quarta-feira, janeiro 18
Os livros que ando a ler “D’este viver aqui neste papel descripto”
Cartas de Guerra de António Lobo Antunes
Impressionou-me!
Comecei-o a ler para saber mais sobre a Guerra Colonial. Mas este viver é antes de mais um pungente hino ao amor.
Da mais recôndita Angola em tempos de guerra Lobo Antunes escreve diariamente o seu amor à lindíssima mulher que deixou no PUTO (não conhecia esta expressão), apenas poucos meses passados após o casamento. Escreve o amor mas escreve também a solidão e o isolamento (inimaginável hoje em dia Lobo Antunes passar dias à espera que chegue o aerograma sem saber se a filha já é ou não nascida), o aborrecimento da maioria dos dias, o sofrimento e a insegurança com que escreve cada página de cada livro (se uns dias se acha o máximo à beira do Nobel, no dia seguinte ameaça rasgar a porcaria que escreveu).
E no fim ficou-me a pergunta, à maneira de quem segue novelas: tão grande e tão curto amor?
Lobo Antunes responde:
Separámo-nos muito cedo em 1976, e muito estupidamente. Ela nunca voltou a viver com ninguém pensando que eu ia voltar. E voltei, mas quando já estava doente à beira da morte, só para tratar dela [em 1999, depois de diagnosticado cancro]. Era uma mulher lindíssima, de uma beleza incrível, e não sei porque me separei. É absurdo, mas a época influiu: era a pós-revolução e as pessoas faziam isso.
Fui um estúpido porque me separei, gostando dela, para viver só e deprimido e afectou-me mesmo na escrita, nesse momento não era capaz de escrever. Sim, a Memória de Elefante é a história dessa separação e é um livro em que se adivinha um grande sofrimento. A minha tradutora sueca ironiza dizendo que me separei porque precisava de material para trabalhar.
"Conversas com Lobo Antunes" - María Luisa Blanco
Encontrei este excerto no Avatares.
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