segunda-feira, junho 30
Uma comédia estatística com moral
Há algum tempo na capa do DN dizia-se que "65% dos portugueses praticavam sexo oral". O número parecia exagerado mas, procurando no miolo da notícia, verificava-se que resultava de um estudo estatístico de Valentim Alferes publicado no livro "Encenações e comportamentos sexuais" (Afrodite, 1997). Houve bastante debate nos jornais dessa altura, sobretudo devido à questão de moral corrente, mas aparentemente ninguém foi verificar a fonte dos números. Eu lembrei-me recentemente de o fazer e procurei o livro e a tese de doutoramento que lhe deu origem ("Dos comportamentos sexuais à encenação do sexo", FPUC, 1994), a qual aliás tem o mesmo conteúdo do livro. Fiquei banzado com o que encontrei. Aquele número baseava-se num estudo empírico sobre 587 alunos universitários de Coimbra, com idades entre 18 e 34 anos, mais ou menos metade de cada sexo, todos solteiros, realizado entre 1990 e 1993. Obviamente esta amostra não representa "os portugueses". Mas o caso ainda se torna pior. Destes 587 alunos, 35% dizem ser virgens e é dos restantes não virgens (220 do sexo masculino e 162 do sexo masculino) que se retira o número citado pelo jornal. Isto é um bom exemplo de um trabalho de mistificação (consciente ou inconsciente): tomar-se como facto o que não é mais do que uma interpretação abusiva de uns números fora do contexto.
E aqui está uma lição a não esquecer. Não se pode confiar de forma acrítica em resultados estatísticos apresentados seja por quem for. É necessário ver a ficha técnica e analisar a documentação com cuidado. Verificar se as amostras são representativas da população. Se o estudo foi feito com voluntários ou pessoas escolhidas de forma aleatória. No caso das respostas de voluntários, como nos programas de televisão via telemóvel ou telefone, os resultados estatísticos não têm validade pois só vota quem está tão interessado no assunto que se dá ao trabalho de o fazer. Também é necessário verificar se não há condicionamento dos entrevistados, por exemplo com perguntas que os levem a responder coisas já pré-determinadas.
Livro recomendado (alguém o traduza por favor): "Seeing through statistics" de Jessica M. Utts, 1999
E aqui está uma lição a não esquecer. Não se pode confiar de forma acrítica em resultados estatísticos apresentados seja por quem for. É necessário ver a ficha técnica e analisar a documentação com cuidado. Verificar se as amostras são representativas da população. Se o estudo foi feito com voluntários ou pessoas escolhidas de forma aleatória. No caso das respostas de voluntários, como nos programas de televisão via telemóvel ou telefone, os resultados estatísticos não têm validade pois só vota quem está tão interessado no assunto que se dá ao trabalho de o fazer. Também é necessário verificar se não há condicionamento dos entrevistados, por exemplo com perguntas que os levem a responder coisas já pré-determinadas.
Livro recomendado (alguém o traduza por favor): "Seeing through statistics" de Jessica M. Utts, 1999
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