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quinta-feira, janeiro 31

Um hospital na Suiça 

Esta descrição vale o que vale, até porque não tenho dados concretos, números, mas as diferenças saltam á vista quando se compara com o que se passa por cá. Em 2000 passei alguns meses no Hospital Universitário de Basileia, fiz lá uma parte do meu doutoramento, depois disso voltei lá com alguma regularidade. O Hospital Universitário de Basileia (UHB) tem mais ou menos a dimensão dos HUC, o hospital que conheço melhor, terá também mais ou menos a mesma idade, dadas as características da construção. Tem aspectos mais simpáticos porque forma um U em que o interior do U é um grande e belo jardim, tem diversas cafetarias com esplanadas, podendo quase todas ser utilizadas quer pelos trabalhadores do Hospital quer pelos pacientes e familiares. O UHB recebe muitos doentes dos outros cantões e ao que percebi muitos outros vêm do norte de Itália. O que um português estranha logo de início, e que o passar dos dias confirma, é a tranquilidade e o silêncio, os corredores estão vazios, os átrios estão vazios, pode ver-se uma pessoa a ser atendida num guichet, vêm-se alguns doentes nas cafetarias acompanhados de familiares ou amigos, outros no jardim quando o tempo o permite e até alguns em camas no jardim. Mas nos corredores, nada. Quando dei conta da minha perplexidade os meus colegas estranharam a pergunta. “Porque é que havia de haver gente pelos corredores ou átrios? as pessoas vêm às consultas à hora marcada e depois vão embora!” Fácil!
Mais estranho era para mim a Urgência. Como aluna de doutoramento que se preze saía sempre do hospital a desoras e a partir das 22 h todas as outras portas estavam fechadas e tinha que sair pela urgência. Saí pela urgência quase todos os dias que lá passei e todos os dias a urgência me parecia vazia, via um ou outro médico, um ou outro enfermeiro às vezes uma pessoa sentada numa cadeira com ar de quem está à espera. Basileia tem 200 000 habitantes, o UHB é o seu maior hospital, deve haver situações urgentes, de vez em quando até ouvia sirenes de ambulâncias, mas onde é que eles escondem esses doentes é que até hoje não percebi.

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domingo, janeiro 27

Da arte de acreditar (III) 

Hoje no ginásio ia levando na cara.
Tudo porque no fim da aula gente amiga do seu amigo resolveu instaurar a indignação avisando que a ASAE (who else?) andava para aí a inspeccionar os cacifos dos balneários para descobri quem anda a tomar anabolizantes ou outras substâncias ilícitas, e eu tive o descaramento de duvidar.

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Para que servem SAPs assim? 

A minha filha magoou-se durante umas férias em Sintra, fez um corte numa perna, num fim de tarde do Verão de 2006. Os familiares em casa de quem estava levaram-na ao SAP de Sintra, não de uma terreola qualquer, mas de Sintra, porque era óbvio que aquilo ia precisar de pontos. Depois de alguma espera foram informados que ela tinha que ir para o Hospital Amadora-Sintra porque... não tinham linha.

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sábado, janeiro 26

Processo arquivado 

O processo de Sócrates contra o autor do blogue Do Portugal Profundo sempre era um SLAPP, afinal.


"Fish slapping dance", Monty Python.

sexta-feira, janeiro 25

Subscrevo 

"Pelo direito à cultura e pelo dever de cultura!".

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quarta-feira, janeiro 23

Da arte de acreditar (II) 

There are times when inaccurate or fictitious stories are told and retold because just they seem so plausible. When what we hear could so easily be true, we often let down our critical guard, accept what we are told, and pass it on as is. Our standards for what is plausible, furthermore, are not always so high: sometimes what is necessary is a sense of ironic plausibility.

Thomas Gilovich, How we know what isn’t so.

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terça-feira, janeiro 22

precisamos de merda sr. Soisa e nunca precisámos de outra coisa 

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Uma nova ordem 



José Bandeira no DN e no Bandeira ao Vento

o humor é que nos salva!

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Da arte de acreditar 

"To live, it seems, is to explain, to justify, and to find coherence among diverse outcomes, characteristics, and causes. With practice, we have learned to perform these tasks quickly and effectively."

Thomas Gilovich, How we know what isn’t so.

No entanto tendemos a ver ordem onde só há caos, a estabelecer correlações onde elas não existem, a observar aquilo que estamos à espera de observar.

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segunda-feira, janeiro 21

Dos costumes e das liberdades individuiais 

Cronistas são aqueles que fumam. A frase não é minha e tenho a certeza de que não foi assim que a li no “Público”on-line a semana passada, mas que é bem achada é.
Estas minhas recordações vêm agora duplamente a propósito já que a Eslovénia tem nos próximos meses a presidência da CE. Esta história reporta a 2003, tem quase 5 anos. Em 2003 passei 15 dias na Eslovénia a frequentar um curso europeu na Universidade de Lubliana. Não conhecia aquele pequeno país que foi uma muito agradável surpresa pelo bem-estar e avanço cultural e cívico reinantes. Lubliana possuía uma vida cultural intensa e uma atmosfera de boémia e de joie de vivre.
Em 2003 já era proibido fumar pelo menos em edifícios públicos, não posso afirmar o mesmo de restaurantes e bares porque não me recordo, as nossas horas vagas, jantares etc, decorreram sempre em esplanadas, porque havia muitas e porque o tempo ajudou. Os meus colegas de curso que fumavam faziam-no à porta da faculdade. Um dia, antes de uma aula, veio um senhor pedir gentilmente aos colegas que fumavam que o não fizessem em frente à entrada principal, mas sim na parte lateral do edifício onde havia cinzeiros.
Os eslovenos gostam de beber e para além de cerveja bebem vinho. Bebe-se vinho nas esplanadas, podem beber-se bons vinhos a copo em vinotecas e bares design, bebem com requinte. No entanto, nas recepções oficiais as bebidas alcoólicas estão proibidas. Explicaram-me que a Eslovénia tinha problemas graves de alcoolismo e que pretendia o governo, com esta medida, dar um sinal de que pode haver festa sem álcool. Participei em duas recepções oficiais, uma que nos foi oferecida pelo presidente da câmara de Lubliana, a outra uma homenagem a dois professores jubilados, cheia de pompa e circunstância, presidente da república incluído. E nas duas serviram acepipes lindíssimos e deliciosos, acompanhados por sumos e água.

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sexta-feira, janeiro 18

Os campos electromagnéticos e os grandes movimentos populares 

A Sociedade Americana de Física, a maior associação de físicos do mundo, divulgou em 1995 um parecer sobre o assunto, que voltou a divulgar em 2005, por não terem surgido alterações de monta. Diz lá claramente: “A literatura científica e os relatórios de revisão de outros painéis mostram que não há nenhuma ligação consistente e significativa entre cancro e linhas eléctricas. A literatura inclui estudos epidemiológicos, pesquisa de sistemas biológicos e análise de mecanismos teóricos de interacção.” E mais adiante: “Os custos da mitigação e litigação relacionados com a ligação entre linhas eléctricas e cancro subiram a milhares de milhões de dólares e ameaçam subir mais. O desvio de recursos para eliminar uma ameaça para a qual não há uma base científica convincente é perturbador. Problemas ambientais mais graves são negligenciados por falta de fundos e da atenção do público e o peso dos custos que recai nas pessoas não é comensurável ao risco, se é que este existe”. Eu, que também sou sócio, assino por baixo.


Carlos Fiolhais no Público e no De Rerum Natura

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Precisas que te faça de um desenho? 

A explicação de uma coisa que é muito evidente vem muitas vezes acompanhada de “percebeste ou queres que te faça um desenho”, quando, apesar da evidência, o nosso interlocutor parece duvidar. A expressão, a maioria das vezes produzida num tom jocoso ou ligeiro, é antipática porque põe em causa as capacidades do interlocutor. Mas é isto que a comunicação social faz todos os dias, se não lhe pomos um desenho por trás o gajo é capaz de não compreender, de não se aperceber da relevância da notícia. Num programa da BBC Prime, sobre a comunicação social de hoje, de que o Sérgio falou ali em baixo, os comentadores punham a tónica no ridículo de muitas “reportagens de exterior”: uma notícia sobre o primeiro-ministro inglês, tem que ser dada com o jornalista chapado em frente da porta fechada do nº 10 de Downing Street, a debitar o seu discurso enquanto que pela porta não sai nem entra ninguém nem nada de relevante acontece. Que valor acrescenta à notícia? Nenhum! Ou de um repórter que se sujeita a uma intempérie, e sujeita o operador de câmara e todo o resto da equipa, para uma reportagem sobre o mau tempo, como se a notícia não fosse credível se ele estivesse sentado no conforto do estúdio.
Mas estes exemplos, ridículos que sejam, são inócuos quando comparados com o mau gosto de fotos e reportagens com que somos bombardeados diariamente.
Hoje, Pedro Malaquias, comentador da Antena 2, chamava a atenção exactamente para isso mesmo a propósito da notícia, dada pelo Jornal de Notícias, do atropelamento de uma jovem por um comboio num apeadeiro de Gaia. A notícia, que infelizmente não é rara, não mereceria grande comentário se não viesse acompanhada de uma fotografia “demasiado explícita” do acontecimento. Que levou o comentador a dizer, e muito bem, qualquer coisa como isto “no dia em que eu precisar de ver fotografias destas num jornal para acreditar nas notícias, deixo de ler jornais”.

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terça-feira, janeiro 15

O arco solar da sanyo 

Mais informação aqui

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O défice democrático 

Encontrei um antigo amigo “professor de liceu”. Andou uns anos pela Madeira, mas já há outra mão cheia de anos que dá aulas no continente.
Comparava as duas realidades, nunca na Madeira, e pelas escolas por onde andou, sentiu qualquer pressão ou qualquer mal-estar, relacionados com o alegado défice democrático do Reino do Jardim. Por lá fala-se à vontade, as pessoas exprimem livremente as suas opiniões e os seus desacordos. Enquanto por cá... há medo, há suspeição(sic). Perante tanta certeza e determinação deixei-o falar.
Mas há qualquer coisa que não bate certo, então os conselhos executivos das escolas, democraticamente eleitos pelos pares, não passam afinal de um bando de malfeitores, ainda por cima de um determinado partido, sedentos de poder e que só esperavam ter as costas quentes, alguém que lhes aprovasse e até lhes incentivasse o jogo, para começarem a dar azo à sua autoridade ditatorial e pidesca? É possível acreditar nisto? Ainda por cima generalizando-se por esse país fora, como esse amigo me queria fazer crer.

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sexta-feira, janeiro 11

Quem é especialista em quê? 




Tem o meu caro amigo a certeza de que é capaz de distinguir um verdadeiro Pollock de umas borradelas de pássaros?

Tenha um bom fim de semana.

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terça-feira, janeiro 8

A mim também 

“Mas incomoda-me ainda mais verificar como pessoas que julgamos serem sensatas se revelam, neste caso, totalmente incapazes de se posicionarem sobre estes temas sem ser com um absolutamente transparente egoísmo, ainda por cima mal disfarçado de uma espécie de liberalismo de pacotilha, ele próprio moralista e paternalista, incapaz de imaginar que aqueles que querem apenas um pouco menos de caos e um pouco mais de respeito nas suas vidas quotidianas também amam a liberdade.”


Pedro Magalhães, Liberalismo de pacotilha, no Público de ontem, via Da Literatura


passamos a vida a elogiar o “lá fora”, a criticar o atraso que somos, sem querermos perceber que o civilizado “lá fora” começou por muitas regras, impostas ou mais ou menos espontâneas, de privação destas "liberdades individuais". Por cá incivilizado é sempre o outro, eu posso conduzir a 180 Km/h porque tenho um bom carro e sou um bom condutor, os outros é que não (lembro-me bem do Miguel Sousa Tavares, do alto da sua irresponsabilidade, a defender isto mesmo no Público).

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segunda-feira, janeiro 7

Pormenores sem importância... 


O iceberg da capa deste livro, além do duvidoso gosto do 666 esculpido, é uma montagem fotográfica (veja-se The Museum of Hoaxes).

E não deixa de ser irritante que as livrarias estejam cheias de best-sellers duvidosos e não seja possível encontrar uma edição do Rei Édipo, ou até que a moçinha mocinha de uma das livrarias escreva Hédipo. Dir-se-ia que o passado não existe: é só novidades. E como não se conhece o passado qualquer estória parece uma novidade.

domingo, janeiro 6

Velocidade louca é um pleonasmo vicioso 

Ontem a fazer zapping apanhei a meio na BBCprime um documentário sobre a televisão com depoimentos de autores e escritores. Diziam eles que a televisão hoje não era assim tão pior, mas que um dos principais problemas era a velocidade. O programa acabava com alguém a dizer, e a fazê-lo, "porque não ficar sentado no sofá sem fazer nada"...

Mas isso foi ontem. Hoje já não é possivel encontrar no site da BBC referência a esse programa, para saber como se chamava, ou se voltará a dar. Só aos programas de hoje e aos da próxima semana. Helas, são as novidades, é a velocidade frenética. Brum, brum. Para lado nenhum. Mas, brum brum.

Ah, e também muito rápida é a comunicação. A minha filha comprou um novo telemóvel para ter mensagens grátis e já enviou para cima de mil na última semana. Comunicar o quê? Ver o quê? Se fica tudo desfocado, ou se a mensagem é irrelevante.

Como antídoto para esta toleima das novidades, da velocidade e da comunicação, recomendo o magnífico livro de Henry Thoreau "Walden", que pode ser ouvido e descarregado de graça no site da LibriVox. Em especial aconselho a parte 5 do capítulo 1.

terça-feira, janeiro 1

Um ano, de novo 

Cada ano repetia de novo as suas quatro estações. Era a Primavera que enchia árvores de leves folhagens verdes, e espalhava nos campos a multidão das papoilas. Então as andorinhas voltavam e tudo se enchia de flores que baloiçavam docemente nas brisas transparentes. Depois o Verão chegava, os dias cresciam, o ar povoava-se de perfumes, as abelhas zumbiam em roda dos cachos de glicínias. Rosas, narcisos, cravos e túlipas desabrochavam nos canteiros. O jardineiro levava todas as manhãs à cozinha grandes cestos cheios de fruta: primeiro eram cerejas e morangos, depois pêssegos, ameixas e peras. Um pouco mais tarde apareciam figos e uvas. Então começava o Outono. Os dias ficavam mais curtos e mais doirados, as vinhas eram vindimadas, dos castanheiros caíam os primeiros ouriços verdes, nos jardins havia dálias e crisântemos, o chão cobria-se de folhas amarelas e secas que se desprendiam uma a uma dos altos galhos das árvores e tombavam lentamente dando voltas no ar. De repente um grande vento cinzento varria a quinta, ouvia-se ao longe o ronco furioso do mar e começava o Inverno. Chovia sem parar durante uma semana. Quando parava de chover começava o frio. Apareciam muito brancas as primeiras camélias. Cada dia era mais curto do que o da véspera. Os plátanos e as tílias, despidos das suas folhas, erguiam no céu pálido os seus galhos nus. Até que a água dos tanques gelava e de manhã, quando Isabel ia para o colégio, os caminhos estavam cheios de geada.

(excerto de "A Floresta", Sophia)

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