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quarta-feira, março 21

Dos metais 


Adorava a cor amarela do ouro, o seu peso. A minha mãe tirava a aliança do dedo e deixava-me tê-la na mão um bocadinho enquanto me falava da imperacibilidade daquele metal, de como ele nunca perdia o brilho. – Repara como é pesado – acrescentava. É ainda mais pesado do que o chumbo. – Eu sabia o que era chumbo, porque mexera nos canos pesados e macios que o canalizador deixara lá em casa certo ano. O ouro era também macio, disse-me a minha mãe, e, por isso, costumava ser combinado com outro metal para torná-lo mais duro.
O mesmo sucedia com o cobre – era habitual misturá-lo com estanho para produzir bronze. Bronze! Esta simples palavra soava-me aos ouvidos como o grito de uma trombeta, pois uma batalha era o estrondear destemido do bronze contra o bronze, lanças de bronze contra escudos de bronze, o grande escudo de Aquiles. Também se podia misturar o cobre e o zinco, explicou-me a minha mãe, para produzir latão. Cada um de nós – a minha mãe, os meus irmãos e eu – tinha o seu candelabro de sete braços de latão para a Hanuká. (O meu pai tinha um de prata.)
Eu conhecia o cobre, a cor rosada e cintilante do grande caldeirão de cobre guardado na nossa cozinha – a minha mãe só se servia dele uma vez por ano, quando as maçãs silvestres e os marmelos do jardim amadureciam e era preciso cozê-los para fazer compota.
Conhecia o zinco: a bacia para os passarinhos tomarem banho no jardim, baça e vagamente azulada, era de zinco; e o estanho, de que era feito o grosso papel estanhado que embrulhava as sanduíches dos nossos piqueniques.

Oliver Sacks “O Tio Tungsténio” (Relógio D’Água)

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