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sexta-feira, abril 9

A guerra sem quartel do consumo 

Vale a pena passar os olhos pelo relatório preliminar de Dezembro de 2009 da Autoridade da Concorrência intitulado Relações Comerciais entre a Grande Distribuição Agro-Alimentar e os seus Fornecedores. Está lá tudo o que já ouvimos falar sobre o tema e muito mais: desde as práticas e técnicas pouco leais e assimétricas sobre preços e colocação nas prateleiras até à clonagem de produtos inovadores por marcas brancas impedindo o fornecedor de ter preços mais baixos nos produtos originais! Eu que sou consumidor de marcas brancas, já andava desconfiado dessas técnicas por nos supermercados muitas vezes os produtos de marca desaparecerem e só aparecerem os de marca branca...

Para além de ser lesado o consumidor com estas técnicas, há dois problemas mais graves para a economia: (i) a cada vez maior assimetria de informação e da correlação de forças entre produtores e comércio (ii) o crónico agravamento dos problemas de dependência de subvenções públicas dos produtores e fornecedores, levando indirectamente a uma drenagem dos subsídios para os lucros do comércio. O primeiro tema é eloquentemente tratado no relatório referido e não vale a pena dizer muito mais sobre ele. O segundo é um problema comum a toda a União Europeia: os produtores agrícolas são altamente subsidiados (veja-se por exemplo esta listagem de apoios dados pelo Ministério da Agricultura no primeiro semestre de 2009). Não discutindo possíves desperdícios, ineficiências, engenharias financeiras, proliferação de entidades subsidiadas que representam os mesmos produtores, entre outras questões também importantes, parece claro que os produtores são subsidiados para sobreviver, enquanto que o grande comércio se aproveita disso para maximizar os lucros. Assim, uma boa parte dos impostos e endividamento externo usados para subsidiar os produtores acaba por chegar aos lucros das grandes superfícies e todos nós acabamos lesados.

Se o problema fosse fácil de resolver já o tinha sido feito, claro. Então, o que é que nós consumidores poderemos fazer para não deixar que a situação fique pior, ao mesmo tempo que tentamos poupar? As minhas propostas são obviamente modestas:

Comprar pão, fruta, legumes, ferragens, flores, carne e outros produtos pouco adaptados ao grande comércio generalista no comércio local. Em geral é melhor e mais barato.

Tomar a máxima atenção às armadilhas das promoções e descontos. O único preço a consultar é o actual, nunca o anterior. Em alturas de promoções e descontos nunca deve ser esquecida a lista e o planeamento das compras.

Nunca comprar uma produto de marca branca se não houver produtos de marca por perto. Pode ser que este tenha sido impedido de estar ali e isso é atentatório da concorrência. A médio e longo prazo podem desparecer as marcas próprias e só ficarem as marcas brancas a ditar os preços.

Manter, se possível, uma lista mental dos preços e especialidades mais interessantes de cada grupo comercial. Mas não esquecer que as coisas estão sempre a mudar e o grande comércio tem informação estatística de grande qualidade sobre nós, até porque lha fornecemos através da utilização de cartões de todo o tipo.

Finalmente, nunca é de mais repetir: deveremos comprar só aquilo que efectivamente precisamos. Na minha opinião, se não formos mesmo muito pobres, não vale a pena poupar na qualidade dos bens essenciais. Poupemos antes nas bolachas, doces, enchidos, gadgets e comer fora.

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