sexta-feira, janeiro 28
C'est n'importe quoi
Que sentido faz numa semana espalhar-se cartazes como este pelo país, que mostram uma fé absurda nas sondagens (cujos resultados até poderiam ser extrapolados para o dia de eleições!), para na semana seguinte dizer o pior possível sobre a sua fiabilidade, considerando-as uma mega-fraude? A conclusão a tirar é a de que não se deve ligar ao que eles dizem, não é?
quinta-feira, janeiro 27
Foi há 60 anos
Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casa aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no Inverno.
Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração.
Estando em casa andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou então que desmorone a vossa casa,
Que a doença vos entreve,
Que os vossos filhos vos virem a cara.
Primo Levi, Se isto é um homem
Nas vossas casa aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no Inverno.
Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração.
Estando em casa andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou então que desmorone a vossa casa,
Que a doença vos entreve,
Que os vossos filhos vos virem a cara.
Primo Levi, Se isto é um homem
quarta-feira, janeiro 26
Acrónimos
Da minha mail list recebi hoje este email:
«I have been asked by our MTO's on clarification administration of POMs to patients.
Are they still excluded even under PGD's?»
E a seguir este:
«POMs are administered under "patient specific" directions; so PGD is not relevant.»
E a seguir este:
«MTO's are currently excluded from PGD's.»
Finalmente, e antes de dar entrada nas urgências da psiquiatria, chega outro vindo de um reputado cientista:
«I would appreciate if when acronyms are use they are defined properly. I
have no idea what MTO, PGD or POM stand for.»
«I have been asked by our MTO's on clarification administration of POMs to patients.
Are they still excluded even under PGD's?»
E a seguir este:
«POMs are administered under "patient specific" directions; so PGD is not relevant.»
E a seguir este:
«MTO's are currently excluded from PGD's.»
Finalmente, e antes de dar entrada nas urgências da psiquiatria, chega outro vindo de um reputado cientista:
«I would appreciate if when acronyms are use they are defined properly. I
have no idea what MTO, PGD or POM stand for.»
O meme do metro de Moscovo
Recebi o link por mail, como tantos outros. Tive curiosidade, fui ver, achei bonito. Pensei "postar" no blogue, mas achei que, se eu tive esse impulso, outros também já o teriam tido, por isso fui ver ao Google. Só no Blogspot, com esta pesquisa, há 12 blogues em português que falaram recentemente do assunto (não contando ainda com a Aba)!
Também gostei da vista "ultra-zoomable" de Moscovo, uma boa ideia que nos iremos habituar a ver por todo o lado (assim o espero).
Também gostei da vista "ultra-zoomable" de Moscovo, uma boa ideia que nos iremos habituar a ver por todo o lado (assim o espero).
Chega de Bom Fim de Semana
E no entretanto...
sexta-feira, janeiro 21
Bom Fim de Semana
Spanish caravan
Carry me Caravan take me away
Take me to Portugal, take me to Spain
Andalusia with fields full of grain
I have to see you again and again
Take me, Spanish Caravan
Yes, I know you can
Trade winds find Galleons lost in the sea
I know where treasure is waiting for me
Silver and gold in the mountains of Spain
I have to see you again and again
Take me, Spanish Caravan
Yes, I know you can
The Doors
quarta-feira, janeiro 19
Em dia de muitas dúvidas e incertezas
Ignoto Deo
D.D.D.
Creio em ti, Deus: a fé viva
De minha alma a Ti se eleva
És: - o que és não sei. Deriva
Meu ser do Teu: luz... e treva,
Em que - indistintas! - se envolve
Este espírito agitado,
De Ti vem, a Ti devolve.
O Nada, a que foi roubado
Pelo sopro criador
Tudo o mais, o há-de tragar.
Só vive de eterno ardor
O que está sempre a aspirar
Ao infinito donde veio
Beleza és Tu, luz és Tu.
Verdade és Tu só. Não creio
Senão em Ti; o olho nu
Do homem não vê na terra
Mais que a dúvida, a incerteza,
A forma que engana e erra.
Essência! a real beleza,
O puro amor - o prazer
Que não fatiga e não gasta...
Só por Ti os pode ver
O que inspirado se afasta,
Ignoto Deo, das ronceiras,
Vulgares turbas: despidos
Das coisas vãs e grosseiras
Sua alma, razão, sentidos,
A Ti se dão, em Ti vida,
E por Ti vida têm. Eu consagrado
A Teu altar, me prostro e a combatida
Existência aqui ponho, aqui votado
Fica este livro - confissão sincera
Da alma que a Ti voou e em Ti só espera.
Almeida Garrett, Folhas Caídas
D.D.D.
Creio em ti, Deus: a fé viva
De minha alma a Ti se eleva
És: - o que és não sei. Deriva
Meu ser do Teu: luz... e treva,
Em que - indistintas! - se envolve
Este espírito agitado,
De Ti vem, a Ti devolve.
O Nada, a que foi roubado
Pelo sopro criador
Tudo o mais, o há-de tragar.
Só vive de eterno ardor
O que está sempre a aspirar
Ao infinito donde veio
Beleza és Tu, luz és Tu.
Verdade és Tu só. Não creio
Senão em Ti; o olho nu
Do homem não vê na terra
Mais que a dúvida, a incerteza,
A forma que engana e erra.
Essência! a real beleza,
O puro amor - o prazer
Que não fatiga e não gasta...
Só por Ti os pode ver
O que inspirado se afasta,
Ignoto Deo, das ronceiras,
Vulgares turbas: despidos
Das coisas vãs e grosseiras
Sua alma, razão, sentidos,
A Ti se dão, em Ti vida,
E por Ti vida têm. Eu consagrado
A Teu altar, me prostro e a combatida
Existência aqui ponho, aqui votado
Fica este livro - confissão sincera
Da alma que a Ti voou e em Ti só espera.
Almeida Garrett, Folhas Caídas
Política na era da desinformação
O cartaz está feito para parecer que é do bloco de esquerda, mas não é. Está junto a uma rua, é para ser visto por quem se desloca depressa, logo, sem tempo para ver que o minúsculo logotipo que aparece a um canto é, afinal, da JSD. É um cartaz feito expressamente para enganar o eleitor incauto. Com a vantagem de que assim tem muito mais visibilidade, por chocar, logo ser falado boca-a-boca ou em blogs. Os que já estão convertidos podem achar piada. Por mim, suspiro por ver mais evidência para aquilo que há muito tempo aprendi com a desinformação de Sócrates e da sua Comissão "Científica" "Independente": o povo não está preparado para a era da desinformação, logo há quem se aproveite.
A única maneira de acabar com o recurso crescente a técnicas de desinformação é tentar cortar o mal pela raíz (se tal for possível). JSD, para mim estás definitivamente riscada do mapa. Tal como aconteceu com Sócrates.
Aproveito para dizer que não estou nem nunca estive ligado a qualquer partido político, se isso interessa a alguém.
A única maneira de acabar com o recurso crescente a técnicas de desinformação é tentar cortar o mal pela raíz (se tal for possível). JSD, para mim estás definitivamente riscada do mapa. Tal como aconteceu com Sócrates.
Aproveito para dizer que não estou nem nunca estive ligado a qualquer partido político, se isso interessa a alguém.
terça-feira, janeiro 18
As tricas do Direito – Isto é serviço público
O que sempre quis saber mas nunca ninguém lhe soube explicar. De como se faz prova num julgamento: juízes, provas, MP, arguidos, tudo fundamentado em artigos do Código do Processo Penal (é? Ai a minha ignorância!).
Não estava aqui para enganar ninguém
Mas fiz o teste a pensar “Cross fingers , oxalá que dê siamês, oxalá que dê siamês”. Se calhar não fui muito honesta nas respostas, mas fica-me tão bem este resultado.
You are a Siamese! You are fun-loving, playful,
energetic, talkative, and exotic. You are the
center of attention and you love every minute
of it.
What breed of cat are you?
brought to you by Quizilla
Este teste foi-me proposto por uma gentil gata persa.
You are a Siamese! You are fun-loving, playful,
energetic, talkative, and exotic. You are the
center of attention and you love every minute
of it.
What breed of cat are you?
brought to you by Quizilla
Este teste foi-me proposto por uma gentil gata persa.
Civismo precisa-se.
Nas minhas vãs tentativas de entender a natureza humana sempre fico abismada com o vandalismo, estragar pelo prazer de estragar. Principalmente essa estranha atracção por estragar o que é de todos, desde os quadros de um museu aos bancos de um jardim.
Há um bocado estava parada numa paragem de autocarro, quando me dei conta de que da paragem do autocarro já só existia o pedaço de ferro que habitualmente segura a placa indicativa do nº dos autocarros que ali param. A mensagem transmitida é nula, o autocarro já não pára aqui? Ou é mais uma obra de vândalos que se divertiram a arrancar o horário? Como não havia ninguém por perto acabei por desistir e ir procurar outra paragem.
Quem pretende requisitar um livro na biblioteca municipal de Coimbra, depara no seu caminho com uma vitrine estrategicamente colocada de modo a que seja quase impossível não olhar para dentro dela. E o que contém? Livros, CDs e DVDs que sofreram todo o tipo de maus tratos, desde um livro precioso ao qual foram arrancadas 2 páginas (essas páginas continham gravuras –ora estão aqui mesmo a jeito, sempre quis ter estas figuras, arranca-se a página, ninguém nota e se notar paciência!) até livros totalmente anotados, riscados, sublinhados, CDs partidos, DVDs com aspecto de terem passado por baixo das rodas de um camião. Biblioteca digna desse nome tem que estar preparada para substituir livros que sofrem o desgaste normal do uso, ou que até se perdem. Mas não é disso que aqui se fala.
Há um bocado estava parada numa paragem de autocarro, quando me dei conta de que da paragem do autocarro já só existia o pedaço de ferro que habitualmente segura a placa indicativa do nº dos autocarros que ali param. A mensagem transmitida é nula, o autocarro já não pára aqui? Ou é mais uma obra de vândalos que se divertiram a arrancar o horário? Como não havia ninguém por perto acabei por desistir e ir procurar outra paragem.
Quem pretende requisitar um livro na biblioteca municipal de Coimbra, depara no seu caminho com uma vitrine estrategicamente colocada de modo a que seja quase impossível não olhar para dentro dela. E o que contém? Livros, CDs e DVDs que sofreram todo o tipo de maus tratos, desde um livro precioso ao qual foram arrancadas 2 páginas (essas páginas continham gravuras –ora estão aqui mesmo a jeito, sempre quis ter estas figuras, arranca-se a página, ninguém nota e se notar paciência!) até livros totalmente anotados, riscados, sublinhados, CDs partidos, DVDs com aspecto de terem passado por baixo das rodas de um camião. Biblioteca digna desse nome tem que estar preparada para substituir livros que sofrem o desgaste normal do uso, ou que até se perdem. Mas não é disso que aqui se fala.
segunda-feira, janeiro 17
Sobre ver e não ver, a ouvir
[...] She went blind at the age of five. We'd stand at the bedroom window and she'd
get me to tell her what I saw. I'd describe the houses opposite, the little
patch of grass next to the path, the gate with its rotten hinges forever wedged
open that Dad was always going to fix. She'd stand there quiet for a moment. I
thought she was trying to develop the images in her own head. Then she'd say:
I can see little twinkly stars,
like Christmas tree lights in faraway windows.
Rings of brightly coloured rocks
floating around orange and mustard planets.
I can see huge tiger striped fishes
chasing tiny blue and yellow dashes,
all tails and fins and bubbles.
I'd look at the grey house opposite, and close the curtains.
[...]
in "My syster", Tindersticks, 1995 (letra completa aqui)
get me to tell her what I saw. I'd describe the houses opposite, the little
patch of grass next to the path, the gate with its rotten hinges forever wedged
open that Dad was always going to fix. She'd stand there quiet for a moment. I
thought she was trying to develop the images in her own head. Then she'd say:
I can see little twinkly stars,
like Christmas tree lights in faraway windows.
Rings of brightly coloured rocks
floating around orange and mustard planets.
I can see huge tiger striped fishes
chasing tiny blue and yellow dashes,
all tails and fins and bubbles.
I'd look at the grey house opposite, and close the curtains.
[...]
in "My syster", Tindersticks, 1995 (letra completa aqui)
domingo, janeiro 16
A arte moderna é mais divertida do que a arte moderna
Chegou a ser noticiado pelo Público o "roubo de uns cacos" de uma obra de arte de Jimmie Durham exposta no CAE da Figueira da Foz(veja-se também à beira mar). O "calinas" veio agora dizer que, apesar de todos os avisos, tinha sido uma mulher da limpeza. Trata-se provavelmente de uma injustiça, de um bode expiatório. Não terá antes sido um happening de um Pinoncelli (o artista radical que partiu o urinol de Duchamp) português?
(Imagem da Bienal de Sydney, na qual Jimmie Durham destruiu um carro com uma pedra gigante, entre outras coisas!)
(Imagem da Bienal de Sydney, na qual Jimmie Durham destruiu um carro com uma pedra gigante, entre outras coisas!)
sábado, janeiro 15
Puzzled by the Puzzles
sexta-feira, janeiro 14
A flor
"Oh mãe, conheces este poema? É tão fixe!" João, 11 anos
Pede-se a uma criança: Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase que não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era de mais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!
Almada Negreiros, "A invenção do dia claro"
Pede-se a uma criança: Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase que não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era de mais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!
Almada Negreiros, "A invenção do dia claro"
A incerteza de saber como é Titã
Suspense...
quarta-feira, janeiro 12
Lemon Curd – Isto é serviço público
Deve haver outras receitas mas esta tem a vantagem de ser muito fácil e é deliciosa. É preciso: 1 kg de açúcar, 125 g de manteiga sem sal, sumo e raspa de 6 belos limões, 6 ovos. Levam-se ao lume num tacho o açúcar, a manteiga e o sumo e a raspa dos limões e deixa-se ferver a mistura durante alguns minutos (quantos não sei, alguns). Retira-se do lume e verte-se, pouco a pouco, sobre os ovos que foram previamente batidos. Vai tudo outra vez para o lume brando e mexe-se sempre até ter consistência de compota. Guarda-se em boiões e serve-se com torradas, tostas, biscoitos, a acompanhar gelados, sei lá...
Chapeladas há muitas...
Chapelada dá-se a quem se detesta. Chapelada faz-se a quem se gosta. É chapelada se for muito bom. Chapelada é uma fraude eleitoral do tempo em que se votava para dentro de chapéus. Raio de expressão pouco exacta, sempre a nadar numa chapelada de contextos.
Geni
Geni e o Zepelim
De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo "mudei de idéia"
"Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniqidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Essa noite me servir"
Essa dama era Geni
Mas não pode se Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
-e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos,
O bispo com olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni
Foram tantos os pedidos,
Tão sinceros, tão sentidos,
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Chico Buarque, 1977-1978
De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo "mudei de idéia"
"Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniqidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Essa noite me servir"
Essa dama era Geni
Mas não pode se Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
-e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos,
O bispo com olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni
Foram tantos os pedidos,
Tão sinceros, tão sentidos,
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Chico Buarque, 1977-1978
terça-feira, janeiro 11
Terrorismo na era da desinformação
Interessante, o artigo "Terror goes online" da revista IEEE Spectrum deste mês. A desinformação é uma técnica que confere uma vantagem adicional a quem a utiliza, desde que não seja descoberto. A selecção "natural" faz com que se tenda para cada vez mais desinformação...
"Weimann [professor de comunicações na Univ. de Haifa, Israel] says terrorists also use the Internet for fundraising and recruitment. 'Before 9/11, they used it very openly,' he notes. We began studying terrorist Web sites in 1998. Back then you could find the bank account numbers they wanted people to donate to, everything. After 9/11, the terrorists moved to different ways, using charity sites where not all the money goes to terrorism. Now it's a challenge to find terrorist sites disguised as charity sites. Al Qaeda, Hamas, Hesbollah, and other groups use the Internet to blend legitimate and terrorist purposes.'"
[...]
"Weimann says that Mohammed Atta's final message to his fellow 9/11 terrorists was: 'The semester begins in three more weeks. We've obtained 19 confirmations for studies in the faculty of law, the faculty of urban planning, the faculty of fine arts, and the faculty of engineering.' Weimann believes the talk of various "faculties" referred to specific facilities, such as the Pentagon and the World Trade Center. "
"Weimann [professor de comunicações na Univ. de Haifa, Israel] says terrorists also use the Internet for fundraising and recruitment. 'Before 9/11, they used it very openly,' he notes. We began studying terrorist Web sites in 1998. Back then you could find the bank account numbers they wanted people to donate to, everything. After 9/11, the terrorists moved to different ways, using charity sites where not all the money goes to terrorism. Now it's a challenge to find terrorist sites disguised as charity sites. Al Qaeda, Hamas, Hesbollah, and other groups use the Internet to blend legitimate and terrorist purposes.'"
[...]
"Weimann says that Mohammed Atta's final message to his fellow 9/11 terrorists was: 'The semester begins in three more weeks. We've obtained 19 confirmations for studies in the faculty of law, the faculty of urban planning, the faculty of fine arts, and the faculty of engineering.' Weimann believes the talk of various "faculties" referred to specific facilities, such as the Pentagon and the World Trade Center. "
segunda-feira, janeiro 10
Analfabetos musicais
O “Público”lançou agora uma colecção livro + CD de grandes compositores de música clássica. Soube na sexta-feira e em vão virei o jornal do dia, onde se anunciava e voltava a anunciar o dito lançamento, à procura do conteúdo dos ditos CDs – nada! Dia 7 Beethoven e basta, como se o homem tivesse composto uma peça só. Imaginem a colecção mil-folhas anunciada assim: vol 1- Eça de Queiroz, vol 2 – Gustave Flaubert etc. Como diz um professor e músico que muito prezo, país de analfabetos musicais!
Previsões para 2005 e anos seguintes
O meme do "põe luzes de Natal no exterior da tua casa" é de lenta expansão, mas propaga-se de forma semelhante ao meme das bandeiras de Portugal. Deverá continuar a difundir-se por alturas do Natal, inexoravelmente. Daqui por uns anos, quando metade dos meus vizinhos tiver as luzes nas suas varandas e quintais, quem sabe, também eu serei contaminado, quiçá verticalmente.
domingo, janeiro 9
Sinais dos tempos
Estavam os 3 a brincar às clonagens. Elas com 7 anos, ele com 3. Primeiro o boneco era mergulhado numa banheira cor-de-rosa que continha um "líquido de preparação". Depois, com uma pinça, passavam-no para um barril de plástico onde havia outro líquido. Quando comecasse a fumegar, ouviam com um estetoscópio. Se houvesse sinais de vida, abriam o barril e saíam 2 bonecos!
(o truque, contaram-me, é que no barril já havia outro boneco.)
(o truque, contaram-me, é que no barril já havia outro boneco.)
Estranho Iapetus
Cassini descobriu Iapetus há mais de 300 anos atrás. Redescobrimo-lo agora com a sonda homónima, que detalha as estranhas regiões claras/escuras que Cassini inicialmente descrevera. Só em 2007 deveremos vê-lo em todo o seu esplendor. Está tudo aqui.
Entretanto, Huygens vai "atitanar" na próxima 6a feira...
Entretanto, Huygens vai "atitanar" na próxima 6a feira...
sexta-feira, janeiro 7
Ainda vou a tempo
Se todo o bicho careta faz a sua lista de filmes 2004, eu também quero.
No meu caso é fácil (não conto com os que vi na televisão, vídeo ou DVD):
1º - Dogville de Lars Von Trier (É de 2003 mas só o vi em 2004)
2º - Lost in Translation da Sofia Coppola
3º - Á procura de Nemo da Pixar (porque fui com as crianças e também acho que saiu em 2003).
E chega. São as vantagens de ter 3 crianças em casa.
No meu caso é fácil (não conto com os que vi na televisão, vídeo ou DVD):
1º - Dogville de Lars Von Trier (É de 2003 mas só o vi em 2004)
2º - Lost in Translation da Sofia Coppola
3º - Á procura de Nemo da Pixar (porque fui com as crianças e também acho que saiu em 2003).
E chega. São as vantagens de ter 3 crianças em casa.
As boas intenções
E se começássemos por tentar antes resolver coisas simples, dessas em que ninguém pára para pensar? Seria um 2005 melhor? É que responder às pequenas questões que parecem sem importância cria um método de raciocínio que podemos depois ir transferindo sucessivamente para questões mais complexas. Exemplos: por que é que em jovens todos dizemos que não nos casamos e depois (quase) todos nos casamos? Por que é que os automóveis andam a 200 à hora se o limite de velocidade é muito mais baixo e toda a gente sabe que o excesso de velocidade é a principal causa da sinistralidade? O que é o défice abaixo dos três por cento? Por que é que todos fingimos perceber as notícias que falam disso? Como é que há gente que quer ser toureiro?
Se não leram leiam do princípio ao fim que vale a pena. Eu assino por baixo.
Se não leram leiam do princípio ao fim que vale a pena. Eu assino por baixo.
Previsões para 2005
Em Portugal, milhares de crianças que jogaram ao jogo de computador "Sims2" irão perguntar aos pais: "o que é fazer tricky-tricky?".
quinta-feira, janeiro 6
É preciso não esquecer
Na hora em que o mundo chora as 150 mil pessoas (e tantas delas crianças) que desapareceram em minutos na Ásia, é urgente e necessário que o mundo não esqueça também que:
“…
A FAO lembra que a fome mata anualmente cerca de cinco milhões de crianças e que 825 milhões de pessoas (isto é, mais 18 milhões do que na década de 90!) sofrem de má nutrição! Destas, 28 milhões pertencem aos países em transição e nove milhões aos países desenvolvidos. De que solidariedade somos nós capazes?
A Unicef recorda que metade das crianças do mundo, isto é, 2,2 mil milhões de crianças até aos 15 anos, vive na pobreza: 640 milhões sem habitação adequada; 500 sem saneamento; 400 sem água potável; 300 sem acesso à informação; 270 sem cuidados de saúde; 140, a maioria raparigas, nunca foi à escola. Não é esta uma verdadeira «cultura da morte»?
A ONG Salvem as Crianças lembra que, das mais de 13 milhões de adolescentes que anualmente dão à luz, 700 mil não sobrevivem e que cada ano nasce um milhão de crianças, filhas de adolescentes, que, devido à falta de condições das mães, não chegam a celebrar o seu primeiro aniversário. Não estamos também a colaborar numa nova e repetida «matança dos inocentes»?”
Na hora em que o mundo chora as 150 mil pessoas (e tantas delas crianças) que desapareceram em minutos na Ásia, é urgente e necessário que o mundo não esqueça também que:
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A FAO lembra que a fome mata anualmente cerca de cinco milhões de crianças e que 825 milhões de pessoas (isto é, mais 18 milhões do que na década de 90!) sofrem de má nutrição! Destas, 28 milhões pertencem aos países em transição e nove milhões aos países desenvolvidos. De que solidariedade somos nós capazes?
A Unicef recorda que metade das crianças do mundo, isto é, 2,2 mil milhões de crianças até aos 15 anos, vive na pobreza: 640 milhões sem habitação adequada; 500 sem saneamento; 400 sem água potável; 300 sem acesso à informação; 270 sem cuidados de saúde; 140, a maioria raparigas, nunca foi à escola. Não é esta uma verdadeira «cultura da morte»?
A ONG Salvem as Crianças lembra que, das mais de 13 milhões de adolescentes que anualmente dão à luz, 700 mil não sobrevivem e que cada ano nasce um milhão de crianças, filhas de adolescentes, que, devido à falta de condições das mães, não chegam a celebrar o seu primeiro aniversário. Não estamos também a colaborar numa nova e repetida «matança dos inocentes»?”
Uma terrível evidência
As primeiras palavras dos bebés que crescem em instituições podem ser bola, popó … nunca papá ou mamã.
quarta-feira, janeiro 5
Outros blogs - isto é serviço público.
Para além dos Blogs-blogs, esta lista enorme aqui ao lado direito, tenho descoberto baby-blogs, que são em geral uma grandessíssima seca de mães babadas a contarem os cocós e as bolsadelas dos seus rebentos de 4 meses. Mas há excepções e para quem tiver interesse pelo tema esta mãe escreve lindamente. Há também blogs de comidas, o do Chalabi Red é especialmente tentador e apetitoso, um apelo a todos os sentidos. E ainda sex-blogs, mas desses o pudor impede-me de aqui colocar links.
terça-feira, janeiro 4
Os vampiros
Não podia estar mais de acordo com o Luís.
segunda-feira, janeiro 3
Feliz 2005!
Pangloss enseignait la métaphysico-théologo-cosmolonigologie. Il prouvait admirablement qu'il n'y a point d'effet sans cause, et que, dans ce meilleur des mondes possibles, le château de monseigneur le baron était le plus beau des châteaux et madame la meilleure des baronnes possibles.
__ «Il est démontré, disait-il, que les choses ne peuvent être autrement : car, tout étant fait pour une fin, tout est nécessairement pour la meilleure fin. Remarquez bien que les nez ont été faits pour porter des lunettes, aussi avons-nous des lunettes. Les jambes sont visiblement instituées pour être chaussées, et nous avons des chausses. Les pierres ont été formées pour être taillées, et pour en faire des châteaux, aussi monseigneur a un très beau château ; le plus grand baron de la province doit être le mieux logé ; et, les cochons étant faits pour être mangés, nous mangeons du porc toute l'année : par conséquent, ceux qui ont avancé que tout est bien ont dit une sottise ; il fallait dire que tout est au mieux. »
Candide écoutait attentivement, et croyait innocemment ; car il trouvait Mlle Cunégonde extrêmement belle, quoiqu'il ne prît jamais la hardiesse de le lui dire. Il concluait qu'après le bonheur d'être né baron de Thunder-ten-tronckh, le second degré de bonheur était d'être Mlle Cunégonde ; le troisième, de la voir tous les jours ; et le quatrième, d'entendre maître Pangloss, le plus grand philosophe de la province, et par conséquent de toute la terre.
Un jour, Cunégonde, en se promenant auprès du château, dans le petit bois qu'on appelait parc, vit entre des broussailles le docteur Pangloss qui donnait une leçon de physique expérimentale à la femme de chambre de sa mère, petite brune très jolie et très docile. Comme Mlle Cunégonde avait beaucoup de dispositions pour les sciences, elle observa, sans souffler, les expériences réitérées dont elle fut témoin ; elle vit clairement la raison suffisante du docteur, les effets et les causes, et s'en retourna tout agitée, toute pensive, toute remplie du désir d'être savante, songeant qu'elle pourrait bien être la raison suffisante du jeune Candide, qui pouvait aussi être la sienne.
Elle rencontra Candide en revenant au château, et rougit ; Candide rougit aussi ; elle lui dit bonjour d'une voix entrecoupée, et Candide lui parla sans savoir ce qu'il disait. Le lendemain après le dîner, comme on sortait de table, Cunégonde et Candide se trouvèrent derrière un paravent ; Cunégonde laissa tomber son mouchoir, Candide le ramassa, elle lui prit innocemment la main, le jeune homme baisa innocemment la main de la jeune demoiselle avec une vivacité, une sensibilité, une grâce toute particulière ; leurs bouches se rencontrèrent, leurs yeux s'enflammèrent, leurs genoux tremblèrent, leurs mains s'égarèrent. M. le baron de Thunder-ten-tronckh passa auprès du paravent, et voyant cette cause et cet effet, chassa Candide du château à grands coups de pied dans le derrière ; Cunégonde s'évanouit ; elle fut souffletée par madame la baronne dès qu'elle fut revenue à elle-même ; et tout fut consterné dans le plus beau et le plus agréable des châteaux possibles.
Francois Marie Arouet (Voltaire)