<$BlogRSDUrl$>

quarta-feira, agosto 6

A sequela das galinhas esquecidas 

Nós os portugueses devemos ser mesmo muito estúpidos. Andamos do medo pânico para a indignação inconsequente e voltamos de novo. Sempre com os olhos abertos de espanto, mas paralizados como o burro de Buridan.

Lembram-se do triste e ridículo espectáculo gerado pelos nitrofuranos encontrados nos galinácios? Por ganância mediática, vontade de culpar os outros, ou pura e simples incompetência, quase se destruiu a confiança das galinhas portuguesas. E não se pense que as galinhas portuguesas são piores que as outras da União Europeia. São apenas boas alunas. Ora vejamos.

No final dos anos setenta no "mundo civilizado" discutia-se alegre e cinicamente os custos de se abandonar o uso de antibióticos na alimentação animal. Já se conheciam demasiado bem os seus efeitos adversos, mas o lucro era mais importante. Por cá as nossas galinhas (nessa altura ainda se chamavam assim) comiam milho (que não era ainda transgénico) mas as salmonelas espreitavam por todo o lado. Por essa altura dizia-se que quando um pobre comia frango um dos dois estava doente. Foi passando o tempo e as nossas galinhas também conheceram as novidades tecnológicas. Entram para a União Europeia, embora a sua esperança de vida (agora asséptica e livre de doenças) tenha diminuido muitíssimo.

Havia, no entanto, o tal problema da suspeita de efeito cancinogénico. E assim, com uma rapidez impressionante (mais de uma década!) a União Europeia proibiu os nitrofuranos em 1995. Note-se que nos EUA só em Setembro de 2002 este produto foi definitivamente proibido. A razão por que demoraram tanto estas proibições deve ter muito pouco a ver com a saúde pública. E vá-se lá saber o que é que dão agora aos animais que ainda não foi descoberto ou que é eliminado antes de chegar ao consumidor.

Mas, nem medo pânico nem alegre deixa andar. Cancerígeno? É quase tudo o que nos rodeia. Por exemplo, a gasolina contêm benzeno em percentagens entre um e cinco por cento, um produto que já foi banido dos laboratórios químicos por ser comprovadamente cancerígeno. Pesticidas? Agora chama-se protecção integrada. É necessário bom senso, informação de qualidade, competência e eficácia.

Num país pequeno como Portugal temos de ser realistas: são necessária menos carros de luxo para os gestores, que já são demais, e mais gente a trabalhar em coisas que se vejam. Chega de papeladas e cábulas da União Europeia. É preciso pôr as mãos ao trabalho, ter ideias novas: agir com inteligência. Será que os produtos que nos chegam dos outros países são analisados regularmente? Haverá laboratórios suficientes em Portugal? Será que para o controle do dopping há bons aparelhos e para o resto logo se vê? Será que é suficientemente incentivada a produção nacional de qualidade, com apoio técnico competente e presente sempre que é necessário? Ou têm ainda os agricultores, se ainda os houver, de ir aos gabinetes dos senhores doutores pedir favores, ou ficar à mercê de remédios milagrosos? Para quando o aproveitamento eficiente e integrado das nossas florestas? Por que não são aproveitados os resíduos florestais para produção de energia, ou outra coisa qualquer, resolvendo-se o problema da sua existência nos solos? Se estamos paralizados por causa do dióxido de carbono, que multas merecemos por causa dos fogos florestais?

E assim se vê o que têm as galinhas a ver com os fogos florestais. Quase nada, ou quase tudo. Mas, desgraçadamente, com as galinhas ainda nos podemos rir. Já com os fogos florestais não há absolutamente nada para rir. É demasiado triste.

Comments: Enviar um comentário
This page is powered by Blogger. Isn't yours? Weblog Commenting by HaloScan.com