<$BlogRSDUrl$>

terça-feira, janeiro 31

Fui ver a neve caía 

A minha amiga C., nada e criada em Seia, contou-me que quando lá na terra viam chegar um grupo de gajos todos artilhados de gorros e luvas e fatos impermeáveis à prova de tudo, mesmo quando o sol brilhava e estava uma temperatura primaveril, os autóctones exclamavam: Lisboetas!
Pois nos últimos dias foi o que tivemos, um país de Lisboetas!

segunda-feira, janeiro 30

Para acabar de vez com a leitura 

Book-a-minute

The Great Gatsby
By F. Scott Fitzgerald
Ultra-Condensed by Annie Berke

Gatsby
Daisy, I made all this money for you, because I love you.
Daisy
I cannot reciprocate, because I represent the American Dream.
Gatsby
Now I must die, because I also represent the American Dream.
(Gatsby DIES.)
Nick
I hate New Yorkers.
THE END




Ainda mais condensado

The War of the Worlds
By H. G. Wells
Ultra-Condensed by Samuel Stoddard

Martians
Let's kill people and drink their blood.
(They DO. They DIE.)
THE END




E ainda mais

The Collected Work of Marion Zimmer Bradley
Ultra-Condensed by Anna Leahy

Heroine
I am a strong, independent women. Well, maybe I'm not that independent. Wait, yes I am.
THE END

Os livros que ando a ler: “O Bilhete de Identidade” de Maria Filomena Mónica 

Um livro feminilíssimo, uma escrita crua, desassombrada ao mesmo tempo pragmática e emocional, como só uma mulher podia escrever. Não sei como é que todos os homens que por lá passam (os Vascos e os Carlos e os Antónios) reagiram à exposição, mas não vi em todo o livro qualquer coisa de exibicionismo ou impudor*, talvez porque tudo aconteceu há muito tempo. A Maria Filomena Mónica escreve lindamente, concordo Luís. Mas, para mim, este livro foi um fazer as pazes com uma mulher com quem sempre me identifiquei de algum modo (sobretudo na taquicardia), mas que sempre me irritou nos muitos disparates que escreve nas crónicas jornalísticas (e ainda é paga por isso).



* Nada comparável a, por exemplo, uma Catarina Furtado que escarrapacha nas bancas do Supermercado «vou partilhar a minha gravidez (leia-se vou vender a minha gravidez) com o público».

sexta-feira, janeiro 27

VIVA MOZART 


Sonata para piano nº 11 - andante gracioso

VIVA MOZART e Don Giovanni 

"Madamina, il catalogo è questo"

Fala Leporello:

Eh! Consolatevi;
non siete voi, non foste, e non sarete
né la prima, né l'ultima. Guardate:
questo non picciol libro è tutto pieno
dei nomi di sue belle:

(Cava di tasca una lista)

ogni villa, ogni borgo, ogni paese
è testimon di sue donnesche imprese.

Madamina, il catalogo è questo
Delle belle che amò il padron mio;
un catalogo egli è che ho fatt'io;
Osservate, leggete con me.
In Italia seicento e quaranta;
In Almagna duecento e trentuna;
Cento in Francia, in Turchia novantuna;
Ma in Ispagna son già mille e tre.
V'han fra queste contadine,
Cameriere, cittadine,
V'han contesse, baronesse,
Marchesine, principesse.
E v'han donne d'ogni grado,
D'ogni forma, d'ogni età.
Nella bionda egli ha l'usanza
Di lodar la gentilezza,
Nella bruna la costanza,
Nella bianca la dolcezza.
Vuol d'inverno la grassotta,
Vuol d'estate la magrotta;
È la grande maestosa,
La piccina e ognor vezzosa.
Delle vecchie fa conquista
Pel piacer di porle in lista;
Sua passion predominante
È la giovin principiante.
Non si picca - se sia ricca,
Se sia brutta, se sia bella;
Purché porti la gonnella,
Voi sapete quel che fa.

Don Giovannilibretto de Lorenzo da Ponte

VIVA MOZART 



que encheu o Universo de música: das Sinfonias às Sonatas, dos Concertos, ao Don Giovanni, à Flauta Mágica, das Danças ao Requiem.



Pequeno comentário imbecil e narcísico: tinha que ser um aquariano

quinta-feira, janeiro 26

Etiópia - O negócio da infância 

Na Etiópia, o tráfico interno de crianças ronda as dezenas de milhares. Raptadas, vendidas por familiares ou vizinhos, acabam nas grandes cidades. As meninas vão parar à prostituição ou são exploradas como escravas do lar, os meninos chegam a trabalhar mais de 14 horas por dia, em fabriquetas de têxteis ou tijolos, na construção civil. Há quem os tente ajudar, há até alguns que acabam por ser resgatados. Mas há experiências que deixam sequelas para toda a vida.
Zeiba (9 anos). Está na central de camionagem, mas não vai a lado nenhum. Apenas acabou de chegar. Donde? Pelos olhos dela, tristemente velhos, directamente do inferno. Quase imaginamos rugas em redor, porque, como os mantém sempre baixos, dir-se-iam mergulhados em sulcos de sombra. Fala numa voz sumida, entrecortada, como se as palavras fossem uma espécie de tosse seca. Aos arrancos, lá vai contando: fugiu de uma casa onde se encarregava do trabalho doméstico pelo equivalente a dois euros ao mês; aguentou um ano aquela «vida»,...

Na Além-Mar de Janeiro

terça-feira, janeiro 24

Compreender 

Quanto melhor compreendo o que significa este gráfico mais preocupado fico.

[clicar imagem para ampliar. Mais informação neste post e respectivos comentários]

Spam? 


A gripe das aves: notícias que vêm dos gatos. 

A news@nature.com publica hoje online um estudo, realizado pela equipa liderada por Thijs Kuiken do Erasmus Medical Centre de Roterdão, em que autopsiaram gatos infectados com o virus responsável pela gripe das aves. No pressuposto de que o gato é um modelo razoável para o estudo das infecções em humanos. E a principal conclusão a que chegaram não é tranquilizadora: o virus não é esquisito quando escolhe as células para se alojar. Contrariamente ao normal vírus da gripe que apenas ataca as vias respiratórias, a estirpe responsável pela gripe das aves foi encontrada no cérebro, fígado, rim, coração, intestino e em muitos outros tecidos dos oito gatos autopsiados.


PS ao escrever este post vieram-me à cabeça duas coisas: 1ª. os modelos animais (estou a ver o ar horrorizado de muita gente ao imaginarem os seus gatinhos abertos e esquartejados por aqueles horrorosos cientistas), o que são? quando são válidos? como se escolhem,? - talvez um dia destes dê uma contribuição para este assunto. 2ª. Gripe das Aves – Pandemia? Duas ou três pandemias por século, está na hora de termos a primeira do sec XXI? E a malária? É coisa do 3º mundo e por isso muito menos interessante?

segunda-feira, janeiro 23

Nada é impossível 






Não sei a origem destas fotos maravilhosas.

E não é coisa de somenos 

O problema com Cavaco Silva não é só ele ser o primeiro presidente oriundo da direita política, nem o enigma sobre a sua prática presidencial. É ele suceder a quem sucede: 10 anos de um presidente maior do que o País (Mário Soares); 10 anos de um dos presidentes mais cultos e "aristocratas"(no verdadeiro sentido da noção) que já tivemos (Jorge Sampaio). Ter agora um presidente que não ultrapassa os limites de uma cultura economista e tecnocrática é uma enorme sensação de despromoção...

Genes e Ambiente: do Super-Homem ao Popeye 

Por causa da treta das eleições até me esqueci de referir esta excelente conferência a que assisti na semana passada.


Conferência pelo Prof Sobrinho Simões no âmbito do Ciclo “Despertar para a Ciência”


O ambiente no Auditório da Reitoria da UC era quase de concerto Rock, estas conferências destinam-se antes de mais a despertar para a ciência os rapazes e as raparigas dos 14-17 anos, e estavam lá tantos mas tantos que depois de esgotarem as cadeiras sentaram-se por tudo quanto era chão, ao colo uns dos outros em qualquer nesga de espaço. No meio daquela confusão temi pelo sucesso da conferência. Mas, Sobrinho Simões é um comunicador nato, e prendeu-os durante uma hora inteirinha.

O tema genes e ambiente: “O Super-Homem é um extra-terrestre, nascido num planeta longínquo, com uma constituição genética totalmente distinta da nossa. O Popeye, pelo contrário, é um marinheiro bem terráqueo, a puxar para o rufia, que vai buscar a sua energia aos espinafres. Estão assim balizados os limites que se estendem dos genes ao ambiente.
E nós? «Nós por cá todos bem», como dizia o outro. Porque, no fundo, somos o produto da interacção permanente (e mais ou menos equilibrada) dos nossos genes com o ambiente em que vivemos”
(do resumo da conferência).


Uma lição de como comunicar ciência.

Intimidade 

Não fiquei para ouvir o Alegre ou o Sócrates, ou um a interromper o outro.

Intimidade um filme de Patrice Chéreau, 2001

Intimidade, o relato cru, até na forma como foi filmado, à Bergman (à Lars von Trier?) , de uma relação sexual obsessiva entre um homem e uma mulher, Claire e Jay, que nada mais conhecem um do outro.
A ver ou a rever.

E hoje acordei assim 

Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.


Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um mundo novo a sério.


Num arranco de loucura,
filha desta confusão,
vai todo o mundo à procura
daquilo que tem à mão.



António Aleixo, Quadras Populares

sábado, janeiro 21

O aquecimento global vê-se e sente-se 


Desde 1979, a área da camada de gelo no oceano ártico durante o verão reduziu-se de mais de 20% (clicar na imagem para mais informação). Há um mapa interactivo aqui. Imagens do retrocesso de glaciares aqui e aqui.

sexta-feira, janeiro 20

Não sabe, Não responde 

“…
E não está ele associado à chuva de dinheiro que caiu, durante os seus mandatos de primeiro-ministro, sobre Portugal? A confusão abriu as portas à irracionalidade da fé, e atribuíram-se a Cavaco Silva poderes salvíticos que não possui. O messianismo que vai decidir o resultado final, rebateu-se sobre a estratégia do silêncio do candidato e produziu uma forma inédita de populismo. Como as imagens dos santos, não precisa de falar, pelo contrário: basta a a sua presença para produzir efeitos.
…”

José Gil na revista Visão de 19 de Janeiro 2006

“…
Ficamos sem saber o que pensa o candidato da direita sobre a miséria e a felicidade, qual a sua cor preferida (escolher uma seria “injusto” para todas as outras?), o prato que prefere, o seu escritor favorito, o seu hobby de eleição, a viagem que não esquece. Até aqui, a omissão não é séria. Mas, se não sabemos o que o candidato pensa sobre a eutanásia, a homosexualidade, a religião, a despenalização do aborto, a clonagem para fins terapêuticos, a prostituição, não é lícito pensar que ele ou não tem opinião sobre todos esses temas, ou, se a tem, está a escondê-la para não prejudicar a sua votação?
…”

António Mega Ferreira na revista Visão de 19 de Janeiro 2006

Gripe - A doença humana 

News Letter do projecto Gripept


Aquilo a que normalmente chamamos "gripe" é na verdade um conjunto de doenças do tracto respiratório superior. Muitas vezes julgamos ter gripe quando na realidade temos um "síndroma gripal", uma doença com sintomas semelhantes à gripe mas possivelmente provocada por um outro vírus (vírus sincicial respiratório ou adenovirus, por exemplo). O que distingue a gripe das outras doenças é a súbita subida de febre que atinge valores elevados, dores no corpo, e a severidade dos sintomas em geral, que obrigam normalmente a "ficar de cama". Os vírus influenza existem em três tipos: A, B e C. Destes três apenas os dois primeiros costumam provocar sintomas significativos. Os vírus influenza C provocam infecções respiratórias ligeiras.A gripe, sendo uma doença do tracto respiratório superior, afecta o nariz, garganta, laringe e parte da traqueia. A maior parte das pessoas infectadas como o vírus influenza - A, B ou C - recupera espontaneamente da infecção, ou seja, sem tratamento específico. No entanto, numa pequena proporção dos casos a doença pode ter complicações adicionais e pode mesmo levar a morte. O vírus influenza A é responsável por 250 a 500 mil mortes por ano a nível mundial.Julga-se que dois factores principais contribuem para as complicações adicionais da gripe. O primeiro é a possibilidade da infecção conduzir a uma pneumonia. Uma pneumonia é uma inflamação do tecido pulmonar que induz a acumulação de fluído e detritos celulares nos pulmões. Estes últimos podem, em quantidade suficiente, obstruir as vias respiratórias. Todos os anos, cerca de 2% das pneumonias provocadas pela gripe são graves, subindo este número para 20% no caso de uma pandemia. Outra razão, ainda mal compreendida, pode prender-se com a possibilidade de uma reacção anormalmente elevada do sistema imunológico à presença do vírus no organismo, acabando esta reacção por nos lesar mais do que o próprio vírus.No caso de uma pandemia, e infelizmente, não só o número de pessoas infectadas é muito mais elevado, como a percentagem destas que desenvolve sintomas graves é consideravelmente maior.


Gripe - A doença nas aves

A gripe das aves é provocada por vírus do tipo influenza A. Ao contrário do que se passa com os humanos, nas aves a gripe não é uma infecção respiratória mas sim intestinal. Pensa-se que todas as aves serão susceptíveis à infecção com a gripe das aves, embora algumas espécies sejam mais susceptíveis que outras. Conhecem-se 16 subtipos de influenza A capazes de infectar as aves, fazendo com que estes animais sirvam de reservatório de vírus influenza A na natureza.As aves portadoras desta grande variedade de vírus são sobretudo aves aquáticas migratórias. As aves domésticas, por seu lado, são particularmente susceptíveis de sofrer surtos epidémicos com elevada mortalidade. Investigações recentes demonstraram que vírus com patogenicidade reduzida, quando passam de aves selvagens aquáticas para aves domésticas, têm tendência a sofrer mutações que as transformam em estirpes altamente patogénicas. Estas estirpes são responsáveis pela mortalidade elevada associada aos surtos de gripe em aves domésticas, bem como pelo reduzido número de casos humanos que resultam do contacto com estas aves.Estratégias de quarentena em todas as quintas afectadas por esta doença, e o extermínio de todas as aves expostas, permanece como a principal linha de defesa contra esta doença. As estirpes altamente patogénicas são também mais resistentes, sobrevivendo períodos mais longos no meio ambiente, podendo transmitir-se através de contacto com qualquer superfície contaminada, como sejam: equipamento, veículos, alimentos, jaulas ou vestuário.

quarta-feira, janeiro 18

A ler , a reler, a meditar... 

O tempo de Mário Soares, Eduardo Lourenço, no Público de hoje

«A campanha eleitoral não tem sido exactamente aquele torneio político exemplar que alguns idealistas impenitentes sonharam. Faltou-lhe paixão e sobraram escusadas flechas em forma de boomerang. [...] Trazer para esta sociedade, mais do que nunca sociedade de espectáculo, o eco da antiga paixão portuguesa, quer a recalcada do antigo regime, quer a exaltada e exaltante das duas décadas após Abril, era uma aposta arriscada, para muitos perdida e, em todo o caso, objectivamente quixotesca. Filho desses dois tempos, de que foi actor político precoce e, depois, personagem histórico, Mário Soares ousou trazer de novo para uma arena pública, já longe desses tempos turbulentos, essa antiga paixão política, sem querer saber se estaria ou não fora de estação. Passada a surpresa, esta audácia quase juvenil do antigo Presidente da República foi recebida com cepticismo por muitos, com sarcasmo por outros e, sobretudo, como uma ocasião inesperada para ajustar contas antigas e menos antigas com o homem que, melhor do que ninguém, de entre os activos, se identificou e é identificado com a Revolução de Abril e, em particular, com o tipo de democracia que ela instaurou em Portugal. [...] O mundo é que não é exactamente o mesmo mundo onde essa aventura pessoal e transpessoal foi possível. E esse mundo tinha de mudar, não o homem Mário Soares, mas a imagem dele no espelho alheio. O mesmo homem que, em tempos, passou entre nós como “o amigo americano” quando isso significava que o destino da nossa frágil democracia implicava alinhamento com a primeira das democracias ocidentais, aparece, hoje, aos olhos dos que têm interesse em cultivar essa vinha, como “antiamericano”, o que é, naturalmente, ainda mais simplista do que a antiga etiqueta. A única verdade desta valsa ideológico-mediática é clara: o antigo mundo que foi, durante décadas, o do horizonte da luta política de Mário Soares, funciona em termos de repoussoir — e Mário Soares, mais fiel aos seus ideais de sempre do que se diz, aparece, em fim de percurso, mais à “esquerda” do que nunca o foi. [...] Este tempo de Mário Soares não é apenas o tempo de Mário Soares. É o de várias gerações que, como ele, num mundo então histórica, ideológica e culturalmente dividido entre “direita” e “esquerda”, não apenas no Ocidente mas à escala planetária, escolheu um campo, numa época em que não escolher era ficar fora, não apenas do combate político, mas do combate da vida. É inócuo e só na aparência, prova de imaginária lucidez, pensar que esse comportamento releva de uma versão simplista e maniqueísta do mundo. Essa era a textura do mundo e da história que nos coube viver e só quem pretende viver fora deles se imagina sobrevoá-los como os anjos. É uma bela aposta a de Mário Soares, perdida ou ganha. Com a sua carga romanesca e a sua trama paradoxal. Mário Soares não é — nem a título histórico, nem ideológico — toda a esquerda portuguesa, mas nunca foi mais representativo dela, da sua utopia e das suas inevitáveis miragens, do que hoje, quando, aos oitenta anos, se apresenta como alguém, dentro dessa escolha, susceptível de incarnar ainda, melhor do que ninguém, essa velha aposta que entre nós nasceu com Antero e teve em António Sérgio, entre outros, as suas referências culturais, infelizmente mais vividas com sugestões poéticas do que propriamente políticas. Dizem-me que os dados há muito estão lançados e mesmo que os jogos estão feitos. Não o duvido. [...] Os seus adversários neste combate inglório e soberbo foram sempre outros. Não só os que se lembram do seu militantismo juvenil, como os que não esquecem a sua conversão definitiva ao socialismo democrático, mas, sobretudo, os que nunca lhe perdoaram o ter lutado pela democracia em Portugal, antes e depois de Abril. É isso que a verdadeira direita não esquece. É muito mais gente do que se supõe. É a mesma que põe na sua conta, como uma mancha indelével, a absurda culpa de ter “perdido” uma África que ninguém “perdeu” senão ela. [...] A esquerda não o traiu, nem ele se traiu nela. O drama é que essa esquerda de que pela última vez se faz paladino é, ao mesmo tempo, uma realidade — embora ideologicamente recente — e uma quimera. O problema da esquerda nunca foi a direita [...] mas a esquerda mesmo como pura transparência da história. A esquerda, sendo em intenção mais virtuosa, não é menos opaca, no seu angelismo imaginário, que a mais obtusa direita. Sobretudo quando não se dá conta disso. Em alegoria caseira, estas nossas eleições tão consensualmente democráticas, ilustraram com suavidade à portuguesa esta fatalidade. O combate no interior da nossa suicidária esquerda foi, à sua maneira incruenta, uma espécie de Alfarrobeira política. Talvez algum cronista, no futuro se inspire nela para nosso ensino inútil. Ou um poeta. Mas não terá Mário Soares.»


Eu li-o (editado) aqui.

Os livros que ando a ler “D’este viver aqui neste papel descripto” 


Cartas de Guerra de António Lobo Antunes

Impressionou-me!
Comecei-o a ler para saber mais sobre a Guerra Colonial. Mas este viver é antes de mais um pungente hino ao amor.
Da mais recôndita Angola em tempos de guerra Lobo Antunes escreve diariamente o seu amor à lindíssima mulher que deixou no PUTO (não conhecia esta expressão), apenas poucos meses passados após o casamento. Escreve o amor mas escreve também a solidão e o isolamento (inimaginável hoje em dia Lobo Antunes passar dias à espera que chegue o aerograma sem saber se a filha já é ou não nascida), o aborrecimento da maioria dos dias, o sofrimento e a insegurança com que escreve cada página de cada livro (se uns dias se acha o máximo à beira do Nobel, no dia seguinte ameaça rasgar a porcaria que escreveu).
E no fim ficou-me a pergunta, à maneira de quem segue novelas: tão grande e tão curto amor?



Lobo Antunes responde:

Separámo-nos muito cedo em 1976, e muito estupidamente. Ela nunca voltou a viver com ninguém pensando que eu ia voltar. E voltei, mas quando já estava doente à beira da morte, só para tratar dela [em 1999, depois de diagnosticado cancro]. Era uma mulher lindíssima, de uma beleza incrível, e não sei porque me separei. É absurdo, mas a época influiu: era a pós-revolução e as pessoas faziam isso.
Fui um estúpido porque me separei, gostando dela, para viver só e deprimido e afectou-me mesmo na escrita, nesse momento não era capaz de escrever. Sim, a Memória de Elefante é a história dessa separação e é um livro em que se adivinha um grande sofrimento. A minha tradutora sueca ironiza dizendo que me separei porque precisava de material para trabalhar
.


"Conversas com Lobo Antunes" - María Luisa Blanco


Encontrei este excerto no Avatares.

Afinal o que é que nós fazemos? (I) 

Um destes dias recebo um típico telefonema de hora de jantar (inquéritos): daqui fala da escola XPTO, qualquer coisa de ensino à distância,”pode responder-me a umas perguntinhas?” –se não demorar muito, está na hora de jantar- “qual é a sua profissão?” – (se lhe digo pos-doc a mulher suicida-se, quando deixo pelo investigadora, perguntam-me se sou da PJ), arrisco – investigadora científica. Do outro lado, “Ah! E até que ano estudou?”, - bem, eu até ao doutoramento. Silêncio …”Não preciso de lhe perguntar mais nada, muito obrigada”.
O que é que nós fazemos? Em reuniões familiares ou de amigos todos se interessam pelas profissões de todos, os professores têm histórias interessantíssimas para contar, os advogados idem, os polícias nem se fala. O que eu, pobre trabalhadora da ciência faço, não interessa a ninguém, se calhar não interessa mesmo.
Ou então fazem uma ideia completamente errada das minhas capacidades e importância. Género “tu é que és boa, convidam-te para falar por esse mundo fora”. E lá tenho que desiludir mais um e explicar muito explicadinho, que não, que ninguém me convida, que eu tenho que tentar num texto com um máximo de 300 palavras convencer o comité científico do congresso de que estou a fazer um trabalho razoavelmente interessante e que lhes ficaria muito agradecida se me dessem 10 minutinhos numa das suas 30 sessões paralelas para eu expor as minhas ideias (ou a falta delas) e assim poder pedir às entidades competentes um subsídio (que nunca chega para as despesas e obriga a recorrer à mais low-cost das companhias aéreas) para poder ir ao tal congresso e ver se aprendo mais alguma coisa, se volto com mais ideias e se posso por no meu CV mais uma comunicação oral no congresso XPTO, na remota esperança de que antes de me reformar possa deixar de ser pos-doc.

Onde é que eles estão? 

Diz o meu filho: “Oh mãe, como é que pode ser 60 %? Todos os meus amigos dizem que os pais detestam o Cavaco”.



PS Luís, as crianças na escola são esperançosas.

terça-feira, janeiro 17

Na enciclopédia de Heisenberg 


Tamara de Lempicka (1898 -1980)

Nasceu polaca, fugiu da Russia bolchevique. Tâmara de Lempicka chega a Paris em 1919, com um marido arruinado e uma filha de um ano para criar. Com a determinação que lhe é característica decide ser uma pintora de sucesso. Foi!
A formação artística veio-lhe de uma avó que, em tempos mais afortunados, a passeou por todo e qualquer museu de Veneza, de Florença, de Roma: instruindo-a, com a paciência própria das avós, na velatura, na composição, no impasto, no chiaroscuro dos grandes mestres do renascimento.




"Auto-retrato em Buggati verde"

sábado, janeiro 14

A nossa vida é um spam 

Um clássico dos Monty Python, agora no Google Video. Premonitório da crescente "spamificação" do nosso quotidiano...

quinta-feira, janeiro 12

Gripe 

O projecto GRIPEPT.PT visa criar e testar um sistema de vigilância epidemiológica que envolva activamente a Sociedade Portuguesa.

A base do sistema é o presente website especialmente criado com duas funções:
- informar e educar a população sobre a gripe
- recolher informação relativa ao estado de saúde da população através de inquéritos online.

Os dados recolhidos contribuirão para monitorizar, em tempo real, a evolução da epidemia de gripe em Portugal.

Esta informação complementará aquela que é obtida pelos métodos de vigilância convencionais actualmente a cargo do Centro Nacional da Gripe (CNG) e do Observatório Nacional de Saúde (ONSA), possibilitando uma detecção mais precoce de eventuais anomalias e uma captação de pessoas que recuperam sem recorrer aos serviços de saúde. A rapidez deste sistema permitirá a elaboração de gráficos, compilação e análise de dados, em tempo real, da propagação da gripe no país. Os gráficos estarão disponíveis no site onde serão actualizados continuamente. A recolha de dados é feita com base em sintomas, possibilitando a monitorização simultânea de várias doenças.

Este trabalho será acompanhado pelo desenvolvimento de modelos matemáticos e plataformas computacionais com capacidade para simular a propagação da gripe em Portugal e avaliar cenários de intervenção. Informação geográfica e demográfica será incluída com vários níveis de detalhe. Esses modelos serão parametrizados recorrendo a um sistema de dados que complemente, de forma adequada, a informação proveniente do sistema de vigilância actual com a do sistema proposto neste projecto. Este trabalho será desenvolvido por investigadores do Instituto Gulbenkian da Ciência, liderados pela Doutora Gabriela Gomes, e todas as conclusões pertinentes serão prontamente comunicadas à Direcção Geral de Saúde.

segunda-feira, janeiro 9

Os livros que ando a ler: O Professor e o Louco 

Mad/adjective (madder, maddest) 1 mentally ill. 2 extremely foolish or ill-advised. 3 showing impulsiveness, confusion, or frenzy. 4 informal very enthusiastic about something. 5 informal very angry. 6 (of a dog) rabid. DERIVATIVES madly adverb madness noun.
ORIGIN Old English.

“O! let me not be mad, not mad, sweet heaven;
Keep me in temper; I would not be mad!”

William Shakespeare 1564-1616: King Lear (1605-6)


Genius /jeeniss/ noun (pl. geniuses) 1 exceptional intellectual or creative power or other natural ability. 2 an exceptionally intelligent or able person. 3 (pl. genii /jeeni-i/) (in some mythologies) a spirit associated with a person, place, or institution. 4 the prevalent character or spirit of a nation, period, etc. ORIGIN Latin, also in the sense ‘spirit present at one’s birth’, from gignere ‘beget’.

“Genius is only a greater aptitude for patience.”
Comte de Buffon 1707-88: H. de Séchelles Voyage à Montbar (1803)

Dear God, how good am I? 


How evil are you?
Já vinha de trás mas este extraordinário quiz foi visto aqui.

Eu o VPV e as famigeradas Presidenciais 

Raramente, muito raramente, concordo com o que escreve Vasco Pulido Valente nas suas colunas jornalísticas. Reconheço-lhe a mestria na escrita, por vezes diverte-me o azedume, mas fico por aí. Mas às vezes acontece.
Aconteceu no último sábado a propósito do Mário Soares. Escreveu o VPV “Um homem destes não podia perceber (e não percebeu) nem se podia adaptar (e não se adaptou) a uma civilização de «massa». Principalmente, um homem destes não podia ter a mais remota empatia pelo «novo homem», reduzido a uma educação técnica, com ideias sumárias sobre a sociedade e a vida, imitativo, grosseiro e dedicado a uma ambição primária e pessoal.”
É também por isto que eu vou votar Mário Soares nas tristes eleições que se aproximam. Também eu acho que a candidatura de Soares foi um erro, também lamento que não tenha aparecido uma candidatura válida à esquerda capaz de fazer frente ao Cavaquistão. Mas não concebo uma República com um presidente como o Cavaco “A fé «moderna» na omnisciência e omnipotência do especialista” (ainda VPV) – triste e cinzento país. E quixotescamente persigo o sonho de que o Cavaco não vai ganhar na primeira volta. Afinal, como dizia Sebastião da Gama, “pelo sonho é que vamos”.

sábado, janeiro 7

SIDA: números redondos fáceis de fixar 

Em 2005, mais de 3 milhões de pessoas morreram de SIDA. Três quartos dessas mortes ocorreram na África sub-sahariana. No mundo, vivem hoje mais de 40 milhões de pessoas com SIDA. Cerca de 5 milhões foram infectadas em 2005.

Nos últimos 15-20 anos, a esperança de vida diminuiu de 20-30 anos em alguns dos países africanos mais afectados pela SIDA. Mais alguns dados aqui: 1, 2.


[clique nos gráficos para ampliar]

This page is powered by Blogger. Isn't yours? Weblog Commenting by HaloScan.com