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quarta-feira, janeiro 19

Em dia de muitas dúvidas e incertezas 

Ignoto Deo

D.D.D.

Creio em ti, Deus: a fé viva
De minha alma a Ti se eleva
És: - o que és não sei. Deriva
Meu ser do Teu: luz... e treva,
Em que - indistintas! - se envolve
Este espírito agitado,
De Ti vem, a Ti devolve.
O Nada, a que foi roubado
Pelo sopro criador
Tudo o mais, o há-de tragar.
Só vive de eterno ardor
O que está sempre a aspirar
Ao infinito donde veio
Beleza és Tu, luz és Tu.
Verdade és Tu só. Não creio
Senão em Ti; o olho nu
Do homem não vê na terra
Mais que a dúvida, a incerteza,
A forma que engana e erra.
Essência! a real beleza,
O puro amor - o prazer
Que não fatiga e não gasta...
Só por Ti os pode ver
O que inspirado se afasta,
Ignoto Deo, das ronceiras,
Vulgares turbas: despidos
Das coisas vãs e grosseiras
Sua alma, razão, sentidos,
A Ti se dão, em Ti vida,
E por Ti vida têm. Eu consagrado
A Teu altar, me prostro e a combatida
Existência aqui ponho, aqui votado
Fica este livro - confissão sincera
Da alma que a Ti voou e em Ti só espera.


Almeida Garrett, Folhas Caídas

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