quarta-feira, fevereiro 4
Os arco-íris são pessoais
Continuo a achar que os arco-íris são belos e inspiradores, mas aprecio o facto de haver mais num arco-íris que a mera refracção da luz. As cores são, por assim dizer, um engodo. Aquilo que requer uma explicação é a forma e o brilho. Porque é que o arco-íris é um arco circular? Porque é que a luz do arco-íris é tão brilhante?
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Mas se o arco-íris é só isso, porque é que os milhares de milhões de raios luminosos de cores diferentes provenientes de milhares de milhões de gotas de chuva não se sobrepõem e misturam?
A resposta está na geometria do arco-íris. Quando a luz percorre o interior de uma gota de chuva, a forma esférica da gota faz com que a luz emirja muito bem focada segundo uma direcção específica. Cada gota, de facto, emite um cone brilhante de luz, ou melhor, cada cor da luz forma o seu cone, e o ângulo do cone é ligeiramente diferente para cada cor. Quando olhamos para um arco-íris, os nossos olhos detectam apenas os cones que vêm das gotas da chuva que estão alinhadas segundo uma dada direcção e, para cada cor, essas direcções formam um círculo no céu. Por isso vemos uma série de círculos concêntricos, um para cada cor.
O arco-íris que tu vês e o arco-íris que eu vejo são criados por gotas de chuva diferentes. Os nossos olhos estão em sítios diferentes, por isso detectamos cones diferentes produzidos por gotas diferentes.
Os arco-íris são pessoais.
Algumas pessoas acham que este tipo de compreensão “estraga” a experiência emocional. Eu acho que isso é um disparate. Mostra uma forma de complacência estética deprimente. As pessoas que fazem tais afirmações gostam, muitas vezes, de se fazerem passar pelo tipo poético, abertas às maravilhas do mundo, mas de facto padecem de uma grave falta de curiosidade: recusam-se a acreditar que o mundo possa ser mais maravilhoso do que as suas próprias imaginações limitadas.
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