quarta-feira, junho 30
Com os olhos na bola (que tem anéis)
Se tudo correr como o esperado, Cassini atingirá hoje o ponto mais próximo de Saturno de toda a sua missão (menos de 20000 km). Façamos figas, com sorte entramos hoje todos em órbita.
terça-feira, junho 29
Maternidade 2
Sofia a bela
Veio de um país de leste. Tem toda a força e beleza das mulheres eslavas. È nova, muito nova e belíssima. O bebé também é muito lindo e Sofia estremosa com ele, no relatório interno há-de ser escrito “mãe muito cuidadosa com o bebé”. O marido esse só chega muito tarde na noite, que o patrão não é para brincadeiras. Vem bonito e cheiroso e traz num grande saco do Lidl todos os sonhos da Sofia. Sofia não se arrepende de ter deixado a sua terra, gosta de Portugal “Portugal é bonito e vive-se de outra maneira”.
Veio de um país de leste. Tem toda a força e beleza das mulheres eslavas. È nova, muito nova e belíssima. O bebé também é muito lindo e Sofia estremosa com ele, no relatório interno há-de ser escrito “mãe muito cuidadosa com o bebé”. O marido esse só chega muito tarde na noite, que o patrão não é para brincadeiras. Vem bonito e cheiroso e traz num grande saco do Lidl todos os sonhos da Sofia. Sofia não se arrepende de ter deixado a sua terra, gosta de Portugal “Portugal é bonito e vive-se de outra maneira”.
Maternidade 1
Manuela a mal-amada
Chegou de uma aldeia serrana, vinha para que lhe tirassem a criança da barriga de 40 semanas. Os médicos disseram-lhe que ainda não tinha chegado a hora. Insistiu, não podia voltar assim para casa. Tinha dito às vizinhas que vinha para Coimbra para o bebé nascer, que haviam elas agora de dizer. Que lho tirassem de qualquer maneira, dizia ela enquanto se especializava na leitura dos “registos” à procura do mínimo sinal das ansiadas contracções. Sabe, sou pobre. Sabe, não tenho dinheiro para a camioneta de volta. Sabe, não posso cá voltar para a semana, nessa altura os meus outros filhos já estão de férias e quem há-de ficar com eles. Sabe, a minha mãe vive perto mas não gosta de mim, tráta-me mal. E finalmente, e já em lágrimas, sabe,o meu marido não me aceita de volta neste estado. À saída ainda hei-de ver uma alma caridosa que lhe mete umas moedas nas mãos, vá compra alguma coisa para ti, não o dês ao teu marido que ele gasta-o mal.
Chegou de uma aldeia serrana, vinha para que lhe tirassem a criança da barriga de 40 semanas. Os médicos disseram-lhe que ainda não tinha chegado a hora. Insistiu, não podia voltar assim para casa. Tinha dito às vizinhas que vinha para Coimbra para o bebé nascer, que haviam elas agora de dizer. Que lho tirassem de qualquer maneira, dizia ela enquanto se especializava na leitura dos “registos” à procura do mínimo sinal das ansiadas contracções. Sabe, sou pobre. Sabe, não tenho dinheiro para a camioneta de volta. Sabe, não posso cá voltar para a semana, nessa altura os meus outros filhos já estão de férias e quem há-de ficar com eles. Sabe, a minha mãe vive perto mas não gosta de mim, tráta-me mal. E finalmente, e já em lágrimas, sabe,o meu marido não me aceita de volta neste estado. À saída ainda hei-de ver uma alma caridosa que lhe mete umas moedas nas mãos, vá compra alguma coisa para ti, não o dês ao teu marido que ele gasta-o mal.
domingo, junho 27
Sortugal de Pantanas
sábado, junho 26
brancoimbrancoimbrancoimbrancoimbrancoimbranco
quinta-feira, junho 24
Às voltas
No princípio era a incerteza. Um ano depois, percorremos 940 milhões de quilómetros em torno do Sol (mais ou menos...), demos voltas à cabeça, escrevemos quilómetros de écran e voltámos ao mesmo ponto: a incerteza como princípio. Passado um ano, estou mais velho, mais tonto (é de andar à volta do Sol) e vejo o texto mais desfocado, mas não faz mal: dou uma pancada no monitor e fica tudo bom outra vez. O tempo passa para todos, até para as máquinas.
terça-feira, junho 22
Diálogo de culturas à janela
Dez minutos depois do jogo lá estávamos, bandeira portuguesa na janela, a vê-los passar. A fauna suíça, de esperança perdida, já não gritava tanto "Por-tu-gal!" ao passar por nós como há duas horas atrás, mas são uns porreiros, tal como os franceses. Os miúdos foram os primeiros a entrar na brincadeira, "Thuítha, Frantha, Putogal!", trocavam olhares, sorrisos e berros com os visitantes, dá-cá-mais-cinco. Um suíço deu uma bandeira, um francês deu 4 braços insufláveis azuis e foi a festa infantil, a bater com os insufláveis nas cabeças dos suíços e franceses, suecos e letãos, estamos no São João mas nem sei o que isso é. As crianças contagiaram os adultos e a festa alastrou-se ao passeio, lutas de cócegas e de insufláveis. Chega um suíço, "Parlez-vous français?", "Oui", então tomem lá um pão saloio, grande, é de hoje, está bom, está bem, tomem já agora os pratos, vermelhos com cruzes brancas. Parte-se o pão, dispõe-se nos pratos e reparte-se com os que vão passando, "merci, tenez", olha, deu-me um boné suíço, ena pá, é bem giro. É bom quando os jogos não têm fronteiras e as guerras acabam mesmo, sem passar da relva. Obrigado, voltem sempre.
segunda-feira, junho 14
E agora, Saturno!
Deves ver coisas deslumbrantes, Cassini, o que eu não daria para estar aí. Mas estou!
Que imagens destas deixem em breve de ser resultado da imaginação humana.
Outras bolas
NASA/JPL/Space Science Institute
Prazer em conhecer-te, Phoebe. As casinhas dos Phoebitas poder-se-iam ver nesta imagem, se existissem. E pensar que antes da Cassini eras assim...
sábado, junho 12
Reflexões avulsas sobre o meme das bandeiras de Portugal
Não é todos os dias que vemos um meme propagar-se por via óptica tão rapidamente. Cada bandeira colocada numa janela é vista por dezenas ou centenas de pessoas, das quais uma percentagem decide fazer o mesmo, levando à repetição do processo, em avalanche.
As razões que levam à infecção pelo meme são variadas. Os primeiros a ter a ideia não foram estimulados por verem bandeiras na janela. Criaram o meme, por assim dizer, com base em outros estímulos e memes. Numa segunda vaga, alguns dos que viram bandeiras foram infectados directamente porque, depois de estimulados, acharam que era boa ideia. Outros, não acharam que a ideia fosse particularmente boa mas resolveram ceder aos pedidos insistentes dos filhos (o meu caso). Há outras razões que vão surgindo à medida que o meme progride. Há ainda aqueles que não põem a bandeira nem por nada, mas são cada vez menos, pois o meme do pôr-a-bandeira tem a si associado outros memes que são neste momento mais infecciosos do que os memes do não-pôr. Dentro de poucas semanas já não será assim e o meme do tira-a-bandeira ganhará.
Há dois ou três dias atrás reparava que quanto mais bandeiras via, mais vezes o meu cérebro era confrontado com a pergunta "porque não pões uma bandeira também?", como se estivesse a ver o mesmo anúncio muitas vezes. Bastaria que numa dessas vezes a resposta fosse positiva para também eu propagar o meme. Como disse, no meu caso foi necessário um estímulo maior, o dos meus filhos que serviram assim de amplificadores de sinal.
Até que ponto o nosso cérebro não reage de forma análoga aos detectores de radiação que, em resposta a um mesmo estímulo, geram sinais com amplitudes diferentes (devido ao próprio processo aleatório de formação do sinal) nalguma parte do cérebro encarregada deste tipo de decisões? Até que ponto é possível que, por razões puramente estatísticas, uma das vezes se ultrapasse o limiar que leva a que o cérebro seja infectado pelo meme? Por outras palavras, se o meu cérebro for estimulado N vezes da mesma maneira, poderei acabar por colocar a bandeira porque numa dessas vezes o sinal foi ligeiramente maior (eu estava mais receptivo) e fiquei suficientemente convencido? Ou seja, podemos ser convencidos por ruído estatístico, se repetirmos muitas vezes o estímulo? Não deixa de ser curioso...
As razões que levam à infecção pelo meme são variadas. Os primeiros a ter a ideia não foram estimulados por verem bandeiras na janela. Criaram o meme, por assim dizer, com base em outros estímulos e memes. Numa segunda vaga, alguns dos que viram bandeiras foram infectados directamente porque, depois de estimulados, acharam que era boa ideia. Outros, não acharam que a ideia fosse particularmente boa mas resolveram ceder aos pedidos insistentes dos filhos (o meu caso). Há outras razões que vão surgindo à medida que o meme progride. Há ainda aqueles que não põem a bandeira nem por nada, mas são cada vez menos, pois o meme do pôr-a-bandeira tem a si associado outros memes que são neste momento mais infecciosos do que os memes do não-pôr. Dentro de poucas semanas já não será assim e o meme do tira-a-bandeira ganhará.
Há dois ou três dias atrás reparava que quanto mais bandeiras via, mais vezes o meu cérebro era confrontado com a pergunta "porque não pões uma bandeira também?", como se estivesse a ver o mesmo anúncio muitas vezes. Bastaria que numa dessas vezes a resposta fosse positiva para também eu propagar o meme. Como disse, no meu caso foi necessário um estímulo maior, o dos meus filhos que serviram assim de amplificadores de sinal.
Até que ponto o nosso cérebro não reage de forma análoga aos detectores de radiação que, em resposta a um mesmo estímulo, geram sinais com amplitudes diferentes (devido ao próprio processo aleatório de formação do sinal) nalguma parte do cérebro encarregada deste tipo de decisões? Até que ponto é possível que, por razões puramente estatísticas, uma das vezes se ultrapasse o limiar que leva a que o cérebro seja infectado pelo meme? Por outras palavras, se o meu cérebro for estimulado N vezes da mesma maneira, poderei acabar por colocar a bandeira porque numa dessas vezes o sinal foi ligeiramente maior (eu estava mais receptivo) e fiquei suficientemente convencido? Ou seja, podemos ser convencidos por ruído estatístico, se repetirmos muitas vezes o estímulo? Não deixa de ser curioso...
sexta-feira, junho 11
Dia de Phoebe
NASA/JPL/Space Science Institute
Um leve toque e estou em Phoebe, que hoje, ao fim de 7 anos, vai finalmente deixar de ser uma mancha pouco nítida. Deslumbremo-nos com o prazer da descoberta e imaginemos como será quando o mesmo acontecer com Saturno, o belo, já a partir de Julho e durante 4 anos. Cassini e Huygens (que mergulhará em Titan), não se estraguem, por favor!
quinta-feira, junho 10
Incerteza
A bandeira de Portugal que se vê por todo o lado nas janelas significa principalmente o quê? Que gostamos muito de futebol ou de Portugal?
segunda-feira, junho 7
Europeias 2004
- Pai, estava ali um cartaz que tinha escrito 'Força Portugal'. (Pausa.) Espero que Portugal ganhe!
Só uma criança poderia resumir desta forma tão simples e desconcertante a confusão gerada por algumas campanhas publicitárias, que se aproveitam das imagens existentes para ganhar alguma visibilidade grátis. Primeiro, usam os símbolos da nação, que temos bem entranhados e que vemos com alguma frequência, como boleia para colar a imagem do Euro e das marcas associadas na nossa cabeça. Quando vemos uma bandeira de Portugal, lembramo-nos, por exemplo, da campanha Hiper-Portugal-Figo-Continente (a pose de Figo a segurar a toalha lembra ainda a transformação de Clark Kent em Super-Homem e o contraste usado...mmm, Che Guevara?). Depois, com as imagens do Euro bem frescas e assimiladas, pode-se sempre promover partidos políticos... na campanha Força Portugal as pessoas do cartaz estão em estádios, com cachecóis, a cantar o hino do Euro ("Força!"), ou é da minha vista?
[Adenda - Só um dia depois é que reparei, numa imagem maior, que aquilo que a que chamei "toalha" era na realidade a bandeira de Portugal...]
Só uma criança poderia resumir desta forma tão simples e desconcertante a confusão gerada por algumas campanhas publicitárias, que se aproveitam das imagens existentes para ganhar alguma visibilidade grátis. Primeiro, usam os símbolos da nação, que temos bem entranhados e que vemos com alguma frequência, como boleia para colar a imagem do Euro e das marcas associadas na nossa cabeça. Quando vemos uma bandeira de Portugal, lembramo-nos, por exemplo, da campanha Hiper-Portugal-Figo-Continente (a pose de Figo a segurar a toalha lembra ainda a transformação de Clark Kent em Super-Homem e o contraste usado...mmm, Che Guevara?). Depois, com as imagens do Euro bem frescas e assimiladas, pode-se sempre promover partidos políticos... na campanha Força Portugal as pessoas do cartaz estão em estádios, com cachecóis, a cantar o hino do Euro ("Força!"), ou é da minha vista?
[Adenda - Só um dia depois é que reparei, numa imagem maior, que aquilo que a que chamei "toalha" era na realidade a bandeira de Portugal...]
sábado, junho 5
Sábado de manhã
terça-feira, junho 1
A incerteza dos ovos
Li num suplemento especial do jornal "As Beiras" (salvo erro de 28/5/04), a propósito da inauguração da Ponte Rainha Santa, que vão ser gastos nos anos mais próximos 200 milhões de euros nas novas infraestruturas viárias de Coimbra. Circulares, 3 pontes (contando com a Ponte Rainha Santa), muitos quilómetros com 4 faixas, tudo à volta de Coimbra, até 2006. A lista de obras era enorme, pois 200 milhões é muito dinheiro.
Acho óptimo tanta fartura, não me interpretem mal, mas não pude deixar de reparar que este investimento em infraestruturas rodoviárias representa um desinvestimento efectivo nos seus concorrentes, nomeadamente na ferrovia, mas também nos restantes transportes públicos, até nos rodoviários, uma vez que as pessoas vão ter mais razões para andar de carro. Com o tempo, desabituam-se de andar nos transportes colectivos, compram mais carros e mais tarde as novas vias começam a entupir-se. É conhecido, não é nada de novo.
Gostaria de saber quanto se vai investir nos transportes alternativos à rodovia em Coimbra até 2006. Compensará o desinvestimento efectivo? Estaremos a pôr os ovos todos no mesmo cesto, desprezando as soluções mais racionais e ambientalmente mais desejáveis mas mais difíceis de implementar?
Acho óptimo tanta fartura, não me interpretem mal, mas não pude deixar de reparar que este investimento em infraestruturas rodoviárias representa um desinvestimento efectivo nos seus concorrentes, nomeadamente na ferrovia, mas também nos restantes transportes públicos, até nos rodoviários, uma vez que as pessoas vão ter mais razões para andar de carro. Com o tempo, desabituam-se de andar nos transportes colectivos, compram mais carros e mais tarde as novas vias começam a entupir-se. É conhecido, não é nada de novo.
Gostaria de saber quanto se vai investir nos transportes alternativos à rodovia em Coimbra até 2006. Compensará o desinvestimento efectivo? Estaremos a pôr os ovos todos no mesmo cesto, desprezando as soluções mais racionais e ambientalmente mais desejáveis mas mais difíceis de implementar?