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sexta-feira, novembro 14

no sentido da rotação 

A primeira vez ela estava de costas em bicos de pés a fechar uma janela e eu sem ter mais nada para onde olhar. Ou, então, esquecias-te de olhar para onde os meus olhos olhavam e fixavas só os meus olhos, ou esquecias de ouvir as minhas palavras e vias apenas os meus lábios, ou, então, esquecias de ouvir a música e só dançávamos, sem mais nada para sentir. Cheguei a casa à hora combinada, toquei, ouvi passos, a porta abriu-se mas não vi ninguém. Entrei, a luz era fraca e tropecei no tapete, equilibrei-me no meio da sala e ali fiquei imóvel com medo de mais algum tapete que me atraiçoasse. Havia música e um cheiro quente e doce que não consegui identificar e que hoje recordo. Apareceste projectando sombras curvas nos meus olhos assustados. Entrava um resto de luz pelas persianas mal fechadas filtrando cumplicidades, a música abrandou e tornou-se mais grave, o ponteiro dos segundos hesitou no passo, hesitou no sentido da rotação. Tratámos então do algodão dos tecidos, sem mais nada para fazer.

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