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sexta-feira, dezembro 19

pequenas flores coloridas 

Choveu. À luz fria e limpa da manhã guardo em tons de preto um breve momento. Quase só vejo as costas dos prédios, só estão pintadas se sobrou tinta do espelho, mostram os vasos em estágio ou sem orgulho, a roupa que aproveita aquela luz, alguns trastes velhos, construções engraçadas e inverosímeis feitas com um tanto de caos e outro tanto de fins perdidos. A esta hora só aparecem mulheres de mãos ocupadas vestidas com batas de fundo escuro vermelho ou azul e pequenas flores coloridas, são invisíveis e só destoam nos prédios de costas pintadas. Por entre dois prédios mal encostados vejo o outro lado da rua, há mais luz lá mas só se vê pouco mais do que uma porta aberta por onde entram pessoas e vozes. Distraído procuro ouví-las, inclino de lado a cabeça e deparo com uns olhos que sorriem sobranceiramente ao meu registo. Quando ouço chamar o meu nome a imagem diluí-se até ficar em tons suaves de branco, mal tenho tempo de a lembrar. Olho para o quadro e ouço um grito, uma inspiração e um suspiro, vindos de um só ponto. Depois um grito, uma inspiraçao e um suspiro mais pequenos, parecem vir do mesmo ponto. Quando volto a olhar para o quadro já está pintado, a cor certa em cada tom de branco.

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