quarta-feira, dezembro 31
Coerência
E não é que dei por mim a barafustar com os condutores da frente. Às vezes não somos lá muito coerentes...
segunda-feira, dezembro 29
Alguns contributos para a paz e tranquilidade nas estradas
O Nuno apresentou com muita clareza nos posts anteriores praticamente todos os argumentos racionais contra a velocidade. Vou tentar dizer mais algumas coisas sobre a racionalidade do comportamento e argumentos dos condutores, nos quais também me incluo.
Na cidade, em particular, é uma estupidez conduzir com velocidade. Pode demorar-se 23 segundos para fazer 500 metros a 80 km por hora para depois estar 15 minutos para fazer outros 500 metros num engarrafamento e a média das velocidades fica 41 km por hora. É preferível andar a uma velocidade razoável e conduzir de forma descontraída, embora atenta, pois os engarrafamentos são muitas vezes provocados pelos excessos dos condutores com pressa. E, de facto, dizem as estatísticas a velocidade média numa grande cidade é, em geral, inferior a 20 km por hora. Além disso, em geral, ultrapassa-se de forma tresloucada um condutor mais lento para se ficar dois ou três carros mais à frente na fila. Basta observar o trânsito com atenção para verificar isso. Pressa para quê?
E esta discussão até que seria fácil se se tratasse apenas de um problema de argumentação racional. Mas do que se trata aqui é da vertigem e da adrenalina, do Ilix de que fala Roger Caillois [1]. Daquilo que liga a criança que gira até ficar tonta ao adulto que acelera na auto-estrada: o prazer do perigo. Os vendedores de carros sabem-no bem e por isso não vendem automóveis mas sim, potência, condução desportiva, acelerações dos zeros aos cem, ao mesmo tempo que prometem segurança. O prazer do perigo, a vertigem da velocidade pode tornar-se numa espécie de vício. E quando se trata de vícios surgem as explicações supostamente racionais. Lembro-me de as ter ouvido a propósito dos perigos do uso do cinto de segurança há uns anos atrás.
Miguel Sousa Tavares (MST) traz-nos o cansado argumento do sono. O Nuno já mostrou, e muito bem, levando a discussão para um plano mais geral e racional, que MST não tem razão. Por isso, talvez nem valesse a pena argumentar directamente contra o argumento do sono, mas, como este argumento é recorrente, talvez valha a pena fazê-lo. Antes de mais, devo dizer que nas auto-estradas da Suíça circulei em filas quase compactas a 120 km por hora e não me lembro de ter tido sono algum. Pelo contrário, a circulação era fluída por não haver, como em Portugal, uma mistura caótica de aceleras que circulam muitas vezes pela esquerda e que ocasionalmente ultrapassam pela direita. Por outro lado, deve clarificar-se que o argumento do sono se baseia na extrapolação de estudos sobre a diminuição da atenção durante a realização de actividades monótonas. E se a recomendação de se fazer pausas na condução pelo menos de duas em duas horas faz todo o sentido, o argumento do sono é absurdo pois a melhor forma de combater o cansaço é certamente repousar e não acelerar o carro. Finalmente, um argumento idêntico pode ser apresentado acerca da velocidade e da condução não monótona. Com a euforia e a vertigem provocadas pela velocidade e pelas manobras bruscas, as quais só podem aumentar o cansaço e o stress, muitos condutores poderão deixar de sentir o cansaço natural que os levaria a parar para descansar, e poderão atingir um estado de delírio e perda de noção da realidade, o que é bem mais perigoso.
E já que falo de delírios: devemos combatê-los. Os super-condutores incansáveis e resistentes ao álcool que que muitos portugueses julgam ser é desmentido pelos números da nossa sinistralidade rodoviária.
Em França, na famosa «estrada da morte» dos emigrantes portugueses, lembro-me de ter ficado impressionado com as silhuetas negras, representando cada uma um morto: as crianças como silhuetas mais pequenas pela mão das silhuetas maiores. Aqui em Portugal ainda é costume deixar ramos de flores e alminhas nos locais dos acidentes. No Alentejo vêem-se dezenas. Miguel Sousa Tavares, que vai lá caçar, já os deve ter visto nas bermas e atados às árvores. Mas, para estas coisas, tal como com os avisos no tabaco, sempre se inventam tapa-olhos.
Dizem as estatísticas que os portugueses são pacíficos, mas na estrada, protegidos por uma carapaça metálica, parece que se modificam. São fanfarrões, desconexos e imprevisíveis. Talvez seja um dos traços infantis da sua personalidade, que as estatísticas também dizem existir [2]. E tal como com as crianças, a educação cívica e a repressão têm de ser coerentes. Não se pode dizer uma coisa e fazer outra. Os governantes deveriam ser os primeiros a dar o exemplo. Os instrutores das escolas de condução também. Os pais também. Todos deveriamos ser exemplos para todos.
Por outro lado, a polícia deveria passar multas por excesso de velocidade sempre e não só às vezes. Deveriam existir câmaras de vigilância claramente assinaladas nas estradas e nas ruas mais problemáticas, certamente mais do que nas escolas e parques públicos cada vez mais transformados em panópticos. Tal como não aceitamos que os cidadãos se passeiem com metralhadoras ou granadas, não podemos aceitar pessoas a conduzir como assassinos. Se nos aeroportos aceitamos todo o tipo de vigilâncias porque não as poderemos aceitar nas estradas?
Em vez de delirarmos que os outros condutores e a polícia nos perseguem e nos querem aborrecer por que não sonharmos que será com a nossa tranquilidade e o nosso pequeno e individual esforço que haverá paz nesta guerra civil das estradas portuguesas.
[1] Os jogos e os homens Roger Caillois (Cotovia, Lisboa,1990).
[2] Portugal Europeu? José Gabriel Pereira Bastos (Celta, Oeiras, 2000).
Na cidade, em particular, é uma estupidez conduzir com velocidade. Pode demorar-se 23 segundos para fazer 500 metros a 80 km por hora para depois estar 15 minutos para fazer outros 500 metros num engarrafamento e a média das velocidades fica 41 km por hora. É preferível andar a uma velocidade razoável e conduzir de forma descontraída, embora atenta, pois os engarrafamentos são muitas vezes provocados pelos excessos dos condutores com pressa. E, de facto, dizem as estatísticas a velocidade média numa grande cidade é, em geral, inferior a 20 km por hora. Além disso, em geral, ultrapassa-se de forma tresloucada um condutor mais lento para se ficar dois ou três carros mais à frente na fila. Basta observar o trânsito com atenção para verificar isso. Pressa para quê?
E esta discussão até que seria fácil se se tratasse apenas de um problema de argumentação racional. Mas do que se trata aqui é da vertigem e da adrenalina, do Ilix de que fala Roger Caillois [1]. Daquilo que liga a criança que gira até ficar tonta ao adulto que acelera na auto-estrada: o prazer do perigo. Os vendedores de carros sabem-no bem e por isso não vendem automóveis mas sim, potência, condução desportiva, acelerações dos zeros aos cem, ao mesmo tempo que prometem segurança. O prazer do perigo, a vertigem da velocidade pode tornar-se numa espécie de vício. E quando se trata de vícios surgem as explicações supostamente racionais. Lembro-me de as ter ouvido a propósito dos perigos do uso do cinto de segurança há uns anos atrás.
Miguel Sousa Tavares (MST) traz-nos o cansado argumento do sono. O Nuno já mostrou, e muito bem, levando a discussão para um plano mais geral e racional, que MST não tem razão. Por isso, talvez nem valesse a pena argumentar directamente contra o argumento do sono, mas, como este argumento é recorrente, talvez valha a pena fazê-lo. Antes de mais, devo dizer que nas auto-estradas da Suíça circulei em filas quase compactas a 120 km por hora e não me lembro de ter tido sono algum. Pelo contrário, a circulação era fluída por não haver, como em Portugal, uma mistura caótica de aceleras que circulam muitas vezes pela esquerda e que ocasionalmente ultrapassam pela direita. Por outro lado, deve clarificar-se que o argumento do sono se baseia na extrapolação de estudos sobre a diminuição da atenção durante a realização de actividades monótonas. E se a recomendação de se fazer pausas na condução pelo menos de duas em duas horas faz todo o sentido, o argumento do sono é absurdo pois a melhor forma de combater o cansaço é certamente repousar e não acelerar o carro. Finalmente, um argumento idêntico pode ser apresentado acerca da velocidade e da condução não monótona. Com a euforia e a vertigem provocadas pela velocidade e pelas manobras bruscas, as quais só podem aumentar o cansaço e o stress, muitos condutores poderão deixar de sentir o cansaço natural que os levaria a parar para descansar, e poderão atingir um estado de delírio e perda de noção da realidade, o que é bem mais perigoso.
E já que falo de delírios: devemos combatê-los. Os super-condutores incansáveis e resistentes ao álcool que que muitos portugueses julgam ser é desmentido pelos números da nossa sinistralidade rodoviária.
Em França, na famosa «estrada da morte» dos emigrantes portugueses, lembro-me de ter ficado impressionado com as silhuetas negras, representando cada uma um morto: as crianças como silhuetas mais pequenas pela mão das silhuetas maiores. Aqui em Portugal ainda é costume deixar ramos de flores e alminhas nos locais dos acidentes. No Alentejo vêem-se dezenas. Miguel Sousa Tavares, que vai lá caçar, já os deve ter visto nas bermas e atados às árvores. Mas, para estas coisas, tal como com os avisos no tabaco, sempre se inventam tapa-olhos.
Dizem as estatísticas que os portugueses são pacíficos, mas na estrada, protegidos por uma carapaça metálica, parece que se modificam. São fanfarrões, desconexos e imprevisíveis. Talvez seja um dos traços infantis da sua personalidade, que as estatísticas também dizem existir [2]. E tal como com as crianças, a educação cívica e a repressão têm de ser coerentes. Não se pode dizer uma coisa e fazer outra. Os governantes deveriam ser os primeiros a dar o exemplo. Os instrutores das escolas de condução também. Os pais também. Todos deveriamos ser exemplos para todos.
Por outro lado, a polícia deveria passar multas por excesso de velocidade sempre e não só às vezes. Deveriam existir câmaras de vigilância claramente assinaladas nas estradas e nas ruas mais problemáticas, certamente mais do que nas escolas e parques públicos cada vez mais transformados em panópticos. Tal como não aceitamos que os cidadãos se passeiem com metralhadoras ou granadas, não podemos aceitar pessoas a conduzir como assassinos. Se nos aeroportos aceitamos todo o tipo de vigilâncias porque não as poderemos aceitar nas estradas?
Em vez de delirarmos que os outros condutores e a polícia nos perseguem e nos querem aborrecer por que não sonharmos que será com a nossa tranquilidade e o nosso pequeno e individual esforço que haverá paz nesta guerra civil das estradas portuguesas.
[1] Os jogos e os homens Roger Caillois (Cotovia, Lisboa,1990).
[2] Portugal Europeu? José Gabriel Pereira Bastos (Celta, Oeiras, 2000).
domingo, dezembro 28
Porque é que o excesso de velocidade é importante?
[Este post vem na sequência dos outros dois abaixo. A lista não é exaustiva.]
1. Porque aumenta a gravidade dos acidentes. A perigosidade de um acidente aumenta com a velocidade a que se conduz. Se chocarmos contra um poste a 60 km/h, a energia cinética transferida no acidente é 4 vezes maior do que se tivéssemos chocado a 30 km/h. A quantidade de movimento é 2 vezes maior e é também determinante para a gravidade do acidente.
Se chocarmos com um carro que vai a uma velocidade diferente do nosso, o que importa é a velocidade relativa (diferença de velocidade dos dois veículos). Neste texto, coloco-me no ponto de vista do condutor que vê todos os objectos (asfalto, postes, árvores, peões, veículos, etc) em movimento relativamente a ele. Chamo “velocidade” à velocidade dos diferentes objectos relativamente ao carro.
2. Porque faz diminuir o tempo que temos para ver o que se passa em redor. Ou seja, é um dos factores que aumenta o risco de acidente. Esse tempo é crucial para podermos identificar todos os objectos que se movem em nossa direcção a nós, prever as suas trajectórias, decidir eventuais correcções na nossa condução e manter alguma tolerância contra imprevistos. Se conduzimos mais depressa, começamos a perder a capacidade de analisar e prever todas as situações, o que tem um efeito análogo a estar distraído na condução ou a falar ao telemóvel. Com a agravante do choque ser mais grave a maior velocidade!
3. Porque temos um tempo de reacção finito. Não reagimos instantaneamente aos estímulos exteriores: sentimos, pensamos, só depois agimos. Isto demora algum tempo. Durante esse tempo os objectos movem-se relativamente a nós, se forem demasiado depressa pode ser tarde demais. Aumentando a velocidade, a distância de reacção (distância percorrida até começarmos a agir) aumenta na proporção directa.
4. Porque os outros também têm menos tempo para reagir à nossa velocidade. Este factor é frequentemente esquecido pelos condutores. Num entroncamento com má visibilidade por exemplo, pode tornar-se virtualmente impossível entrar-se nele sem chocar se nesse momento aparecer um outro condutor em excesso de velocidade. Confia-se na sorte. Pode funcionar em casos isolados, mas não com os grandes números...
5. Porque faz aumentar a distância de travagem (=distância até conseguirmos parar o carro).
6. Porque como a distância de travagem é maior, o número de obstáculos percorridos também o é (imagine-se o caso de um despiste).
7. Porque faz aumentar a velocidade de impacto (velocidade a que se choca se o obstáculo estiver a uma distância inferior à distância de travagem).
8. Porque faz aumentar a instabilidade do carro. Em caso de acidente isto é crucial. Aumenta a instabilidade na travagem, a probabilidade de capotamento...
9. Porque diminui a capacidade de manobrar o carro. Desviar-se de um obstáculo a 20 km/h é completamente diferente de fazê-lo a 60 km/h... idem a 120 ou 160 km/h. Quanto maior a velocidade, maior é o raio das menores curvas que conseguimos dar em condições de segurança.
10. Porque se em média todos andarmos mais devagar, em média haverá menos acidentes e estes serão menos graves.
11. Porque é um critério objectivo, utilizável para multar, tendo um efeito dissuasivo sobre os condutores. E como meio de prevenção é extremamente eficaz: em fila, basta que alguns condutores diminuam a velocidade para os aceleras também terem de conduzir mais devagar, reduzindo-se a probabilidade e a gravidade média dos acidentes. Naturalmente, não seria bom se com a redução de velocidade se estimulasse as ultrapassagens, pelo que o ideal é criar uma cultura de responsabilidade e de risco nas pessoas, para que a grande maioria delas e não apenas uns poucos reduzam a velocidade.
12. Porque consumimos muito mais combustível e gastamos muito mais dinheiro. Uma mesma viagem fica mais cara, mais perigosa e mais poluidora se formos depressa. No entanto, teimamos em exceder os limites de velocidade. Então como é isto? Barafustamos quando sobem o preço do combustível e depois queimamos dinheiro por conduzir em excesso de velocidade? E o protocolo de Quioto? Que tal começarmos a fazer nós próprios também qualquer coisa, agir em nossa casa/carro, em vez de só barafustar contra os outros? Que tal começarmos já hoje a cumprir o nosso protocolo de Quioto pessoal?
1. Porque aumenta a gravidade dos acidentes. A perigosidade de um acidente aumenta com a velocidade a que se conduz. Se chocarmos contra um poste a 60 km/h, a energia cinética transferida no acidente é 4 vezes maior do que se tivéssemos chocado a 30 km/h. A quantidade de movimento é 2 vezes maior e é também determinante para a gravidade do acidente.
Se chocarmos com um carro que vai a uma velocidade diferente do nosso, o que importa é a velocidade relativa (diferença de velocidade dos dois veículos). Neste texto, coloco-me no ponto de vista do condutor que vê todos os objectos (asfalto, postes, árvores, peões, veículos, etc) em movimento relativamente a ele. Chamo “velocidade” à velocidade dos diferentes objectos relativamente ao carro.
2. Porque faz diminuir o tempo que temos para ver o que se passa em redor. Ou seja, é um dos factores que aumenta o risco de acidente. Esse tempo é crucial para podermos identificar todos os objectos que se movem em nossa direcção a nós, prever as suas trajectórias, decidir eventuais correcções na nossa condução e manter alguma tolerância contra imprevistos. Se conduzimos mais depressa, começamos a perder a capacidade de analisar e prever todas as situações, o que tem um efeito análogo a estar distraído na condução ou a falar ao telemóvel. Com a agravante do choque ser mais grave a maior velocidade!
3. Porque temos um tempo de reacção finito. Não reagimos instantaneamente aos estímulos exteriores: sentimos, pensamos, só depois agimos. Isto demora algum tempo. Durante esse tempo os objectos movem-se relativamente a nós, se forem demasiado depressa pode ser tarde demais. Aumentando a velocidade, a distância de reacção (distância percorrida até começarmos a agir) aumenta na proporção directa.
4. Porque os outros também têm menos tempo para reagir à nossa velocidade. Este factor é frequentemente esquecido pelos condutores. Num entroncamento com má visibilidade por exemplo, pode tornar-se virtualmente impossível entrar-se nele sem chocar se nesse momento aparecer um outro condutor em excesso de velocidade. Confia-se na sorte. Pode funcionar em casos isolados, mas não com os grandes números...
5. Porque faz aumentar a distância de travagem (=distância até conseguirmos parar o carro).
6. Porque como a distância de travagem é maior, o número de obstáculos percorridos também o é (imagine-se o caso de um despiste).
7. Porque faz aumentar a velocidade de impacto (velocidade a que se choca se o obstáculo estiver a uma distância inferior à distância de travagem).
8. Porque faz aumentar a instabilidade do carro. Em caso de acidente isto é crucial. Aumenta a instabilidade na travagem, a probabilidade de capotamento...
9. Porque diminui a capacidade de manobrar o carro. Desviar-se de um obstáculo a 20 km/h é completamente diferente de fazê-lo a 60 km/h... idem a 120 ou 160 km/h. Quanto maior a velocidade, maior é o raio das menores curvas que conseguimos dar em condições de segurança.
10. Porque se em média todos andarmos mais devagar, em média haverá menos acidentes e estes serão menos graves.
11. Porque é um critério objectivo, utilizável para multar, tendo um efeito dissuasivo sobre os condutores. E como meio de prevenção é extremamente eficaz: em fila, basta que alguns condutores diminuam a velocidade para os aceleras também terem de conduzir mais devagar, reduzindo-se a probabilidade e a gravidade média dos acidentes. Naturalmente, não seria bom se com a redução de velocidade se estimulasse as ultrapassagens, pelo que o ideal é criar uma cultura de responsabilidade e de risco nas pessoas, para que a grande maioria delas e não apenas uns poucos reduzam a velocidade.
12. Porque consumimos muito mais combustível e gastamos muito mais dinheiro. Uma mesma viagem fica mais cara, mais perigosa e mais poluidora se formos depressa. No entanto, teimamos em exceder os limites de velocidade. Então como é isto? Barafustamos quando sobem o preço do combustível e depois queimamos dinheiro por conduzir em excesso de velocidade? E o protocolo de Quioto? Que tal começarmos a fazer nós próprios também qualquer coisa, agir em nossa casa/carro, em vez de só barafustar contra os outros? Que tal começarmos já hoje a cumprir o nosso protocolo de Quioto pessoal?
Sinistralidade: baralhemos as ideias e tornemos a dar.
1. Esqueçamos por momentos os chavões usados pelos média para as causas da sinistralidade: excessos de velocidade, embriaguez, manobra perigosa, etc. Pensemos antes que o que causa o acidente é o imprevisto: há acidentes porque os condutores, que não estão interessados em tê-los, não foram capazes de os impedir. O imprevisto surge por exemplo porque o carro da frente seguiu uma trajectória esquisita com que não contávamos, ou porque o buraco apareceu de repente, vimo-lo mas não previmos a nossa incapacidade de o contornar, ou porque estávamos perdidos de bêbados e fomos surpreendidos pela posição da árvore, etc. Se pudéssemos prever a tempo o acidente, tudo teríamos feito para o evitar, certo?
2. Esqueçamos o nosso caso particular. Pensemos antes em todos os carros que circulam neste momento em Portugal, na imensidão dos grandes números: uns milhares de pessoas a conduzir enquanto falam ao telemóvel, uns largos milhares de peões a andar pelo meio da estrada porque não têm passeios enquanto incontáveis condutores guiam a velocidades 30 km/h acima da máxima, etc. Não pensemos na pequena probabilidade de uma criança aparecer neste momento à frente do nosso carro: pensemos antes nas dezenas ou centenas que aparecem todos os dias em frente de todos os automobilistas de Portugal. Os grandes números dão-nos quase certezas: prevejo que teremos mais de 1000 mortos nas estradas em Portugal no próximo ano e infelizmente quase de certeza é o que vai acontecer. Na Holanda, a velocidade média baixou de 111 km/h para 104 km/h em certas vias quando se aumentou a fiscalização, levando a que 80 milhões de litros de combustível fossem poupados [ref.]. Por cada bocadinho ínfimo que a velocidade média de condução baixa em Portugal, é de esperar que a gravidade média dos acidentes diminua, assim como o seu número.
3. Esqueçamos que estamos em movimento quando estamos a conduzir. Mudemos de perspectiva: nós estamos parados no carro, tudo o resto se move à nossa volta. Árvores, postes, rails. Quanto mais pisamos no acelerador, mais depressa estes objectos se movem contra nós. O objectivo é não chocar contra nada. Temos de ir pelo asfalto, que está mais desimpedido... a não ser que haja veículos à nossa frente, peões ou animais a atravessar.
Os peões movem-se quase à mesma velocidade dos postes com a diferença que andam também de lado e são muito mais imprevisíveis. Os veículos, altamente imprevisíveis, estão parados à nossa frente se forem à nossa velocidade. É a situação ideal: dá-nos tempo de sobra para reagir, sobretudo se estivermos longe deles. Se formos mais devagar do que eles, até se afastam, mas assim aproximam-se os que vêm atrás de nós, não serve. O ideal mesmo é irmos todos à mesma velocidade (parados uns em relação aos outros), a uma distância confortável, e todos a baixa velocidade!
2. Esqueçamos o nosso caso particular. Pensemos antes em todos os carros que circulam neste momento em Portugal, na imensidão dos grandes números: uns milhares de pessoas a conduzir enquanto falam ao telemóvel, uns largos milhares de peões a andar pelo meio da estrada porque não têm passeios enquanto incontáveis condutores guiam a velocidades 30 km/h acima da máxima, etc. Não pensemos na pequena probabilidade de uma criança aparecer neste momento à frente do nosso carro: pensemos antes nas dezenas ou centenas que aparecem todos os dias em frente de todos os automobilistas de Portugal. Os grandes números dão-nos quase certezas: prevejo que teremos mais de 1000 mortos nas estradas em Portugal no próximo ano e infelizmente quase de certeza é o que vai acontecer. Na Holanda, a velocidade média baixou de 111 km/h para 104 km/h em certas vias quando se aumentou a fiscalização, levando a que 80 milhões de litros de combustível fossem poupados [ref.]. Por cada bocadinho ínfimo que a velocidade média de condução baixa em Portugal, é de esperar que a gravidade média dos acidentes diminua, assim como o seu número.
3. Esqueçamos que estamos em movimento quando estamos a conduzir. Mudemos de perspectiva: nós estamos parados no carro, tudo o resto se move à nossa volta. Árvores, postes, rails. Quanto mais pisamos no acelerador, mais depressa estes objectos se movem contra nós. O objectivo é não chocar contra nada. Temos de ir pelo asfalto, que está mais desimpedido... a não ser que haja veículos à nossa frente, peões ou animais a atravessar.
Os peões movem-se quase à mesma velocidade dos postes com a diferença que andam também de lado e são muito mais imprevisíveis. Os veículos, altamente imprevisíveis, estão parados à nossa frente se forem à nossa velocidade. É a situação ideal: dá-nos tempo de sobra para reagir, sobretudo se estivermos longe deles. Se formos mais devagar do que eles, até se afastam, mas assim aproximam-se os que vêm atrás de nós, não serve. O ideal mesmo é irmos todos à mesma velocidade (parados uns em relação aos outros), a uma distância confortável, e todos a baixa velocidade!
sábado, dezembro 27
MST e os excessos de velocidade
Pela 2ª vez em 15 dias, Miguel Sousa Tavares (MST) escreve no Público artigos criticando a importância que as autoridades dão ao excesso de velocidade como causa de acidentes. Concordo com ele em parte: também não gosto da forma simplista como se diz que X acidentes da estrada foram causados por excesso de velocidade, quando há uma tão grande variedade de possíveis causas e quando algumas podem ocorrer em simultâneo. No entanto, apesar de concordar com MST nesse ponto, não desvalorizo como ele faz o problema do excesso de velocidade. Este é um problema maior da sinistralidade rodoviária e penso que a diminuição da velocidade média de condução em Portugal reduziria a estatística de acidentes drasticamente. Não é o único factor, é evidente, mas é um dos principais.
Peguemos neste excerto do artigo de 12 de Dezembro, onde MST argumenta contra as multas por excesso de velocidade:
“O excesso de velocidade é apenas um factor de má condução. E é um factor subjectivo, que varia de condutor para condutor, de carro para carro, de piso para piso. Há condutores bem mais perigosos a 60 do que outros a 120, assim como há estradas nacionais bem mais perigosas a 90 do que qualquer auto-estrada a 120. Aliás, tenho a certeza de que, se fosse realmente possível obrigar todos os condutores a não ultrapassar os 120 regulamentares da auto-estrada, o número de acidentes aumentaria, porque a circulação se tornaria mais compacta e entrariam em jogo os dois principais factores de risco numa auto-estrada: a distracção e o sono.”
Eu não tenho as certezas que MST tem. Parece-me que o risco associado ao excesso de velocidade é que pode ser variável consoante as condições do condutor, do carro, do piso. O excesso de velocidade em si é algo de objectivo: sabe-se o limite, mede-se a velocidade e se o condutor o excedeu está em infracção. O excesso de velocidade é algo que a polícia pode objectivamente saber, ao contrário do risco associado, e ao multá-lo, está a contribuir para a redução de um risco não só no condutor multado, mas sobretudo nos condutores com quem este se iria cruzar e nos que são dissuadidos por haver quem multe esta infracção.
MST não gosta que se multe por excesso de velocidade, mas já concorda que se multe noutras situações:
“[...] o importante não é registar quantas vezes é que se estacionou mal, se passou o semáforo limitativo de velocidade das povoações ou quantas vezes se excederam os 120 km/ hora numa auto-estrada, se com isso não se cometeu qualquer manobra perigosa nem se deu causa a acidentes. O importante é perseguir, autuar e registar como condutores perigosos os que circulam com pneus "carecas", os que não apagam os máximos quando se cruzam com outros carros, os que param, sem sinalização e em plena faixa de rodagem de uma estrada, à saída de uma curva, para irem apanhar cogumelos, os que ultrapassam pela berma numa fila, os que aceleram deliberadamente para que o carro que acabou de os ultrapassar não possa retomar a sua via em segurança, os que acham que não pôr o cinto de segurança é sinal de coragem machista.”
Porquê dois pesos e duas medidas? Porque é que MST acha perigoso andar-se com pneus carecas ou com máximos mas já não se exalta da mesma forma contra o excesso de velocidade? (a resposta, presumo, é porque ele anda sistematicamente em excesso de velocidade.) Mas o que tem de especial o risco do excesso de velocidade para que MST o descrimine relativamente aos outros? Aparentemente é a sua “subjectividade”? Mas o risco associado a conduzir pneus carecas não depende também do condutor, do carro, do piso? E a suposta “subjectividade” é um critério discriminatório de riscos que deva ser tido em conta? Não me parece.
Ao contrário de MST, eu acho que todos os riscos devem ser reduzidos, incluindo os associados ao excesso de velocidade. Se começamos a arranjar desculpas para certos casos, dizendo que outros são piores, estamos a cair no erro que me parece ser um dos mais repetidos no nosso país: o de querermos desculpar um mal com outro mal. Tudo estaria desculpado, pois males não nos faltam.
Peguemos neste excerto do artigo de 12 de Dezembro, onde MST argumenta contra as multas por excesso de velocidade:
“O excesso de velocidade é apenas um factor de má condução. E é um factor subjectivo, que varia de condutor para condutor, de carro para carro, de piso para piso. Há condutores bem mais perigosos a 60 do que outros a 120, assim como há estradas nacionais bem mais perigosas a 90 do que qualquer auto-estrada a 120. Aliás, tenho a certeza de que, se fosse realmente possível obrigar todos os condutores a não ultrapassar os 120 regulamentares da auto-estrada, o número de acidentes aumentaria, porque a circulação se tornaria mais compacta e entrariam em jogo os dois principais factores de risco numa auto-estrada: a distracção e o sono.”
Eu não tenho as certezas que MST tem. Parece-me que o risco associado ao excesso de velocidade é que pode ser variável consoante as condições do condutor, do carro, do piso. O excesso de velocidade em si é algo de objectivo: sabe-se o limite, mede-se a velocidade e se o condutor o excedeu está em infracção. O excesso de velocidade é algo que a polícia pode objectivamente saber, ao contrário do risco associado, e ao multá-lo, está a contribuir para a redução de um risco não só no condutor multado, mas sobretudo nos condutores com quem este se iria cruzar e nos que são dissuadidos por haver quem multe esta infracção.
MST não gosta que se multe por excesso de velocidade, mas já concorda que se multe noutras situações:
“[...] o importante não é registar quantas vezes é que se estacionou mal, se passou o semáforo limitativo de velocidade das povoações ou quantas vezes se excederam os 120 km/ hora numa auto-estrada, se com isso não se cometeu qualquer manobra perigosa nem se deu causa a acidentes. O importante é perseguir, autuar e registar como condutores perigosos os que circulam com pneus "carecas", os que não apagam os máximos quando se cruzam com outros carros, os que param, sem sinalização e em plena faixa de rodagem de uma estrada, à saída de uma curva, para irem apanhar cogumelos, os que ultrapassam pela berma numa fila, os que aceleram deliberadamente para que o carro que acabou de os ultrapassar não possa retomar a sua via em segurança, os que acham que não pôr o cinto de segurança é sinal de coragem machista.”
Porquê dois pesos e duas medidas? Porque é que MST acha perigoso andar-se com pneus carecas ou com máximos mas já não se exalta da mesma forma contra o excesso de velocidade? (a resposta, presumo, é porque ele anda sistematicamente em excesso de velocidade.) Mas o que tem de especial o risco do excesso de velocidade para que MST o descrimine relativamente aos outros? Aparentemente é a sua “subjectividade”? Mas o risco associado a conduzir pneus carecas não depende também do condutor, do carro, do piso? E a suposta “subjectividade” é um critério discriminatório de riscos que deva ser tido em conta? Não me parece.
Ao contrário de MST, eu acho que todos os riscos devem ser reduzidos, incluindo os associados ao excesso de velocidade. Se começamos a arranjar desculpas para certos casos, dizendo que outros são piores, estamos a cair no erro que me parece ser um dos mais repetidos no nosso país: o de querermos desculpar um mal com outro mal. Tudo estaria desculpado, pois males não nos faltam.
quarta-feira, dezembro 24
A incerteza do Pai Natal
Ele vem, não se preocupem. E existe. Mas as cores dele vieram da Coca-Cola ou não?
Em todo caso, votos de um Feliz Natal.
Em todo caso, votos de um Feliz Natal.
segunda-feira, dezembro 22
I Don't Believe in the Sun
They say there's a sun in the sky
but me, I can't imagine why
There might have been one
before you were gone
but now all I see is the night, so
I don't believe in the sun
How could it shine down on everyone
and never shine on me
How could there be
such cruelty.
The only sun I ever knew
was the beautiful one that was you
Since you went away
it's nighttime all day
and it's usually raining too
The only stars there really are
were shining in your eyes
There is no sun except the one
that never shone on other guys
The moon to whom the poets croon
has given up and died
Astronomy will have to be revised
The Magnetic Fields
but me, I can't imagine why
There might have been one
before you were gone
but now all I see is the night, so
I don't believe in the sun
How could it shine down on everyone
and never shine on me
How could there be
such cruelty.
The only sun I ever knew
was the beautiful one that was you
Since you went away
it's nighttime all day
and it's usually raining too
The only stars there really are
were shining in your eyes
There is no sun except the one
that never shone on other guys
The moon to whom the poets croon
has given up and died
Astronomy will have to be revised
The Magnetic Fields
69 formas de ver o amor
Hoje vinha a ouvir os Magnetic Fields ("69 love songs") no carro. Um triplo CD com 69 maneiras de se cantar o amor, frequentemente deliciosamente naive, despretenciosas, irónicas, poéticas, divertidas... Andava com saudades deles, soube bem.
"Caution: to prevent electric shock
do not remove cover
No user-serviceable parts inside
Refer servicing to qualified
service personnel"
Let this be the epitaph for my heart
Cupid put too much poison in the dart
This is the epitaph for my heart
because it's gone, gone, gone
and life goes on and on anon
and death goes on, world without end
and you're not my friend
Who will mourn the passing of my heart
Will its little droppings climb the pop chart
Who'll take its ashes and, singing, fling
them from the top of the Brill Building
And life goes on, and dawn, and dawn
and death goes on, world without end
and you're not my friend
The Magnetic Fields (Epitaph for my heart)
"Caution: to prevent electric shock
do not remove cover
No user-serviceable parts inside
Refer servicing to qualified
service personnel"
Let this be the epitaph for my heart
Cupid put too much poison in the dart
This is the epitaph for my heart
because it's gone, gone, gone
and life goes on and on anon
and death goes on, world without end
and you're not my friend
Who will mourn the passing of my heart
Will its little droppings climb the pop chart
Who'll take its ashes and, singing, fling
them from the top of the Brill Building
And life goes on, and dawn, and dawn
and death goes on, world without end
and you're not my friend
The Magnetic Fields (Epitaph for my heart)
domingo, dezembro 21
o saber é infinito
Estamos em 1910, 20 ou 30 e as bases e todo o edifício da física clássica e relativística está acabado e dura até hoje. Um grande maestro, Albert Einstein, pôde reunir numa mesma ópera magistral todas as peças, todas as pautas, até aí dispersas e traçando ainda novas novas onde antes só havia as pausas da incompreensão.
A revolução industrial é já um dado seguro, segue a bom ritmo em aceleração constante, todos os anos é construído o arranha-céus mais alto, carro mais rápido, navio maior, electrodoméstico da roupa, louça, café, torradas. Os feitos tecnológicos deixam marcas naturalemente indeléveis mas também muito mediáticas, as ondas hertzianas, o rádio, TV, telex, o motor a jacto, os telecópios, a conquista do espaço.
Os avanços tecnológicos potenciam por sua vez, dando uma plataforma de segurança, numerosas descobertas notáveis noutros ramos do saber. Tudo nos conduz a uma fé cega na ciência e tecnologia com os factos do passado e presente e uma esperança, uma certeza pelo futuro.
A ideia de mundo, de universo assim edificado permitia que se escrevesse uma equação para cada partícula do universo, uma convolução de operações matemáticas para cada acção ou inter-acção e teríamos ao dispor, traçado em gráfico de poster de papel, toda a história de cada partícula. Com ela toda a história passada e futura de cada corpo e de cada ser estão determinados, pré-destinados. É só uma questão de esperar, ter paciência, de algum modo, alguém fará a convolução de tantas equações. É só uma questão de esperar e de ter esperança de cálculos de certezas no futuro e saberemos toda a história passada e futura. O resultado mais surpreendente deste modelo do mundo natural é ainda outro. É ter-se a dimensão exacta do que não se sabe, a certeza de vir a saber tudo. A resposta à dúvida para onde vamos? e ao mesmo tempo a negação científica e matemática de qualquer fé que não possa ser mostrada em gráfico de poster de papel. Ou, pôde-se acreditar que o saber era finito.
Felizmente, o que posso eu dizer, felizmente, por acaso, a história nao acaba assim. Durante as mesmas décadas outros surgiram, uma nova teoria tomou forma a partir de pequenos volumes de incerteza — a mecânica quântica. Um gato de Schrödinger ficou famoso, o acaso passou a ter um papel de decisão, o saber pôde-se entender infinito, há um lugar, um volume de incerteza onde cabe a fé, não sabemos para onde vamos.
Estranhamente, 70 anos depois e apesar das teses contrárias, é a fé cega na ciência e tecnologia, a crença nas verdades absolutas e em que tudo se pode ou poderá corrigir, é esta a ideia que arriscadamente mais vinga. O centro das coisas devia ser o saber e não o homem. Não sei para onde iremos.
A revolução industrial é já um dado seguro, segue a bom ritmo em aceleração constante, todos os anos é construído o arranha-céus mais alto, carro mais rápido, navio maior, electrodoméstico da roupa, louça, café, torradas. Os feitos tecnológicos deixam marcas naturalemente indeléveis mas também muito mediáticas, as ondas hertzianas, o rádio, TV, telex, o motor a jacto, os telecópios, a conquista do espaço.
Os avanços tecnológicos potenciam por sua vez, dando uma plataforma de segurança, numerosas descobertas notáveis noutros ramos do saber. Tudo nos conduz a uma fé cega na ciência e tecnologia com os factos do passado e presente e uma esperança, uma certeza pelo futuro.
A ideia de mundo, de universo assim edificado permitia que se escrevesse uma equação para cada partícula do universo, uma convolução de operações matemáticas para cada acção ou inter-acção e teríamos ao dispor, traçado em gráfico de poster de papel, toda a história de cada partícula. Com ela toda a história passada e futura de cada corpo e de cada ser estão determinados, pré-destinados. É só uma questão de esperar, ter paciência, de algum modo, alguém fará a convolução de tantas equações. É só uma questão de esperar e de ter esperança de cálculos de certezas no futuro e saberemos toda a história passada e futura. O resultado mais surpreendente deste modelo do mundo natural é ainda outro. É ter-se a dimensão exacta do que não se sabe, a certeza de vir a saber tudo. A resposta à dúvida para onde vamos? e ao mesmo tempo a negação científica e matemática de qualquer fé que não possa ser mostrada em gráfico de poster de papel. Ou, pôde-se acreditar que o saber era finito.
Felizmente, o que posso eu dizer, felizmente, por acaso, a história nao acaba assim. Durante as mesmas décadas outros surgiram, uma nova teoria tomou forma a partir de pequenos volumes de incerteza — a mecânica quântica. Um gato de Schrödinger ficou famoso, o acaso passou a ter um papel de decisão, o saber pôde-se entender infinito, há um lugar, um volume de incerteza onde cabe a fé, não sabemos para onde vamos.
Estranhamente, 70 anos depois e apesar das teses contrárias, é a fé cega na ciência e tecnologia, a crença nas verdades absolutas e em que tudo se pode ou poderá corrigir, é esta a ideia que arriscadamente mais vinga. O centro das coisas devia ser o saber e não o homem. Não sei para onde iremos.
sexta-feira, dezembro 19
pequenas flores coloridas
Choveu. À luz fria e limpa da manhã guardo em tons de preto um breve momento. Quase só vejo as costas dos prédios, só estão pintadas se sobrou tinta do espelho, mostram os vasos em estágio ou sem orgulho, a roupa que aproveita aquela luz, alguns trastes velhos, construções engraçadas e inverosímeis feitas com um tanto de caos e outro tanto de fins perdidos. A esta hora só aparecem mulheres de mãos ocupadas vestidas com batas de fundo escuro vermelho ou azul e pequenas flores coloridas, são invisíveis e só destoam nos prédios de costas pintadas. Por entre dois prédios mal encostados vejo o outro lado da rua, há mais luz lá mas só se vê pouco mais do que uma porta aberta por onde entram pessoas e vozes. Distraído procuro ouví-las, inclino de lado a cabeça e deparo com uns olhos que sorriem sobranceiramente ao meu registo. Quando ouço chamar o meu nome a imagem diluí-se até ficar em tons suaves de branco, mal tenho tempo de a lembrar. Olho para o quadro e ouço um grito, uma inspiração e um suspiro, vindos de um só ponto. Depois um grito, uma inspiraçao e um suspiro mais pequenos, parecem vir do mesmo ponto. Quando volto a olhar para o quadro já está pintado, a cor certa em cada tom de branco.
terça-feira, dezembro 16
Post espiritual (como o bacalhau)
Fazer compras no Pingo Doce a ouvir o "Stairway to Heaven" (Led Zeppelin) cantado em gregoriano ("Oooooooooooooooooh it maaakes meee woooooooonnndeeeeeeeeeeeeer......") é de chamar pelo Gregório. Só me faltava estar numa escada rolante de acesso à catedral do consumo.
segunda-feira, dezembro 15
As bombas realmente inteligentes
São as pessoas. Aquelas que se amarram a bombas ou que guiam carros cheios de explosivos ou que chocam aviões contra prédios.
As bombas realmente inteligentes são, infelizmente para nós, a tecnologia de guerra mais avançada que existe à face da Terra. São incomensuravelmente mais sofisticadas do que as bombas inteligentes dos americanos, por exemplo. Conseguem levar o explosivo precisamente até ao ponto de impacto desejado, de uma forma invisível, imprevisível até aos últimos segundos, como nenhuma outra arma. Não é possível proteger todos os possíveis alvos de terrorismo contra pessoas que, de sua livre e espontânea vontade, decidem morrer por uma causa, por muito absurda que seja. Não temos técnicas que possam estar em todo o lado que permitam saber se um carro ou uma pessoa em movimento vai carregado de explosivos. E mesmo que tivéssemos, seria extremamente improvável conseguir agir a tempo de impedir o pior.
O 11 de Setembro mostrou que as armas realmente inteligentes conseguem atacar de forma devastadora tanto no centro do poder económico internacional como no coração dos serviços secretos da maior potência mundial. A guerra do Iraque demostrou que as armas realmente inteligentes resistem, na realidade até se multiplicam, quando são confrontadas com os mais avançados exércitos do mundo. E sempre soubemos que não adianta muito desenvolvermos novas armas, pois elas podem ser sempre voltadas contra nós.
As armas realmente inteligentes pensam. São praticamente indistinguíveis do cidadão comum. São capazes de transformar uma pessoa numa bomba realmente inteligente. Usam as ideias para isso. Por isso o que é necessário é lutar contra essas ideias. Como, não sei. Mas sei que não é com ideias de plástico, com desinformação, com aparências, com enganos e com erros.
Não sei de nada que se possa usar que possa vencer as armas realmente inteligentes. Talvez só mesmo a opressão, a perda de privacidade, o blackout informativo total (*), tudo armas felizmente inacessíveis em sociedades livres e democráticas.
É óptimo que Saddam tenha sido apanhado. Mas não nos enganemos, o problema mantém-se: não temos solução para as bombas realmente inteligentes.
[ Adenda, em 15-12-03, para clarificar este ponto (*). Se fosse possível haver um blackout informativo que impedisse que fossem noticiados os atentados, mais tarde ou mais cedo eles acabariam. Os atentados existem para chamar a atenção do público para as causas dos terroristas. O objectivo é ser-se noticiado. As mortes são o meio mais eficaz de se atingir esse objectivo.]
As bombas realmente inteligentes são, infelizmente para nós, a tecnologia de guerra mais avançada que existe à face da Terra. São incomensuravelmente mais sofisticadas do que as bombas inteligentes dos americanos, por exemplo. Conseguem levar o explosivo precisamente até ao ponto de impacto desejado, de uma forma invisível, imprevisível até aos últimos segundos, como nenhuma outra arma. Não é possível proteger todos os possíveis alvos de terrorismo contra pessoas que, de sua livre e espontânea vontade, decidem morrer por uma causa, por muito absurda que seja. Não temos técnicas que possam estar em todo o lado que permitam saber se um carro ou uma pessoa em movimento vai carregado de explosivos. E mesmo que tivéssemos, seria extremamente improvável conseguir agir a tempo de impedir o pior.
O 11 de Setembro mostrou que as armas realmente inteligentes conseguem atacar de forma devastadora tanto no centro do poder económico internacional como no coração dos serviços secretos da maior potência mundial. A guerra do Iraque demostrou que as armas realmente inteligentes resistem, na realidade até se multiplicam, quando são confrontadas com os mais avançados exércitos do mundo. E sempre soubemos que não adianta muito desenvolvermos novas armas, pois elas podem ser sempre voltadas contra nós.
As armas realmente inteligentes pensam. São praticamente indistinguíveis do cidadão comum. São capazes de transformar uma pessoa numa bomba realmente inteligente. Usam as ideias para isso. Por isso o que é necessário é lutar contra essas ideias. Como, não sei. Mas sei que não é com ideias de plástico, com desinformação, com aparências, com enganos e com erros.
Não sei de nada que se possa usar que possa vencer as armas realmente inteligentes. Talvez só mesmo a opressão, a perda de privacidade, o blackout informativo total (*), tudo armas felizmente inacessíveis em sociedades livres e democráticas.
É óptimo que Saddam tenha sido apanhado. Mas não nos enganemos, o problema mantém-se: não temos solução para as bombas realmente inteligentes.
[ Adenda, em 15-12-03, para clarificar este ponto (*). Se fosse possível haver um blackout informativo que impedisse que fossem noticiados os atentados, mais tarde ou mais cedo eles acabariam. Os atentados existem para chamar a atenção do público para as causas dos terroristas. O objectivo é ser-se noticiado. As mortes são o meio mais eficaz de se atingir esse objectivo.]
sexta-feira, dezembro 12
quase transparente
Não me lembro se estava sentado mas dei logo com ela assim que levantei os olhos dos pensamentos sérios. Foi colocada propositadamente mesmo na linha à minha frente e tinha um rosto comprido em forma de ponto de exclamação, as sobrancelhas curvas bem acima dos olhos transmitindo o espanto do olhar. A cor do cabelo desmaiada, tinha escorrido para todas as peças de roupa colocadas em camadas com pequenas mudanças de tom apenas. A camisola de lã, o casaco, o sobre-casaco, a saia comprida de pano grosso e as botas macias de meia perna. Quando voltei a olhar encontrei-lhe os olhos que reflectiam os meus. Senti-me de um preto quase transparente. Não sei se ela viu o ponto de exclamação suspenso no ar. Lembro-me de já estar sentado e pensar que poderia viver dentro daqueles olhos, no espanto.
quarta-feira, dezembro 10
A vida segundo Mário de Sá-Carneiro
Ah, que me metam entre cobertores,
E não me façam mais nada!...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores!
Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado...
Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira...
Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.
Não, não estou para mais; não quero mesmo brinquedos.
Pra quê? Até se mos dessem não saberia brincar...
Que querem fazer de mim com estes enleios e medos?
Não fui feito pra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar!...
Noite sempre plo meu quarto. As cortinas corridas,
E eu aninhado a dormir, bem quentinho– que amor!...
Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor –
Plo menos era o sossego completo... História! Era a melhor das vidas...
Se me doem os pés e não sei andar direito,
Pra que hei-de teimar em ir para as salas, de Lord?
Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde
Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito...
De que me vale sair, se me constipo logo?
E quem posso eu esperar, com a minha delicadeza?...
Deixa-te de ilusões, Mário! Bom édredon, bom fogo –
E não penses no resto. É já bastante, com franqueza...
Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará.
Pra que hei-de então andar aos tombos, numa inútil correria?
Tenham dó de mim. Co'a breca! levem-me prá enfermaria! –
Isto é, pra um quarto particular que o meu Pai pagará..
Justo. Um quarto de hospital, higiénico, todo branco, moderno e tranquilo;
Em Paris, é preferível, por causa da legenda...
De aqui a vinte anos a minha literatura talvez se entenda;
E depois estar maluquinho em Paris fica bem, tem certo estilo...
Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,
Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.
Agora no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras...
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.
E não me façam mais nada!...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores!
Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado...
Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira...
Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.
Não, não estou para mais; não quero mesmo brinquedos.
Pra quê? Até se mos dessem não saberia brincar...
Que querem fazer de mim com estes enleios e medos?
Não fui feito pra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar!...
Noite sempre plo meu quarto. As cortinas corridas,
E eu aninhado a dormir, bem quentinho– que amor!...
Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor –
Plo menos era o sossego completo... História! Era a melhor das vidas...
Se me doem os pés e não sei andar direito,
Pra que hei-de teimar em ir para as salas, de Lord?
Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde
Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito...
De que me vale sair, se me constipo logo?
E quem posso eu esperar, com a minha delicadeza?...
Deixa-te de ilusões, Mário! Bom édredon, bom fogo –
E não penses no resto. É já bastante, com franqueza...
Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará.
Pra que hei-de então andar aos tombos, numa inútil correria?
Tenham dó de mim. Co'a breca! levem-me prá enfermaria! –
Isto é, pra um quarto particular que o meu Pai pagará..
Justo. Um quarto de hospital, higiénico, todo branco, moderno e tranquilo;
Em Paris, é preferível, por causa da legenda...
De aqui a vinte anos a minha literatura talvez se entenda;
E depois estar maluquinho em Paris fica bem, tem certo estilo...
Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,
Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.
Agora no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras...
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.
Send To: Paz na Estrada
— Olha, porque é que o teu pai vai a andar tão devagar? É porque vai ali o autocarro?
— Não... ele anda sempre assim.
Ensinam-se na escola primária as regras da condução segura, pacífica e cívica e aguarda-se que as crianças cresçam impolutas e que progressivamente por influência supra-numerária todos os adultos venham a conduzir assim.
Ao contrário aposta-se no policiamento intenso e severo, em campanhas de sensibilização, em cursos de desenvoltura avançada ao volante e em escolas de pós-graduação em civismo.
Entretanto como pode um pai de pé pesado destruir ou reforçar o civismo nascente aprendido na escola?
— Não... ele anda sempre assim.
Ensinam-se na escola primária as regras da condução segura, pacífica e cívica e aguarda-se que as crianças cresçam impolutas e que progressivamente por influência supra-numerária todos os adultos venham a conduzir assim.
Ao contrário aposta-se no policiamento intenso e severo, em campanhas de sensibilização, em cursos de desenvoltura avançada ao volante e em escolas de pós-graduação em civismo.
Entretanto como pode um pai de pé pesado destruir ou reforçar o civismo nascente aprendido na escola?
terça-feira, dezembro 9
Ídolos
O racista português, que ninguém assume ser, manifesta-se um pouco por todo o lado. Até pelos ídolos que temos, ou que querem que tenhamos. Dêem uma olhada neste post...
segunda-feira, dezembro 8
A praga
A minha caixa de mail está ridícula e lembra-me os Monty Python: spam spam spam egg and spam; spam spam spam spam spam spam baked beans spam spam spam...
Felizmente tenho um filtro anti-spam que faz com que certas mensagens apareçam com o título ***SPAM*** e assim possam ser apagadas automaticamente. Só que... prefiro não automatizar nada, pois sei que algumas dessas mensagens não são spam (por exemplo, algumas são comentários da Aba...).
Mesmo com o filtro, continuo a receber dezenas de spam por semana, que me fazem perder demasiado tempo. Quando vim de férias, em Agosto, demorei horas a verificar as mensagens uma a uma para apagar o lixo. Perde-se logo a vontade de trabalhar...
O pior é que o spam está numa fase de “boom”: cada vez mais melgas descobrem-no como forma barata e simples de publicitar um produto: enviar milhões de mails custa a uma empresa umas poucas centenas de euros. Arranjar os endereços de milhões de pessoas é fácil, os fornecedores também anunciam por spam. E assim as fontes de spam vão-se multiplicando: se inicialmente a maior parte do spam era sobre Viagra, “Enlarge your penis”, “Mortgages” ou “loans”, nestas últimas semanas ele diversificou-se bastante, o que é mau sinal.
Vi este exemplo na IEEE Spectrum de Agosto: se um spammer gastar 2000 euros para enviar 20 milhões de mensagens para vender um produto que custa 60, basta que venda 34 unidades para começar a ter lucro. Ou seja, basta ter uma taxa de resposta de 0.00017%, o que é irrisório quando comparado com os 1.5-2% das campanhas de marketing directo via correio convencional (4 ordens de magnitude acima...). O spam é assim o grande negócio do momento e está em grande crescimento. No entanto, floresce à custa de uma enorme perda de produtividade.
Segundo a mesma revista, só a AOL e a MSN filtram cada uma mais de dois milhares de milhões (2 000 000 000) de spams enviados por dia para os seus clientes. Se se conseguir filtrar 95% do spam, mesmo assim passam muitas dezenas de milhares de milhões! E se o filtro se enganar em 1% das vezes, assumindo que uma mensagem é spam quando não é (falsos positivos), então significa que se perdem 20 milhões de mails úteis por dia, o que não é admissível (ninguém gostaria de perder aquele mail com uma oferta de emprego irrecusável…). Assim, os filtros usados correntemente estão afinados para deixar passar bastante spam, procurando minimizar os falsos positivos, ou seja, não fazem o seu trabalho muito bem.
Concluindo: estamos tramados? Ou será que os filtros bayesianos podem ajudar? [voltarei ao assunto...]
Felizmente tenho um filtro anti-spam que faz com que certas mensagens apareçam com o título ***SPAM*** e assim possam ser apagadas automaticamente. Só que... prefiro não automatizar nada, pois sei que algumas dessas mensagens não são spam (por exemplo, algumas são comentários da Aba...).
Mesmo com o filtro, continuo a receber dezenas de spam por semana, que me fazem perder demasiado tempo. Quando vim de férias, em Agosto, demorei horas a verificar as mensagens uma a uma para apagar o lixo. Perde-se logo a vontade de trabalhar...
O pior é que o spam está numa fase de “boom”: cada vez mais melgas descobrem-no como forma barata e simples de publicitar um produto: enviar milhões de mails custa a uma empresa umas poucas centenas de euros. Arranjar os endereços de milhões de pessoas é fácil, os fornecedores também anunciam por spam. E assim as fontes de spam vão-se multiplicando: se inicialmente a maior parte do spam era sobre Viagra, “Enlarge your penis”, “Mortgages” ou “loans”, nestas últimas semanas ele diversificou-se bastante, o que é mau sinal.
Vi este exemplo na IEEE Spectrum de Agosto: se um spammer gastar 2000 euros para enviar 20 milhões de mensagens para vender um produto que custa 60, basta que venda 34 unidades para começar a ter lucro. Ou seja, basta ter uma taxa de resposta de 0.00017%, o que é irrisório quando comparado com os 1.5-2% das campanhas de marketing directo via correio convencional (4 ordens de magnitude acima...). O spam é assim o grande negócio do momento e está em grande crescimento. No entanto, floresce à custa de uma enorme perda de produtividade.
Segundo a mesma revista, só a AOL e a MSN filtram cada uma mais de dois milhares de milhões (2 000 000 000) de spams enviados por dia para os seus clientes. Se se conseguir filtrar 95% do spam, mesmo assim passam muitas dezenas de milhares de milhões! E se o filtro se enganar em 1% das vezes, assumindo que uma mensagem é spam quando não é (falsos positivos), então significa que se perdem 20 milhões de mails úteis por dia, o que não é admissível (ninguém gostaria de perder aquele mail com uma oferta de emprego irrecusável…). Assim, os filtros usados correntemente estão afinados para deixar passar bastante spam, procurando minimizar os falsos positivos, ou seja, não fazem o seu trabalho muito bem.
Concluindo: estamos tramados? Ou será que os filtros bayesianos podem ajudar? [voltarei ao assunto...]
domingo, dezembro 7
lenga-lenga-lenga
Há metade do tempo que tem que deixou a fralda. Agora, sentada e cheia de si, canta, fala e grita, ou melhor, mais perto, sorrateiro, o ouvido não traduz nada, ela cantarola, palrreia e guincha lenga-lenga-lengas. Será o súbito aliviar do fardo físico ou a imposta solidão que lhe dá o guião da personagem. Ela practica expressão —talvez monólogo— dramática.
sábado, dezembro 6
Spam
Scene: A cafe. One table is occupied by a group of Vikings with horned helmets on. A man and his wife enter.
Man (Eric Idle): You sit here, dear.
Wife (Graham Chapman in drag): All right.
Man (to Waitress): Morning!
Waitress (Terry Jones, in drag as a bit of a rat-bag): Morning!
Man: Well, what've you got?
Waitress: Well, there's egg and bacon; egg sausage and bacon; egg and spam; egg bacon and spam; egg bacon sausage and spam; spam bacon sausage and spam; spam egg spam spam bacon and spam; spam sausage spam spam bacon spam tomato and spam;
Vikings (starting to chant): Spam spam spam spam...
Waitress: ...spam spam spam egg and spam; spam spam spam spam spam spam baked beans spam spam spam...
Vikings (singing): Spam! Lovely spam! Lovely spam!
Waitress: ...or Lobster Thermidor a Crevette with a mornay
sauce served in a Provencale manner with shallots and aubergines
garnished with truffle pate, brandy and with a fried egg on top and spam.
Wife: Have you got anything without spam?
Waitress: Well, there's spam egg sausage and spam, that's not got much spam in it.
Wife: I don't want ANY spam!
Man: Why can't she have egg bacon spam and sausage?
Wife: THAT'S got spam in it!
Man: Hasn't got as much spam in it as spam egg sausage and spam, has it?
Vikings: Spam spam spam spam (crescendo through next few lines)
Wife: Could you do the egg bacon spam and sausage without the spam then?
Waitress: Eewwww!
Wife: What do you mean 'Eewwww'? I don't like spam!
Vikings: Lovely spam! Wonderful spam!
Waitress: Shut up!
Vikings: Lovely spam! Wonderful spam!
Waitress: Shut up! (Vikings stop) Bloody Vikings! You can't
have egg bacon spam and sausage without the spam.
Wife (shrieks): I don't like spam!
Man: Sshh, dear, don't cause a fuss. I'll have your spam. I love it. I'm having spam spam spam spam spam spam spam baked beans spam spam spam and spam!
Vikings (singing): Spam spam spam spam. Lovely spam! Wonderful spam!
Waitress: Shut up!! Baked beans are off.
Man: Well could I have her spam instead of the baked beans then?
Waitress: You mean spam spam spam spam spam spam... (but it is too late and the Vikings drown her words)
Vikings (singing elaborately): Spam spam spam spam. Lovely spam! Wonderful spam! Spam spa-a-a-a-a-am spam spa-a-a-a-a-am spam. Lovely spam! Lovely spam! Lovely spam! Lovely spam! Lovely spam! Spam spam spam spam!
Monty Python
Man (Eric Idle): You sit here, dear.
Wife (Graham Chapman in drag): All right.
Man (to Waitress): Morning!
Waitress (Terry Jones, in drag as a bit of a rat-bag): Morning!
Man: Well, what've you got?
Waitress: Well, there's egg and bacon; egg sausage and bacon; egg and spam; egg bacon and spam; egg bacon sausage and spam; spam bacon sausage and spam; spam egg spam spam bacon and spam; spam sausage spam spam bacon spam tomato and spam;
Vikings (starting to chant): Spam spam spam spam...
Waitress: ...spam spam spam egg and spam; spam spam spam spam spam spam baked beans spam spam spam...
Vikings (singing): Spam! Lovely spam! Lovely spam!
Waitress: ...or Lobster Thermidor a Crevette with a mornay
sauce served in a Provencale manner with shallots and aubergines
garnished with truffle pate, brandy and with a fried egg on top and spam.
Wife: Have you got anything without spam?
Waitress: Well, there's spam egg sausage and spam, that's not got much spam in it.
Wife: I don't want ANY spam!
Man: Why can't she have egg bacon spam and sausage?
Wife: THAT'S got spam in it!
Man: Hasn't got as much spam in it as spam egg sausage and spam, has it?
Vikings: Spam spam spam spam (crescendo through next few lines)
Wife: Could you do the egg bacon spam and sausage without the spam then?
Waitress: Eewwww!
Wife: What do you mean 'Eewwww'? I don't like spam!
Vikings: Lovely spam! Wonderful spam!
Waitress: Shut up!
Vikings: Lovely spam! Wonderful spam!
Waitress: Shut up! (Vikings stop) Bloody Vikings! You can't
have egg bacon spam and sausage without the spam.
Wife (shrieks): I don't like spam!
Man: Sshh, dear, don't cause a fuss. I'll have your spam. I love it. I'm having spam spam spam spam spam spam spam baked beans spam spam spam and spam!
Vikings (singing): Spam spam spam spam. Lovely spam! Wonderful spam!
Waitress: Shut up!! Baked beans are off.
Man: Well could I have her spam instead of the baked beans then?
Waitress: You mean spam spam spam spam spam spam... (but it is too late and the Vikings drown her words)
Vikings (singing elaborately): Spam spam spam spam. Lovely spam! Wonderful spam! Spam spa-a-a-a-a-am spam spa-a-a-a-a-am spam. Lovely spam! Lovely spam! Lovely spam! Lovely spam! Lovely spam! Spam spam spam spam!
Monty Python
Teaser / a resposta (parcial)
Falta dizer o que é que o spam tem a ver com teorias Bayesianas de probabilidades... [voltarei a este assunto]
A Whiter Shade of Pale
We skipped the light fandango
turned cartwheels 'cross the floor
I was feeling kinda seasick
but the crowd called out for more
The room was humming harder
as the ceiling flew away
When we called out for another drink
the waiter brought a tray
And so it was that later
as the miller told his tale
that her face, at first just ghostly,
turned a whiter shade of pale
She said, 'There is no reason
and the truth is plain to see.'
But I wandered through my playing cards
and would not let her be
one of sixteen vestal virgins
who were leaving for the coast
and although my eyes were open
they might have just as well've been closed
She said, 'I'm home on shore leave,'
though in truth we were at sea
so I took her by the looking glass
and forced her to agree
saying, 'You must be the mermaid
who took Neptune for a ride.'
But she smiled at me so sadly
that my anger straightway died
If music be the food of love
then laughter is its queen
and likewise if behind is in front
then dirt in truth is clean
My mouth by then like cardboard
seemed to slip straight through my head
So we crash-dived straightway quickly
and attacked the ocean bed
Procol Harum
Não tenho a certeza que a letra viva sem a música —tento ler devagar—, o que tem o fim do mundo, tem Northern Exposure.
turned cartwheels 'cross the floor
I was feeling kinda seasick
but the crowd called out for more
The room was humming harder
as the ceiling flew away
When we called out for another drink
the waiter brought a tray
And so it was that later
as the miller told his tale
that her face, at first just ghostly,
turned a whiter shade of pale
She said, 'There is no reason
and the truth is plain to see.'
But I wandered through my playing cards
and would not let her be
one of sixteen vestal virgins
who were leaving for the coast
and although my eyes were open
they might have just as well've been closed
She said, 'I'm home on shore leave,'
though in truth we were at sea
so I took her by the looking glass
and forced her to agree
saying, 'You must be the mermaid
who took Neptune for a ride.'
But she smiled at me so sadly
that my anger straightway died
If music be the food of love
then laughter is its queen
and likewise if behind is in front
then dirt in truth is clean
My mouth by then like cardboard
seemed to slip straight through my head
So we crash-dived straightway quickly
and attacked the ocean bed
Procol Harum
Não tenho a certeza que a letra viva sem a música —tento ler devagar—, o que tem o fim do mundo, tem Northern Exposure.
globalização do sonho
Alguns vivem na cidade grande e gostam de passar férias na praia, acabam por ir para lá viver. —Passa.— Alguns vivem na cidade grande e passam férias no campo, nas aldeias profundas, vales desertos, nos rios com águas limpas, nas montanhas altas. Apreciam o sossego, silêncio, ausência que concentram o espírito, o tempo devagar, a sabedoria, a paciência que adivinham nos olhos dos que lá vivem, a qualidade da vida. Acabam por ir para lá viver. Sentem-se felizes e bafejados, trazem a sua experiência de vida enlatada e com confiança e dedicação contribuem para o desenvolvimento desse lugar tão simples. Há ainda os outros que vivem no campo e que realizam o sonho de ir viver para a cidade onde já trabalham. —Passa.— Há ainda aqueles que vivem do campo e cuja ideia de progresso passa por uma estrada, um prédio, que o mini-mercado passe a super- e depois a hiper-, ver passar muitos carros à porta de casa e talvez uma antena de micro-ondas-móvel no viso. Uns e aqueles são acólitos da globalização, a que é homogeneização, que não é mistura é amálgama de culturas, o pior é a globalização do sonho, o roubo do direito de pensar o seu próprio sonho. Em biologia isto define uma espécie especialista — nos fósseis está escrito que os especialistas morrem cedo, quando se altera o meio. É disso que fala o Luís quando pede governantes com emoção e não em franchising. Temos os melhores nomes de urbanizações, Quinta D. João, Quinta da Fonte Lote 13, o Vale das Flores, Quinta da Maia, nomes carregados de história onde já só resta a memória e mesmo essa pouco lá habita. No lugar do Teatro Sousa Bastos só podemos justificar a Urbanização Sousa-Bastos com um mini-auditório e um museu carregado de história — morem ali, trabalhem ali e criem!
sexta-feira, dezembro 5
A pergunta / teaser
Mas o que é que a carne enlatada tem a ver com teorias Bayesianas de probabilidades?
A Alta
Há, e em todas as situações, duas formas fundamentais de se verem as coisas, de fora (por fora) ou por dentro (e a partir de dentro).
Sou a feliz proprietária de uma varanda para a cidade. Da minha varanda abarco toda a colina da Alta e da Universidade de Coimbra e é sempre lindo o que vejo, é lindo com nevoeiro e com sol, é lindo com as luzes da noite mas também ao amanhecer. A distância e a minha miopia permitem que nada venha perturbar essa beleza.
Regresso frequentemente às Ruas da Alta, onde vivi durante meia-dúzia de anos. Encontro os velhotes que me vêem agora respeitável mãe de filhos e “lembro-me de si, vivia na Rua do Loureiro não era? Era muito malandra não era?”... e eles na mesma, arrastando o reumático de casas húmidas e com pouca luz, algumas delas que de janelas só conhecem a porta para a rua. No tempo em que eu vivia na Alta havia até quem não tivesse luz eléctrica em casa.
A Alta é linda, passear por aquelas ruas é puro encanto... mas, se queremos ser sérios, não podemos deixar que a poesia nos turve a vista.
Sou a feliz proprietária de uma varanda para a cidade. Da minha varanda abarco toda a colina da Alta e da Universidade de Coimbra e é sempre lindo o que vejo, é lindo com nevoeiro e com sol, é lindo com as luzes da noite mas também ao amanhecer. A distância e a minha miopia permitem que nada venha perturbar essa beleza.
Regresso frequentemente às Ruas da Alta, onde vivi durante meia-dúzia de anos. Encontro os velhotes que me vêem agora respeitável mãe de filhos e “lembro-me de si, vivia na Rua do Loureiro não era? Era muito malandra não era?”... e eles na mesma, arrastando o reumático de casas húmidas e com pouca luz, algumas delas que de janelas só conhecem a porta para a rua. No tempo em que eu vivia na Alta havia até quem não tivesse luz eléctrica em casa.
A Alta é linda, passear por aquelas ruas é puro encanto... mas, se queremos ser sérios, não podemos deixar que a poesia nos turve a vista.
quinta-feira, dezembro 4
Ah, se eu lhe chamasse Idalina, Rui...
Contou-me que se queimou no braço com água quente, o tom era calmo, talvez já só dorido. Dias mais tarde suspirava por uma perna que ela esfolara ao escorregar. Depois confessou-me que tinha febre, os suspiros confundindo-se com os da gripe. Todos os dias ela pára para me contar o que há hoje ou então pergunta-me. Eu só penso no nome, o nome não está certo. No outro dia declarou-se adoentada, mas que ainda bem porque ía de férias. Prefere estar de férias quando se sente adoentada. Desapareceu uns dias como dissera e eu fiquei a pensar no nome. Quando voltou afinal tinha aproveitado para ir a casa do pai que deslocara um osso no tractor. Apesar de tudo vinha com melhor cara, e sorriu. Já me esquecia, ela sempre pára e sorri antes de falar, eu só penso no nome. Disse que se soubesse tinha trazido de casa do pai para me dar, ela que mal me olha nos olhos, que não ousa, respeita. Já se queixou que ganha mal, tem de trabalhar muitas horas, está difícil, é a vida, não é? Hoje disse que não se sentia bem, ía ter gripe outra vez, era só a aura que a desconsolava já. Queria poder dar-lhe uma melhor arte, se eu soubesse o nome certo, a arte suprema.
politicamente incorrecto
Outro petroleiro com casco simples está para zarpar da Letónia por uma rota muito semelhante à do prestige mas viajando sempre por águas internacionais. Dizem-me que a Espanha pede à Letónia que proíba o petroleiro de abandonar o porto. Acho bem este tipo de cuidado mesmo antes das novas normas esperadas para 2005 mas não posso deixar de lembrar que cerca de 70% do fuelóleo do prestige está ainda no fundo do mar. Portugal, Espanha e França não estão isentos de culpa na gestão da catástrofe durante os 5 dias antes da ruptura. Espanha não fez mais do que passear uma bomba e Portugal de fazer soprar vento para longe pensando que as manchas de óleo que dão à costa respeitam a ZEE. Depois da promessa de retirar todo o óleo na Primavera passada, Espanha dá agora uma espécie de ultimato à Letónia. O ultimato parece-me mais ao ambiente, do tipo: não deixes vir o barco senão eu fico a vê-lo afundar-se e depois não limpo. Parece mais um caso de faz o que eu não faço.
politicamente correcto
Estamos no ano Ano Europeu das Pessoas com Deficiência e ouvi hoje numa rádio nacional uma nova expressão correcta: pessoa de algum modo menos válida. Pronto aqui está ao que andamos, a escolha das novas palavras certas correctas que contornem até à exaustão o indivíduo em questão é garantia de respeito e de não-discriminação. Quantas camadas de indiferença e desprezo pusemos por cima das palavras para que seja já necessário re-inventar novas palavras? E o risco de também corromper as recém palavras se as acções continuarem ainda de corrosão? A continuar assim ainda nos vamos apanhar a dizer, sempre em voz baixa, que hoje dormi com uma não-homem, que tenho três colegas não-brancos, etc... mas o papel de embrulho conta.
quarta-feira, dezembro 3
(Con)vencer a paz
As frases do Bush são ainda melhores do que as do Rumsfeld. E pensar que vão servir de mote à campanha eleitoral...
28 Outubro 2003:
"The world is more peaceful and more free under my leadership"
"The world is safer today because Saddam Hussein and the Taliban are gone"
27 Setembro 2003:
"The world is safer today because, in Afghanistan, our broad coalition destroyed the training camps of terrorists and removed the brutal regime that sponsored terror. The world is safer today because we continue to hunt down Al Qaeda and its terrorist allies, and have captured or killed nearly two-thirds of Al Qaeda's known leaders and key facilitators. The world is safer today because, in Iraq, our coalition ended a regime that cultivated ties to terror while it built weapons of mass destruction."
28 Outubro 2003:
"The world is more peaceful and more free under my leadership"
"The world is safer today because Saddam Hussein and the Taliban are gone"
27 Setembro 2003:
"The world is safer today because, in Afghanistan, our broad coalition destroyed the training camps of terrorists and removed the brutal regime that sponsored terror. The world is safer today because we continue to hunt down Al Qaeda and its terrorist allies, and have captured or killed nearly two-thirds of Al Qaeda's known leaders and key facilitators. The world is safer today because, in Iraq, our coalition ended a regime that cultivated ties to terror while it built weapons of mass destruction."
ciência e tecnologia
A tecnologia permite-nos validar, através de medidas laboratoriais, as teorias científicas. Foi assim que Aristóteles entendeu correctamente o movimento perpétuo nos corpos celestes (não sujeitos a forças) mas não o aplicou aos corpos terrestres —o que ele sabia é uma carroça pára se o boi pára— o que ele não compreendeu é que foi uma força (de atrito) que parou a carroça. Foi assim que Newton, apoiado em ombros de gigantes, compreendeu que o princípio inercial (a perguiça de mudar a velocidade de movimento ou de repouso) era inerente a todos os corpos, celestes e terrestes de igual modo. Entre os dois, o feito tecnológico mais fantástico depois da roda permitiu-lhe medir o tempo com a precisão necessária: a klepsýdra!
Einstein e a sua nova teoria da relatividade coincidem exactamente com a mecânica de Newton que está correcta ainda hoje e explica com precisão micrométrica os movimentos de todos os corpos comuns. A teoria da relatividade propõe umas pequenas correcções quando as velocidades são muito elevadas e umas leves alterações quando se envolvem massas muito grandes.
Imagino a tecnologia como um túnel dentro do qual as teorias científicas têm de viver, o túnel é tanto mais estreito, tanto mais próximo de apenas uma linha, quanto maior precisão têm as medidas experimentais.
O nosso ambiente quotidiano está estabelecido e as suas leis fundamentais são conhecidas o que nos cria uma fé cega na ciência e tecnologia. Paradoxalmente é isso que afasta as pessoas da física, na ideia de que tudo está já determinado. Daqui só vemos as paredes próximas do túnel.
Quando numa qualquer fronteira de abismo uma nova teoria tomar forma não destronará nenhuma das leis que já habitam o túnel, apenas uma nova direcção será dada a partir de certo ponto e o abismo afastado mais uma vez. É aqui que está agora o romantismo da física que, como sempre, só será chamada para perto do nosso quotidiano de cada vez que for encontrada uma peça do puzzle da pergunta fundamental ainda por responder: para onde vamos.
Einstein, arquitecto da física do nosso quotidiano, recusou-se —talvez preso a um medo—, durante os vinte anos seguintes, a aceitar que Deus joga aos dados... e estava errado.
Einstein e a sua nova teoria da relatividade coincidem exactamente com a mecânica de Newton que está correcta ainda hoje e explica com precisão micrométrica os movimentos de todos os corpos comuns. A teoria da relatividade propõe umas pequenas correcções quando as velocidades são muito elevadas e umas leves alterações quando se envolvem massas muito grandes.
Imagino a tecnologia como um túnel dentro do qual as teorias científicas têm de viver, o túnel é tanto mais estreito, tanto mais próximo de apenas uma linha, quanto maior precisão têm as medidas experimentais.
O nosso ambiente quotidiano está estabelecido e as suas leis fundamentais são conhecidas o que nos cria uma fé cega na ciência e tecnologia. Paradoxalmente é isso que afasta as pessoas da física, na ideia de que tudo está já determinado. Daqui só vemos as paredes próximas do túnel.
Quando numa qualquer fronteira de abismo uma nova teoria tomar forma não destronará nenhuma das leis que já habitam o túnel, apenas uma nova direcção será dada a partir de certo ponto e o abismo afastado mais uma vez. É aqui que está agora o romantismo da física que, como sempre, só será chamada para perto do nosso quotidiano de cada vez que for encontrada uma peça do puzzle da pergunta fundamental ainda por responder: para onde vamos.
Einstein, arquitecto da física do nosso quotidiano, recusou-se —talvez preso a um medo—, durante os vinte anos seguintes, a aceitar que Deus joga aos dados... e estava errado.
segunda-feira, dezembro 1
Pé na boca
Claro que o Donald tinha de ganhar um prémio, com uma declaração destas (sobre as armas de desaparição maciça, numa conferência de imprensa):
"Reports that say something hasn't happened are always interesting to me, because as we know, there are known knowns; there are things we know we know."
"We also know there are known unknowns; that is to say we know there are some things we do not know. But there are also unknown unknowns -- the ones we don't know we don't know."
"Reports that say something hasn't happened are always interesting to me, because as we know, there are known knowns; there are things we know we know."
"We also know there are known unknowns; that is to say we know there are some things we do not know. But there are also unknown unknowns -- the ones we don't know we don't know."