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terça-feira, outubro 23

Mitos alimentares e má ciência* 

Mitos alimentares e má ciência*

Ontem, no canal 2 da RTP, passou um programa de que desconheço o título (desconheço quase sempre os títulos dos programas de televisão porque quase sempre os apanho a meio e também não leio a TV Guia) em que se pretendia desmontar ou confirmar mitos relacionados com hábitos alimentares. E digo-vos, meus senhores, aquilo foi ciência…

Estamos todos habituados a ler nos jornais diários pequenas notícias em que se diz que na Universidade X, o investigador Y decobriu que quem comer 5 Kg de alho cru por dia aumenta a esperança de vida em 25 anos. E no dia seguinte é quem comer 2 Kg de couves de Bruxelas, etc, etc.

No programa de ontem puseram dez meninas (inglesas?), num retiro, a beberem sumos de alface e cenoura e pouco mais, durante uma semana. Estas meninas vestiam sugestivamente de branco pureza. Enquanto isso, outras dez meninas vestidas de vermelho pecado, comiam chocolates, bebiam vinho, comiam supostamente croissants e chips. Ao fim de uma semana, as meninas de branco, que como boas inglesas (ou americanas) estavam mais habituadas à cerveja, à coca-cola e à fast-food estavam para morrer, enquanto que as meninas de vermelho estavam contentinhas da vida com os bons tratos recebidos. Analisados os níveis de toxinas na urina e noutros fluidos biológicos verificou-se que não havia diferença entre os dois grupos, o fígado e os rins gostam mesmo é de serem mal tratados e desenvencilham-se lindamente de todas as tarefas de purificação por mais espinhosas que estas sejam.

Outro estudo muito científico: através de uma técnica qualquer (ultra-sons) mediam o diâmetro de uns determinados vasos sanguíneos de 3 voluntários. Depois um deles bebia um copo de vinho tinto e outro uma bebida branca diluída de modo a conter a mesma quantidade de etanol que o copo de vinho. Mediam o diâmetro das mesmos vasos e concluíram que para a protecção das nossas artérias são tão eficientes o vodka como o vinho tinto francês porque ambos provocam um aumento do diâmetro dos vasos. Esqueceram-se foi de dizer que o álcool tem um efeito vaso-dilatador temporário. O terceiro voluntário bebeu apenas sumo de uva e teve resultados semelhantes aos dois primeiros e já não sei qual foi a explicação. Como se percebe facilmente este estudo pretendia desmontar o “paradoxo francês”, aqueles senhores enchem tudo de creme fraiche e têm umas artérias limpinhas que se fartam, o que atribuem aos poderes dos flavonóides presentes no vinho tinto.

E ainda outro: uma loira, apreciadora de cricket, tinha grandes problemas porque não conseguia assistir a um jogo sem que apanhasse queimaduras solares, como se em Inglaterra não chovesse ¾ do ano, ou será que a loira era australiana? (na Austrália também devem jogar cricket). A loira sujeitou-se a uma dieta em que ingeria diariamente 55 g de pasta de tomate (vejam o preciosismo 55 g, como terão chegado a este valor? possivelmente terá mais a ver com a conversão do sistema de unidades inglês para o SI) durante três meses e aumentou a sua capacidade de exposição aos raios solares em 11 % e nunca mais apanhou escaldões durante os jogos de cricket.

Estes exemplos fazem-me lembrar um estudo feito nos Estados Unidos (só podia…) em que uma investigadora (?) comparou um grupo de obesos com um de magros e concluiu que a obesidade aumentava a esperança de vida. Esse estudo vem referido, como exemplo de má ciência, num dos últimos números da Scientific American. Afinal a investigadora tinha-se esquecido mencionar que no grupo dos magros havia alguns que tinham justamente emagrecido porque estavam muito doentes.



* passando ainda perigosas mensagens


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