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sexta-feira, dezembro 31

Votos 


quinta-feira, dezembro 30

Do Alentejo 

Évora

Cromeleque dos Almendres

Monsaraz




Do Alentejo 

Chego a Évora com o Virgilio Ferreira da “Aparição”, a camioneta de carreira, o liceu, procuro a estação dos comboios, o quarto alugado.


“Conheço os seus espectros, a vertigem das eras, a noite medieva ainda nas ruas que se escondem pelos cantos, nas pedras cor do tempo ouço um atropelo de vozes seculares”

Cromeleque dos Almendres (sec V ac)

Um local de culto? Um observatório astronómico? É impossível a não perturbação perante aquelas dezenas de menires dispostos em linhas concêntricas. Que (des)humanidades terão estas pedras registado?


Natal é em Monsaraz

Chegamos a Monsaraz noite escura, o frio é mais que muito. E de repente, o espanto. Quem se teria lembrado de montar aquele cenário só para nós? As ruas desertas, o chão escuro de xisto, o casario branco adormecido, ouve-se música de Natal. Nós e as figuras gigantes de um presépio: a mulher que tira água do poço da vila, um pastorzito a mais as suas ovelhas, por outra rua seguem os reis magos, junto ao castelo a Sagrada Família. Numa esquina escura os dois escuteiritos, que vêm à procura do telefone público, não chegam para quebrar a irrealidade.

Cear é no Alcaide

A entrada faz-se pela taberna da vila onde compadres gastam a noite por entre fumos e copos de vinho(?).
Atrás, uma sala onde o frio não entra – e agora quisera eu ser o Eça para poder descrever aquela refeição- os odores da hortelã e dos coentros, o uso do pão, das carnes, do azeite e das ervas como só os alentejanos o sabem fazer. A extrema doçura da Sericaia, das ameixas de Elvas, do bolo rançoso.

terça-feira, dezembro 21

M., 7 anos 


Os mais belos contos de Natal 

Este "Natal" de Miguel Torga é o meu preferido: Leio-o e relei-o vezes sem conta.


(excerto)


"Entrou no alpendre, encostou o pau à parede, arreou o alforge, sacudiu-se, e só então reparou que a porta da capela estava apenas encostada. Ou fora esquecimento ou alguma alma pecadora forçara a fechadura.

Vá lá! Do mal o menos. Em caso de necessidade, podia entrar e abrigar-se dentro. Assunto a resolver na ocasião devida... Para já, a fogueira que ia fazer tinha de ser cá fora. O diabo era arranjar lenha.

Saiu, apanhou um braçado de urgueiras, voltou, e tentou acendê-las. Mas estavam verdes e húmidas, e o lume, depois dum clarão animador, apagou-se. Recomeçou três vezes, e três vezes o mesmo insucesso. Mau! Gastar os fósforos todos, é que não.

Num começo de angústia, porque o ar da montanha tolhia e começava a escurecer, lembrou-se de ir à sacristia ver se encontrava um bocado de papel.

Descobriu, realmente, um jornal a forrar um gavetão, e já mais sossegado, e também agradecido ao Céu por aquela ajuda, olhou o altar.
Quase invisível na penumbra, com o divino filho ao colo, a Mãe de Deus parecia sorrir-lhe.

- Boas festas! - desejou-lhe então, a sorrir também.

Contente daquela palavra que lhe saíra da boca sem saber como, voltou-se e deu com o andor da procissão arrumado a um canto. E teve outra ideia.

Era um abuso, evidentemente, mas paciência. Lá morrer de frio, isso vírgula! Ia escavacar o arcanho. Olarila! Na altura da romaria que arranjassem um novo.

Daí a pouco, envolvido pela negrura da noite, o coberto, não desfazendo, desafiava qualquer lareira afortunada. A madeira seca do palanquim ardia que regalava; só de se cheirar o naco de presunto que recebera em Carvas crescia água na boca; que mais faltava?

Enxuto e quente, o Garrinchas dispôs-se então a cear. Tirou a navalha do bolso, cortou um pedaço de broa e uma fatia de febra, e sentou-se. Mas antes da primeira bocada a alma deu-lhe um rebate e, por descargo de consciência, ergueu-se e chegou-se à entrada da capela. O clarão do lume batia em cheio na talha dourada e enchia depois a casa toda.

- É servida?

A Santa pareceu sorrir-lhe outra vez, e o menino também.

E o Garrinchas, diante daquele acolhimento cada vez mais cordial, não esteve com meias medidas: entrou, dirigiu-se ao altar, pegou na imagem e trouxe-a para junto da fogueira.

- Consoamos aqui os três - disse, com a pureza e a ironia dum patriarca. - A Senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José"

Os melhores presentes de Natal 

Os melhores presentes de Natal
Nunca vêm embrulhados.

António Martinho in “Não Seduzir” Edições Alinhavar

segunda-feira, dezembro 20

Politicamente bastante incorrecto 

Este post foge à linha editorial do Aba de Heisenberg (não sabiam? temos disso) mas paciência... Apeteceu-me. Quando estiverem fartinhos de blogoesfera vão até ali para desopilar. É quase tão bom como aquele Manuel nãoseidasquantas que escreve na ultima página do "notícias magazine".

sábado, dezembro 18

Máquinas de procura - IV 

De vez em quando ponho-me a pensar na maravilha que é esta "tecnologia viva" que nos rodeia. No prodígio de sofisticação que é um pequeno insecto, uma microscópica célula ou uma ínfima molécula como o ADN. Também penso em como é possível tratarmos tão mal esta natureza, tão impossivelmente "hi-tec", ao buscarmos a felicidade nas rudimentares tecnologias que produzimos. Bem, mas não é isso o que me traz a este post.

As árvores são seres fantásticos, pena eu saber tão pouco sobre elas. Olho para as árvores e dá-me para pensar como são tão inteligentes, ou assim parecem, nas suas estratégias de procura.

Quando procuramos alguma coisa, tendemos a formar árvores que pesquisam todo o espaço. As árvores procuram espaço para chegar à luz do sol, logo formam ramos que por sua vez se subdividem, num incessante "procura desse lado que eu procuro deste". Em cada subdivisão diminui-se drasticamente o espaço a procurar, tudo com um mínimo de esforço pois aproveita-se o suporte que foi construído antes. As árvores também procuram nutrientes no solo e as raízes separam-se, espalhando-se pelo espaço disponível, com a vantagem de ancorarem a árvore que cresce acima do solo. As árvores são "máquinas de procura” extremamente optimizadas para vencer a concorrência. E é notável que esta procura seja tão eficientemente mantida, que seja tão compatível com a rede de transportes de nutrientes, de resíduos, de dissipação/absorção de energia e que tudo isto cresça, se adapte e sobreviva com tanto sucesso.

O inverno está aí à porta, temos a chance de admirar melhor este prodígio de exploração constante. A forma da árvore diz-nos como ela procura. Porquê o tronco mais ou menos comprido? O que nos diz a forma dos seus ramos? Como varia a forma da planta com a escala? Porque não vemos grama da altura de casas? No Inverno, olhemos em redor e admiremos o espectáculo do nudismo vegetal.

[imagem daqui]

sexta-feira, dezembro 17

Máquinas de procura - III 


[imagem daqui]

quinta-feira, dezembro 16

Máquinas de procura - II 


Adansonia grandidieri (Baobá) [imagem daqui]

quarta-feira, dezembro 15

Máquinas de procura - I 


Joshua Tree [foto de Philip Greenspun, daqui]

terça-feira, dezembro 14

Este Natal 


segunda-feira, dezembro 13

É urgente compreender!  

Interessante, uma vez mais, a coluna de Fernando Ilharco no Público. Temos de procurar entender, em tempo útil, as drásticas mudanças que estão a ocorrer na nossa sociedade global e local. Elas devem-se em parte à revolução tecnológica que alterou completamente os fluxos e os tipos de informação a que estamos sujeitos, individualmente e como sociedade, mas haverá muitos outros factores envolvidos. Seguem-se alguns excertos do artigo:

Desde há muito que a maior parte de nós olha mais para écrans do que qualquer outra coisa, comentava no inicio deste mês um colunista do "Wall Street Journal" [...] Isto - concluía o mesmo comentador - deve ter um efeito, mas qual efeito?

[...]

Que tipo de desempenho, de pessoas e de comportamentos podem atrair a atenção das audiências? Que tipo de espectáculo o pode sustentadamente fazer? A resposta é esta: sucessos e fracassos, desde que o sejam em grande.

[...]

qualquer fracasso suficientemente sério torna-se num sucesso. Na actual cultura televisiva e em tempo real, um bom fracasso é o ponto inicial e porventura mais alto de uma estratégia de sucesso porque coloca os seus protagonistas numa posição impar em termos de atracção de audiências; e isto é o que hoje determina o lucro, por isso o sucesso. Um fracasso, um bom fracasso - desde o célebre pontapé do Marco, até aos espectáculos de famosos analfabetos e de "políticos incompetentes" - é hoje um sucesso instantâneo. Aliás, desde há bastante tempo que no mundo dos media, da comunicação e da publicidade se diz: "fala de mim, mesmo que seja para dizer bem."

[...]

E tudo isto deve ter um efeito... Tem, é a cultura actual do egoísmo, da impaciência, da vaidade e do alheamento. São vidas, uma atrás de outras, focadas no dinheiro, alienadas dos problemas dos outros e desinteressadas dos caminhos do mundo.


O que aprende uma criança nos tempos que correm?

Arraiolos 

Precisava de uns tapetes lá para casa. A loja estava forrada a arraiolos. Arraiolos, a este preço? O vendedor cuidadoso – “Sim, é ponto fino. Não é é feito cá”. E eu a ver já o fim da conversa.
O vendedor acaba por explicar que uns senhores descobriram o filão, mandam os desenhos dos arraiolos, mandam os suportes e a lã para a China, devolvem-lhes “arraiolos chineses” a menos de metade do preço dos que se fabricam cá.
Que mundo este!

China 

Dizia-se “ Quando a China despertar…”



sábado, dezembro 11

Tendências Primavera-Verão 




Tons Terra estão definitivamente Out. Riscas e bolinhas vão estar na berra.
[NASA/JPL/Space Science Institute]

quarta-feira, dezembro 8

O canto de cisne da Sereia e a sua cara lavada  

1 - Há muito tempo que não passava pelo Jardim da Sereia. Há uns meses, para variar, resolvi atravessá-lo para cortar caminho e fiquei impressionado com a quantidade de candeeiros partidos. À medida que percorria duas alamedas, fui contando uns e outros: 19-8, ganharam os partidos.

Dos que estavam inteiros, não sei quantos estariam fundidos. Apenas sei que, numa outra vez, passei por lá de noite e pelo menos numa das alamedas não havia luz de todo. Ontem à noite, reparei que estava um pouco melhor: um par de candeeiros dava luz, uns outros 10 davam breu. Imagino o que terão pensado os turistas no verão, ao seguirem as recomendações dos guias e ao darem de caras com o triste espectáculo do parque dos candeeiros partidos.

Ontem, felizmente, vi nas capas dos jornais As Beiras, Diário de Coimbra e Público, que o Jardim da Sereia entrou em obras. Como elas vão custar quase 500 mil euros, pensei: "Óptimo, isso deve dar para umas lâmpadas!". No entanto, nenhum dos 3 jornais mencionava quaisquer gastos com iluminação ou sequer com a manutenção do parque. Algum dinheiro terá já sido utilizado com a enorme imagem que tapa agora a entrada principal do jardim (bem escolhida, por sinal, minimizando o impacto visual na praça) e com a publicidade de meia página que vi em jornais locais. Só lamento que não se tenha gasto um tostão com a iluminação e que continue a ser perigoso atravessar o jardim à noite, praticamente sem luz.

2 - Nos artigos dos jornais falava-se também da articulação do jardim com o metro de superfície que, prevê-se, vai comer uma parte do parque, sem que eu consiga perceber tal necessidade ou qual a relação com a proclamada "requalificação do jardim" (o metro vai claramente desqualificar o jardim). No Público leio: "O Presidente da Câmara de Coimbra entende que o metro até poderá ter um contributo positivo, uma vez que 'aumentará a frequência de pessoas no jardim' ". Por essa ordem de ideias, também seria positivo construir uma grande urbanização com muitos prédios no meio do jardim, pois também iria "aumentar a frequência de pessoas"...

3 - Finalmente, sinto a falta do parque infantil da Sereia, que foi retirado no início do mandato desta câmara. O equipamento poderia não respeitar todas as regras de segurança (era mesmo bastante mauzinho), mas devia ter sido melhorado e não retirado, porque, essa sim, é uma excelente forma de atrair pessoas para o parque. O mesmo se poderia dizer do outro parque infantil que existia no Parque da Cidade (Parque Dr. Manuel Braga) e que foi retirado na mesma altura: há hoje falta de equipamento infantil naquela zona, lacuna que não foi colmatada com a inauguração do parque verde do Mondego.

terça-feira, dezembro 7

A verdade sobre o Pai Natal... 

... será que queremos mesmo saber?

Bottom Drawer de Norman Rockwell
(imagem daqui)

Pensamento do Dia 

Nature does not construct complex patterns when simple are sufficient.

anónimo?

sexta-feira, dezembro 3

O que não nos ocorre 

Ouvido esta manhã de uma boquinha pequenina: "Hoje esteve muita noite!".

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