigorosamente a sua dimensão, a eficácia das medidas tomadas e que se estude seriamente a forma de se evitar que a situação se repita no futuro?
Estou a ser assaltado. Digam-me por favor quantas pessoas morreram em Portugal devido à onda de calor!
Reentrar na incerteza - II
Público de 22 de Agosto: “Estimativas preliminares do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge indicam que, entre 30 de Julho e 12 de Agosto, morreram 1316 pessoas a mais do que seria de se esperar num Verão normal. Mais da metade serão idosos, com mais de 75 anos (ver texto nestas páginas).
É, por ora, apenas uma previsão estatística, feita a partir de dados reais referentes a 40 por cento da população do país e que ainda não leva em conta os últimos dias da vaga de calor. Mas é em torno deste número que se questiona, agora, se o Sistema Nacional de Saúde estava ou não bem preparado para enfrentar um período tão longo de altas temperaturas.
O subdirector geral da Saúde, Francisco George - que tem servido como o rosto do Governo nesta crise - acredita que os resultados ontem divulgados indicam que o país está melhor do que em 1981, quando uma onda de calor provocou 1900 mortes. "Pessoalmente, estou convencido de que há uma tendência de melhoria", disse ontem, numa conferência de imprensa em Lisboa."
É, por ora, apenas uma previsão estatística, feita a partir de dados reais referentes a 40 por cento da população do país e que ainda não leva em conta os últimos dias da vaga de calor. Mas é em torno deste número que se questiona, agora, se o Sistema Nacional de Saúde estava ou não bem preparado para enfrentar um período tão longo de altas temperaturas.
O subdirector geral da Saúde, Francisco George - que tem servido como o rosto do Governo nesta crise - acredita que os resultados ontem divulgados indicam que o país está melhor do que em 1981, quando uma onda de calor provocou 1900 mortes. "Pessoalmente, estou convencido de que há uma tendência de melhoria", disse ontem, numa conferência de imprensa em Lisboa."
Reentrar na incerteza
- Mãos ao ar! - uma dúvida assalta-me. - Quantas pessoas morreram em Portugal devido à onda de calor?
- Não sei. - respondo. - Talvez 1316. Mas há uma tendência de melhoria.
- Não sei. - respondo. - Talvez 1316. Mas há uma tendência de melhoria.
sexta-feira, agosto 22
a A
Eu vejo-o da minha janela. A esta hora ele controla, e sabe quando aparecem as peças em cena, o silêncio é dele, e quando aparecem as novas deixas, ficará ali imóvel, sempre com o tubo do aspirador na mão, haja ou não pó, haja ou não palavras. Depois eu vou pé ante pé e levanto a aba do lençol, tateando na incerteza, ao de leve, ainda assim ela faz perguntas coerentes com os olhos do sono. O aspirador é muito silencioso.
quinta-feira, agosto 21
Um passo para trás...
Do terrorismo acho covarde e vil. Da guerra injustificada e cruel.
Não encontro qualquer justificação para um atentado, por muito martirizada esteja a vida. Não posso aceitar que a guerra possa ser uma resposta útil e inteligente de uma sociedade evoluída.
Dos ataques suícidas -verdadeira bomba inteligente- não distingo do conforto asséptico do botão launch. Nenhum dos autores dá a cara.
Sobre este assunto em glória fácil se pode ler o texto Luso-papagaios (posted by JPH @ 01:57) que eu também assino por baixo, como outros blogs já assinaram. E repito, será que é possível um debate sobre este tema, o que é que eu preciso de dizer e fazer para, ao fazer estas constatações, não ser acusado de terrorista ou idiota-útil ou cobarde ou tudo-ao-mesmo-tempo? Será possível ser um moderado?
Por mim continuo a recusar aceitar -apesar da complexidade dos cenários, que eu não domino mas nos quais reconheço imensas dificuldades- que a guerra possa ser a resposta, mesmo que a última resposta. Eu penso que a solução dos conflitos, a amenização das ditaduras, passa não pelo seu combate mas por evitar que assumam proporções dantescas. Para isso existem os bloqueios económicos. Alguém está certo de que se tenha tentado o suficiente esta via? Quantos estados e quantas empresas estão de consciência limpa? Como se explica que Saddam tenha obtido tão facilmente as armas que não sabia construir, enquanto estava em guerra com o Irão e depois extreminava os curdos e os xiitas?
Não, não é a guerra, não pode ser a guerra. Não, não são os bombeiros, é a prevenção, a reflorestação e a detecção precoce dos incêndios. Não é o combate ao vírus, a resposta é a vacina.
Enquanto permitirmos que, por exemplo os EU construam novas armas nucleares cirúrgicas (post do Nuno, aqui na aba) mas há outros exemplos com certeza noutros países aqui tão perto, continuaremos aqui a debater as estratégias de guerra ou de boicote. É preciso dar um passo à frente, neste caso um passo para trás, ou estas mortes, com nomes, terão sido também em vão.
Não encontro qualquer justificação para um atentado, por muito martirizada esteja a vida. Não posso aceitar que a guerra possa ser uma resposta útil e inteligente de uma sociedade evoluída.
Dos ataques suícidas -verdadeira bomba inteligente- não distingo do conforto asséptico do botão launch. Nenhum dos autores dá a cara.
Sobre este assunto em glória fácil se pode ler o texto Luso-papagaios (posted by JPH @ 01:57) que eu também assino por baixo, como outros blogs já assinaram. E repito, será que é possível um debate sobre este tema, o que é que eu preciso de dizer e fazer para, ao fazer estas constatações, não ser acusado de terrorista ou idiota-útil ou cobarde ou tudo-ao-mesmo-tempo? Será possível ser um moderado?
Por mim continuo a recusar aceitar -apesar da complexidade dos cenários, que eu não domino mas nos quais reconheço imensas dificuldades- que a guerra possa ser a resposta, mesmo que a última resposta. Eu penso que a solução dos conflitos, a amenização das ditaduras, passa não pelo seu combate mas por evitar que assumam proporções dantescas. Para isso existem os bloqueios económicos. Alguém está certo de que se tenha tentado o suficiente esta via? Quantos estados e quantas empresas estão de consciência limpa? Como se explica que Saddam tenha obtido tão facilmente as armas que não sabia construir, enquanto estava em guerra com o Irão e depois extreminava os curdos e os xiitas?
Não, não é a guerra, não pode ser a guerra. Não, não são os bombeiros, é a prevenção, a reflorestação e a detecção precoce dos incêndios. Não é o combate ao vírus, a resposta é a vacina.
Enquanto permitirmos que, por exemplo os EU construam novas armas nucleares cirúrgicas (post do Nuno, aqui na aba) mas há outros exemplos com certeza noutros países aqui tão perto, continuaremos aqui a debater as estratégias de guerra ou de boicote. É preciso dar um passo à frente, neste caso um passo para trás, ou estas mortes, com nomes, terão sido também em vão.
Férias
3 h de uma qualquer tarde de Agosto.
Na recepção de um clube de férias “all included” algarvio uma equipa do INEM socorre dois jovens irlandeses. Coma alcoólica às 3 da tarde?
“All included, sir”!
Na recepção de um clube de férias “all included” algarvio uma equipa do INEM socorre dois jovens irlandeses. Coma alcoólica às 3 da tarde?
“All included, sir”!
Leio no Público (António Vilarigues)
"No passado dia 5 de Agosto o canal por cabo TV5 despertou-me para a notícia. Em vão pesquisei junto de dezenas de órgãos de comunicação social ditos de referência em Portugal e noutras partes do mundo. Só na edição "online" do jornal israelita "Haaretz" encontrei a confirmação que procurava.
A história é curta e brutal: o Parlamento israelita, o Knesset, aprovou a 2 de Agosto uma lei que nega a cidadania israelita a palestinianos que se tenham casado com israelitas.
A votação final foi de 53 votos a favor, 25 contra (trabalhistas, Meretz - coligação de comunistas e seus aliados - e partidos árabes) e uma abstenção. Toda a esquerda parlamentar considerou a lei como racista e desumana."
Afinal Israel é um estado democrata, esta decisão foi tomada por maioria por um parlamento legitimamente eleito!
"No passado dia 5 de Agosto o canal por cabo TV5 despertou-me para a notícia. Em vão pesquisei junto de dezenas de órgãos de comunicação social ditos de referência em Portugal e noutras partes do mundo. Só na edição "online" do jornal israelita "Haaretz" encontrei a confirmação que procurava.
A história é curta e brutal: o Parlamento israelita, o Knesset, aprovou a 2 de Agosto uma lei que nega a cidadania israelita a palestinianos que se tenham casado com israelitas.
A votação final foi de 53 votos a favor, 25 contra (trabalhistas, Meretz - coligação de comunistas e seus aliados - e partidos árabes) e uma abstenção. Toda a esquerda parlamentar considerou a lei como racista e desumana."
Afinal Israel é um estado democrata, esta decisão foi tomada por maioria por um parlamento legitimamente eleito!
Terrorismo
Leio com alguma perplexidade o último texto de JPP no ABRUPTO.
ABRUPTO - Porque é que não se pode dizer que Sérgio Vieira de Mello morreu pelo mesmo objectivo por que morrem os soldados americanos? Por ter sido funcionário da ONU?
Eu- A diferença é abissal JPP: Exército Americano – Força invasora! ONU – Força de Paz que se opôs à invasão do Iraque!
ABRUPTO - Porque razão as mortes iraquianas suscitam lágrimas e as israelitas comentários?
Eu- Em que é que se baseia para dizer isso? Há escalas de brutalidade? Eu até vi uma coisa bem diferente que foi a tentativa feita por muitos de colar o atentado de Bagdad ao de Jerusalém!
ABRUPTO - Porque razão ninguém quer saber para coisa nenhuma do plano de paz israelo - palestiniano, o único que existe, o único que se está a implementar, o único que permite alguma esperança? Porquê? Porque acham que é Arafat que tem razão ou o Hamas? É com eles que vão fazer a paz?
Eu- Mais uma manifestação do maniqueismo vigente: se não és por mim, és contra mim! ou se não és por mim és por eles! Como dizia Shakespear "Há muito mais coisas entre o céu e a terra ...".
ABRUPTO - É que há muita gente que prefere os seus confortinhos ideológicos, ao decente sentimento de poupar a dor a pessoas concretas. E que não quer saber rigorosamente para nada quer dos israelitas, quer dos palestinianos, quer dos iraquianos, concretos, mas sim das abstracções longínquas de que se alimenta um discurso fácil e arrogante sobre o mundo.
Eu – Não podia estar mais de acordo consigo.
ABRUPTO - Porque é que não se pode dizer que Sérgio Vieira de Mello morreu pelo mesmo objectivo por que morrem os soldados americanos? Por ter sido funcionário da ONU?
Eu- A diferença é abissal JPP: Exército Americano – Força invasora! ONU – Força de Paz que se opôs à invasão do Iraque!
ABRUPTO - Porque razão as mortes iraquianas suscitam lágrimas e as israelitas comentários?
Eu- Em que é que se baseia para dizer isso? Há escalas de brutalidade? Eu até vi uma coisa bem diferente que foi a tentativa feita por muitos de colar o atentado de Bagdad ao de Jerusalém!
ABRUPTO - Porque razão ninguém quer saber para coisa nenhuma do plano de paz israelo - palestiniano, o único que existe, o único que se está a implementar, o único que permite alguma esperança? Porquê? Porque acham que é Arafat que tem razão ou o Hamas? É com eles que vão fazer a paz?
Eu- Mais uma manifestação do maniqueismo vigente: se não és por mim, és contra mim! ou se não és por mim és por eles! Como dizia Shakespear "Há muito mais coisas entre o céu e a terra ...".
ABRUPTO - É que há muita gente que prefere os seus confortinhos ideológicos, ao decente sentimento de poupar a dor a pessoas concretas. E que não quer saber rigorosamente para nada quer dos israelitas, quer dos palestinianos, quer dos iraquianos, concretos, mas sim das abstracções longínquas de que se alimenta um discurso fácil e arrogante sobre o mundo.
Eu – Não podia estar mais de acordo consigo.
quarta-feira, agosto 20
Houve um tempo em que tudo era mais simples...
Os assassinos na catedral de Eliot chegam à boca de cena para dizer que quem matou o arcebispo foram os espectadores. Como diz José Blanc de Portugal nas notas da tradução, tantas vezes ouvimos esse discurso desculpabilizador. Os assassinos são os motivos, as causas, a sociedade, nós. Mas não, os assassinos não podem ser abstracções e são tanto aqueles que puxam o gatilho como os poderosos que jogam o jogo das nações como se as pessoas fossem números. E as vítimas, essas são sempre os inocentes, os que estão à mão, porque os "verdadeiros alvos" estão bem protegidos e inacessíveis.
Cita-se no Aviz que "os EUA alimentaram o monstro". Se calhar ainda o fazem. Tanta informação para não sabermos nada, ou, ainda pior, para julgarmos que sabemos. E, entretanto, o terror aprendeu a jogar com a informação.
Que os assassinos sejam os seguidores de Saddam, como também é dito no Aviz, é muito provável. Resta é saber quem são os seguidores de Saddam. Recordo que Saddam e Bush se acusaram mutuamente de serem o Diabo. Parafraseando Santo Agostinho, provavelmente ambos têm razão.
PS: Só hoje dei conta, pelo abrupto, de que o livro DN de ontem era o "Assassínio na Catedral" de T. S. Eliot, na magnífica tradução de José Blanc de Portugal. Tal como JPP também recomendo vivamente.
Cita-se no Aviz que "os EUA alimentaram o monstro". Se calhar ainda o fazem. Tanta informação para não sabermos nada, ou, ainda pior, para julgarmos que sabemos. E, entretanto, o terror aprendeu a jogar com a informação.
Que os assassinos sejam os seguidores de Saddam, como também é dito no Aviz, é muito provável. Resta é saber quem são os seguidores de Saddam. Recordo que Saddam e Bush se acusaram mutuamente de serem o Diabo. Parafraseando Santo Agostinho, provavelmente ambos têm razão.
PS: Só hoje dei conta, pelo abrupto, de que o livro DN de ontem era o "Assassínio na Catedral" de T. S. Eliot, na magnífica tradução de José Blanc de Portugal. Tal como JPP também recomendo vivamente.
Peça em cena
Ah, vou fazer um reload... um momento de espera, a certeza da novidade,... não, afinal não há mais nenhuma peça em cena! Mas porque é que não nos dão logo o texto todo da peça? Seria só ler, meditar ou não, e depois ir para o aborrecimento confortável do sofá. Começo a desconfiar que o guião só é escrito, em cima do joelho, que há várias peças em cena ao mesmo tempo e que as deixas estão misturadas... vou buscar o aspirador, olhem que tem um filtro HEPA!
Neurasténico, adj.
Andava há dias para saber o diagnóstico do peixe.
3 [coloq.] estado de depressão acompanhado de tristeza (Do gr. neuron, «nervo» + asthéneia, «fraqueza»).
3 [coloq.] estado de depressão acompanhado de tristeza (Do gr. neuron, «nervo» + asthéneia, «fraqueza»).
Tristeza
Sinto uma profunda tristeza nesta terça-feira. Mais um atentado em Israel, mais um no Iraque, morreu Sérgio Vieira de Mello. Custa sempre mais quando se põe um nome.
Há muito escrito sobre isto, do que li, deixo aqui a flor de obsessão, o Aviz, o mar salgado com textos para ler com sentido crítico. Cá fico a gerir a angustia de não lhe ter conhecido a obra em vida.
Em Portugal só acredito quando resolver a guerra-civil nas estradas, no Mundo, não sei...
Há muito escrito sobre isto, do que li, deixo aqui a flor de obsessão, o Aviz, o mar salgado com textos para ler com sentido crítico. Cá fico a gerir a angustia de não lhe ter conhecido a obra em vida.
Em Portugal só acredito quando resolver a guerra-civil nas estradas, no Mundo, não sei...
terça-feira, agosto 19
O estilo
O Luís com a rapidez de um relâmpago e claridade de um trovão, que lhe são habituais, falou sobre o estilo. Lá já está tudo, a mim, nem me vale a pena tentar. O estilo é a luta de todos os dias, de todos os escritos. A pequena pedra-de-toque, que não encontro ou confundo com uma areia-no-sapato, que impede a rocha de se fazer pó. Nilfisk, o aspirador, vou buscá-lo.
segunda-feira, agosto 18
Descobertas
Há pouco, depois de saber da última descoberta da Inês de cinco anos, dei por mim a pensar numa das descobertas do Guilherme, de cinco anos também. Primeiro, descobriu que as pessoas morrem. Depois, que as mães morrem. Ficou preocupado, muito triste e pensativo durante alguns segundos. Os seus olhinhos encheram-se de água. Os meus também.
Depois, todas as noites de uma longa semana, perguntou:
- Mãe, quando é que tu morres?
Enviado por Armanda.
Depois, todas as noites de uma longa semana, perguntou:
- Mãe, quando é que tu morres?
Enviado por Armanda.
Os nomes das árvores
O post abaixo chegou-me à mão, de viva voz de um amigo a quem muito devo no entendimento deste inferno de chamas. Traz-nos à memória, ou ao conhecimento, um resumo da história das nossas florestas, relembrando-nos como a solução do problema passa por um (re-)ordenamento da economia e não apenas da floresta.
Quem ainda tem dúvidas da importância da (re-)florestação no nosso país repare como todos conhecemos o José Alberto Carvalho, o Fernando Nogueira, o João de Deus Pinheiro, Castro e Castanheira e mesmo o José Pacheco Pereira ou o Carlos Melancia. Temos ainda um Aníbal Cavaco Silva e o Júlio de Matos.
Mas nunca ninguém ouviu falar de um tal de Rui Austral Eucalipto!
Quem ainda tem dúvidas da importância da (re-)florestação no nosso país repare como todos conhecemos o José Alberto Carvalho, o Fernando Nogueira, o João de Deus Pinheiro, Castro e Castanheira e mesmo o José Pacheco Pereira ou o Carlos Melancia. Temos ainda um Aníbal Cavaco Silva e o Júlio de Matos.
Mas nunca ninguém ouviu falar de um tal de Rui Austral Eucalipto!
domingo, agosto 17
INCÊNDIOS - perspectivas - passado e futuro
Poderá talvez dizer-se que terá havido um tempo em que a vegetação que predominava era constituída por arbustos e ervas entremeados de árvores de porte não muito significativo - carvalhos, por exemplo.
A área ocupada por esta vegetação ardia quase que anualmente, sendo assim feita a limpeza dos terrenos.
Para lá dessa área haveria uma outra ocupada essencialmente por castanheiros, cultivada e protegida de modo especial, de modo a não arder, pois produzia aquilo que foi a base da nossa alimentação durante séculos - a castanha.
Talvez num só século (o XX) se tenham operado todas as mudanças que estão na base dos problemas actuais.
Processou-se a florestação de uma grande parte do território essencialmente através da expansão do pinheiro e essa política de disseminação do pinheiro terá sido aceite por toda a gente, só tendo sido criticada por demorada, insuficiente, parcial.
Estes pinhais, durante muito tempo eram rodeados por zonas cultivadas onde se faziam em Agosto imensas queimadas para limpeza de, v.g., restolhos, silvas e ramas de batateiras.
Tais queimadas não punham em perigo os pinhais porque ocorriam em zonas limpas onde o fogo não tinha qualquer hipótese de propagação.
Os próprios pinhais não ardiam significativamente porque eram cercados por zonas cultivadas e porque estavam permanentemente limpos - a sua rama, pinhas e caruma eram usadas para os mais diversos fins.
Quando ocorria algum incêndio em pinhais, toda a população acudia a apagá-lo, o que era feito com facilidade dado o estado de limpeza em que se encontravam os pinhais.
Quando é que tudo isto começou a alterar-se?
A partir dos anos sessenta, com a emigração em grande escala, com a introdução de novas técnicas (o uso do gás na feitura da comida) e com o desaparecimento de toda a espécie de animais (bois, cavalos, burros, machos, ovelhas, cabras).
As zonas cultivadas deixaram de o ser, gerando a continuidade necessária à propagação dos fogos, os pinhais deixaram de ser limpos, as ervas deixaram de ser tosadas pelos diversos animais.
Gerou-se o abandono generalizado, os incêndios começaram a tomar proporções cada vez maiores e incontroladas, as populações deixaram de acorrer a apagá-los e as pessoas começaram a lembrar-se de chamar as corporações de bombeiros que haviam sido criadas com a única finalidade de apagar fogos em casas (edifícios).
O abandono foi tão generalizado que até as próprias casas passaram a estar rodeadas de enormes matagais que as põem permanentemente em perigo. Ninguém (governo, autarquias, pessoas) foi capaz de tomar um mínimo de medidas necessárias (concretas, não jurídicas, não burocráticas) para pelo menos limpar junto das povoações - e, em vez disso, passou toda a gente a preocupar-se (à boa maneira inquisitorial) em encontrar os elementos perversos que intencionalmente estavam na origem de tanto mal.
E os culpados foram vários e para todos os gostos: em 74/75 - os fascistas; em fins de 75/76 - os comunistas; mais tarde, os madeireiros; depois, os pastores; também as avionetas - eu sei lá!
Chegámos assim ao inferno actual em que irresponsavelmente se continua na busca de bodes expiatórios.
O problema entretanto não se resolve.
Como poderá ele resolver-se?
É preciso dizer, sem margem para dúvidas que a solução não é, nem de perto nem de longe, fácil.
Uma evidência ressalta clara agora aos olhos de todos: é preciso tomar medidas para que casas isoladas, pequenas povoações, vilas e cidades deixem de correr qualquer risco quando ocorrerem os próximos incêndios: isto é possível, isto tem de ser possível.
Quanta incúria aqui das autarquias?
Para além disso o que será possível fazer mais?
Terá de ser também possível ter um cuidado especial com determinadas manchas florestais (pinhal de Leiria, serra de Sintra, Luso, Gerês).
Quanto a grandes zonas do país (florestas e, sobretudo, matagais), durante muito tempo não teremos outra hipótese que não seja deixar arder porque é impossível que a limpeza possa ser feita de outro modo.
Claro que os serviços de combate aos incêndios devem estar organizados de molde a reduzir ao mínimo os malefícios destes eventos.
Claro que deve pensar-se em fazer-se uso do próprio fogo para limpar, em reflorestar de um outro modo, em disseminar rebanhos de gado ovino e caprino, etc, etc, procurando as soluções que mais se adequem aos tempos actuais.
Mas isso vai levar mesmo muito tempo (gerações, talvez).
Enviado por JLM.
Nota: este texto foi também enviado para as cartas ao director, Público.
A área ocupada por esta vegetação ardia quase que anualmente, sendo assim feita a limpeza dos terrenos.
Para lá dessa área haveria uma outra ocupada essencialmente por castanheiros, cultivada e protegida de modo especial, de modo a não arder, pois produzia aquilo que foi a base da nossa alimentação durante séculos - a castanha.
Talvez num só século (o XX) se tenham operado todas as mudanças que estão na base dos problemas actuais.
Processou-se a florestação de uma grande parte do território essencialmente através da expansão do pinheiro e essa política de disseminação do pinheiro terá sido aceite por toda a gente, só tendo sido criticada por demorada, insuficiente, parcial.
Estes pinhais, durante muito tempo eram rodeados por zonas cultivadas onde se faziam em Agosto imensas queimadas para limpeza de, v.g., restolhos, silvas e ramas de batateiras.
Tais queimadas não punham em perigo os pinhais porque ocorriam em zonas limpas onde o fogo não tinha qualquer hipótese de propagação.
Os próprios pinhais não ardiam significativamente porque eram cercados por zonas cultivadas e porque estavam permanentemente limpos - a sua rama, pinhas e caruma eram usadas para os mais diversos fins.
Quando ocorria algum incêndio em pinhais, toda a população acudia a apagá-lo, o que era feito com facilidade dado o estado de limpeza em que se encontravam os pinhais.
Quando é que tudo isto começou a alterar-se?
A partir dos anos sessenta, com a emigração em grande escala, com a introdução de novas técnicas (o uso do gás na feitura da comida) e com o desaparecimento de toda a espécie de animais (bois, cavalos, burros, machos, ovelhas, cabras).
As zonas cultivadas deixaram de o ser, gerando a continuidade necessária à propagação dos fogos, os pinhais deixaram de ser limpos, as ervas deixaram de ser tosadas pelos diversos animais.
Gerou-se o abandono generalizado, os incêndios começaram a tomar proporções cada vez maiores e incontroladas, as populações deixaram de acorrer a apagá-los e as pessoas começaram a lembrar-se de chamar as corporações de bombeiros que haviam sido criadas com a única finalidade de apagar fogos em casas (edifícios).
O abandono foi tão generalizado que até as próprias casas passaram a estar rodeadas de enormes matagais que as põem permanentemente em perigo. Ninguém (governo, autarquias, pessoas) foi capaz de tomar um mínimo de medidas necessárias (concretas, não jurídicas, não burocráticas) para pelo menos limpar junto das povoações - e, em vez disso, passou toda a gente a preocupar-se (à boa maneira inquisitorial) em encontrar os elementos perversos que intencionalmente estavam na origem de tanto mal.
E os culpados foram vários e para todos os gostos: em 74/75 - os fascistas; em fins de 75/76 - os comunistas; mais tarde, os madeireiros; depois, os pastores; também as avionetas - eu sei lá!
Chegámos assim ao inferno actual em que irresponsavelmente se continua na busca de bodes expiatórios.
O problema entretanto não se resolve.
Como poderá ele resolver-se?
É preciso dizer, sem margem para dúvidas que a solução não é, nem de perto nem de longe, fácil.
Uma evidência ressalta clara agora aos olhos de todos: é preciso tomar medidas para que casas isoladas, pequenas povoações, vilas e cidades deixem de correr qualquer risco quando ocorrerem os próximos incêndios: isto é possível, isto tem de ser possível.
Quanta incúria aqui das autarquias?
Para além disso o que será possível fazer mais?
Terá de ser também possível ter um cuidado especial com determinadas manchas florestais (pinhal de Leiria, serra de Sintra, Luso, Gerês).
Quanto a grandes zonas do país (florestas e, sobretudo, matagais), durante muito tempo não teremos outra hipótese que não seja deixar arder porque é impossível que a limpeza possa ser feita de outro modo.
Claro que os serviços de combate aos incêndios devem estar organizados de molde a reduzir ao mínimo os malefícios destes eventos.
Claro que deve pensar-se em fazer-se uso do próprio fogo para limpar, em reflorestar de um outro modo, em disseminar rebanhos de gado ovino e caprino, etc, etc, procurando as soluções que mais se adequem aos tempos actuais.
Mas isso vai levar mesmo muito tempo (gerações, talvez).
Enviado por JLM.
Nota: este texto foi também enviado para as cartas ao director, Público.
sábado, agosto 16
Às vezes perco uma parte de mim
Às vezes perco uma parte de mim. Pode não ser por nada.
Depois ando à procura até encontrar. Pode ser por um sorriso que ficou a meio.
Tento arrumar algumas prateleiras e voltar a identificar o que já conheço. Pode ser uma palavra só pensada.
Vou ver no meio de sentimentos velhos. Ou um pensamento que não desceu ao dedo.
Eu agora sei que não o vou encontrar, só espero. Pode ser por um gesto que só fiz tarde.
Que alguém encontre o bocado perdido e mo dê. E nem sabe que o encontrou.
Depois ando à procura até encontrar. Pode ser por um sorriso que ficou a meio.
Tento arrumar algumas prateleiras e voltar a identificar o que já conheço. Pode ser uma palavra só pensada.
Vou ver no meio de sentimentos velhos. Ou um pensamento que não desceu ao dedo.
Eu agora sei que não o vou encontrar, só espero. Pode ser por um gesto que só fiz tarde.
Que alguém encontre o bocado perdido e mo dê. E nem sabe que o encontrou.
O que nos move? - III
Pronto, agora que eu queria lançar aqui umas perguntas sobre o que nos move, esperando relançar alguma discussão sobre o assunto, o Nuno foi levar alguns camelos a beber água!
O post vai ter de esperar até saciarem a sede. Dito assim até parece que já o escrevi!
O post vai ter de esperar até saciarem a sede. Dito assim até parece que já o escrevi!
sexta-feira, agosto 15
Uma semana
Um grupo de teimosos neurónios continuará a pensar em coisas para pôr no blogue. Outros, cegos, controlarão o indicador em direcção ao “enter”, sem sucesso. Os mais tolos levarão a mão direita a ter um movimento circular no vazio, imaginando-se com um rato por baixo. Energúmenos! Trengos! O que vale é que a maioria vai estar a dizer “Vá, corre para o mar! Olha o céu azul! Engalfinha-te na areia!”.
Prevê-se chuva para amanhã. Os parvos já estão todos a pensar: “se chover, mete-te num cibercafé”. Camelos!
Prevê-se chuva para amanhã. Os parvos já estão todos a pensar: “se chover, mete-te num cibercafé”. Camelos!
O simbolismo da vida
Uma criança morreu no Iraque por causa de uma bandeira.
Furtos
Dei por falta de um texto que eu tinha aqui no canto do meu monitor. Vou ver e ele apareceu na correnteza, certamente foi transportado pela minhoca explosiva W32 que a Sofia derrotou.
quinta-feira, agosto 14
Uma imagem vale quantas palavras?
Terminei o meu “post” anterior dizendo que “dá que pensar” porque, reconheço, não me lembrei de nada suficientemente interessante para dizer, embora soubesse que o tema daria pano até para a mãe de todas as mangas (bolas, não sei o que isto quer dizer, apeteceu-me).
Felizmente, a Valentina do Pegada na Areia veio em meu socorro e juntou alguns dados e reflexões importantes.
Um desses dados é estrondoso: 80% da população portuguesa tem dificuldade em analisar um texto escrito. Ou seja, a esmagadora maioria das pessoas têm dificuldade em compreender e usar uma parte substancial da informação escrita que recebe. O que significa isto na era da informação, da Internet, onde a maior parte da informação importante para a nossa compreensão do mundo nos aparece na forma de texto?
Significa que a esmagadora maioria da população se alheia da descrição pormenorizada do mundo real que nos é facultada pela escrita: na Internet, nos livros, na imprensa de referência. Significa também que, a par desse alheamento, a maior parte das pessoas prefere o mundo das imagens e do som: futebol, telenovelas da vida real ou não, concursos, revistas sobre o jet-set (que têm grandes fotografias e pouco texto) e outros entreténs visuais/sonoros. Leitura mesmo, só se for curta, poucas linhas, de preferência em fotonovelas como na Maria, de longe a publicação mais lida em Portugal.
Para que uma sociedade se desenvolva harmoniosamente, é preciso que ela compreenda o seu próprio funcionamento e o do ambiente envolvente. Voltando aos cardumes, é fundamental que os indivíduos que o formam apreendam o mundo que os rodeia, para poderem ter informação útil que os ajude a agir da maneira mais adequada. Isso implica que saibam também analisar os movimentos dos outros indivíduos, para que possam aproveitar da melhor maneira a informação que eles usaram e o tempo de análise que dedicaram quando decidiram como agir. A reacção de cada indivíduo, quando apropriada e fundamentada em boa informação, acaba por levar todo o grupo a agir melhor, tornando-se mais do que a soma das partes. Caso contrário, se a maior parte dos indivíduos não olham a realidade e não compreendem os sinais dos outros, o todo pode ser substancialmente inferior à soma das partes.
A sociedade vê, mais do que lê. Mas será que está a ver o mundo que a rodeia? Saberá reagir perante o que se aproxima?
Felizmente, a Valentina do Pegada na Areia veio em meu socorro e juntou alguns dados e reflexões importantes.
Um desses dados é estrondoso: 80% da população portuguesa tem dificuldade em analisar um texto escrito. Ou seja, a esmagadora maioria das pessoas têm dificuldade em compreender e usar uma parte substancial da informação escrita que recebe. O que significa isto na era da informação, da Internet, onde a maior parte da informação importante para a nossa compreensão do mundo nos aparece na forma de texto?
Significa que a esmagadora maioria da população se alheia da descrição pormenorizada do mundo real que nos é facultada pela escrita: na Internet, nos livros, na imprensa de referência. Significa também que, a par desse alheamento, a maior parte das pessoas prefere o mundo das imagens e do som: futebol, telenovelas da vida real ou não, concursos, revistas sobre o jet-set (que têm grandes fotografias e pouco texto) e outros entreténs visuais/sonoros. Leitura mesmo, só se for curta, poucas linhas, de preferência em fotonovelas como na Maria, de longe a publicação mais lida em Portugal.
Para que uma sociedade se desenvolva harmoniosamente, é preciso que ela compreenda o seu próprio funcionamento e o do ambiente envolvente. Voltando aos cardumes, é fundamental que os indivíduos que o formam apreendam o mundo que os rodeia, para poderem ter informação útil que os ajude a agir da maneira mais adequada. Isso implica que saibam também analisar os movimentos dos outros indivíduos, para que possam aproveitar da melhor maneira a informação que eles usaram e o tempo de análise que dedicaram quando decidiram como agir. A reacção de cada indivíduo, quando apropriada e fundamentada em boa informação, acaba por levar todo o grupo a agir melhor, tornando-se mais do que a soma das partes. Caso contrário, se a maior parte dos indivíduos não olham a realidade e não compreendem os sinais dos outros, o todo pode ser substancialmente inferior à soma das partes.
A sociedade vê, mais do que lê. Mas será que está a ver o mundo que a rodeia? Saberá reagir perante o que se aproxima?
Ecos d'O fogo é bom
O texto sobre o fogo que publiquei mais abaixo teve vários ecos que recebemos por email ou foram publicados noutros blogs. Não sei se há mais algum que nos tenha escapado mas n'A natureza do mal, no Aviz e n'A sombra o texto foi lido e referido. É interessante a rapidez com que a blogoesfera reage, é bom saber que somos lidos e ainda mais que somos apreciados.
E porque é também da discussão que nasce a luz (espero que não a luz do fogo) refiro também um comentário enviado pelo João Pedro Granja, que ele publicou aqui. Ele começa por nos avisar que é estudante de economia e todo o seu texto gira em torno de uma frase adjectivada que eu usei: "a lei mais odiosa do mundo", referindo-me à lei da oferta e da procura.
Sobre isto tenho apenas a dizer que os meus objectivos são emotivos e/ou racionais e vejo a economia e as suas ferramentas como o meio para atingir esse fim. Olho sempre (tento) para os resultados sociais que uma lei produz e sou adepto da alteração da fórmula para atingir em cada momento um melhor compromisso. O princípio da incerteza diz-me que nunca atingiremos 'o' melhor compromisso por isso o melhor basta-nos perfeitamente.
Com mais experiência talvez venha a compreender melhor todas as implicações da exposição e da rapidez da blogoesfera, para já reajo com alguma estranheza e alguma felicidade inquieta.
E porque é também da discussão que nasce a luz (espero que não a luz do fogo) refiro também um comentário enviado pelo João Pedro Granja, que ele publicou aqui. Ele começa por nos avisar que é estudante de economia e todo o seu texto gira em torno de uma frase adjectivada que eu usei: "a lei mais odiosa do mundo", referindo-me à lei da oferta e da procura.
Sobre isto tenho apenas a dizer que os meus objectivos são emotivos e/ou racionais e vejo a economia e as suas ferramentas como o meio para atingir esse fim. Olho sempre (tento) para os resultados sociais que uma lei produz e sou adepto da alteração da fórmula para atingir em cada momento um melhor compromisso. O princípio da incerteza diz-me que nunca atingiremos 'o' melhor compromisso por isso o melhor basta-nos perfeitamente.
Com mais experiência talvez venha a compreender melhor todas as implicações da exposição e da rapidez da blogoesfera, para já reajo com alguma estranheza e alguma felicidade inquieta.
quarta-feira, agosto 13
Europa a duas velocidades
Em França, uma sondagem publicada na Science et Vie deste mês revela que 1 francês em cada 5 pensa que o Sol roda em torno da Terra. Em Portugal, a percentagem é semelhante (12% acham que o Sol anda à volta da Terra, 7% não sabe/não responde, segundo uma sondagem do agora Observatório da Ciência e Ensino Superior).
Em França, como em Portugal, há europeus a duas velocidades: uns estão no século XXI, outros vivem antes do tempo de Copérnico. Dá que pensar...
Em França, como em Portugal, há europeus a duas velocidades: uns estão no século XXI, outros vivem antes do tempo de Copérnico. Dá que pensar...
terça-feira, agosto 12
MAIS UM FILHO
'Era um belo homem
era uma linda mulher
juntos hão-de ter quantos filhos Deus quiser
diz que há-de ser quantos
quantos Deus nos quiser dar
muito bem a gente para o ano há-de falar
Mais um filho
isto aqui é soma e segue
mais um filho
e a mulher que o carregue
Quantas horas fazes
no teu trabalho ó Manuel
faço dez embora só oito no papel
E quantas horas fazes
a trabalhar ó Maria
dezasseis com as que faço em casa ao fim do dia
E chamam sexo fraco
a quem anda neste suadouro
a quem anda assim desde sempre a dar o couro
assim desde sempre
a ser pau para toda a colher
cama mesa roupa lavada eu sou mulher'
Sérgio Godinho
Enviado por Armanda.
era uma linda mulher
juntos hão-de ter quantos filhos Deus quiser
diz que há-de ser quantos
quantos Deus nos quiser dar
muito bem a gente para o ano há-de falar
Mais um filho
isto aqui é soma e segue
mais um filho
e a mulher que o carregue
Quantas horas fazes
no teu trabalho ó Manuel
faço dez embora só oito no papel
E quantas horas fazes
a trabalhar ó Maria
dezasseis com as que faço em casa ao fim do dia
E chamam sexo fraco
a quem anda neste suadouro
a quem anda assim desde sempre a dar o couro
assim desde sempre
a ser pau para toda a colher
cama mesa roupa lavada eu sou mulher'
Sérgio Godinho
Enviado por Armanda.
Aos meus amigos analógicos
Vários dos meus amigos são ainda, por assim dizer, analógicos.
Alguns cresceram no tempo do vinyl, do VHS e do audio, outros já nem tanto, mas ambos continuam, por assim dizer, analógicos. Eles não programam o video, lutam com o telemóvel e com o cartão multibanco e nunca se aproximam do computador.
Sinto sempre um delicioso prazer em acompanhar os primeiros passos de mais alguém neste mundo digital, como quem, por assim dizer, descobre uma porta secreta que dá para um quarto que liga à cave que dá para uma rede de túneis que se intrinca pela cidade toda e que pára à tua porta. Sabe que o momento que escrevo está lá e fica lá, atrás da porta que podes decidir não abrir e eu não sei da tua decisão. É como um espelho de duas faces mas que, em vez de reflectir a minha imagem, me mostra um retrato teu.
No outro dia recebi o primeiro email de uma amiga analógica e respondi-lhe:
Bem vinda ao mundo-virtual real. Vens a tempo do (matrix) reloaded e já podes ser incluída na próxima compilação e download oficial do mundo.
E depois perguntei-lhe: és mesmo tu, por assim dizer, que estás aí?
Alguns cresceram no tempo do vinyl, do VHS e do audio, outros já nem tanto, mas ambos continuam, por assim dizer, analógicos. Eles não programam o video, lutam com o telemóvel e com o cartão multibanco e nunca se aproximam do computador.
Sinto sempre um delicioso prazer em acompanhar os primeiros passos de mais alguém neste mundo digital, como quem, por assim dizer, descobre uma porta secreta que dá para um quarto que liga à cave que dá para uma rede de túneis que se intrinca pela cidade toda e que pára à tua porta. Sabe que o momento que escrevo está lá e fica lá, atrás da porta que podes decidir não abrir e eu não sei da tua decisão. É como um espelho de duas faces mas que, em vez de reflectir a minha imagem, me mostra um retrato teu.
No outro dia recebi o primeiro email de uma amiga analógica e respondi-lhe:
Bem vinda ao mundo-virtual real. Vens a tempo do (matrix) reloaded e já podes ser incluída na próxima compilação e download oficial do mundo.
E depois perguntei-lhe: és mesmo tu, por assim dizer, que estás aí?
Pactos secretos
A Sofia, vão lá ver, vão lá se perder, fala de certos pactos secretos, de certas expectativas secretas que temos em relação aos nossos amigos.
Quando somos crianças tudo é mais simples, ao menor revés eu não sou mais tua amiga, nunca mais brinco contigo. Quando crescemos carregamos connosco todas as pessoas e por cada pacto secreto quebrado, por cada pequena desilusão uma cicatriz indelével fica. "São desconsolos irremediáveis, bocadinhos de adeus calado."
Quando somos crianças tudo é mais simples, ao menor revés eu não sou mais tua amiga, nunca mais brinco contigo. Quando crescemos carregamos connosco todas as pessoas e por cada pacto secreto quebrado, por cada pequena desilusão uma cicatriz indelével fica. "São desconsolos irremediáveis, bocadinhos de adeus calado."
segunda-feira, agosto 11
No melhor pano cai a nódoa - III
Vou esclarecer apenas alguns pontos suscitados por “posts” anteriores (incluindo "O fogo bom").
Concordo com o PC quando diz que lhe parece excessivo que se proíba a caça em todo o país. Agora, parece-me que faz sentido criar zonas de refúgio perto dos locais queimados, por forma a proibir-se a caça a uma distância de x quilómetros da zona onde houve recentemente um fogo florestal. Numa pesquisa na Internet fiquei a saber que tal está contemplado na lei (“é proibido caçar numa área ardida numa faixa de 250 metros à sua volta nos 30 dias que se seguem ao incêndio”), mas espero que os caçadores saibam disso e que se esteja a fazer o possível por fazer respeitar a lei. Contudo, dada a situação catastrófica que se atingiu em poucos dias, 250 metros é claramente insuficiente e por isso congratulo-me com o que li na mesma notícia: que 1) não é apenas a LPN que pensa como eu, também o presidente da Federação Portuguesa de Caçadores e o secretário-geral da Federação Nacional de Caçadores e Proprietários "estão de acordo com a proibição da caça nas áreas ardidas como forma de salvaguardar as espécies" e 2) que o Ministério da Agricultura está a ponderar interditar "a caça entre os dias 17 de Agosto e 5 de Outubro, nos concelhos mais afectados pelos incêndios florestais" e deste modo "os caçadores ficarão sem poder atirar às espécies migradoras de Verão, durante aquele período, em cerca de 40 concelhos dos distritos de Castelo Branco, Portalegre, Guarda, Santarém, Beja e Leiria". Como disse e repito, os animais que perderam o seu habitat e conseguiram sobreviver fugindo ao fogo têm o direito de não serem chacinados por terem o azar de se ir meter na boca do cano de uma espingarda numa reserva de caça.
É curioso, aprendi que na natureza há predadores que aproveitam os fogos para apanharem mais facilmente as suas presas (li aqui : "red-tailed hawks are attracted to forest fires. Small animals run from the fire, and the hawks swoop down to catch a quick dinner. "). Quantos caçadores conhecerão o “truque” e irão caçar para zonas próximas de fogos?
Em segundo lugar, não compreendo como é que MST justifica a inexistência de caça no eucaliptal/pinhal, considerando o caso de um que está bem cuidado (“não há coberto vegetal, não há sementeiras, não há comida e não há água”), quando diz no mesmo artigo (e bem) que “arde aquilo que está abandonado”. A mim parece-me que um pinhal/eucaliptal que esteja abandonado tem muito mato, logo fonte de alimento e esconderijo para muita caça... Por outro lado, há que não tomar a árvore pela floresta: MST considerou um caso muito específico para mostrar o seu ponto de vista, mas parece-me evidente que ele não se aplica a reservas naturais, que também arderam, a outros tipos de floresta, e nem se parece aplicar bem ao caso bastante comum de pequenos eucaliptais/pinhais ao abandono e dispersos irregularmente. Sobre parte da fauna (aves) que se podem encontrar em pinhais nas diferentes fases de produção, ver aqui.
Finalmente, gostaria de dar a possibilidade de direito de resposta a MST, mas não consegui saber o seu mail. Se alguém o puder enviar para a aba, agradeço.
Concordo com o PC quando diz que lhe parece excessivo que se proíba a caça em todo o país. Agora, parece-me que faz sentido criar zonas de refúgio perto dos locais queimados, por forma a proibir-se a caça a uma distância de x quilómetros da zona onde houve recentemente um fogo florestal. Numa pesquisa na Internet fiquei a saber que tal está contemplado na lei (“é proibido caçar numa área ardida numa faixa de 250 metros à sua volta nos 30 dias que se seguem ao incêndio”), mas espero que os caçadores saibam disso e que se esteja a fazer o possível por fazer respeitar a lei. Contudo, dada a situação catastrófica que se atingiu em poucos dias, 250 metros é claramente insuficiente e por isso congratulo-me com o que li na mesma notícia: que 1) não é apenas a LPN que pensa como eu, também o presidente da Federação Portuguesa de Caçadores e o secretário-geral da Federação Nacional de Caçadores e Proprietários "estão de acordo com a proibição da caça nas áreas ardidas como forma de salvaguardar as espécies" e 2) que o Ministério da Agricultura está a ponderar interditar "a caça entre os dias 17 de Agosto e 5 de Outubro, nos concelhos mais afectados pelos incêndios florestais" e deste modo "os caçadores ficarão sem poder atirar às espécies migradoras de Verão, durante aquele período, em cerca de 40 concelhos dos distritos de Castelo Branco, Portalegre, Guarda, Santarém, Beja e Leiria". Como disse e repito, os animais que perderam o seu habitat e conseguiram sobreviver fugindo ao fogo têm o direito de não serem chacinados por terem o azar de se ir meter na boca do cano de uma espingarda numa reserva de caça.
É curioso, aprendi que na natureza há predadores que aproveitam os fogos para apanharem mais facilmente as suas presas (li aqui : "red-tailed hawks are attracted to forest fires. Small animals run from the fire, and the hawks swoop down to catch a quick dinner. "). Quantos caçadores conhecerão o “truque” e irão caçar para zonas próximas de fogos?
Em segundo lugar, não compreendo como é que MST justifica a inexistência de caça no eucaliptal/pinhal, considerando o caso de um que está bem cuidado (“não há coberto vegetal, não há sementeiras, não há comida e não há água”), quando diz no mesmo artigo (e bem) que “arde aquilo que está abandonado”. A mim parece-me que um pinhal/eucaliptal que esteja abandonado tem muito mato, logo fonte de alimento e esconderijo para muita caça... Por outro lado, há que não tomar a árvore pela floresta: MST considerou um caso muito específico para mostrar o seu ponto de vista, mas parece-me evidente que ele não se aplica a reservas naturais, que também arderam, a outros tipos de floresta, e nem se parece aplicar bem ao caso bastante comum de pequenos eucaliptais/pinhais ao abandono e dispersos irregularmente. Sobre parte da fauna (aves) que se podem encontrar em pinhais nas diferentes fases de produção, ver aqui.
Finalmente, gostaria de dar a possibilidade de direito de resposta a MST, mas não consegui saber o seu mail. Se alguém o puder enviar para a aba, agradeço.
domingo, agosto 10
Em tempo de guerra civil nas estradas
Quando entrares num Mercedes, Benzt.
O fogo é bom
Alguém vá por mim consultar as estatísticas e analisar os números certos mas lembro-me que o número de incêndios por causas naturais é pequeno, tipo 10%. O número de incêndios cuja ignição é humana é grande, tipo os restantes 90%. Destes o número menor é para os causados por mão criminosa, tipo 20%. Ficam os restantes para a negligência e causas indirectas com uns expressivos 70%.
As causas naturais são quase exclusivamente a trovoada seca. À mão criminosa todos sabem o que fazer. Os procedimentos sem negligência ensinam-se em campanhas mediáticas e ao que li são dominados pelos cigarros negligenciados (se vasculharem na memória encontram uma campanha que passou na então solitária RTP mostrando uma mata às costas de um cigarro, ela preta, como ele). As causas indirectas referem-se à poluição, lixos abandonados nas orlas ou na floresta, etc.
Há então muito espaço para actuar ao nível da prevenção e sensibilização da população. Aqui reside a primeira culpa. Do estado porque não sensibiliza, da população porque não previne. É claro que a causa mais falada é a do fogo posto, naturalmente porque é revoltante mas também porque des-responsabiliza o povo e o estado.
Depois de prevenir e sensibilizar restam ainda 10% de fogos com causas naturais, portanto eu e outra pessoa somos inexoravelmente levados a olhar para as consequências de cada incêndio.
O fogo bom existe na natureza 'apenas' desde que há natureza, muito antes, na escala-geológica do tempo, de o homem ser sequer um projecto de um amontoado de células. O fogo bom existe há 1000000000 anos (mais zero menos zero) por isso é de esperar que a natureza esteja bem habituada a ele. Mais do que suportá-lo como um fardo, alguns ecosistemas necessitam do fogo para se livrarem de pragas, como gerador de oportunidades, para rejuvenescer.
As florestas autóctones de Portugal, as folhosas (carvalhos, nogueiras, castanheiros, etc, salvo erro) estão particularmente bem adaptadas ao fogo. Penso que uma mata contínua de pinheiros só com muito esforço de limpeza resiste ao fogo e quanto aos eucaliptos talvez nada seja suficiente. Os terrenos cultivados ou de um modo geral sem árvores, ou têm espécies resistentes ao fogo ou pelo menos os fogos aí são fáceis de apagar.
Encontrámos a segunda culpa. Porque temos nós por aqui estas árvores que não nos pertencem? Quem decidiu transformar (e manter) o país num paiol de pólvora. Os eucaliptos são, também (tristemente) pela capacidade de combustão, petróleo verde. Pinheiros e eucaliptos quando ardem ainda podem ser usados nas empresas de celulose, desde que cortados e acondicionados antes das chuvas que os apodrecem. A lei mais odiosa do mundo decide que este excesso repentino de oferta há-de provocar uma diminuição do preço, os pequenos proprietários florestais que já perderam, perdem outra vez, e o cheiro da celulose aumenta. E a segunda culpa é arrebatada pelo estado porque não regula, não planta, deixa plantar, deixa a tal lei actuar.
Como e em que cricunstâncias as folhosas resistem e agradecem aos fogos? Basta que a floresta não esteja demasiado suja de matos. Estando demasiado suja, as altas temperaturas tornam inviável a sobrevivência de qualquer árvore e muito difícil o controlo do incêndio. Uma maneira de limpar é pelo fogo! O fogo bom. Aqui está outra culpa e é do estado e de toda a gente, porque quase ninguém limpa mata nenhuma. Só aqui aparece a culpa de quem não limpa, mas eu e outra pessoa achamos que nem sequer é justo responsabilizar os poucos que ainda vivem no campo pela limpeza dos terrenos que já foram pisados por muitos mais do que são hoje. Achamos que o estado tem culpa porque pode, e deve, incentivar os rebanhos promovendo ao mesmo tempo a alternância de zonas de floresta com pastos. Pode, e deve, ajudar a tornar a actividade de limpeza das matas rentável (julgo que APENAS em Mortágua esses resíduos florestais são valorizados em energia).
Para terminar, a gestão do combate ao fogo, eu e outra pessoa, também achamos que é mal feita. Não há avaliação dos riscos, não há planos de emergência, não há forças de intervenção para além dos bombeiros e da tábua de salvação aérea. Toda esta culpa vai direitinha para o estado. Na era da informação, não temos uma rede nacional de detecção e acompanhamento de incêndios a funcionar, mas ela existe e foi financiada pelo estado. Na era da informação, a informação sobre as
posições no terreno diz-se por rádio, ou pior a força da combustão transmite-se ao orgão de comando por um auto de notícia escrito no formulário próprio. Os bombeiros não têm culpa, eles estão no terreno, os comandos não têm culpa, eles estão no centro de operações, só podem reagir às informações que têm. No século da ciência o estado investe nos doutoramentos dos investigadores mas não sabe nem quer usar o que eles fazem.
O estado somos todos nós. Eu e outra pessoa não bastamos. Eu, outra pessoa e muitas pessoas basta?
As causas naturais são quase exclusivamente a trovoada seca. À mão criminosa todos sabem o que fazer. Os procedimentos sem negligência ensinam-se em campanhas mediáticas e ao que li são dominados pelos cigarros negligenciados (se vasculharem na memória encontram uma campanha que passou na então solitária RTP mostrando uma mata às costas de um cigarro, ela preta, como ele). As causas indirectas referem-se à poluição, lixos abandonados nas orlas ou na floresta, etc.
Há então muito espaço para actuar ao nível da prevenção e sensibilização da população. Aqui reside a primeira culpa. Do estado porque não sensibiliza, da população porque não previne. É claro que a causa mais falada é a do fogo posto, naturalmente porque é revoltante mas também porque des-responsabiliza o povo e o estado.
Depois de prevenir e sensibilizar restam ainda 10% de fogos com causas naturais, portanto eu e outra pessoa somos inexoravelmente levados a olhar para as consequências de cada incêndio.
O fogo bom existe na natureza 'apenas' desde que há natureza, muito antes, na escala-geológica do tempo, de o homem ser sequer um projecto de um amontoado de células. O fogo bom existe há 1000000000 anos (mais zero menos zero) por isso é de esperar que a natureza esteja bem habituada a ele. Mais do que suportá-lo como um fardo, alguns ecosistemas necessitam do fogo para se livrarem de pragas, como gerador de oportunidades, para rejuvenescer.
As florestas autóctones de Portugal, as folhosas (carvalhos, nogueiras, castanheiros, etc, salvo erro) estão particularmente bem adaptadas ao fogo. Penso que uma mata contínua de pinheiros só com muito esforço de limpeza resiste ao fogo e quanto aos eucaliptos talvez nada seja suficiente. Os terrenos cultivados ou de um modo geral sem árvores, ou têm espécies resistentes ao fogo ou pelo menos os fogos aí são fáceis de apagar.
Encontrámos a segunda culpa. Porque temos nós por aqui estas árvores que não nos pertencem? Quem decidiu transformar (e manter) o país num paiol de pólvora. Os eucaliptos são, também (tristemente) pela capacidade de combustão, petróleo verde. Pinheiros e eucaliptos quando ardem ainda podem ser usados nas empresas de celulose, desde que cortados e acondicionados antes das chuvas que os apodrecem. A lei mais odiosa do mundo decide que este excesso repentino de oferta há-de provocar uma diminuição do preço, os pequenos proprietários florestais que já perderam, perdem outra vez, e o cheiro da celulose aumenta. E a segunda culpa é arrebatada pelo estado porque não regula, não planta, deixa plantar, deixa a tal lei actuar.
Como e em que cricunstâncias as folhosas resistem e agradecem aos fogos? Basta que a floresta não esteja demasiado suja de matos. Estando demasiado suja, as altas temperaturas tornam inviável a sobrevivência de qualquer árvore e muito difícil o controlo do incêndio. Uma maneira de limpar é pelo fogo! O fogo bom. Aqui está outra culpa e é do estado e de toda a gente, porque quase ninguém limpa mata nenhuma. Só aqui aparece a culpa de quem não limpa, mas eu e outra pessoa achamos que nem sequer é justo responsabilizar os poucos que ainda vivem no campo pela limpeza dos terrenos que já foram pisados por muitos mais do que são hoje. Achamos que o estado tem culpa porque pode, e deve, incentivar os rebanhos promovendo ao mesmo tempo a alternância de zonas de floresta com pastos. Pode, e deve, ajudar a tornar a actividade de limpeza das matas rentável (julgo que APENAS em Mortágua esses resíduos florestais são valorizados em energia).
Para terminar, a gestão do combate ao fogo, eu e outra pessoa, também achamos que é mal feita. Não há avaliação dos riscos, não há planos de emergência, não há forças de intervenção para além dos bombeiros e da tábua de salvação aérea. Toda esta culpa vai direitinha para o estado. Na era da informação, não temos uma rede nacional de detecção e acompanhamento de incêndios a funcionar, mas ela existe e foi financiada pelo estado. Na era da informação, a informação sobre as
posições no terreno diz-se por rádio, ou pior a força da combustão transmite-se ao orgão de comando por um auto de notícia escrito no formulário próprio. Os bombeiros não têm culpa, eles estão no terreno, os comandos não têm culpa, eles estão no centro de operações, só podem reagir às informações que têm. No século da ciência o estado investe nos doutoramentos dos investigadores mas não sabe nem quer usar o que eles fazem.
O estado somos todos nós. Eu e outra pessoa não bastamos. Eu, outra pessoa e muitas pessoas basta?
O triângulo do fogo
Tem três lados e existe em qualquer fogo, não apenas nos florestais.
Calor ::: Oxigénio ::: Combustível
Retire-se apenas um lado do triângulo e o fogo extingue-se.
Calor ::: Oxigénio ::: Combustível
Retire-se apenas um lado do triângulo e o fogo extingue-se.
Amelie Poulain
Vi a Amelie pela quinta vez pelo menos, nunca são de mais.
Gosto de tudo, o som ao enterar a mão num saco de feijão, o peixe neurasténico, a vingança da máquina-fotográfica-que-provocava-acidentes desligando a antena do futebol, os sapatos um número abaixo, o duende viajante, o endeusar das endívias e das alcachofras, a caixinha metálica com a colecção de ciclistas, atravessar a rua ao cego -dar-lhe luz aos olhos- dar-lhe um anjo. O anjo que quer consertar a vida de toda a gente e quase se esquece da sua. O anjo que não é demasiado perfeito e fica por isso ainda mais humano.
Agora que já estou livre do peso e da ansiedade da novidade pude ver na cena final, os dois de motorizada pelas ruas de Paris, ora de olhos fechados, ora rindo, olhando para trás, ora se abraçando de cabelos ao vento, apenas a felicidade e o rosto da paixão. Intermináveis. Da primeira vez receei a todo o momento que o fim estivesse próximo, esmagados num camião, sem capacete e alheados. Jean-Pierre Jeunet, por favor, não faças outro final assim.
Gosto de tudo, o som ao enterar a mão num saco de feijão, o peixe neurasténico, a vingança da máquina-fotográfica-que-provocava-acidentes desligando a antena do futebol, os sapatos um número abaixo, o duende viajante, o endeusar das endívias e das alcachofras, a caixinha metálica com a colecção de ciclistas, atravessar a rua ao cego -dar-lhe luz aos olhos- dar-lhe um anjo. O anjo que quer consertar a vida de toda a gente e quase se esquece da sua. O anjo que não é demasiado perfeito e fica por isso ainda mais humano.
Agora que já estou livre do peso e da ansiedade da novidade pude ver na cena final, os dois de motorizada pelas ruas de Paris, ora de olhos fechados, ora rindo, olhando para trás, ora se abraçando de cabelos ao vento, apenas a felicidade e o rosto da paixão. Intermináveis. Da primeira vez receei a todo o momento que o fim estivesse próximo, esmagados num camião, sem capacete e alheados. Jean-Pierre Jeunet, por favor, não faças outro final assim.
sábado, agosto 9
O fogo bom
É assim com outras forças da natureza e é assim com o fogo. Sempre choveu e sempre houve cheias. Uma cheia só passou a ser uma catástrofe, quando antes era um elemento regenerador e fertilizador das terras, a partir do momento em que o homem, teimoso, não respeitou as regras da natureza. Quis viver e construir nos leitos de cheia, quis emparedar, confinar, regular ribeiras, impermeabilizar terrenos, estancar linhas de água. Mas a água vence.
O fogo também vence, do mesmo modo. Em jeito de comentário, ao artigo do MST, ao post do Nuno aqui na aba e a alguns comentários que recebemos, parece-me o artigo do MST bem escrito mas pontual. O artigo está separado em pontos e a problemática do fogo é abordada pontualmente sem cobrir o panorama todo. Muitas destas questões pontuais são, julgo, tratadas com correcção.
É o ponto 6 que levanta esta polémica. Não sei exactamente os termos da proibição de caça a que se referem. Proibir de caçar apenas nas áreas queimadas parece-me ridículo porque os animais daí fugiram. No outro extremo proibir a caça em todo o país parece-me excessivo. Reconheço nesse ponto do texto do MST o salto em defesa, o grito da paixão, penso sabê-lo adepto da caça. No entanto acho que ele tem razão nos comentários que faz pois não se pode confundir serra com floresta, mato com floresta, eucaliptos com floresta ou mesmo pinheiros com floresta. Ele pode ter razão quanto às reservas de caça não terem ardido porque nelas alterna-se a mata com searas, para fornecer alimento em abundância aos animais, que por outro lado junto com a população de caçadores ajudam a manter a mata mais limpa e, como efeito secundário ganham alguma imunidade às chamas.
Acho a questão pontual e para pontual já nos basta as emocinadas e dramáticas reportagens de "guerra" -Ali. Ao fundo. Naquela colina. Vem. A frente de fogo.-, o arremeçar de culpas em todas as direcções, etc. Eu queria era ver um painel de discussão com técnicos, investigadores, governantes e que esse painel fosse chamado pelo Estado, preocupado em encontrar os erros e as soluções, e não patrocinado por qualquer meio de comunicação preocupado com as suas audiências e só por altruísmo nos problemas.
Para que não fiquem dúvidas eu também acho que as regras da caça deveriam deveriam dar muito mais liberdade... aos animais.
O fogo também vence, do mesmo modo. Em jeito de comentário, ao artigo do MST, ao post do Nuno aqui na aba e a alguns comentários que recebemos, parece-me o artigo do MST bem escrito mas pontual. O artigo está separado em pontos e a problemática do fogo é abordada pontualmente sem cobrir o panorama todo. Muitas destas questões pontuais são, julgo, tratadas com correcção.
É o ponto 6 que levanta esta polémica. Não sei exactamente os termos da proibição de caça a que se referem. Proibir de caçar apenas nas áreas queimadas parece-me ridículo porque os animais daí fugiram. No outro extremo proibir a caça em todo o país parece-me excessivo. Reconheço nesse ponto do texto do MST o salto em defesa, o grito da paixão, penso sabê-lo adepto da caça. No entanto acho que ele tem razão nos comentários que faz pois não se pode confundir serra com floresta, mato com floresta, eucaliptos com floresta ou mesmo pinheiros com floresta. Ele pode ter razão quanto às reservas de caça não terem ardido porque nelas alterna-se a mata com searas, para fornecer alimento em abundância aos animais, que por outro lado junto com a população de caçadores ajudam a manter a mata mais limpa e, como efeito secundário ganham alguma imunidade às chamas.
Acho a questão pontual e para pontual já nos basta as emocinadas e dramáticas reportagens de "guerra" -Ali. Ao fundo. Naquela colina. Vem. A frente de fogo.-, o arremeçar de culpas em todas as direcções, etc. Eu queria era ver um painel de discussão com técnicos, investigadores, governantes e que esse painel fosse chamado pelo Estado, preocupado em encontrar os erros e as soluções, e não patrocinado por qualquer meio de comunicação preocupado com as suas audiências e só por altruísmo nos problemas.
Para que não fiquem dúvidas eu também acho que as regras da caça deveriam deveriam dar muito mais liberdade... aos animais.
No melhor pano cai a nódoa - II
Desculpem a minha ousadia mas tenho de desabafar! Como é possível que alguém tão inteligente como o Miguel Sousa Tavares acredite que a fauna só existe nas nossas florestas se estas forem coutadas de caça, porque estas são bem tratadas?! Então, não precisamos de reservas naturais, nem parques naturais, nem nada! É que esses ardem e bem! Se calhar aí não há fauna alguma e a flora não deve ser nada de especial. Já agora aproveito para colocar mais algumas questões: porque é que se for para um terreno com uma cesta de pic-nic e uma máquina fotográfica posso ser de lá expulsa por invasão de propriedade privada mas se levar dentro da cesta uma caçadeira e a minha licença de caça já nada me podem fazer? Porque é que não se pode partir do princípio que no meu terreno não se pode caçar até ordem em contrário e não o oposto? Porque é que eu não tenho o direito à não caça se outros têm o direito à caça? Porque é que tendo um terreno bastante grande não posso impedir a caça em toda a sua extensão? Porque é que eu não tenho o direito de ir para a floresta sem ter medo de apanhar um tiro? Desculpem-me mais uma vez, mas depois de ver ardidos tantos hectares de floresta, depois de ver que esta floresta já não vai ser apreciada pelos meus filhos, e depois de ouvir dizer que não há necessidade nenhuma de se alterar o período da caça, porque agora é que as perdizes têm as sementes a descoberto e é-lhes mais fácil encontrar alimento, e que a floresta se vai regenerar até Outubro, tive de desabafar. Obrigado.
Enviado por Gó.
Enviado por Gó.
A natureza do mal
O Luís Januário tem como ocupação ser um poeta a tempo inteiro. Escreveu para nós, aqui na aba, durante algum tempo e foi com imensa pena que o vi partir. Cheguei a ficar desapontado mas depois descobri que ele continua a escrever para nós n'a natureza do mal.
Recordo, por exemplo, que só ele viu o avental escondido por cima dos ventres pequenos e bojudos, nos deu a conhecer um bocadinho da Ana Paula Inácio, que atirou a primeira pedra sobre o tema do Iraque, e nos falou da graça feminil. Quis o destino que ele, que se sentiu preso aqui, esteja agora numa cela.
Recordo, por exemplo, que só ele viu o avental escondido por cima dos ventres pequenos e bojudos, nos deu a conhecer um bocadinho da Ana Paula Inácio, que atirou a primeira pedra sobre o tema do Iraque, e nos falou da graça feminil. Quis o destino que ele, que se sentiu preso aqui, esteja agora numa cela.
sexta-feira, agosto 8
Armas nucleares cirúrgicas - II
Lembram-se daquela discussão recorrente sobre se grupos terroristas teriam capacidade de produzir e detonar pequenas bombas nucleares, difíceis de detectar, fáceis de transportar.
Pois agora já não precisam de as produzir! Basta ter paciência e comprar no mercado negro. Muito negro mesmo é o que se permite que aconteça neste mundo!
Pois agora já não precisam de as produzir! Basta ter paciência e comprar no mercado negro. Muito negro mesmo é o que se permite que aconteça neste mundo!
No melhor pano cai a nódoa
Miguel Sousa Tavares no Público de hoje:
"No meio das chamas, um senhor da Liga da Proteção da Natureza lembrou-se de propor que fosse cancelada ou adiada a próxima época de caça. Como se houvesse caça no eucaliptal ou no pinhal, onde não há coberto vegetal, não há sementeiras, não há comida e não há água! Já atravessei várias vezes a serra de Monchique e a serra de Ossa, inteiramente cobertas por eucaliptos, e nunca vi um coelho a correr nem ouvi cantar um pássaro. Pelo contrário, se o senhor se der ao trabalho de ir ver com atenção, estou certo que descobrirá que poucas são as reservas de caça bem mantidas que arderam. Primeiro, porque é diferente a estrutura vegetal, depois, porque são vigiadas, mantidas, limpas, são feitas sementeiras que cortam a continuidade do mato, estão abertos os caminhos e os corta-fogos e estão mantidos os pontos de água. Mas o país que nada percebe do assunto vai achar com certeza uma excelente ideia fazer os caçadores pagar pelos fogos (e, a propósito, este ano não há touros de Barrancos?) "
Convém dizer, para quem não o sabe, que MST é um caçador. Já apareceu de espingarda em punho em revistas a promover a caça. E pelos vistos não gosta que lhe estraguem a diversão, mesmo quando estamos a ter a pior época de fogos de sempre em Portugal. Ainda nem chegámos a meio de Agosto e já arderam 162 mil hectares, quase tanto quanto o recorde absoluto de 1991 para a época toda, 182 mil hectares (os dados são da mesma edição do Público). Oxalá não se ultrapasse o recorde, mas ainda falta muito para acabar a época...
O MST acha que não há caça na área que ardeu. Como se só ardesse "eucaliptal ou pinhal". Como se nada fugisse para as zonas verdes disponíveis (que incluem as reservas de caça, que tão bem tratadas estão, segundo MST). Como se nos 34 mil hectares ardidos num só incêndio não houvesse animais (34000 hectares correspondem a um quadrado com mais de 18 kilómetros de lado). Mas "o país que nada percebe do assunto" nunca poderá entender porque é que nem em tempo de guerra (contra o fogo) os pobres animais podem ter tréguas (dos caçadores). Miguel, o prazer da caça é assim tão grande que o não deixa ouvir e ver a caça que também há nos eucaliptais/pinhais? Que há outros tipos de floresta que estão também a arder? E que não o deixa ver que muitos animais são caçados pelos nossos conhecedores caçadores, mesmo que não sejam "caça"?
Refira-se a propósito, que não tenho nada a ver com a Liga da Proteção da Natureza e que tenho a maior admiração pelo que MST escreve e diz em geral. Tenho eucaliptais e pinhais à porta de casa, ouço e vejo muita bicharada e ainda recentemente foi avistado um javali a 15 metros do meu prédio. E isto vivendo dentro do perímetro urbano de Coimbra, não é preciso ir para a serra.
"No meio das chamas, um senhor da Liga da Proteção da Natureza lembrou-se de propor que fosse cancelada ou adiada a próxima época de caça. Como se houvesse caça no eucaliptal ou no pinhal, onde não há coberto vegetal, não há sementeiras, não há comida e não há água! Já atravessei várias vezes a serra de Monchique e a serra de Ossa, inteiramente cobertas por eucaliptos, e nunca vi um coelho a correr nem ouvi cantar um pássaro. Pelo contrário, se o senhor se der ao trabalho de ir ver com atenção, estou certo que descobrirá que poucas são as reservas de caça bem mantidas que arderam. Primeiro, porque é diferente a estrutura vegetal, depois, porque são vigiadas, mantidas, limpas, são feitas sementeiras que cortam a continuidade do mato, estão abertos os caminhos e os corta-fogos e estão mantidos os pontos de água. Mas o país que nada percebe do assunto vai achar com certeza uma excelente ideia fazer os caçadores pagar pelos fogos (e, a propósito, este ano não há touros de Barrancos?) "
Convém dizer, para quem não o sabe, que MST é um caçador. Já apareceu de espingarda em punho em revistas a promover a caça. E pelos vistos não gosta que lhe estraguem a diversão, mesmo quando estamos a ter a pior época de fogos de sempre em Portugal. Ainda nem chegámos a meio de Agosto e já arderam 162 mil hectares, quase tanto quanto o recorde absoluto de 1991 para a época toda, 182 mil hectares (os dados são da mesma edição do Público). Oxalá não se ultrapasse o recorde, mas ainda falta muito para acabar a época...
O MST acha que não há caça na área que ardeu. Como se só ardesse "eucaliptal ou pinhal". Como se nada fugisse para as zonas verdes disponíveis (que incluem as reservas de caça, que tão bem tratadas estão, segundo MST). Como se nos 34 mil hectares ardidos num só incêndio não houvesse animais (34000 hectares correspondem a um quadrado com mais de 18 kilómetros de lado). Mas "o país que nada percebe do assunto" nunca poderá entender porque é que nem em tempo de guerra (contra o fogo) os pobres animais podem ter tréguas (dos caçadores). Miguel, o prazer da caça é assim tão grande que o não deixa ouvir e ver a caça que também há nos eucaliptais/pinhais? Que há outros tipos de floresta que estão também a arder? E que não o deixa ver que muitos animais são caçados pelos nossos conhecedores caçadores, mesmo que não sejam "caça"?
Refira-se a propósito, que não tenho nada a ver com a Liga da Proteção da Natureza e que tenho a maior admiração pelo que MST escreve e diz em geral. Tenho eucaliptais e pinhais à porta de casa, ouço e vejo muita bicharada e ainda recentemente foi avistado um javali a 15 metros do meu prédio. E isto vivendo dentro do perímetro urbano de Coimbra, não é preciso ir para a serra.
Safety and Reliability no Top 5
Top 5 dos computadores mais rápidos do mundo:
1º lugar - Japonês, está a simular o clima da Terra. Bem precisamos.
2º ao 5º lugares: Americanos.
Clicando nos computadores aparecem as suas descrições. É curioso ver o cuidado posto pelos americanos na construção das frases que descrevem as aplicações:
"ASCI's mission is to create and use leading-edge capabilities in simulation and computational modeling. In an era without nuclear testing, these computational goals are vital for maintaining the safety and reliability of the nation's aging nuclear stockpile." (2º lugar do top)
"It is part of the DOE's science-based Stockpile Stewardship Program to maintain the safety and reliability of the US nuclear stockpile without underground testing." (4º lugar do top)
"Safety and reliability". Por favor... assim até parece que só estão a simular o armazenamento das armas, que qualquer computador faz. Digam logo de uma vez que fazem testes nucleares virtuais, que nós percebemos muito melhor.
1º lugar - Japonês, está a simular o clima da Terra. Bem precisamos.
2º ao 5º lugares: Americanos.
Clicando nos computadores aparecem as suas descrições. É curioso ver o cuidado posto pelos americanos na construção das frases que descrevem as aplicações:
"ASCI's mission is to create and use leading-edge capabilities in simulation and computational modeling. In an era without nuclear testing, these computational goals are vital for maintaining the safety and reliability of the nation's aging nuclear stockpile." (2º lugar do top)
"It is part of the DOE's science-based Stockpile Stewardship Program to maintain the safety and reliability of the US nuclear stockpile without underground testing." (4º lugar do top)
"Safety and reliability". Por favor... assim até parece que só estão a simular o armazenamento das armas, que qualquer computador faz. Digam logo de uma vez que fazem testes nucleares virtuais, que nós percebemos muito melhor.
Armas nucleares cirúrgicas
Bush ficou "pissed off" por não ter armas que rebentassem bem com os bunkers. Daí toca a investir em mini-armas nucleares. Já tinha ouvido falar disto na Time (19 de Maio), mas agora o assunto voltou à baila, segundo a BBC. Que lindo, armas nucleares para serem mesmo usadas. Orçamento não falta. O outro senhor que estaria no lugar de Bush se umas velhinhas da Florida não se tivessem baralhado com os boletins de voto diz: "In my opinion, this would be true madness".
Colin Powell diz: "the president has no intention of testing nuclear weapons. We have no need to and we have been consistent for some time on that issue". Pois, mas podias ter explicado tudo: não precisam de as testar porque os Estados Unidos têm alguns dos mais rápidos computadores do mundo (entre os quais o 1º e 3º computadores americanos mais rápidos) a simular armas nucleares e só por isso aceitam passar sem os testes.
Colin Powell diz: "the president has no intention of testing nuclear weapons. We have no need to and we have been consistent for some time on that issue". Pois, mas podias ter explicado tudo: não precisam de as testar porque os Estados Unidos têm alguns dos mais rápidos computadores do mundo (entre os quais o 1º e 3º computadores americanos mais rápidos) a simular armas nucleares e só por isso aceitam passar sem os testes.
quinta-feira, agosto 7
Faialenses
Hoje trouxeram-me failenses de dois tipos, eles sabem como eu gostava dos faialenses. Comi-os apressadamente. Eram bons. Mas não tão bons quanto os originais. À distância esses primeiros biscoitos parecem-me cada vez melhores, agarrados à memória fortalecida por inúmeras tentativas falhadas de re-encontro.
O tempo que passa e que faz
No verão, os dias passam-se a escorrer.
já estava com um pé na rua quando me lembrei de que
"Nunca encontramos palavras capazes de exprimir algo de definitivo"
Hans Gadamer
Hans Gadamer
leituras de férias
Faziam-me falta os livros encaixotados na terra de abandonada e enterrados numa caverna escura. Por isso fui a três bibliotecas e trouxe os que pude. Fui a dez livrarias e fiz loucuras.
quarta-feira, agosto 6
Welcome to the machine
Lyrics from Pink Floyd - Wish you were here, 1975.
Exploração do trabalho infantil
Papa a papa,
papa a papa,
Cerelac, Cerelac,
pa-pa-papa a papa,
pa-pa-papa a papa,
Cerelac.
Falta-te um bocadinho
assim, como um Danoninho.
Envia dez códigos de barras que encontras nas embalagens de yogurtes Yoco e ganha esta fabulosa t-shirt Yoco. Com Yoco tu és o maior.
As crianças digerem com muita facilidade, a publicidade. Alguém consegue explicar a uma criança que para crescer um bocadinho assim -não- basta comer um (ou muitos) Danoninho? Ou lutar contra a possibilidade de ser, de camisola, a primeira, se embarrigar todos os Yocos da geleira?
E os brinquedos de que as lojas estão cheias, baratos, e que duram uma única brincadeira. E logo se desfazem em pó de mal construídos que são. Não chegam a criar laços com o petiz, que diz: também não faz mal, depois compramos outro.
Com isto se constrói um bom consumista, um serviçal da globalização.
Welcome my son, welcome to the machine.
What did you dream? It's alright we told you what to dream.
Estou contra a exploração -da publicidade- infantil.
papa a papa,
Cerelac, Cerelac,
pa-pa-papa a papa,
pa-pa-papa a papa,
Cerelac.
Falta-te um bocadinho
assim, como um Danoninho.
Envia dez códigos de barras que encontras nas embalagens de yogurtes Yoco e ganha esta fabulosa t-shirt Yoco. Com Yoco tu és o maior.
As crianças digerem com muita facilidade, a publicidade. Alguém consegue explicar a uma criança que para crescer um bocadinho assim -não- basta comer um (ou muitos) Danoninho? Ou lutar contra a possibilidade de ser, de camisola, a primeira, se embarrigar todos os Yocos da geleira?
E os brinquedos de que as lojas estão cheias, baratos, e que duram uma única brincadeira. E logo se desfazem em pó de mal construídos que são. Não chegam a criar laços com o petiz, que diz: também não faz mal, depois compramos outro.
Com isto se constrói um bom consumista, um serviçal da globalização.
Welcome my son, welcome to the machine.
What did you dream? It's alright we told you what to dream.
Estou contra a exploração -da publicidade- infantil.
Lavoisier e complexidade: um de cada vez
Estava a guardar o texto abaixo para o fim da tarde quando o Nuno trouxe o texto da Gó. Porque se trata de um texto bonito e bem escrito,com o qual sou completamente solidário, embora não seja tão optimista, não vou enfiar-lhe em cima o tal texto sem dizer nada. Aproveito também para recomendar o que tem sido escrito sobre as árvores no Aviz.
Podermos vir a transformar toda a natureza em parques recreativos, ou num reservatório controlado de recursos, para usarmos quando quisermos, é capaz de ser menos mau que destruir o mundo que nos rodeia de forma irresponsável. Mas faço uma pergunta que já alguém fez: o que será menos natural, uma civilização que caça baleias ou uma que as observa em parques? Eu não tenho respostas na manga. [1]
Quanto ao que devemos fazer para melhorar o mundo, o grande problema é que não basta cada um fazer o que deve. O colectivo tem de fazer mais do que a soma das partes. Ilustro isso com uma estória pitoresca de quando vivi numa república de estudantes. Havia por lá um teórico que dizia não ser necessário ninguém limpar a casa de banho porque, se cada um a deixasse como a havia encontrado, esta nunca ficaria suja. Ou, ainda, que cada um podia limpar o seu prato e ficava resolvido o problema da loiça. E então a panela quem a limpa?
Um pouco mais de complexidade e serei simples
Na bela e complexa imagem que o Nuno nos trouxe da hemoglobina, os conjuntos de átomos pontuais ou redondinhos, unidos por ligações, como as que vemos na figura, são apenas representações pictóricas de uma realidade que nunca poderemos ver, mas que aprendemos a modelar e a transformar com sucesso em tecnologia. E a bela imagem do universo poderá ser apenas uma interpretação computacional dos complexos padrões luminosos que são recebida pelos telescópios. Assim, parece-me que não estarão, ambas as imagens, muito longe da poesia posta pelos antigos no desenho das constelações.
E voltando ao terreno ainda mais complexo do que nos move, gostaria de acrescentar uma coisa que li algures: que os sentimentos seriam máquinas virtuais criadas pela evolução. Na ciência há sempre lugar para a poesia.
Desculpem-me escrever tanto, mas para a semana estarei noutros mares e provavelmente escreverei menos.
[1] Alterei este parágrafo depois de o ter publicado porque a pergunta era dirigida e falaciosa e não correspondia ao que eu tinha lido nem ao que queria dizer.
Podermos vir a transformar toda a natureza em parques recreativos, ou num reservatório controlado de recursos, para usarmos quando quisermos, é capaz de ser menos mau que destruir o mundo que nos rodeia de forma irresponsável. Mas faço uma pergunta que já alguém fez: o que será menos natural, uma civilização que caça baleias ou uma que as observa em parques? Eu não tenho respostas na manga. [1]
Quanto ao que devemos fazer para melhorar o mundo, o grande problema é que não basta cada um fazer o que deve. O colectivo tem de fazer mais do que a soma das partes. Ilustro isso com uma estória pitoresca de quando vivi numa república de estudantes. Havia por lá um teórico que dizia não ser necessário ninguém limpar a casa de banho porque, se cada um a deixasse como a havia encontrado, esta nunca ficaria suja. Ou, ainda, que cada um podia limpar o seu prato e ficava resolvido o problema da loiça. E então a panela quem a limpa?
Um pouco mais de complexidade e serei simples
Na bela e complexa imagem que o Nuno nos trouxe da hemoglobina, os conjuntos de átomos pontuais ou redondinhos, unidos por ligações, como as que vemos na figura, são apenas representações pictóricas de uma realidade que nunca poderemos ver, mas que aprendemos a modelar e a transformar com sucesso em tecnologia. E a bela imagem do universo poderá ser apenas uma interpretação computacional dos complexos padrões luminosos que são recebida pelos telescópios. Assim, parece-me que não estarão, ambas as imagens, muito longe da poesia posta pelos antigos no desenho das constelações.
E voltando ao terreno ainda mais complexo do que nos move, gostaria de acrescentar uma coisa que li algures: que os sentimentos seriam máquinas virtuais criadas pela evolução. Na ciência há sempre lugar para a poesia.
Desculpem-me escrever tanto, mas para a semana estarei noutros mares e provavelmente escreverei menos.
[1] Alterei este parágrafo depois de o ter publicado porque a pergunta era dirigida e falaciosa e não correspondia ao que eu tinha lido nem ao que queria dizer.
Lavoisier
Meus amigos, é meu dever plantar algumas árvores. Ao menos para que os meus filhos saibam o que é, para não terem de ir ao Jardim Botânico para as conhecer. Talvez tenham sorte e ainda se lembrem que houve uma altura em que se podia passear por entre árvores sem perigo. Vou tentar viver segundo uma lei já muito antiga: "Na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma". Espanta-me a estupidez humana. A grande maioria dos seres vivos tenta a todo o custo que os seus genes se perpetuem mas os humanos parece que fazem tudo para que as gerações seguintes tenham muita dificuldade em sobreviver. Esta é das coisas que mais me inquieta. Que futuro terão os meus filhos? E os seus filhos, meus netos? Vou tentar criar um oásis para eles. Quem se quiser juntar será bem vindo, mas há regras, nomeadamente repor o que se gastou e não me refiro apenas ao rolo de papel higiénico na casa de banho.
Enviado por Gó.
Enviado por Gó.
Contemplar a complexidade
Hemoglobina...
Universo...
(isto é apenas um zoom - a Science et Vie deste mês traz o todo, uma imagem bem mais bonita)
Universo...
(isto é apenas um zoom - a Science et Vie deste mês traz o todo, uma imagem bem mais bonita)
O tempo, esse grande escultor
A Natureza do Mal, a formiga de Langton e a Razão Impura (mais alguém?) adicionaram pistas importantes para a pergunta que coloquei (o que nos move?).
A Sofia fez bem em lembrar os genes, esses egoístas. Não li o livro de Dawkins, mas encontrei este resumo que me fez adicionar o livro à minha interminável “to read list”. É engraçado aplicar o darwinismo às moléculas (genes, mais propriamente), porque não? A partir do momento em que elas se podem “reproduzir”, faz todo o sentido. No entanto, elas não se reproduzem sozinhas, é preciso uma “sociedade” de moléculas especializadas para ajudar. E essa ideia de que somos meros invólucros, máquinas de propagação de genes... bem, o resumo explica. Os genes são de facto uma tecnologia infernal (“do outro mundo” ia eu a dizer lembrando Fred Hoyle, mas tenho muitas dúvidas... o tempo é realmente um grande escultor).
A Formiga segue outros trilhos (feromonais, que no fundo são também pisoteios - ver este post). Curiosamente, de novo se fala de egoísmo. A Formiga é céptica relativamente à hipótese que coloquei (sobre se tudo o que fazemos resulta de análises custo-benefício), mas o verdadeiro alcance da argumentação pode-me ter passado ao lado. Parece-me que tanto o egoísmo como o altruísmo podem ser vistos como resultantes do mesmo processo de análise custo-benefício, onde se pesa a nossa comodidade versus o bem-estar dos outros (este por sua vez relaciona-se com o nosso bem-estar, cultura, princípios...). Nuns casos a balança cai para um lado, noutros para outro – o lado para onde cai varia de caso para caso e depende de quem analisa, nomeadamente da informação que se possui e do “hardware”/”software” que usa na análise (digamos assim) e que é específico de cada um.
A Razão Impura adiciona um outro trilho, o da água do rio que escolhe o melhor caminho, até ela parece feromonal, o que é fenomenal. Afinal as complexidades são bastante parecidas e pelos vistos intrinsecamente simples! Mas, helas, são difíceis de prever à mesma. Diz a Razão sobre aquilo que nos move: “em ultima instância são as leis da física e da luta contra a entropia, mas sobretudo o sentido de que somos e porque o somos nos movemos”.
Esquentei os miolos com a variedade de analogias e pontas soltas que esta discussão suscitou. Os links feromonais pisoteados da Internet, as sociedades humanas, de formigas e de todos os outros seres vivos, as “sociedades de moléculas” (rios, genes), as máquinas que nós afinal também somos (a discussão do que é uma máquina promete ser tão incerta quanto a do que é um ser vivo...), os mapas cognitivos a respeito das formigas, quando eu conhecia os cerebrais, também eles devidos a redes de neurónios que tantas semelhanças têm com as sociedades... Há algo que une tudo isto, não é?
No fundo, tudo se prende com informação, entropia (quase o mesmo, estas duas), probabilidade, tempo, links, cópia, acção-reacção...
Até os bytes (ou conjuntos de bytes, files, posts) são egoístas: arranjaram maneiras de se copiarem indefinidamente, invólucros que são máquinas de os propagar e multiplicar (disquettes, computadores, redes)... tal como os genes, que se copiam infinitamente, imortalmente...
Enfim, é pena que o tempo seja tão limitado e não me esculpa a ignorância o suficiente para compreender tudo o que gostaria. Esculpem qualquer coisinha por este longo “post”...
A Sofia fez bem em lembrar os genes, esses egoístas. Não li o livro de Dawkins, mas encontrei este resumo que me fez adicionar o livro à minha interminável “to read list”. É engraçado aplicar o darwinismo às moléculas (genes, mais propriamente), porque não? A partir do momento em que elas se podem “reproduzir”, faz todo o sentido. No entanto, elas não se reproduzem sozinhas, é preciso uma “sociedade” de moléculas especializadas para ajudar. E essa ideia de que somos meros invólucros, máquinas de propagação de genes... bem, o resumo explica. Os genes são de facto uma tecnologia infernal (“do outro mundo” ia eu a dizer lembrando Fred Hoyle, mas tenho muitas dúvidas... o tempo é realmente um grande escultor).
A Formiga segue outros trilhos (feromonais, que no fundo são também pisoteios - ver este post). Curiosamente, de novo se fala de egoísmo. A Formiga é céptica relativamente à hipótese que coloquei (sobre se tudo o que fazemos resulta de análises custo-benefício), mas o verdadeiro alcance da argumentação pode-me ter passado ao lado. Parece-me que tanto o egoísmo como o altruísmo podem ser vistos como resultantes do mesmo processo de análise custo-benefício, onde se pesa a nossa comodidade versus o bem-estar dos outros (este por sua vez relaciona-se com o nosso bem-estar, cultura, princípios...). Nuns casos a balança cai para um lado, noutros para outro – o lado para onde cai varia de caso para caso e depende de quem analisa, nomeadamente da informação que se possui e do “hardware”/”software” que usa na análise (digamos assim) e que é específico de cada um.
A Razão Impura adiciona um outro trilho, o da água do rio que escolhe o melhor caminho, até ela parece feromonal, o que é fenomenal. Afinal as complexidades são bastante parecidas e pelos vistos intrinsecamente simples! Mas, helas, são difíceis de prever à mesma. Diz a Razão sobre aquilo que nos move: “em ultima instância são as leis da física e da luta contra a entropia, mas sobretudo o sentido de que somos e porque o somos nos movemos”.
Esquentei os miolos com a variedade de analogias e pontas soltas que esta discussão suscitou. Os links feromonais pisoteados da Internet, as sociedades humanas, de formigas e de todos os outros seres vivos, as “sociedades de moléculas” (rios, genes), as máquinas que nós afinal também somos (a discussão do que é uma máquina promete ser tão incerta quanto a do que é um ser vivo...), os mapas cognitivos a respeito das formigas, quando eu conhecia os cerebrais, também eles devidos a redes de neurónios que tantas semelhanças têm com as sociedades... Há algo que une tudo isto, não é?
No fundo, tudo se prende com informação, entropia (quase o mesmo, estas duas), probabilidade, tempo, links, cópia, acção-reacção...
Até os bytes (ou conjuntos de bytes, files, posts) são egoístas: arranjaram maneiras de se copiarem indefinidamente, invólucros que são máquinas de os propagar e multiplicar (disquettes, computadores, redes)... tal como os genes, que se copiam infinitamente, imortalmente...
Enfim, é pena que o tempo seja tão limitado e não me esculpa a ignorância o suficiente para compreender tudo o que gostaria. Esculpem qualquer coisinha por este longo “post”...
A sequela das galinhas esquecidas
Nós os portugueses devemos ser mesmo muito estúpidos. Andamos do medo pânico para a indignação inconsequente e voltamos de novo. Sempre com os olhos abertos de espanto, mas paralizados como o burro de Buridan.
Lembram-se do triste e ridículo espectáculo gerado pelos nitrofuranos encontrados nos galinácios? Por ganância mediática, vontade de culpar os outros, ou pura e simples incompetência, quase se destruiu a confiança das galinhas portuguesas. E não se pense que as galinhas portuguesas são piores que as outras da União Europeia. São apenas boas alunas. Ora vejamos.
No final dos anos setenta no "mundo civilizado" discutia-se alegre e cinicamente os custos de se abandonar o uso de antibióticos na alimentação animal. Já se conheciam demasiado bem os seus efeitos adversos, mas o lucro era mais importante. Por cá as nossas galinhas (nessa altura ainda se chamavam assim) comiam milho (que não era ainda transgénico) mas as salmonelas espreitavam por todo o lado. Por essa altura dizia-se que quando um pobre comia frango um dos dois estava doente. Foi passando o tempo e as nossas galinhas também conheceram as novidades tecnológicas. Entram para a União Europeia, embora a sua esperança de vida (agora asséptica e livre de doenças) tenha diminuido muitíssimo.
Havia, no entanto, o tal problema da suspeita de efeito cancinogénico. E assim, com uma rapidez impressionante (mais de uma década!) a União Europeia proibiu os nitrofuranos em 1995. Note-se que nos EUA só em Setembro de 2002 este produto foi definitivamente proibido. A razão por que demoraram tanto estas proibições deve ter muito pouco a ver com a saúde pública. E vá-se lá saber o que é que dão agora aos animais que ainda não foi descoberto ou que é eliminado antes de chegar ao consumidor.
Mas, nem medo pânico nem alegre deixa andar. Cancerígeno? É quase tudo o que nos rodeia. Por exemplo, a gasolina contêm benzeno em percentagens entre um e cinco por cento, um produto que já foi banido dos laboratórios químicos por ser comprovadamente cancerígeno. Pesticidas? Agora chama-se protecção integrada. É necessário bom senso, informação de qualidade, competência e eficácia.
Num país pequeno como Portugal temos de ser realistas: são necessária menos carros de luxo para os gestores, que já são demais, e mais gente a trabalhar em coisas que se vejam. Chega de papeladas e cábulas da União Europeia. É preciso pôr as mãos ao trabalho, ter ideias novas: agir com inteligência. Será que os produtos que nos chegam dos outros países são analisados regularmente? Haverá laboratórios suficientes em Portugal? Será que para o controle do dopping há bons aparelhos e para o resto logo se vê? Será que é suficientemente incentivada a produção nacional de qualidade, com apoio técnico competente e presente sempre que é necessário? Ou têm ainda os agricultores, se ainda os houver, de ir aos gabinetes dos senhores doutores pedir favores, ou ficar à mercê de remédios milagrosos? Para quando o aproveitamento eficiente e integrado das nossas florestas? Por que não são aproveitados os resíduos florestais para produção de energia, ou outra coisa qualquer, resolvendo-se o problema da sua existência nos solos? Se estamos paralizados por causa do dióxido de carbono, que multas merecemos por causa dos fogos florestais?
E assim se vê o que têm as galinhas a ver com os fogos florestais. Quase nada, ou quase tudo. Mas, desgraçadamente, com as galinhas ainda nos podemos rir. Já com os fogos florestais não há absolutamente nada para rir. É demasiado triste.
Lembram-se do triste e ridículo espectáculo gerado pelos nitrofuranos encontrados nos galinácios? Por ganância mediática, vontade de culpar os outros, ou pura e simples incompetência, quase se destruiu a confiança das galinhas portuguesas. E não se pense que as galinhas portuguesas são piores que as outras da União Europeia. São apenas boas alunas. Ora vejamos.
No final dos anos setenta no "mundo civilizado" discutia-se alegre e cinicamente os custos de se abandonar o uso de antibióticos na alimentação animal. Já se conheciam demasiado bem os seus efeitos adversos, mas o lucro era mais importante. Por cá as nossas galinhas (nessa altura ainda se chamavam assim) comiam milho (que não era ainda transgénico) mas as salmonelas espreitavam por todo o lado. Por essa altura dizia-se que quando um pobre comia frango um dos dois estava doente. Foi passando o tempo e as nossas galinhas também conheceram as novidades tecnológicas. Entram para a União Europeia, embora a sua esperança de vida (agora asséptica e livre de doenças) tenha diminuido muitíssimo.
Havia, no entanto, o tal problema da suspeita de efeito cancinogénico. E assim, com uma rapidez impressionante (mais de uma década!) a União Europeia proibiu os nitrofuranos em 1995. Note-se que nos EUA só em Setembro de 2002 este produto foi definitivamente proibido. A razão por que demoraram tanto estas proibições deve ter muito pouco a ver com a saúde pública. E vá-se lá saber o que é que dão agora aos animais que ainda não foi descoberto ou que é eliminado antes de chegar ao consumidor.
Mas, nem medo pânico nem alegre deixa andar. Cancerígeno? É quase tudo o que nos rodeia. Por exemplo, a gasolina contêm benzeno em percentagens entre um e cinco por cento, um produto que já foi banido dos laboratórios químicos por ser comprovadamente cancerígeno. Pesticidas? Agora chama-se protecção integrada. É necessário bom senso, informação de qualidade, competência e eficácia.
Num país pequeno como Portugal temos de ser realistas: são necessária menos carros de luxo para os gestores, que já são demais, e mais gente a trabalhar em coisas que se vejam. Chega de papeladas e cábulas da União Europeia. É preciso pôr as mãos ao trabalho, ter ideias novas: agir com inteligência. Será que os produtos que nos chegam dos outros países são analisados regularmente? Haverá laboratórios suficientes em Portugal? Será que para o controle do dopping há bons aparelhos e para o resto logo se vê? Será que é suficientemente incentivada a produção nacional de qualidade, com apoio técnico competente e presente sempre que é necessário? Ou têm ainda os agricultores, se ainda os houver, de ir aos gabinetes dos senhores doutores pedir favores, ou ficar à mercê de remédios milagrosos? Para quando o aproveitamento eficiente e integrado das nossas florestas? Por que não são aproveitados os resíduos florestais para produção de energia, ou outra coisa qualquer, resolvendo-se o problema da sua existência nos solos? Se estamos paralizados por causa do dióxido de carbono, que multas merecemos por causa dos fogos florestais?
E assim se vê o que têm as galinhas a ver com os fogos florestais. Quase nada, ou quase tudo. Mas, desgraçadamente, com as galinhas ainda nos podemos rir. Já com os fogos florestais não há absolutamente nada para rir. É demasiado triste.
terça-feira, agosto 5
O que nos move? - II
Há algo mais que nos move: a procura de nova informação. Isso é necessário para analisarmos melhor o custo e o benefício. Seríamos uns perfeitos autómatos se não fosse isso. Assim, só somos um bocadinho autómatos. E curiosos.
O que nos move?
Pegando na frase d'a formiga de Langton como mote, "Dumb parts, properly connected into a swarm, yield smart results" (Kevin Kelly), faço uma pergunta que há algum tempo me faz comichão e que é talvez tão desconcertante quanto importante: o que nos move?
Descodificando, estou a perguntar o que nos leva a agir, ou a não agir. Porque fazemos o que fazemos? Porque reagimos de um dado modo à informação que recebemos pelos sentidos? Eu sei que praticamente tudo nos move (ou nos pára): o amor, o dinheiro, o medo, o vôo de uma borboleta, o esquecimento, os sentimentos, a beleza, o som do mar, a curiosidade, a inveja, o orgulho, a rebeldia, os princípios, os sonhos, um pôr do sol, enfim, tudo. Não é a isso que me refiro.
O que eu pergunto é: o que é que, no fundo, nos faz mover? Haverá algo de mais profundo, um algoritmo se assim se puder chamar, que nos impele a agir de um dado modo em função de um dado estímulo? (Note-se que mesmo que conhecessemos esse algoritmo, não conheceríamos necessariamente o seu resultado: continuaríamos imprevisíveis - ou previsíveis - como sempre).
Deixo o assunto para discussão (não garanto que possa contribuir muito - ando cá e lá, em férias). E deixo uma sugestão de leigo: será que o que no fundo nos move são "simples" análises custo/benefício, mesmo que inconscientes? Será que não é isso o que o nosso cérebro faz, incessantemente? Análises onde o custo é calculado a partir do conhecimento adquirido e onde o benefício é "quantificado" (por assim dizer) pela satisfação, pelo prazer?
E será que tudo o que fazemos pode ser descrito como resultando de análises custo/benefício? Posso evidentemente estar a generalizar demasiado... Por exemplo, como é que entram aqui os princípios e a cultura, que modelam o nosso modo de agir? Bem, deixo uma provocação: será que essas regras sociais não resultam elas próprias de um conhecimento social adquirido com base (inconsciente, espontânea) em análises custo/benefício?
Isto pode ser tudo um grande disparate. Felizmente estamos na silly season.
Descodificando, estou a perguntar o que nos leva a agir, ou a não agir. Porque fazemos o que fazemos? Porque reagimos de um dado modo à informação que recebemos pelos sentidos? Eu sei que praticamente tudo nos move (ou nos pára): o amor, o dinheiro, o medo, o vôo de uma borboleta, o esquecimento, os sentimentos, a beleza, o som do mar, a curiosidade, a inveja, o orgulho, a rebeldia, os princípios, os sonhos, um pôr do sol, enfim, tudo. Não é a isso que me refiro.
O que eu pergunto é: o que é que, no fundo, nos faz mover? Haverá algo de mais profundo, um algoritmo se assim se puder chamar, que nos impele a agir de um dado modo em função de um dado estímulo? (Note-se que mesmo que conhecessemos esse algoritmo, não conheceríamos necessariamente o seu resultado: continuaríamos imprevisíveis - ou previsíveis - como sempre).
Deixo o assunto para discussão (não garanto que possa contribuir muito - ando cá e lá, em férias). E deixo uma sugestão de leigo: será que o que no fundo nos move são "simples" análises custo/benefício, mesmo que inconscientes? Será que não é isso o que o nosso cérebro faz, incessantemente? Análises onde o custo é calculado a partir do conhecimento adquirido e onde o benefício é "quantificado" (por assim dizer) pela satisfação, pelo prazer?
E será que tudo o que fazemos pode ser descrito como resultando de análises custo/benefício? Posso evidentemente estar a generalizar demasiado... Por exemplo, como é que entram aqui os princípios e a cultura, que modelam o nosso modo de agir? Bem, deixo uma provocação: será que essas regras sociais não resultam elas próprias de um conhecimento social adquirido com base (inconsciente, espontânea) em análises custo/benefício?
Isto pode ser tudo um grande disparate. Felizmente estamos na silly season.
segunda-feira, agosto 4
Gosto
Gosto de papagaios de papel,
do vento,
gosto da arte nos calendários,
do tempo,
gosto de castelos de areia,
do mar,
e de tudo o que passa porque não pode ficar.
do vento,
gosto da arte nos calendários,
do tempo,
gosto de castelos de areia,
do mar,
e de tudo o que passa porque não pode ficar.
De que se ri este homem?
O comando central dos EUA divulgou fotografias alteradas de Saddam para que ele possa ser apanhado mais facilmente.
A última fotografia veio da CIA e é um exclusivo nosso. Segundo o New York Daily News, a CIA tem outras fotos, dignas das melhores páginas centrais da Playboy, mas são secretas.
A última fotografia veio da CIA e é um exclusivo nosso. Segundo o New York Daily News, a CIA tem outras fotos, dignas das melhores páginas centrais da Playboy, mas são secretas.
E não queima a consciência de quem não fez o que devia?
Também estive perto da terra em chamas, do chão em cinzas, debaixo do céu castanho e do sol vermelho. Sufocante, angustiante e irreal. Como pode isto acontecer todos os anos? E este ano ser ainda muito pior que os outros?
Já se sabia que Nossa Senhora (que nos livrou da mancha negra) só ajuda quem se ajuda a si próprio. E neste país que tem homens para mandar para o Iraque, mas não os tem para tomar conta do seu território. Que compra aviões militares, mas não os compra para combater os seus fogos, a tragédia rondava.
Vamos lá a ver que tretas iremos ouvir a seguir. Para já a incerteza do aquecimento global futuro insinua-se como uma certeza local para justificar o injustificável.
Já se sabia que Nossa Senhora (que nos livrou da mancha negra) só ajuda quem se ajuda a si próprio. E neste país que tem homens para mandar para o Iraque, mas não os tem para tomar conta do seu território. Que compra aviões militares, mas não os compra para combater os seus fogos, a tragédia rondava.
Vamos lá a ver que tretas iremos ouvir a seguir. Para já a incerteza do aquecimento global futuro insinua-se como uma certeza local para justificar o injustificável.
A noite do dia de todos os fogos
Vinha na auto-estrada, com receio de encontrar um dos 87 fogos não circunscritos. Encontrei um perto de Pombal, mas era fogo de artifício. O fascínio do fogo. Fogo artificial = fogo de artifício + fogo florestal?
Quantos foguetes foram lançados neste dia de "calamidade pública", alguém conta? Foguetes, que nome apropriado.
Quantos foguetes foram lançados neste dia de "calamidade pública", alguém conta? Foguetes, que nome apropriado.
sábado, agosto 2
O sol nas letras
Porque será que quando escrevo alguns textos os escondos num qualquer canto do monitor como se ele tivesse vergonha de ser lido ou medo de ver o mundo, aí envelhecendo por vezes vários dias sob a desculpa de esperar um retoque que nunca chega?
E só depois de publicado ganha força para realmente amadurecer?
E só depois de publicado ganha força para realmente amadurecer?
A incerteza do tempo II
Eu também uso o site do IM quando tenho necessidade de saber as previsões metereológicas e senti a mesma frustação. Porque é que a informação disponibilizada é tão pobre?
A resposta está lá em Produtos Comerciais: Teletempo, Faxtempo, Boletim Diário. Qualquer bom liberal a encontraria! Aliás se verificarmos com mais atenção a informação metereológica (salvo erro) do publico, do sapo, em alguns hóteis, etc, podemos ver que a fonte é o IM e tem muito mais informação do que site.
Tanto quanto sei o IM é (ainda) um instituto público. Porque é que a informação disponibilizada é tão pobre?
A resposta está lá em Produtos Comerciais: Teletempo, Faxtempo, Boletim Diário. Qualquer bom liberal a encontraria! Aliás se verificarmos com mais atenção a informação metereológica (salvo erro) do publico, do sapo, em alguns hóteis, etc, podemos ver que a fonte é o IM e tem muito mais informação do que site.
Tanto quanto sei o IM é (ainda) um instituto público. Porque é que a informação disponibilizada é tão pobre?
A incerteza do tempo
Desculpem passar de um tema tão importante como é o do "post" anterior para algo bem mais trivial como a previsão do tempo de amanhã, mas os blogues são mesmo assim, incertos nos temas (e este ainda mais).
Vem isto a propósito da necessidade que eu ontem tinha de saber se o calor ia continuar ou não. A previsão ia condicionar a decisão de ir a Lisboa com os miúdos (se o calor se mantivesse, não ia). Fui ao site do Instituto de Meteorologia (de Portugal) e li a previsão do tempo para os dias seguintes. Fiquei na mesma: havia a previsão da temperatura da água do mar, mas nada sobre a temperatura do ar. A previsão era para 3 dias, distinguia apenas entre norte-centro-sul-litoral-interior e globalmente é de uma pobreza franciscana. Felizmente, lembrei-me das previsões francesas, onde obtive num ápice tudo o que queria e mais: previsão das temperaturas máxima e mínima para os próximos 5 dias em Coimbra, Lisboa, etc, de uma forma rápida, prática e eficiente.
Porque é que a informação meteorológica em Portugal é tão pobre? Porque é que os boletins meteorológicos da TV não nos dão imagens animadas de radar, que mostram onde há pluviosidade e permitem a qualquer um estimar se para a sua localidade vai chover? Porque é que não vemos imagens animadas da previsão da distribuição das nuvens no continente, como se faz lá fora, para estimar localmente o grau de nebulosidade? E tendências de temperatura máxima e mínima para vários dias, quantitativas e não do género "vai subir"? E tantas outras coisas...
Eu acredito que o IM tenha poucos recursos para fazer o que faz, quanto mais o que deveria fazer. As televisões têm possivelmente menos desculpa e podiam fazer muito melhor (os dados existem na net por todo o lado, basta não depender exclusivamente da informação do IM português).
Será que temos mesmo de estar condenados a tanta incerteza? E se temos tantas dificuldades para prever algo de elementar como o tempo de amanhã, imagino o esforço que andamos a fazer para prever as alterações climáticas, algo bem mais importante...
Não fui a Lisboa, graças aos franceses.
Vem isto a propósito da necessidade que eu ontem tinha de saber se o calor ia continuar ou não. A previsão ia condicionar a decisão de ir a Lisboa com os miúdos (se o calor se mantivesse, não ia). Fui ao site do Instituto de Meteorologia (de Portugal) e li a previsão do tempo para os dias seguintes. Fiquei na mesma: havia a previsão da temperatura da água do mar, mas nada sobre a temperatura do ar. A previsão era para 3 dias, distinguia apenas entre norte-centro-sul-litoral-interior e globalmente é de uma pobreza franciscana. Felizmente, lembrei-me das previsões francesas, onde obtive num ápice tudo o que queria e mais: previsão das temperaturas máxima e mínima para os próximos 5 dias em Coimbra, Lisboa, etc, de uma forma rápida, prática e eficiente.
Porque é que a informação meteorológica em Portugal é tão pobre? Porque é que os boletins meteorológicos da TV não nos dão imagens animadas de radar, que mostram onde há pluviosidade e permitem a qualquer um estimar se para a sua localidade vai chover? Porque é que não vemos imagens animadas da previsão da distribuição das nuvens no continente, como se faz lá fora, para estimar localmente o grau de nebulosidade? E tendências de temperatura máxima e mínima para vários dias, quantitativas e não do género "vai subir"? E tantas outras coisas...
Eu acredito que o IM tenha poucos recursos para fazer o que faz, quanto mais o que deveria fazer. As televisões têm possivelmente menos desculpa e podiam fazer muito melhor (os dados existem na net por todo o lado, basta não depender exclusivamente da informação do IM português).
Será que temos mesmo de estar condenados a tanta incerteza? E se temos tantas dificuldades para prever algo de elementar como o tempo de amanhã, imagino o esforço que andamos a fazer para prever as alterações climáticas, algo bem mais importante...
Não fui a Lisboa, graças aos franceses.
Guerra preventiva
concordo inteiramente com o aviso que o Rui publicou na Klepsydra sobre o aquecimento global: essa arma de destruição em massa! citando um artigo do presidente do Instituto Britânico de Metereologia. Neste artigo John Houghton compara os efeitos, globais, das alterações climatéricas ao das armas de destruição massivas.
Há uma certeza científica de que nas últimas décadas assistimos a um progressivo aquecimento global do planeta, há um consenso bastante generalizado entre a comunidade científica de que este aquecimento é provocado pela perturbação humana do equilíbrio da atmosfera, são bem conhecidos os efeitos que tal aquecimento provoca que vão desde uma "quase inocente" subida do nível médio das águas (a praia passaria da Figueira para Coimbra) até um de vários cenários mais ou menos catastróficos com largos períodos de seca, incêndios correspondentes, desertificação, aumento do número e força dos grandes fenómenos atmosféricos (cheias, tufões).
Pois bem, há então, pelo menos um forte indício de que o detonador do aquecimento global foi accionado, não se sabe se a explosão principal já se deu, se o rugido dos motores é o seu eco actual ou quando vai ocorrer no futuro. Ainda pode ser pior: caso a grande explosão se dê ninguém sabe se é possível depois recuperar o equilíbrio que se perdeu. Ainda é pior: sabe-se que não é possível recuperar grandes ecosistemas já destruídos.
Não é pouco o que está em jogo. O que vos parece de tomar medidas preventivas?
Há uma certeza científica de que nas últimas décadas assistimos a um progressivo aquecimento global do planeta, há um consenso bastante generalizado entre a comunidade científica de que este aquecimento é provocado pela perturbação humana do equilíbrio da atmosfera, são bem conhecidos os efeitos que tal aquecimento provoca que vão desde uma "quase inocente" subida do nível médio das águas (a praia passaria da Figueira para Coimbra) até um de vários cenários mais ou menos catastróficos com largos períodos de seca, incêndios correspondentes, desertificação, aumento do número e força dos grandes fenómenos atmosféricos (cheias, tufões).
Pois bem, há então, pelo menos um forte indício de que o detonador do aquecimento global foi accionado, não se sabe se a explosão principal já se deu, se o rugido dos motores é o seu eco actual ou quando vai ocorrer no futuro. Ainda pode ser pior: caso a grande explosão se dê ninguém sabe se é possível depois recuperar o equilíbrio que se perdeu. Ainda é pior: sabe-se que não é possível recuperar grandes ecosistemas já destruídos.
Não é pouco o que está em jogo. O que vos parece de tomar medidas preventivas?
sexta-feira, agosto 1
A incerteza da Siesta
Na aba já se falou bastante de sestas. Hoje, primeiro dia de férias, bem tentei fazer uma, sem sucesso. A minha filha passou o tempo a ver se me acordava, porque era a única que não tinha sono.
Fomos jantar ao chinês. A meio, olho para o lado e lá estava ela, com o queixo encostado à galinha com cogumelos, a dormir.
Fomos jantar ao chinês. A meio, olho para o lado e lá estava ela, com o queixo encostado à galinha com cogumelos, a dormir.
o sonho da clepsidra
para aqueles mais atentos que agora estejam pensando que sonharam, digo sim, o Rui Silva passou por aqui como água de um rio que vai para o mar. Ele agora aprisionou uma parte do rio dentro da sua clepsidra.
Mesmo estando a tua água presa enquanto nós continuamos incertos quanto à sua existência, continuaremos a correr em paralelo, segundo a teoria dos afluentes encontrar-nos-emos, se não antes, se uma montanha nos separar, no mar.
Bons banhos.
Mesmo estando a tua água presa enquanto nós continuamos incertos quanto à sua existência, continuaremos a correr em paralelo, segundo a teoria dos afluentes encontrar-nos-emos, se não antes, se uma montanha nos separar, no mar.
Bons banhos.
Da vida extraterrestre às origens da vida: Fred Hoyle (1915-2001)
É curiosa a frase com que o Sérgio terminou o "post" anterior. De facto, começámos aqui a falar da vida extraterrestre a respeito da definição de ser vivo e já vamos nas sopas primordiais que podem ter dado origem à "vida tal como a conhecemos". É curioso porque de ideia em ideia relacionàmos por acaso as sopas com os extraterrestres e já antes muitas pessoas fizeram essa relação. Não me refiro aos cozinheiros da equipe do X-files ou a seitas, mas sim a reputados cientistas como Sir Fred Hoyle, no polémico livro "O Universo Inteligente".
Uma importante contribuição de Fred Hoyle para a ciência foi a explicação da origem dos elementos. Para além da sua importância científica, a ideia de que somos todos poeira de estrelas é de uma beleza extraordinária. Os nossos átomos formaram-se na sua esmagadora maioria no interior de estrelas que outrora explodiram. Uau.
Mas voltando às sopas criadoras de vida, Hoyle não gostava delas. Achava que era extremamente improvável que a vida surgisse por acaso no nosso planeta. Daí a hipótese extraterrestre: a vida poderia ter sido trazida para a Terra vinda de outra região do universo, por um meteorito, por exemplo. Até os vírus como o da gripe poderiam ser trazidos por meteoritos e talvez as epidemias de gripe estivessem relacionadas com a queda de meteoros. Há quem pense que por causa dessas ideias ele não ganhou o prémio Nobel, como refere o Guardian.
Outras hipóteses sobre a origem extraterrestre da vida haviam sido propostas antes de Fred Hoyle, quem tiver curiosidade tem muita leitura aqui, incluindo uma entrevista com Fred Hoyle.
Não sei em que acreditar sobre a origem da vida. Sei apenas que a "tecnologia de vida" que forma os seres vivos deste planeta é de uma complexidade e sofisticação tais que deixa a anos-luz as mais avançadas tecnologias que o homem até hoje foi capaz de produzir. A mais pequena formiga é um colosso de "tecnologia de vida". E se a ideia de que a vida veio do espaço ou pelo menos terá sido por ele "ajudada" parece exótica, a teoria de que toda esta extraordinária vida provém de uma sucessão de acasos partindo de uma sopa química primordial é no mínimo desconcertante. O poder do tempo será assim tão grande?
Uma importante contribuição de Fred Hoyle para a ciência foi a explicação da origem dos elementos. Para além da sua importância científica, a ideia de que somos todos poeira de estrelas é de uma beleza extraordinária. Os nossos átomos formaram-se na sua esmagadora maioria no interior de estrelas que outrora explodiram. Uau.
Mas voltando às sopas criadoras de vida, Hoyle não gostava delas. Achava que era extremamente improvável que a vida surgisse por acaso no nosso planeta. Daí a hipótese extraterrestre: a vida poderia ter sido trazida para a Terra vinda de outra região do universo, por um meteorito, por exemplo. Até os vírus como o da gripe poderiam ser trazidos por meteoritos e talvez as epidemias de gripe estivessem relacionadas com a queda de meteoros. Há quem pense que por causa dessas ideias ele não ganhou o prémio Nobel, como refere o Guardian.
Outras hipóteses sobre a origem extraterrestre da vida haviam sido propostas antes de Fred Hoyle, quem tiver curiosidade tem muita leitura aqui, incluindo uma entrevista com Fred Hoyle.
Não sei em que acreditar sobre a origem da vida. Sei apenas que a "tecnologia de vida" que forma os seres vivos deste planeta é de uma complexidade e sofisticação tais que deixa a anos-luz as mais avançadas tecnologias que o homem até hoje foi capaz de produzir. A mais pequena formiga é um colosso de "tecnologia de vida". E se a ideia de que a vida veio do espaço ou pelo menos terá sido por ele "ajudada" parece exótica, a teoria de que toda esta extraordinária vida provém de uma sucessão de acasos partindo de uma sopa química primordial é no mínimo desconcertante. O poder do tempo será assim tão grande?