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domingo, março 30

Miniaturização, levitação e homens em espelho 

A miniaturização completa e simples de um ser humano conduziria a estruturas moleculares que seriam impossíveis. De facto, somos feitos de materiais que têm uma estrutura molecular bem definida. Pensemos só na água, já que cerca de 70% do nosso corpo é água: tanto uma molécula de água tem uma geometria de equilíbrio bem definida, como um conjunto grande de moléculas de água ocupa um determinado volume que varia muito pouco com as temperaturas e pressões a que estamos normalmente sujeitos (de facto as que podemos suportar!). Nem as moléculas de água do nosso corpo poderiam ficar mais pequenas, nem todo o conjunto delas poderia ocupar um volume significativamente menor, sem que o organismo ficasse sujeito a condições incompatíveis com a vida. E uma alteração radical da estrutura molecular do corpo do organismo miniaturizado seria possível? Bem, mesmo que tal fosse possível, como poderia ser garantido que se tratava do mesmo organismo, uma vez que não teria a mesma estrutura molecular? Além disso o volume ocupado pelo material genético, também não poderia ser muito reduzido, nem claro, o volume ocupado pelas células. Finalmente, relações menores entre superfície e volume trariam alterações enormes no metabolismo e dificuldades inultrapassáveis de deslocação e sustentação, como é bem explicado pela Ana Nunes.

E quanto a vencer os efeitos da gravidade, ou seja levitar, sem gastar toneladas de combustível como nos foguetões? Deixemos por agora os neutrinos de Frank Tipler de parte. Cyrano de Bergerac leva o seu herói a fazer a Viagem à Lua sem grande esforço, mas para essa viagem paradoxal não se procura uma explicação científica. Com H. G. Wells, em O Primeiro Homem na Lua, surge a ideia aparentemente científica de um material, a cavorite, que fosse opaco à gravidade. Obviamente, tal material viola as leis da termodinâmica, pois poderia ser usado como fonte de energia a partir do nada! Bastava levitar um material e em seguida deixá-lo cair, aproveitando essa queda para gerar trabalho. Clarke, em as Visões do Futuro refere que tal material seria tão paradoxal como a possibilidade de fazer um recipiente para um solvente universal. Restam os neutrinos, mas eu vou continuar a resistir-lhes, por agora!

Quanto ao homem em espelho, que Clarke também refere, é uma situação mais subtil. Um homem que por ter vindo de uma outra dimensão (seja lá o que isso for), ou por ter sido submetido a um qualquer processo de alteração molecular, no qual as suas moléculas com actividade óptica ficassem invertidas em relação ao normal, o seu problema menor seria a alcaravia lhe saber a hortelã-pimenta e vice versa. O mais provável seria ter de ter uma dieta especial para não morrer de fome ou envenenado por os seus processos bioquímicos não estarem adaptados aos isómeros ópticos dos alimentos do mundo normal.

Imagens daqui e daqui.

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