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quinta-feira, março 4

Água pura ou limpa? 

Vem no Público de ontem que a Coca Cola comercializa a marca de água Dasani, que é a segunda mais vendiada nos EUA e que é recolhida na rede pública e depois filtrada e engarrafada. Que grande negócio!

Dizem os responsáveis da Coca Cola que água tem assim o grau de pureza máxima. Deve, no entanto, salientar-se que, para um químico, a água pura é água destilada, desionizada, e sujeita a outros processos, dos quais resulta um material com um mínimo de subtâncias dissolvidas, constituído essencialmente por moléculas de H2O. A maioria dos especialistas dizem que esta água não serve para beber, pois a médio ou longo prazo causaria deficiência de minerais no nosso corpo, e as doenças daí resultantes. De forma idêntica, a água com excesso de minerais dissolvidos terá o efeito oposto, claro. Não nos esqueçamos que 60% do nosso corpo é água. Dever-se-ia assim falar, com mais correcção, de água limpa.

A desinfecção da água da rede com cloro, o uso de floculantes, normalmente sulfato de alumínio, e correctores de acidez, a existência de um excesso de determinados materiais poluentes nos locais de captação, como cloretos, nitratos, e outros, a passagem pelos canos, tudo contribui para que as águas das redes públicas tenham materiais dissolvidos que poderão ser indesejáveis. No entanto, deve referir-se que acredito que haja um controle de qualidade rigoroso destas água. Da mesma forma que acredito que tal aconteça para as água engarrafadas e para as fontes naturais sujeitas a análises. Embora o preço seja realmente completamente diferente (um litro de água da torneira custa em média em Coimbra cerca de 0.001 euros e um litro de uma água engarrafa em média 0.5 euros) pode considerar-se vantajoso evitar o cloro, os floculantes e a passagem pelos canos. A solução das fontes naturais analisadas periodicamente é para mim a mais adequada, permitindo obter o melhor dos dois mundos, e ainda ter-se uma reutilização efectiva dos garrafões de plástico. Embora se possa pôr o problema do aparecimento de bactérias durante o armazenamento, por ser impossível ter uma higiene absoluta, tal pode resolver-se indo à fonte com mais frequência e lavando bem os garrafões. Digo, no entanto, e desde já, que não tenho conseguido que aceitem esta ideia na minha própria casa.

Na escola dos meus filhos esteve um vez um demonstrador científico com um misterioso TDS mostrar como algumas água não eram boas para beber. Primeiro fez uma leitura com o tal TDS e depois realizou a queima dos materiais dissolvidos, que acabaram por surgir à superfície com bastante mau aspecto. Ora o tal TDS é apenas um medidor da condutividade de uma solução que, após ser calibrado, nos dá uma estimativa da quantidade total de sólidos dissolvidos. O processo de queima dos materiais dissolvidos não o percebi bem, pois apenas tenho o testemunho dos meus filhos, mas julgo tratar-se da aplicação de uma corrente eléctrica, acompanhado por aquecimento, obtendo-se assim a oxidação dos materiais dissolvidos. Interessantes foram os resultados: a água da torneira ganhou os testes, o que não deixa de ser boa pedagogia, embora por caminhos demasiados enviesados! Em último ficaram as nossas clássicas águas minerais naturais! Como demonstração científica tudo isto foi péssimo. Não se explicaram os princípios e chegou-se a resultados e conclusões mais pela forte impressão causada na audiência que por observação racional.

Em homeopatia são feitas diluições tão extremas que na prática, se houver uma ou duas partículas do princípo activo num frasco já é muito! Tem-se invocado a memória da água para explicar o efeito destes medicamentos homeopáticos, mas até agora ninguém ganhou o prémio oferecido para a demonstração da existência deste fenómeno! Um bom mau assunto do agrado com certeza do pessoal da Klepsydra.

Finalmente, uma história pitoresca com semelhanças com a da Disani da Coca Cola. António Fontes e João Gomes Sanches no livro "Medicina Popular, ensaio de antropologia médica" referem um curandeiro que vendia água de uma determinada fonte milagrosa, mas que a partir de uma determinada altura, como a procura era muita, começou a engarrafar também água normal, com os mesmos efeitos milagrosos, claro!

Como Gomez de La Serna não posso passar sem um lugar comum: espero não ter metido água!

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