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quarta-feira, fevereiro 9

Quem é António Lobo Antunes? 

Sim, eu sei que é um dos eternos favoritosnobel, mas não é por isso que tenho que gostar dos livros dele. Os primeiros, até li ... mas depois comecei a aborrecer-me e a desistir a meio e depois cada vez mais cedo. E dos últimos, suprema heresia, nem sequer iniciei a leitura. Já as crónicas que Lobo Antunes escreve nos jornais e nas revistas sempre me encantaram, às vezes pelas comédia de costumes de fino humor, outras pelo desconcerto, outras pela rara sensibilidade.
Mas quem assim escreve e assim se acha ...comove-me.

“Nunca colecionei nada, nunca juntei papéis, nunca guardei manuscritos: vivo do vento. Não tenho cartão multibanco, nem cartão dourado, nem cartão de visita: trago o dinheiro no bolso como os negociantes de gado e os intermediários da droga. Não me importa o que visto ou o que como, nunca bebi, não vou a jantares, e devo ser aborrecidíssimo porque não me aborreço. Em criança brincava quase sempre sózinho: continuo a brincar sózinho dentro da minha cabeça, assistindo às coisas que se fazem e desfazem continuamente nela. Não faço parte de nenhuma associação, nenhum movimento, nenhuma confraria, nenhum partido. Quase não falo e, em regra, quase não oiço. Gosto de algumas pessoas, de alguns lugares, de alguns livros. Não odeio ninguém, não invejo ninguém; não por ser bom rapaz mas por não ter tempo. Escrever é um acto que raramente associo ao prazer e que, no entanto, me leva a maior parte das horas: desconheço a razão de ser um homem de palavrinhas, colocando-as umas atrás das outras numa furiosa e mansa paciência obstinada. E não tenho mais nada a dizer a meu respeito.”

António Lobo Antunes, “O grande Borges” Revista Visão, 3 de Fevereiro 2005

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