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domingo, dezembro 21

o saber é infinito  

Estamos em 1910, 20 ou 30 e as bases e todo o edifício da física clássica e relativística está acabado e dura até hoje. Um grande maestro, Albert Einstein, pôde reunir numa mesma ópera magistral todas as peças, todas as pautas, até aí dispersas e traçando ainda novas novas onde antes só havia as pausas da incompreensão.
A revolução industrial é já um dado seguro, segue a bom ritmo em aceleração constante, todos os anos é construído o arranha-céus mais alto, carro mais rápido, navio maior, electrodoméstico da roupa, louça, café, torradas. Os feitos tecnológicos deixam marcas naturalemente indeléveis mas também muito mediáticas, as ondas hertzianas, o rádio, TV, telex, o motor a jacto, os telecópios, a conquista do espaço.
Os avanços tecnológicos potenciam por sua vez, dando uma plataforma de segurança, numerosas descobertas notáveis noutros ramos do saber. Tudo nos conduz a uma fé cega na ciência e tecnologia com os factos do passado e presente e uma esperança, uma certeza pelo futuro.
A ideia de mundo, de universo assim edificado permitia que se escrevesse uma equação para cada partícula do universo, uma convolução de operações matemáticas para cada acção ou inter-acção e teríamos ao dispor, traçado em gráfico de poster de papel, toda a história de cada partícula. Com ela toda a história passada e futura de cada corpo e de cada ser estão determinados, pré-destinados. É só uma questão de esperar, ter paciência, de algum modo, alguém fará a convolução de tantas equações. É só uma questão de esperar e de ter esperança de cálculos de certezas no futuro e saberemos toda a história passada e futura. O resultado mais surpreendente deste modelo do mundo natural é ainda outro. É ter-se a dimensão exacta do que não se sabe, a certeza de vir a saber tudo. A resposta à dúvida para onde vamos? e ao mesmo tempo a negação científica e matemática de qualquer fé que não possa ser mostrada em gráfico de poster de papel. Ou, pôde-se acreditar que o saber era finito.

Felizmente, o que posso eu dizer, felizmente, por acaso, a história nao acaba assim. Durante as mesmas décadas outros surgiram, uma nova teoria tomou forma a partir de pequenos volumes de incerteza — a mecânica quântica. Um gato de Schrödinger ficou famoso, o acaso passou a ter um papel de decisão, o saber pôde-se entender infinito, há um lugar, um volume de incerteza onde cabe a fé, não sabemos para onde vamos.

Estranhamente, 70 anos depois e apesar das teses contrárias, é a fé cega na ciência e tecnologia, a crença nas verdades absolutas e em que tudo se pode ou poderá corrigir, é esta a ideia que arriscadamente mais vinga. O centro das coisas devia ser o saber e não o homem. Não sei para onde iremos.

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