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sábado, setembro 25

Para um discurso crítico sobre a crítica quotidina 

Já não vinha aqui há algum tempo. Encontrei este rascunho que escrevi em Junho, adaptei-o e publiquei-o agora. Talvez esteja desactualizado...

As televisões e jornais estão cheios de sábios que sabem exactamente o que está mal no mundo. Há anos que os há e há anos que os ouvimos; e ainda se queixam que ninguém os ouve. E há tanto tempo que os há que até parece que existiam antes da luz eléctrica. São o nosso ruidoso batalhão de Medinas Carreiras que quando estiveram nos governos fizeram o que puderam e agora que não estão pedem que os outros façam coisas que deveriam ter feito no passado ou que só eles sabem como se faz. E como criticam forte e feio têm a cumplicidade de todos. O velho Chesterton é que topou bem a cena: na crítica todos se encontram; o pior é nas soluções.

Um exemplo entre muitos, o António Barreto; conseguiu escrever umas absurdidades descabeladas sobre a ASAE (será que ainda alguém se lembra?) depois de ter feito mais uma novíssima, embora milionésima, análise sobre os portugueses (claro que sendo milionésima talvez tivesse de original pouco mais do que a música, mas isso é um pormenor). Agora é editor, por conta de uma fundação de uns livros por sinal bem interessantes que, como não poderia deixar de ser... tratam de crítica! As universidades, os gabinetes, as fundações, os tribunais, os cafés, as vielas (já não existem, mas são um recurso retórico), todo o país está cheio de críticos dispostos a dizer que todos os outros são maus. Claro que todos os outros também são eles próprios, mas isso é um pormenor. Aliás o que é que eu estou a fazer agora? O mesmo que todos; estou a criticar aos outros...

Está bem, vou tentar ser diferente; vou propor medidas e podem ter a certeza que não vou amuar se não as implementarem. É que eu, tal como o Albert Cossery e o mais inteligente crítico que temos em Portugal, o Ricardo Araújo Pereira, acredito no riso e no escárnio...

Medida 1: Taxas sobre a crítica que tenha efeitos quantitativos. Para que a crítica não seja só retórica, economistas e políticos reformados ou mesmo activos que exigem a diminuição dos salários deveriam começar por devolver a parte das suas reformas, salários, comendas e outros ganhos correspondente à diminuição que pedem.

Medida 2: Classificação como actividade inútil e sujeita ao ridículo social as actividades que não produzem nada e ainda por cima gastam recursos. E não estou a pensar nos críticos, comentadores e analistas televisivos profissionais repetitivos. Um bancários que angaria muitos empréstimos e cartões de crédito estará de certeza a ser muito produtivo. Tal como um angariador de pacotinhos de serviços de telecomunicações, ou um agente de viagens a vender férias nas Maldivas. Até um jornalista que escreve best-sellers que não interessam nem o menino Jesus, e até parece que não é ele que os escreve, está a ser muito produtivo. Este tipo de produtividade não nos interessa, como agora dirá qualquer economista reformado; eu concordo. O que é preciso é vender coisas aos estrangeiros, e não ficarmos por cá a vendermos coisas uns aos outros que comprámos aos estrangeiros.

Medida 3: Aproveitar o que temos de melhor Por exemplo, implementar (é uma palavra gira) medidas para apoiar a emigração dos nossos críticos que escrevem nos jornais e falam nas televisões. Ao mesmo tempo que levam o nome de Portugal mais além, ainda nos podem mandar divisas (dinheiro mesmo, não sentenças e dichotes). Esta medida poderia ser estendida ao nossos políticos, mas aí estaria, de forma pouco original, a propor o mesmo que os críticos referidos no início. Ah miséria, que falar é fácil...

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