segunda-feira, março 26
Obscenidade e liberdade
As manifestações sexuais e a obscenidade não me incomodam por si próprias, mas tenho dificuldade em aceitar que sejam feitas em locais impróprios e perante crianças ou pessoas às quais possam causar incómodo. De facto, num mundo em que tudo parece cada vez mais baralhado, em que tudo parece aceitável e tudo é comércio, em que a lubricidade está por todo o lado, parece cada vez mais difícil distinguir o certo do errado. E com isso, como sociedade, só poderemos ficar cada vez mais infantis, covardes e vulneráveis.
Eis algumas situações que ilustram o que quero dizer e nas quais a obscenidade aparente não passa de uma obscena e pateta infantilidade. A primeira passa-se na esplanda de um bar interior da Universidade, na qual várias estudantes do primeiro ano, comandadas por duas outras estudantes mais velhas, andam de gatas por entre as mesas enquanto dizem alto e sem voz trémula: "sorri, f***!" De facto, o uso de forma alarve e despudorada do palavrão em público, e perante seja quem for, pelos estudantes é comum, mas esse a vontade infelizmente desaparece em situções de injustiça, nas quais deveriam ser mais reactivos e contestar de forma firme e séria. Outra situação passa-se no pavilhão do Centro de Portugal, no qual esteve uma exposição que tinha, avisaram-me na entrada, uma peça pouco própria para ser vista por crianças (e eu levava uma de dois anos). De facto tratava-se de uma instalação que representava uma sala de estar com uma televisão na qual uma jovem executava várias acções de carácter sexual numa sala idêntica aquela na qual estava a televisão. Noutro tempos, não muito longínquos, haveria uma multidão de gente para ver tal coisa e outra para a impedir. Aliás, talvez nem fosse possível estar tal instalação em exposição. Agora, ninguém quer saber dos esforços da atriz nem da artista. As poucas pessoas que lá foram por equívoco devem ter bocejado... E de facto o que era aquilo comparado com as acções da Marina Abromovic!... Finalmente, recentemenente, fui com os meus filhos adolescentes a uma loja com roupas em promoção. Ao chegar a casa notei que os forros das calças e saias que trouxemos tinham um padrão de desenhos minúsculos mas bem explícitos de posições de actos sexuais e ninguém nos avisou!
Nem de propósito, recentemente encontrei uma cópia de um livro que foi considerado escandaloso nos anos setenta do século XX: O Pequeno Livro Vermelho do Estudante de Soren Hansen e Jesper Jensen, edição portuguesa da Editora Afrodite de 1977, da responsabilidade de Fernando Ribeiro de Mello. A edição original dinamarquesa é de 1969 e é uma espécie de livro prático sobre sexo, drogas e relacionamente com a escola e a sociedade. Ainda não havia sida na altura, mas em boa parte os conselhos são sensatos, práticos e desassombrados, não se perdendo tempo com moralismos. E diz não ao tabaco, às drogas, ao álcool e ao sexo inconsequente. Aliás, analisa muito bem as várias situações de sexo que podem ocorrer entre adolescentes, clarificando as escolhas possíveis. Também indica como contestar de forma construtiva a escola se for necessário e, em todo o caso, como a suportar com paciência e aproveitar o que for possível. Este livro causou imenso escândalo em vários paises. Os editores inglês, francês e italiano foram multados e os livros apreendidos. O editor inglês chegou a recorrer ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, cuja decisão de 1976 não lhe foi favorável. Hoje em dia talvez ficasse soterrado por edições luxuosas do Código da Vinci, ou talvez não. Por que embora mais de metade do livro fale de sexo, e refira obscenidades e termos obscenos o seu assunto principal não é esse. O seu assunto é a preparação dos jovens para serem adultos e a forma de aprenderem coisas realmente úteis na escola, algumas das quais normalmente não se ensinam: ter a coragem de pensar realmente por si próprio e ser realmente livre e responsável numa sociedade democrática. E isso talvez continue a ser escandaloso. Resta-me dizer que não o mostrei aos meus filhos, mas, infelizmente, ou talvez felizmente, desconfio que eles lhe iriam ligar tanto como aos forros das calças!
Eis algumas situações que ilustram o que quero dizer e nas quais a obscenidade aparente não passa de uma obscena e pateta infantilidade. A primeira passa-se na esplanda de um bar interior da Universidade, na qual várias estudantes do primeiro ano, comandadas por duas outras estudantes mais velhas, andam de gatas por entre as mesas enquanto dizem alto e sem voz trémula: "sorri, f***!" De facto, o uso de forma alarve e despudorada do palavrão em público, e perante seja quem for, pelos estudantes é comum, mas esse a vontade infelizmente desaparece em situções de injustiça, nas quais deveriam ser mais reactivos e contestar de forma firme e séria. Outra situação passa-se no pavilhão do Centro de Portugal, no qual esteve uma exposição que tinha, avisaram-me na entrada, uma peça pouco própria para ser vista por crianças (e eu levava uma de dois anos). De facto tratava-se de uma instalação que representava uma sala de estar com uma televisão na qual uma jovem executava várias acções de carácter sexual numa sala idêntica aquela na qual estava a televisão. Noutro tempos, não muito longínquos, haveria uma multidão de gente para ver tal coisa e outra para a impedir. Aliás, talvez nem fosse possível estar tal instalação em exposição. Agora, ninguém quer saber dos esforços da atriz nem da artista. As poucas pessoas que lá foram por equívoco devem ter bocejado... E de facto o que era aquilo comparado com as acções da Marina Abromovic!... Finalmente, recentemenente, fui com os meus filhos adolescentes a uma loja com roupas em promoção. Ao chegar a casa notei que os forros das calças e saias que trouxemos tinham um padrão de desenhos minúsculos mas bem explícitos de posições de actos sexuais e ninguém nos avisou!
Nem de propósito, recentemente encontrei uma cópia de um livro que foi considerado escandaloso nos anos setenta do século XX: O Pequeno Livro Vermelho do Estudante de Soren Hansen e Jesper Jensen, edição portuguesa da Editora Afrodite de 1977, da responsabilidade de Fernando Ribeiro de Mello. A edição original dinamarquesa é de 1969 e é uma espécie de livro prático sobre sexo, drogas e relacionamente com a escola e a sociedade. Ainda não havia sida na altura, mas em boa parte os conselhos são sensatos, práticos e desassombrados, não se perdendo tempo com moralismos. E diz não ao tabaco, às drogas, ao álcool e ao sexo inconsequente. Aliás, analisa muito bem as várias situações de sexo que podem ocorrer entre adolescentes, clarificando as escolhas possíveis. Também indica como contestar de forma construtiva a escola se for necessário e, em todo o caso, como a suportar com paciência e aproveitar o que for possível. Este livro causou imenso escândalo em vários paises. Os editores inglês, francês e italiano foram multados e os livros apreendidos. O editor inglês chegou a recorrer ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, cuja decisão de 1976 não lhe foi favorável. Hoje em dia talvez ficasse soterrado por edições luxuosas do Código da Vinci, ou talvez não. Por que embora mais de metade do livro fale de sexo, e refira obscenidades e termos obscenos o seu assunto principal não é esse. O seu assunto é a preparação dos jovens para serem adultos e a forma de aprenderem coisas realmente úteis na escola, algumas das quais normalmente não se ensinam: ter a coragem de pensar realmente por si próprio e ser realmente livre e responsável numa sociedade democrática. E isso talvez continue a ser escandaloso. Resta-me dizer que não o mostrei aos meus filhos, mas, infelizmente, ou talvez felizmente, desconfio que eles lhe iriam ligar tanto como aos forros das calças!
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