segunda-feira, fevereiro 27
Estejamos atentos.
Houve quem lhes chamasse "os tiques de Sócrates", mas nunca me pareceu que fossem tiques. Se fossem apenas tiques estaria descansado, mas acho que é mais do que isso. Oxalá esteja enganado. Isto é sério e preocupa-me. A ler: Origem das Espécies, O Espectro e respectivos links.
sábado, fevereiro 25
Coisa pouca
segunda-feira, fevereiro 20
Relax
Só olhar para esta casa descansa. Pelos vistos pertence ao Moby e está à venda por 3.5 milhões. As fotos podem-se ver de graça. [visto aqui]
Abafa-te
Qual a relação entre o frio e a gripe?
"Não apanhes frio, olha que te constipas!". Quase todos nós já ouvimos esta frase, repetida pelos nossos pais, quando saíamos para a escola no Inverno. Mas teriam os nossos pais razão? Haverá de facto uma relação entre o frio e as constipações e/ou a gripe? O facto é que todos sabemos que há mais constipações e gripes no Inverno.Até agora não há nenhuma evidência científica que confirme que o arrefecimento do corpo possa provocar uma gripe. No entanto, empiricamente, o facto é que há uma crença enraízada na população em geral de que esta relação existe. Pode acontecer que ela exista mas ainda não tenha sido possível testá-la adequadamente em laboratório. Existe de facto uma teoria que o arrefecimento da superfície do corpo induz uma constrição pronunciada dos vasos sanguíneos do nariz, aumentando a nossa susceptibilidade às infecções respiratórias. Porque quando saímos à rua, mesmo se bem agasalhados, temos o nosso nariz exposto ao frio. Se esta teoria for verdadeira, usar um cachecol, ou outra peça de roupa, à volta da cara, por forma a aquecer o nariz, ajudaria a prevenir constipações ou gripes.No entanto, a explicação mais aceite para o padrão sazonal da gripe não é, para surpresa de muitos, o frio. A razão seria, segundo alguns especialistas, o facto de nos agregarmos mais em espaços fechados, e mal ventilados, durante o Inverno. Nestas condições qualquer indivíduo infectado tem a oportunidade de infectar muitas mais pessoas do que no Verão, altura em que passamos mais tempo fora de casa e mesmo esta é muito melhor arejada.
Saiba mais na gripept
"Não apanhes frio, olha que te constipas!". Quase todos nós já ouvimos esta frase, repetida pelos nossos pais, quando saíamos para a escola no Inverno. Mas teriam os nossos pais razão? Haverá de facto uma relação entre o frio e as constipações e/ou a gripe? O facto é que todos sabemos que há mais constipações e gripes no Inverno.Até agora não há nenhuma evidência científica que confirme que o arrefecimento do corpo possa provocar uma gripe. No entanto, empiricamente, o facto é que há uma crença enraízada na população em geral de que esta relação existe. Pode acontecer que ela exista mas ainda não tenha sido possível testá-la adequadamente em laboratório. Existe de facto uma teoria que o arrefecimento da superfície do corpo induz uma constrição pronunciada dos vasos sanguíneos do nariz, aumentando a nossa susceptibilidade às infecções respiratórias. Porque quando saímos à rua, mesmo se bem agasalhados, temos o nosso nariz exposto ao frio. Se esta teoria for verdadeira, usar um cachecol, ou outra peça de roupa, à volta da cara, por forma a aquecer o nariz, ajudaria a prevenir constipações ou gripes.No entanto, a explicação mais aceite para o padrão sazonal da gripe não é, para surpresa de muitos, o frio. A razão seria, segundo alguns especialistas, o facto de nos agregarmos mais em espaços fechados, e mal ventilados, durante o Inverno. Nestas condições qualquer indivíduo infectado tem a oportunidade de infectar muitas mais pessoas do que no Verão, altura em que passamos mais tempo fora de casa e mesmo esta é muito melhor arejada.
Saiba mais na gripept
domingo, fevereiro 12
Mudança de fase
Brinco como uma criança com os brinquedos magnéticos dos meus filhos. Dou conta que, organizando os segmentos pequenos de uma certa forma, eles ficam unidos de forma estável. Depois, pegando num deles e inclinando-o progressivamente relativamente aos restantes, há uma altura onde um ligeiríssimo incremento do ângulo provoca uma mudança brusca, atingindo-se uma nova forma estável. O essencial da "transição de fase" ocorre num fotograma de duração 1/15 s. [filme aqui (1.3MB)]
Isto lembra-me os cartoons dinamarqueses. Uns simples desenhos têm o poder de mover multidões, provocar a fúria, tumultos, mortes e sabe-se lá mais o quê. Tudo isto acontece num ápice, quase sem termos tempo de perceber o que aconteceu. Em que fase estamos?
Isto lembra-me os cartoons dinamarqueses. Uns simples desenhos têm o poder de mover multidões, provocar a fúria, tumultos, mortes e sabe-se lá mais o quê. Tudo isto acontece num ápice, quase sem termos tempo de perceber o que aconteceu. Em que fase estamos?
quinta-feira, fevereiro 9
E agora eu quero ir-me embora
E os outros
The riots that have spread over the last several days have begun to take some rather bad turns. One of the things that has been most upsetting is the targeting of Christians during these riots and of the rise in Muslim-Christian violence in Lebanon. I am also troubled by Iran’s state-controlled media using this as an opportunity to run cartoons making fun of the holocaust. Things need to calm down; but I am still standing by my statements in support of the anger in the Muslim World. If Muslims in America can go to prison for making statements; then Muslims can also get pissed off when the shoe is on the other foot.
Umar
Umar
Da Superioridade Moral da Civilização Europeia
(título e sublinhados meus)
...
O que me contou passou-se nos anos 50, na década que antecedeu a independência do Quénia, quando era jovem e membro do movimento Mau Mau. Falou-me de como foi preso pelas forças britânicas em campos de concentração diferentes, do tratamento brutal e desumano a que foi sujeito, de dezenas de outros prisioneiros a morrerem de fome e de maus-tratos. Certa vez, foi tão barbaramente espancado que lhe partiram dois ossos da perna esquerda. Como, depois, não lhe proporcionaram qualquer tipo de assistência médica, as fracturas não sararam devidamente e nunca mais deixou de coxear.
Escutei-o com todo o respeito que qualquer história de sofrimento merece, mas fiquei com a impressão de que as memórias daquele ancião estavam embaciadas, azedadas, e que a sua visão da história era bem pior do que o que realmente tinha acontecido. O domínio colonial britânico não podia ter sido tão cruel, ter desrespeitado de forma tão flagrante todas as leis internacionais!
Mas estava errado. Ao visitar uma biblioteca para saber mais sobre o movimento Mau Mau, descobri um livro publicado no início do ano passado que, de algum modo, me passou despercebido. Britain’s Gulag, the brutal end of empire in Kenya (O Gulag britânico. O brutal fim do império no Quénia), da historiadora Caroline Elkins, abriu-me os olhos.
O Gulag britânico
Francis Karega é apenas um do milhão e meio de kikuyus que experimentaram na própria carne o lado sádico da «missão civilizadora» dos soldados britânicos. O livro narra como, em resposta à ameaça Mau Mau, o governo colonial britânico organizou um sistema de campos de concentração e aldeias protegidas que foi de longe o pior de sempre em África. Neste sistema repressivo, torturas desumanas, descritas com eloquentes e terríveis pormenores pelas vítimas e por uns quantos torcionários arrependidos, eram algo de comum e quotidiano. A narrativa é corroborada por uma impressionante quantidade de provas. E as estatísticas finais, que a autora consegue fundamentar solidamente, são chocantes.
O levantamento Mau Mau, uma revolta armada dos Kukuyus, que se ergueram em massa para exigir a devolução das suas terras e da sua liberdade, esbarrou na resposta draconiana dos Britânicos, que não estavam dispostos a abandonar uma das melhores zonas agrícolas de África. Embora, através de uma bem-sucedida campanha nos meios de comunicação, os Britânicos tenham conseguido convencer o mundo que estavam a lutar contra selvagens sub-humanos, a realidade é bem diversa: enquanto os Mau Mau, durante os quase dez anos que durou a sua rebelião, não mataram mais de 50 cidadãos britânicos, os ingleses exterminaram aí uns 200 mil kikuyus, e provavelmente muitos mais.
Foi possível ocultar a verdade devido a uma estranha cooperação: em primeiro lugar, antes da independência, os funcionários coloniais britânicos empenharam-se em destruir toda a documentação sobre os campos de concentração e o tratamento ministrado aos Mau Mau; depois, a nova liderança queniana, simbolizada pelo primeiro presidente Jomo Kanyatta, achou conveniente esquecer a questão Mau Mau e cultivar a amizade dos ex-opressores.
RENATO KIZITO SESANA
Continue a ler na Além-Mar (Ventos do Sul)
...
O que me contou passou-se nos anos 50, na década que antecedeu a independência do Quénia, quando era jovem e membro do movimento Mau Mau. Falou-me de como foi preso pelas forças britânicas em campos de concentração diferentes, do tratamento brutal e desumano a que foi sujeito, de dezenas de outros prisioneiros a morrerem de fome e de maus-tratos. Certa vez, foi tão barbaramente espancado que lhe partiram dois ossos da perna esquerda. Como, depois, não lhe proporcionaram qualquer tipo de assistência médica, as fracturas não sararam devidamente e nunca mais deixou de coxear.
Escutei-o com todo o respeito que qualquer história de sofrimento merece, mas fiquei com a impressão de que as memórias daquele ancião estavam embaciadas, azedadas, e que a sua visão da história era bem pior do que o que realmente tinha acontecido. O domínio colonial britânico não podia ter sido tão cruel, ter desrespeitado de forma tão flagrante todas as leis internacionais!
Mas estava errado. Ao visitar uma biblioteca para saber mais sobre o movimento Mau Mau, descobri um livro publicado no início do ano passado que, de algum modo, me passou despercebido. Britain’s Gulag, the brutal end of empire in Kenya (O Gulag britânico. O brutal fim do império no Quénia), da historiadora Caroline Elkins, abriu-me os olhos.
O Gulag britânico
Francis Karega é apenas um do milhão e meio de kikuyus que experimentaram na própria carne o lado sádico da «missão civilizadora» dos soldados britânicos. O livro narra como, em resposta à ameaça Mau Mau, o governo colonial britânico organizou um sistema de campos de concentração e aldeias protegidas que foi de longe o pior de sempre em África. Neste sistema repressivo, torturas desumanas, descritas com eloquentes e terríveis pormenores pelas vítimas e por uns quantos torcionários arrependidos, eram algo de comum e quotidiano. A narrativa é corroborada por uma impressionante quantidade de provas. E as estatísticas finais, que a autora consegue fundamentar solidamente, são chocantes.
O levantamento Mau Mau, uma revolta armada dos Kukuyus, que se ergueram em massa para exigir a devolução das suas terras e da sua liberdade, esbarrou na resposta draconiana dos Britânicos, que não estavam dispostos a abandonar uma das melhores zonas agrícolas de África. Embora, através de uma bem-sucedida campanha nos meios de comunicação, os Britânicos tenham conseguido convencer o mundo que estavam a lutar contra selvagens sub-humanos, a realidade é bem diversa: enquanto os Mau Mau, durante os quase dez anos que durou a sua rebelião, não mataram mais de 50 cidadãos britânicos, os ingleses exterminaram aí uns 200 mil kikuyus, e provavelmente muitos mais.
Foi possível ocultar a verdade devido a uma estranha cooperação: em primeiro lugar, antes da independência, os funcionários coloniais britânicos empenharam-se em destruir toda a documentação sobre os campos de concentração e o tratamento ministrado aos Mau Mau; depois, a nova liderança queniana, simbolizada pelo primeiro presidente Jomo Kanyatta, achou conveniente esquecer a questão Mau Mau e cultivar a amizade dos ex-opressores.
RENATO KIZITO SESANA
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quarta-feira, fevereiro 8
Crianças
terça-feira, fevereiro 7
Crianças
É bom...
... saber que neste planeta ainda se pode descobrir um mundo perdido.
[agradecimentos a J. Amaral pelo link (mailing-list ambio)]
[agradecimentos a J. Amaral pelo link (mailing-list ambio)]
segunda-feira, fevereiro 6
Tolerância
Mercado de acções para previsão da gripe
Extrapolando o velho provérbio "duas cabeças pensam melhor do que uma", um grupo de economistas da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, vem desenvolvendo sistemas que tornam instintos de indivíduos em previsões do futuro. Após testar o método em previsões do resultado das eleições presidenciais e no número de vendas de exemplares de um novo volume Harry Potter no dia do seu lançamento, o grupo dedicou-se à previsão de epidemias de gripe. Este curioso sistema funciona com base em apostas.Os sistemas de vigilância da gripe monitorizam a ocorrência de casos de gripe e publicam os resultados semanalmente. Essa informação pode ser representada por um mapa dividido em regiões, sendo que cada região é colorida de modo a reflectir o nível de actividade gripal. O mapa ao lado ilustra essa representação com os dados para Portugal continental recolhidos pelo projecto Gripept.net na semana 19-25 de Janeiro deste ano.Os economistas contactaram 60 médicos residentes em Iowa e deram a cada um 100 "dolars gripais". Os médicos usaram esses dolars para comprar e vender acções para uma determinada semana no futuro. As acções tinham uma cor de acordo com a codificação usada na vigilância da gripe. Assim, e de acordo com o esquema ao lado, comprar uma acção vermelha para o Algarve na semana 9-15 de Março representaria uma aposta de que o Algarve vai ter uma incidência entre 20-40 por 10.000 habitantes nessa semana. Nos Estados Unidos, a época gripal de 2004/05 contou com 52 médicos que aderiram a este sistema de transacção de acções. No final da experiência, cada dolar gripal foi convertido num verdadeiro dolar americano e oferecido aos participantes sob a forma de uma bolsa de estudo.O sistema funcionou extremamente bem. Este original mercado de acções foi capaz de prever as cores, com uma exactidão de 80%, a três semanas de distância. Os resultados foram melhores que os métodos tradicionais e, este ano de 2005/06, o sistema está a decorrer em todos os estados dos EUA.
Na news letter da gripept
sábado, fevereiro 4
2004, um ano animado
Se víssemos o nosso planeta espalmado, sem nuvens, durante um ano, com cada mês comprimido num segundo, ficaria assim. Outras regiões: Europa / Península Ibérica / Portugal.
[Filmes em formato MPEG (~5-7MB), construídos a partir das imagens "Blue Marble Next Generation" do Visible Earth, NASA]
Há outros videos mais redondos aqui (NASA): 1, 2.
sexta-feira, fevereiro 3
Mr Georgie está nas nossas mãos
Mr Georgie em queda livre ou obedecendo ao rato do computador, as you wish. Divirtam-se.
Bom fim de semana.
Bom fim de semana.
A sra gosta de ler? A decadência há muito anunciada do CL.
Ontem, hora de jantar, hora das sondagens telefónicas, liga-me a menina do Círculo de Leitores: Sra Isabel Prata, daqui fala do Círculo de Leitores. O CL quer oferecer-lhe 3 livros. Posso fazer-lhe umas perguntinhas? Pode se for rápida, estou na hora de jantar.
A sra Isabel Prata gosta de ler? Passei-me, sobretudo não quis nem saber que livros o Círculo de Leitores tinha para me oferecer.
A sra Isabel Prata gosta de ler? Passei-me, sobretudo não quis nem saber que livros o Círculo de Leitores tinha para me oferecer.
quinta-feira, fevereiro 2
A Idade do Gelo
Post via Solvstag e dedicado ao meu amigo Nuno.
«Durante muito tempo, pensou-se que entrávamos e saíamos das idades do gelo de forma gradual, ao longo de centenas de milhares de anos, mas agora sabemos que não tem sido esse o caso. Graças a amostras de gelo colhidas na Gronelândia, temos um registo detalhado do clima ao longo de mais de cem mil anos, e aquilo que se descobriu não é muito reconfortante. Mostra que, na maior parte da sua História recente, a Terra não foi de modo algum aquele lugar tranquilo e estável que a civilização tem vindo a conhecer, mas tem antes andado a ser violentamente submetida a períodos alternados de calor intenso e de frio brutal. (...).
Bill Bryson, "Breve História de Quase Tudo" (Quetzal)
Continue a ler A Idade do Gelo
«Durante muito tempo, pensou-se que entrávamos e saíamos das idades do gelo de forma gradual, ao longo de centenas de milhares de anos, mas agora sabemos que não tem sido esse o caso. Graças a amostras de gelo colhidas na Gronelândia, temos um registo detalhado do clima ao longo de mais de cem mil anos, e aquilo que se descobriu não é muito reconfortante. Mostra que, na maior parte da sua História recente, a Terra não foi de modo algum aquele lugar tranquilo e estável que a civilização tem vindo a conhecer, mas tem antes andado a ser violentamente submetida a períodos alternados de calor intenso e de frio brutal. (...).
Bill Bryson, "Breve História de Quase Tudo" (Quetzal)
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E agora que faço eu com isto?
E agora que faço eu com isto, Luís?
Eu que não tenho manias? Que tenho a mania de que não tenho manias. Que tenho a mania de que tudo é simples e claro como a água, e nem percebo porque é que outros hão-de pensar de maneira diversa. Ou eu que gostava de ter a mania de ir ao cinema, à ópera e ao teatro várias vezes ao mês, de que me levassem o pequeno almoço à cama e me deixassem ler dia fora, de ir passar uns fins de semana a Nova Iorque, de chegar à Horta num veleiro.
O Chalabi tem a mania da cozinha e mais?
A Papoila tem a Leonor e mais?
O Rui deve ter imensas manias.
E como tenho a mania de ser do contra (só às vezes!) fico por aqui.
Quebrei a corrente e terei sete anos de azar, mas gosto do risco – tenho a mania.
Eu que não tenho manias? Que tenho a mania de que não tenho manias. Que tenho a mania de que tudo é simples e claro como a água, e nem percebo porque é que outros hão-de pensar de maneira diversa. Ou eu que gostava de ter a mania de ir ao cinema, à ópera e ao teatro várias vezes ao mês, de que me levassem o pequeno almoço à cama e me deixassem ler dia fora, de ir passar uns fins de semana a Nova Iorque, de chegar à Horta num veleiro.
O Chalabi tem a mania da cozinha e mais?
A Papoila tem a Leonor e mais?
O Rui deve ter imensas manias.
E como tenho a mania de ser do contra (só às vezes!) fico por aqui.
Quebrei a corrente e terei sete anos de azar, mas gosto do risco – tenho a mania.
A Escola (II)
A história que vou contar passa-se nos anos 60 numa aldeia das serranias. Foi-me contada no último verão pelo patriarca da família. Nessa aldeia havia quintas que ficavam distantes da sede da freguesia de oito, dez, doze quilómetros. Nessas quintas havia crianças em idade de irem à escola. Na Primavera ou Verão as crianças lá chegavam à escola sem maiores dificulades do que umas pernas cansadas e às vezes uma barriga a dar horas. Mas, quem conhece aquelas serras pode imaginar o que passavam os cachopos, que não teriam mais de dez anos, alguns seis ou sete, durante os longos meses de Inverno.
Contava-me o velho que a quinta dele era a mais longínqua e que os filhos de Inverno tinham medo daqueles caminhos - e quem não teria? noite, nevoeiro cerrado, os lobos não eram só imaginação – e que por isso ele, o pai, os acompanhava até encontrarem os miúdos de outra quinta. E depois lá iam, em “rebanho”.
Á tarde, já escuro o pai punha-se de novo a caminho para esperar os filhos na encruzilhada. E que os aguardava debaixo de um castanheiro, e não imagina a menina o frio que por lá passei. De vez em quando ouvia-se os gritos dos quinteiros, de uns para os outros, “Já os vês? Já lá vêm?”. Um dia, o pobre homem, cansado de se ver a ele e aos filhos naquela vida foi ter com um compadre que morava na povoação, explicou-lhe das suas razões e que em troca de um saco de batatas e de uma garrafa de azeite e do mais que fosse preciso lhe pedia para ele, pelo menos nos dias de mais tempestade,dar de dormir aos filhos lá na casa da aldeia. E o compadre, que sim. Mas aos garotos não lhes agradou a cama estranha e veio o compadre da aldeia dizer ao da quinta que fosse lá buscar o saco das batatas e a garrafa de azeite porque os cachopos afinal nunca aproveitavam o ninho.
E lá voltou o homem ao abrigo do castanheiro. E a vontade que os filhos estudassem era muita e a seu tempo arranjou-lhes um quarto na cidade para eles fazerem o liceu. Os cachopos fizeram-se homens, um tirou um curso técnico o outro emigrou para o Canadá.
No início dos anos setenta já eram poucos os que viviam nas quintas, ainda me lembro dos ver aos domingos descerem a pé os caminhos da serra para virem à missa e à mercearia/taberna e a minha avó dizer “vêm aí os quinteiros”. As coisas tinham mudado, a junta de freguesia alugou um “táxi” para transportar as crianças das quintas para a escola.
A Escola (I)
Quando eu andava na escola e estávamos quase no 25 de Abril ainda era assim:
(cito de cor, que a memória não me atraiçoe)
O Toninho e a Toneca
São irmãos muito amiguinhos
Dá gosto vê-los tão limpos
Apesar de pobrezinhos
Mal chega a casa a Toneca
Vai logo ajudar a mãezinha
Varre a casa põe a mesa
Parece uma mulherzinha
O Toninho ajuda o pai
A tratar da criação
Depois ajuda a Toneca
A preparar a lição
Epílogo
Três anos mais tarde a Toneca já aprendeu da escola tudo o que precisava, está a aprender costura e a aguardar os 18 anos para se pode casar e ter muitos filhos. O Toninho há-de fazer o segundo ano da Tele-Escola e arranjar trabalho numa fábrica de fiação. Há-de pôr algum dinheiro de lado para comprar um motor e o resto entrega aos pais ao fim do mês.
(cito de cor, que a memória não me atraiçoe)
O Toninho e a Toneca
São irmãos muito amiguinhos
Dá gosto vê-los tão limpos
Apesar de pobrezinhos
Mal chega a casa a Toneca
Vai logo ajudar a mãezinha
Varre a casa põe a mesa
Parece uma mulherzinha
O Toninho ajuda o pai
A tratar da criação
Depois ajuda a Toneca
A preparar a lição
Epílogo
Três anos mais tarde a Toneca já aprendeu da escola tudo o que precisava, está a aprender costura e a aguardar os 18 anos para se pode casar e ter muitos filhos. O Toninho há-de fazer o segundo ano da Tele-Escola e arranjar trabalho numa fábrica de fiação. Há-de pôr algum dinheiro de lado para comprar um motor e o resto entrega aos pais ao fim do mês.